terça-feira, 6 de janeiro de 2009

POEMA DO RIO NEGRO, 3



Poema do Rio Negro, 3

Rogel Samuel


rio que se enluta de capa preta
desde o Século Dezoito
ferve meu sangue a saliva dos mortos
escuro e orgulho
onde um dia, nesta tarde
meu pai não me deixou mergulhar
como se ali o rio pudesse
para sempre me tragar
que não entendo esse rio
não me fala para mim estrangeiro
me repele me ameaça
com sua capa de aço
colorido festival amanhece
que cor é essa? que desconhecida
alegria em bandeiras em pânico?
o capinzal desce o rio de uma vez
ilha de capim que um animal levado
pelo azul cheio de tudo
está frio? está calor?
estou morto? sobrevivo?
a luz não é simples
onde a morte está nada é simples
ainda lá e passam chorando
populações indígenas navegando
que amaldiçoado por dentro
do escuro e orgulho
onde um dia, nesta tarde
meu pai não me deixou mergulhar
como se ali o rio pudesse
para sempre me tragar
o enigma passa sobre o plano espetáculo
não serei o mesmo depois do fim da era
meus pais sepultados ali

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