terça-feira, 11 de setembro de 2007

POEMAS DE BOURNEMOUTH

e eu bebo veneno pelos olhos
quando vejo a tua forma de partir
que ela se torna numa larva preta
a espuma do mar fervente em cada mão
o desiderato rumo dessa casa feita
a linha errada em cada palma, o não
estarmos à roda desfibrada estreita
limita o mar que nos fareja o cão.
distúrbio funcional, minha malignidade
espectro desse quarto quando um morto
vagueava entre vivos a nos aterrorizar
humores, forma aquosa, vítrea,
e cristalina capa de estampadas letras.
eras superfície, punção, a gata morta
no leva e traz das ondas da maré
marco divisório de teus passos.

(Bournemouth, UK, 19 de agosto de 2007)

os dias se arrastam, lentos
as noite se sucedem, escuras
e frias
neste quarto de hotel.

muitas vezes pensei em sair
em ver o mar na noite fria,
mas me recolho cedo
encapsulado
em recordações

o mundo não está
nem lá fora
nem aqui dentro

o mundo não está



(Bournemouth, UK, 15 de agosto de 2007)

à medida que envelheço
vou ficando
como minha avó

à medida que envelheço
mais vou tendo
minha avó no espelho
(Bournemouth, UK, 14 de agosto de 2007)

todas as coisas se parecem contigo
[passo a ver-te em cada dobrada lua]
nada me afastará de ti, pois estás em todas as coisas
onde o olhar
onde há olhar
onde olhar

ver quero ver-te
mas só consigo ouvir-te
há uma canção que me embala
e me adormece

não te tenho perto
tão perto
nem durmo contigo

mas não faz falta
o amor se espraia para sempre

no ar

(Bournemouth, UK, 13 de agosto de 2007,
às 21:20).

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