sábado, 3 de janeiro de 2009
POEMA DO RIO NEGRO, 2
POEMA DO RIO NEGRO, 2
(Na foto, Ananda, último barco de Albert Samuel citado no terceiro verso)
Rogel Samuel
Seguimos até o celismar
na nossa sincopada batida
de Ananda bois espiam margens
crianças olham ocorridas
gritam cios cicios curumins
passarinhada menina
a cunhantã levantou voo?
o curumim mergulhou? o rio urubu prossegue
marcha fúnebre ritual líquido da corte
onde um dia, nesta tarde
meu pai não me deixou mergulhar
como se ali o rio pudesse
para sempre me tragar
quantos olhos aparecem? quantos ameaçam?
na leveza do anum canarana
a criança de longe a vista
o rapaz nu ri ou está chorando?
o sol se põe naquela tarde
densíssima de calor e escudo
e escuro e orgulho o rio negro
fecha suas portas
sobe para o céu suas veias iluminadas e nervuras
acesas
a lá estão os milhares índios mortos
ranger de dentes
do rio chamado urubu
sons percorrem com suas luvas pretas
as exclusividades das belezas sombrias
urubu o rio range dorme cemitério norte
risca fio alertado brilho fantasma
sobretudo preto urubu balança e nos ameaça
nos quer no seu túmulo histórico
amazônico emparedado dos matagais gerais
alta e terrível a floresta
transforma as corridas as amas úmidas amantes
rio doente para sempre
que desde o município de silves
está pronto para ejetar seus encapuzados enlevos
e inocular a morte
como as suas aranhas
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Um comentário:
O Rio Negro, desliza na sua mitologia branca e indigena. Os animais ameaçadores como o negror da Noite, da Noite que se molha nas águas do Rio entre as margens da mata.
Encantador poema, sombrio como a gruta do mago que tem a verdade do que nos é apresentado.
clarisse
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