quarta-feira, 31 de julho de 2019

O AMANTE DAS AMAZONAS

ELE estava corrigindo as provas quando bateram na vidraça pelo lado de fora da janela dos fundos da oficina do Amazonas Comercial. Só ele e o Margarido linotipista estavam lá. Benito interrompeu o trabalho e foi ver, mas quando chegou na janela mal pôde perceber a figura evasiva de uma índia velha no escuro que lhe falou rapidamente. Ela disse-lhe algo e desapareceu.

Quando ele não conseguiu mais vê-la, voltou para a banca e, apreensivo, apagou o cigano, abriu a gaveta, de onde tirou um revólver, que pôs no bolso do paletó, e logo partiu dentro da chuva veloz em direção aos Educandos Artífices.

Benito foi até o começo da ponte de tábuas que a índia lhe tinha indicado, passagem para o Igarapé dos Educandos Artífices ligando uma ilha ao continente e onde houvera a Ponte da Glória, que atravessava o Igarapé dos Remédios. A chuva diminuía mas ainda molhava a ponte de tábuas que Benito estava usando para atravessar.

Foi quando, crescendo e avançando, a figura de um caboclo velho e negro, sinistro, alto, fedido a cumaru e urina, curvado e monstruoso vinha como um demônio armado, urrando feito fera.

Benito atirou no meio do tórax, matando-o. Benito o matou, sim, o morto era Paxiúba, o Mulo.

 

quarta-feira, 24 de julho de 2019

O AMANTE DAS AMAZONAS

- há um museu de quadros e cristais, prataria, limoges. O que aconteceu com os brilhantes de D. Ifigênia? Os brilhantes, grandes, eram a ostentação daquela casa. Um dia Ifigênia foi um Belém assistir a Pavlova, com quem jantou no hotel. Era amiga de intelectuais. Veio a Manaus para ver o autor dos best-sellers da época ... como era mesmo o nome dele?
- Coelho Neto ...
Sim. Ifigênia se correspondia, ele era uma letra maravilhosa. Ifi gênia freqüentava uma casa de Thaumaturgo Vaz. Em 1889 ela recepcionou o Conde d'Eu, na Vila Municipal. Mas ela gostava de ficar no Hotel Cassina. Lembro-me dela, em 1883, acompanhando Paes Sarmento à Conceição, para o cerimonial da entrega da comenda com o agraciado pelo Imperador - uma Comenda de Oficial da Imperial da Ordem da Rosa. Quer outro café?
Frei Lothar perdia-se em recordações.
- Mas como quem ficou como libras de ouro? - perguntou Benito, voltando ao tema central de sua visita.
- não sei. Nem os quadros.
- Os quadros estão em casa de Ferreira, disse Benito.
- verdade? A Fromentin, na sala de música. Você tem que fazer isso?
There was great silence, algo mortal, naquela sala.
- Como vai provar que eles mataram Zequinha Bataillon?
Não disse mais nada. Até que o Frei suspirou:
- quanta coisa aconteceu! Perto da Cachoeira Cristal, o Pierre construiu um chalé japonês. Tudo desapareceu. Assim também no Seringal Matrinchões, no Calama. No Ayucá, o proprietário, não me lembro o nome, antes de ir Ah, terrível Ah, sim, era o Rigoberto. Vivia em luta contra os catuquinos, contra os turcos, os campos, os maias. Na Ponta da Poedeira, eu fiz de parto, perto do Ayucá. A woman morreu ali, nas minhas mãos, mas pude salvar a criança. Não Rio Jantiatuba, que corre muito forte ...
E seguiu-se um prolongado silêncio.
- E como libras, frei, e como libras? - perguntou Benito. Com quem ficou como libras?
Mas o frei estava dormindo.

AURORA

AURORA


AURORA

Rogel Samuel


Releio com assombro e delícia o poema “Aurora” de Adolfo Casais Monteiro de 1954:


“A poesia não é voz — é uma inflexão.
Dizer, diz tudo a prosa. No verso
nada se acrescenta a nada, somente
um jeito impalpável dá figura
ao sonho de cada um, expectativa
das formas por achar. No verso nasce
à palavra uma verdade que não acha
entre os escombros da prosa o seu caminho.
E aos homens um sentido que não há
nos gestos nem nas coisas:
voo sem pássaro dentro.”


(Adolfo Casais Monteiro in “Voo sem Pássaro Dentro”, 1954). Publicado por Maria Azenha, um marco na poesia da contemporaneidade, em:
http://opodaescrita.blogspot.com/2008/06/aurora.html"A poesia não é voz — é uma inflexão", ou seja, um tom de voz, uma modalidade do dizer da voz. A poesia é uma modulação na voz. Quem diz é a prosa, no verso nada se diz, “nada se acrescenta a nada, somente / um jeito impalpável dá figura / ao sonho de cada um, expectativa / das formas por achar”. Depois, no poema, ele diz: “No verso nasce / à palavra uma verdade que não acha / entre os escombros da prosa o seu caminho”. Como vêem é pura estética, é teoria literária, no mais alto grau. Termina o seu poema reconhecendo o implacável: O homem não tem alma, não tem conteúdo, não tem destino, sentido e rumo – “E aos homens um sentido que não há nos gestos nem nas coisas: / vôo sem pássaro dentro.”
Adolfo Casais Monteiro sabia do que falava, pois ele era um excelente crítico literário. Em “Clareza e Mistério da Crítica”, de 1961, ele ataca o pedestal do maior crítico brasileiro, Afrânio Coutinho, razão por que foi odiado entre nós. Mas ele era um crítico independente e altivo! Foi perseguido por Salazar, refugia-se no Brasil, onde leciona Literatura Portuguesa. Em 1962, é professor titular em Araraquara. Mas morreu com 64 anos. Ele recebeu aquela famosa carta de Fernando Pessoa que hoje pode ser lida em:
http://www.pessoa.art.br/?p=24
Professor visitante na Universidade de Wisconsin, em Madison, (1968/69), e na Universidade Vanderbilt (Nashville, Tennessee, 1969). Dele, disse Jorge de Sena: Homem de duas pátrias, soube, da maneira mais devotada e sensível, ser inteiramente fiel a ambas, para lá de todas as falácias do nacionalismo. Porque ele foi, acima de tudo e dos condicionalismos da vida, um cidadão do mundo em língua portuguesa, que é uma maneira de esse mundo não saber que possui tal cidadão, e de a língua, que o possui, presa aos seus provincialismos, não apreciar a grandeza que por ela se afirma e realiza. (Jorge de Sena).

sexta-feira, 19 de julho de 2019

Ficções do Ciclo da Borracha no Amazonas

Ficções do Ciclo da Borracha no Amazonas
Em 13 de agosto de 2009 - Lucilene Gomes Lima

A professora Lucilene Gomes Lima acabou de lançar o livro Ficções do Ciclo da Borracha no Amazonas, um estudo comparativo entre os romances A Selva, de Ferreira de Castro, Beiradão, de Álvaro Maia e O Amante das Amazonas, de Rogel Samuel. É sobre esse seu trabalho que ela nos fala agora.

Revista Literária – O que levou você a fazer esse estudo entre os romances A Selva, Beiradão e O Amante das Amazonas?

Lucilene Gomes Lima: Esses livros representam três momentos ou fases de uma produção quantitativamente expressiva sobre o ciclo. A Selva foi publicada em 1930 pelo autor, português, Ferreira de Castro. Elaborando ficcionalmente a experiência vivida num seringal amazônico, não se pode dizer que o autor dialogou com a produção anterior, de autores como Euclides da Cunha, Alberto Rangel, especialmente porque o contexto de produção em que estava inserido era o neo-realismo português. A Selva é a percepção de um autor europeu sobre a Amazônia, filtrada a partir de uma experiência de vida. O romance Beiradão, por sua vez, foi publicado em 1958, quando já estava publicada uma dezena de obras sobre o tema. A possibilidade de que Álvaro Maia tenha dialogado com essas obras não deve ser descartada, mas a mudança de enfoque na abordagem do papel do seringalista, quebrando o anátema da figura vilanesca tão ao gosto de autores que o precederam (Ramayana de Chevalier, Francisco Galvão) ocorreu mais seguramente pela percepção política e biográfica (o autor era filho de seringalista), o que o pôs no papel de redentor deste agente social, enquanto ser inescrupuloso, rude e sem visão. Portanto, a renovação empreendida por Álvaro Maia tem caráter político-ideológico superior ao caráter de diálogo e remodelação da estrutura narrativa e temática sobre o ciclo. O Amante das Amazonas, terceiro romance selecionado, publicado em 1992, é uma narrativa ficcional que acumula um diálogo com as obras posteriores. A própria mudança de direção quanto aos clichês e ao esquematismo dos aspectos em torno do ciclo já evidencia isso. Mas ainda que essa obra apresente uma mudança de ângulo na abordagem e na estrutura, guarda um ponto em comum com as outras duas – o papel da memória como propulsora da narrativa. O autor de O Amante das Amazonas, Rogel Samuel, é neto de Maurice Samuel, rico comerciante da borracha no século XIX. As memórias dessa era são, portanto, um legado familiar. O dado da experiência vivida ou revivida pela memória, direta ou indiretamente, comum aos três autores, e as abordagens que propiciaram mudanças no filão ficcional sobre o ciclo instigaram e promoveram a realização do estudo.  



RL – Existem vários outros livros sobre o ciclo da borracha no Amazonas. Por que escolheu exatamente esses três?

LGL: O estudo que eu realizei abrange a produção ficcional sobre o ciclo da borracha, por isso, outras obras também são estudadas além das três mencionadas. A seleção dos três romances deu-se após a leitura extensiva das obras ficcionais sobre o tema. Após essa leitura é que surgiu a hipótese de que a produção ficcional sobre o ciclo não apresenta reformulação em seu enfoque. No entanto, nos romances A Selva, Beiradão e O Amante das Amazonas, o tema do ciclo recebeu um tratamento diversificado das demais obras, seja pelo aprofundamento e abrangência da abordagem, seja pelo rompimento de certos lugares comuns que criaram um filão em torno da repetição dos mesmos aspectos, seja ainda pela elaboração criativa, reformulando as estruturas ficcionais já desgastadas.



RL – A que conclusões chegou após o estudo?

LGL: A principal conclusão é que o processo de aprofundamento do tema e diversificação das abordagens ficcionais não está condicionado necessariamente ao tempo em que as obras foram publicadas. A pesar de eu ter feito um recorte temporal de estudo, ao selecionar A Selva, Beiradão e O Amante das Amazonas, já que as data de publicação situam-se precisamente em décadas representativas  do início, meados e final do século XX,  penso que isso não ocorreu como forma de comprovar que as obras evoluíram no decorrer do tempo. Apenas coincidentemente as obras em que verifiquei e apontei um trabalho mais aprofundado e criativo em relação ao tema encontram-se situadas numa cronologia ascendente. A produção ficcional sobre o ciclo poderá ter muitas abordagens futuras, rompendo ou não com os clichês em torno do tema. O verdadeiro fator que contribui para a diversificação é a percepção aguda e criativa do autor.



RL – Como definiria a visão de cada autor sobre o ciclo da borracha?

LGL: A seleção das três obras pelo critério da diversificação ficcional sobre o tema também contemplou três visões distintas dos autores.  As visões de Ferreira de Castro e de Álvaro Maia nos revelam não apenas a forma como trataram o tema do “ciclo da borracha”, mas também suas percepções sobre o lugar Amazônia. Ferreira de Castro logrou ser o autor que melhor soube elaborar, organizar e apresentar, didaticamente, o tema. Talvez porque seu conhecimento sobre a exploração foi resultante de sua própria experiência num seringal, a qual sua sensibilidade soube captar e encadear criticamente em forma de narrativa literária. Por outro lado, a percepção desse autor sobre a Amazônia ainda se manifesta dentro de uma concepção etnocêntrica, com todas as antigas dicotomias paraíso/inferno; civilização/selvageria que eram a tônica nos discursos de cronistas, cientistas e ficcionistas europeus. Álvaro Maia, autor nativo, não apresenta em sua obra os sobressaltos espantos que caracterizam a percepção do autor português. Sua naturalidade nesse meio está bem exposta na clássica foto em que aparece em uma canoa, remando, integrado a natureza e aos costumes de seu lugar. No entanto, como a evidenciar que o discurso etnocêntrico deixou profundas marcas no ser nativo, em Beiradão o autor, por intermédio de seu representante ficcional, o narrador, atribui as vicissitudes e as perversões no processo de desbravamento e exploração do meio amazônico às características de sua natureza selvagem e não aos agentes sociais que empreenderam esse processo. Ademais, é o engajamento político de Álvaro Maia com o Estado Novo que norteia a mudança de percepção sobre o papel do seringalista como um agente negativo no processo econômico de exploração da borracha. Sua visão redentorista desse agente revela uma política conciliatória entre patrão e empregado, omitindo os conflitos. Rogel Samuel, professor, analista literário promove uma diversificação no tratamento do tema a partir de suas concepções teórico-literárias, que podem ser percebidas em seu livro Crítica da Escrita. Daí o aspecto não linear da narrativa de O Amante das Amazonas, consoante a ficção moderna, o destaque dado não ao enredo, mas às personagens, a intertextualidade e o caráter metalingüístico do texto. O texto, ainda, não negligencia a abordagem de aspectos da colonização, tão bem representados em personagens como Maria Caxinauá, nas oposições entre as tribos dos numa e dos caxinauá, na própria dimensão mais ampliada das razões econômicas do ciclo, parte do contexto desta colonização.



RL – Fale um pouco sobre os dois livros que você já tem, escritos, e o próximo, em processo de criação.

LGL: Escrevi um livro de contos intitulado O Mestre e o Discípulo, que foi publicado em 2000 pela editora da Universidade Federal do Amazonas. Posteriormente, em 2002, fiz uma publicação independente de outro livro de contos, O Julgamento. Atualmente estou escrevendo um livro sobre as representações discursivas do feminino na publicidade brasileira, contemplando a área de linguagem de minha formação em Letras.



- Ficções do Ciclo da Borracha no Amazonas, de Lucilene Gomes Lima

            Solicitações: lucileneglima@bol.com.br

Entrevista realizada pela Revista Literária, editada online por Evaldo Ferreira

quarta-feira, 17 de julho de 2019

Traducción MARTA CORTESÃO



Traducción MARTA CORTESÃO: 
Aguas corrediças a 
partir do principe das partes da narrativa animal bajo los árboles de 70 metros de altura; las vienen de los desconocidos lugares del origen Numa; filho aguas de la supervivencia, filho olvidadas y pasan. Frías. Se pierden. Peligro; asustador. Al principio no se pueden delimitar con precision, donde las tierras de los Numas, donde las del Cauchal Manixi. Después se miran. Se sienten. En el olor. Raras, marcas, s uaves. La flecha, detenida no alto do arco, atravessa a picadura, a roja. La rama quebrada dice: “No pasarás”. Y mais allá de la Curva del Tucumán, el paso del eje del riachuelo se separa. Se puede bañar y pescar, de este lado. Pero poco a poco los Numas se infiltrado, avanzaban, atravesaban. Pasaban más allá de sí mismos, sin respetar properties promites. Atravesando el riachuelo y el orden que ejercía en la selva. A conducta, a éxtase, por encima da curva que está vivo, que tem como que o domínio que as Numas dominam sobre os múltiplos lados do riachuelo que se dibuja en “S”, el dominio invisible (nenhum vê o puede ver), y secreto, alededo del cual se distribuyen caucheros, en aquella part alta, en tierrafirme, en el prudence control casi cordial. El Cauchal é invadido todas as noites por fantasmas. O mundo se ahorra a sí mismo. Armonia, economia de gestos, de momento, involuntario, violencia, rompiendo o pacto tenue e presente do espiro do silencio armado. Não basta con saber. Não é uma boa idéia, não há palavras de alto, asegurar a paz, como um crime, como a paz depende formalmente do silêncio. Del Silencio. Sem asustarlos, sem comprovlos. Nenhum tipo de procedimento que interstale a funerária estabelecida, porque o filho fantasma e os míticos, porque viven no libertad del viento. Porque nada eran. O simplemente la nada filho. como a paz depende formalmente do silêncio. Del Silencio. Sem asustarlos, sem comprovlos. Nenhum tipo de procedimento que interstale a funerária estabelecida, porque o filho fantasma e os míticos, porque viven no libertad del viento. Porque nada eran. O simplemente la nada filho. como a paz depende formalmente do silêncio. Del Silencio. Sem asustarlos, sem comprovlos. Nenhum tipo de procedimento que interstale a funerária estabelecida, porque o filho fantasma e os míticos, porque viven no libertad del viento. Porque nada eran. O simplemente la nada filho.

sexta-feira, 12 de julho de 2019

"VIAGEM AO AEROPORTO" DE R. SAMUEL EM "JORNAL DO COMERCIO" MANAUS 1960

LEIA "VIAGEM AO AEROPORTO" DE R. SAMUEL EM "JORNAL DO COMERCIO" MANAUS 1960
MEMORIA.BN.BR

"Uma rua molhada" de R. Samuel no JC Manaus 1960

"Uma rua molhada" de R. Samuel no JC Manaus 1960
MEMORIA.BN.BR
AO LADO DE TRISTÃO DE ATAÍDE...

"O ENIGMA" DE SAMUEL JC MANAUS 1960

"O ENIGMA" DE SAMUEL JC MANAUS 1960 
http://memoria.bn.br/pdf/170054/per170054_1960_17220.pdf
ESTOU AO LADO DE LUIZ DA CÂMARA CASCUDO E DE AMÉRICO ANTONY ...
MEMORIA.BN.BR

"HISTÓRIA DO ASSASSINO DIFERENTE" DE SAMUEL NO JC MANAUS 1960

"HISTÓRIA DO ASSASSINO DIFERENTE" DE SAMUEL NO JC MANAUS 1960
MEMORIA.BN.BR

MEUS TEXTOS NO JC DE MANAUS EM 1960


MEMORIA.BN.BR


segunda-feira, 8 de julho de 2019

Traducción MARTA CORTESÃO

Traducción MARTA CORTESÃO: 
Nos regresos a la elaboración de nuestro imponente pasado, llegamos en aquella brusca tarde de oro sin sen and sin brave en el Palacio ocupaba en el singularidad todos los detalles de un aspect de deslumbrante luz. El Palacio (como era a sociedade aquícola construiu que después entrou na decadência, ruína e morte, depois que o comércio do caucho fue à bancarrota), o límpido e o palácio nos esperaba no tranquilid A diferença entre os desejos e os prazeres sobre os prazeres e a vida na vida do mundo: na orla do riacho do Infierno a partir das riquezas das cabeceiras do mundo, de la Frontera, del Inevitável, del Inexacto, de los Árboles del Principio. Perdidas, desocupadas, sin sai… Sim, porque toda a codificación de aquario tem que ver com a experiência de retorno, da construção, que era uma edificación (despiu abandonada) dos pisos mais sótão inspirada no estilo art-nouveau Cérebro de finas rejas de hieróglia torneado, em convulsões e violentas volutas de zelos de elegante e afeminado contorno, travestiços, descomedidos, decorando a escalera de mármol torcido e enfático, oscura y en pleno goce de réplicas villas europeas. Que as majestuosidades são algo que de pronto a distancia, pugilistas de lejos e de daba para sentir-se a diferença, diferenciam-se de repopiarse das repostas e de balcones que avanzaban no aire ...

terça-feira, 2 de julho de 2019

A rua Barroso

A rua Barroso



NEUZA MACHADO






“Um dia, como se tudo tivesse bem pensado, lhe disse a Caxinauá: - Agora você vai para Manaus.” 


Repenso agora o Ribamar: “Ribamar desceu a Rua Barroso”. Ficcionalmente, poderia ter subido a Rua assinalada e permanecido por lá (a residência de João das Neves era vizinha a de D. Maria de Abreu), se o poder monetário de João das Neves estivesse firmemente se estabelecido no alto. O poder seja de que ordem for se estabelecerá sempre nas alturas, e no Centro, mesmo que o ambiente revele degradação social. Mas, a subida exige esforço físico, trabalho árduo, e um personagem, descendo, já não visualiza trabalho pesado, apenas mental. Descer a ladeira da rua comodamente, e ao longo da descida adquirir uma sólida riqueza (e o tesouro de Maria Caxinauá era sólido, não era roubado, era realmente dela e de Ribamar - ou seja, dos índios dominados e dos retirantes nordestinos escravizado - e não de Ifigênia Vellarde) e um papel de destaque no mundo político seria mais prazeroso. A estadia no Seringal Manixi, como atencioso secretário de Ifigênia Vellarde, abriu-lhe as comportas do conhecimento monetário (e político). Não é por ventura uma função do secretário assessorar e resguardar a fortuna de seu patrão? E, por osmose, não é a partir de tal emprego que se aprende a arte de ganhar dinheiro e socializar-se, ao intermediar as transações pecuniárias do patrão? No entanto, graças ao segundo narrador, antes da aprazível “descida”, o Ribamar de Sousa teria de conhecer e demarcar seu novo ambiente social, o qual já sofria a “estagnação da crise econômica” pós-borracha. Ribamar “se admirava da bela rua, porque Manaus era bela. Calma, profunda, na estagnação da crise econômica”. “Manaus era uma espécie de cidade-fantasma, minimetrópole esquecida, batida pela claridade de um sol esplendidamente brilhante”. Reflito as informações sócio-ficcionais, mas necessito investigar a descida do personagem Ribamar pela rua de Manaus (ou seja, ao profundo mundo do segundo narrador), auxiliada pela filosofia bachelardiana. Ribamar (depois da ascensão e queda do Seringal Manixi, buscando uma casa onírica que difunda uma luz incomum em seu diferenciado crepúsculo existencial) se sente “feliz”, a caminho de “sua vitória” sócio-político-ficcional, porque o segundo narrador iluminou-lhe o atual itinerário narrativo, uma vez que este segundo se sentia seguro, abrigado nos sonhos de sua própria intimidade, como profundo conhecedor daquelas imediações citadinas. Refletindo esta Casa/Cidade “esplendidamente brilhante”, ainda posso recuperar uma outra assertiva bachelardiana. A Casa/Cidade iluminou-se, quando da entrada de Ribamar, porque, naquele preciso instante (instante metafísico), ela era “uma ilhota de luz no mar das trevas” do narrador pós-moderno (trevas representativas do abandono da terra primordial), e em sua “memória, uma lembrança isolada em anos de esquecimento”[lv]. Em verdade, quem está descendo comodamente e criativamente a Rua Barroso (um dos labirintos em declive, para o fundo, da inesquecível Casa/Cidade) é o dono do relato ficcional. Quem gostaria de reerguer a Cidade, “esquecida, abandonada, mas solene”, é o segundo narrador. Quem está, em um presente histórico resgatado da própria casa onírica, a se sentir feliz, “como se estivesse no início do caminho de sua vitória”, avaliando a beleza da Cidade, é o narrador dos sonhos profundos aninhados nos íntimos segredos de sua “meia-noite psíquica onde germinam virtudes de origem”[lvi]. O sonhador está a vaguear suas lembranças pelas ruas da cidade. É ele quem está a descer, devagar, a Rua Barroso, “passa pela portada da capela de Santa Rita”. É ele quem percebe solitariamente que a rua está deserta e é também o que enxerga todas as casas com as portas e janelas fechadas (fechadas para quem?).