sábado, 11 de janeiro de 2014

O ateliê de Portinari

 

 

O ateliê de Portinari


Museu Nacional de Belas Artes recebe doação de 205 obras do pintor modernista

         
  Camila Molina - O Estado de S.Paulo


As 205 obras de Candido Portinari (1903-1962) que o Museu Nacional de Belas Artes (MNBA) acaba de receber para seu acervo são aquelas que o pintor deixaria apenas para seu filho. “São parte de uma coleção que meu pai havia deixado separado para mim, que ele não queria vender”, conta João Candido Portinari. Por conta de uma dívida com a Finep, Financiadora de Estudos e Projetos, que apoiou, há 35 anos, a criação do Projeto Portinari, João Candido teve de entregar, na década de 1990, o grande conjunto de trabalhos de seu pai para o órgão do governo. Depois de quase duas décadas, essas obras do pintor tornam-se, agora, públicas, com a recente doação que a Finep decidiu promover desse acervo para o MNBA. “Estou alegre porque a história teve um final feliz”, diz o filho do artista.


       

O termo de doação foi assinado em novembro de 2013, mas nesta segunda-feira, quando o Museu Nacional de Belas Artes comemora 77 anos, será realizada na instituição a cerimônia oficial de entrega das obras da coleção Finep, com a presença da ministra da Cultura, Marta Suplicy. São 140 desenhos, 22 pinturas, 42 matrizes e 1 gravura criados pelo modernista entre as décadas de 1920 e 1950. O museu não quis divulgar o valor do novo conjunto.

Foram oito meses de negociações para que o MNBA recebesse trabalhos considerados “o ateliê de Portinari”, diz João Candido, por reunir estudos e desenhos que o artista realizou durante a criação de obras importantes como as monumentais pinturas da série Guerra e Paz ou os painéis de azulejo para o Palácio Gustavo Capanema, no Rio, e para a Igreja de São Francisco de Assis da Pampulha, em Belo Horizonte. “É Portinari em sua fonte primária”, diz a diretora do MNBA, Mônica Xexéo. Com a doação da Finep, o museu é considerado atualmente o principal depositário público de obras do artista no País, contabilizando 243 de seus trabalhos em seu acervo.

Além de 12 desenhos preparatórios para os famosos painéis Guerra e Paz – pintados entre 1952 e 1956 para a ONU e que, restaurados, serão exibidos no Grand Palais de Paris a partir de maio –, é possível destacar do conjunto doado pela Finep as ilustrações que Portinari realizou na década de 1930 para edição do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e retratos de amigos do artista como Olegário Mariano e Oswald de Andrade.

No ano passado, o MNBA, vinculado ao Ministério da Cultura, recebeu, ainda, outras importantes doações de obras de Portinari. O Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) adquiriu para a instituição, por R$ 5 milhões, a “obra emblemática” A Primeira Missa, pintada pelo artista em 1948. Mais ainda, o Ministério do Meio Ambiente doou à instituição as 5 telas que pertenciam à Capela Mayrink, na Floresta da Tijuca.

Segundo Mônica Xexéo, as obras doadas pela Finep chegaram em bom estado ao museu, mas parte delas necessita de restauro. “Há conjuntos grandes da década de 1920, desenhos com manchas de fungos que precisam de tratamento.” A coleção, com importância em seu segmento gráfico, também possui peças não-datadas.

“O acervo não será todo exposto”, diz a diretora. Por enquanto, uma mostra com recorte da coleção está programada para ser inaugurada em maio, ficando em cartaz até outubro. Também será editado o livro Portinari na Coleção do Museu Nacional de Belas Artes.

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