WOODSTOK
Rogel Samuel
À noite, no meu quarto, leio poema de James Hopkins. Ele é poeta
premiado americano, autor do livro “ eight pale women”, ganhou o prêmio “ Word
works”, da cidade de Washington, conferido por este organização literária.
Hopkins é um rapaz jovem, bonito, com longos cabelos. Conheci-o em Walden, New York. Ele me
pede que escreva sobre seu livro, que é muito bom.
Naquele dia fui a Woodstook.
Estive lá recentemente duas vezes.
Na primeira vez chegamos ao anoitecer. Fomos diretos
para o alto da montanha, onde nos esperava uma reunião. Quase não sentimos o
lugar. Só sua atmosfera. Não da nostalgia, ou da memória do festival de música
de 1969 – que não foi mesmo realizado lá – mas no ar havia algo daquele bom
tempo dos hippies que fomos, dos cabelos compridos, das nossas sandálias, das
nossas artes, das nossas almas puras.
Sim, porque éramos uma geração de jovens de almas
puras, amávamos a música, as fotos, as histórias, a natureza. Não vivíamos,
acampávamos neste mundo. Fomos ali, em Woodstock, para reencontrar-nos.
Woodstock não era uma cidadezinha nas montanhas, mas um lugar no nosso coração.
Vi, logo que cheguei, que não tínhamos ficado velhos, que ainda estávamos no
jogo da vida, que ainda amávamos nossa jornada.
Na
segunda vez fui mais cedo, na hora do almoço, a Woodstook.
Almoçamos
em pequeno restaurante onde, à noite, havia música. Os dois garçons, jovens e
andróginos, já eram de outra era. A cozinha excelente. Depois, com minhas duas
amigas americanas, “fomos às compras”. Woodstok agora é um grande shopping.
Particularmente, nada vi interessante. Mas gosto de shopping. O melhor foram as
lojas de artigos orientais. Principalmente uma, chamada “Dharmaware”. Mas tudo
muito caro, para nós, brasileiros. Entro num sebo. Nada vi, que me
entusiasmasse. Um rapaz, na rua, tenta-me desesperadamente vender duas fitas
cassetes usadas por dois dólares. Ele tem ansiedade nos olhos, tem pressa.
Arrependo-me de não ter comprado, ainda que desconfie por que ou de que ele
precisa, ou por isso mesmo.
Num
supermercado comprei uma caneta, que tenho usado até hoje. É um modelo antigo,
de aço inoxidável. Gosto de canetas, já tive uma boa coleção. A maioria de
pena. Mas hoje só consigo escrever no computador.
Faz
calor, em Woodstock. Sinto-me cansado, desanimado. Estou perdendo o interesse,
o gosto pelas coisas. Woodstock sem o clima místico de paz, de amor dos anos
sessenta. Estamos na era Bush. “Os nossos ídolos morreram de overdose”. Já não
somos os mesmos.
À noite,
no meu quarto, leio um poema de James
Hopkins. O poema diz, mais ou menos assim, que traduzo: “ trate \ os fantasmas
\ do quase-passado \ com um pouco mais de respeito -- \ aquelas vaporosas pistas que derivam dos parques \ aproveitam
as ruas \ em segredo. \ o tremor \ apenas \ no vértice \ da escuridão \ quando
o vermelho \ escorreu do céu. \ a sombra
que pisca \ no canto de seu olho \ antes da noite \ engolir \ a lua”.
Fecho o
livro, a luz da cabeceira. Fecho os olhos. Adormeço. Rondam os fantasmas da
noite.
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