BARRAS DA MINHA IMAGINAÇÃO
ROGEL SAMUEL
Eu não me orgulho de ter a maior ou a melhor
biblioteca do Brasil, mas sim a mais desorganizada.
Os livros que me sobraram ao longo de sucessivas
perdas estão amontoados e literalmente no chão e em toda parte do meu pequeno
escritório que fica onde não moro.
Foi assim que lá fui sexta-feira com minha secretária
à procura de um documento (que não achei) mas encontrei – sujo, caído num canto
obscuro e faminto - um livro extraordinário que recebi há mais de dez anos e
que só agora, depois de limpo e iluminado, trouxe para casa e passei a ler com
a sofreguidão de quem tinha descoberto uma
mina de diamantes: o livro de ANTENOR RÊGO FILHO – “Histórias e saudades”,
de 2008.
A vocês eu digo: Manaus, minha terra, não tem um
livro como esse – abrangente, sucinto, bem escrito.
Alguns fatos são épicos, outros cômicos, e o leitor
cativo.
Em Barras nasceram dois ex-governadores do Amazonas:
Fileto Pires Ferreira e Thaumaturgo de Oliveira.
Eu já escrevi muito sobre Barras, poemas e crônicas e
vídeo.
Mas vejo que só agora meu amor por aquela terra
desconhecida para mim está completo.
Após a leitura ininterrupta desse livro de coração.
Em Manaus a piores inimigas das grandes bibliotecas são as viúvas. Logo que os maridos morrem, exaustos de tanto ler, elas tratam de mandar despejar aquela montanha de livros raros e caros na calçada para o lixeiro levar. Eu mesmo catei livros na calçada, e muitos outros.
Ou despejavam aquilo tudo, aquilo inútil, aquele incômodo sujo no porão da antiga Biblioteca Pública onde os ratos e a umidade os consumiam. Também eu lá vi isso e até roubei (ou salvei) algum volume.
Herdei várias bibliotecas que as perdi. Herdei a biblioteca de meu avô, de meu tio-avô e de meu pai etc. Quando eu era jovem, minha tia-avó Maria José me dava uma pensão para comprar livros.
Depois vim para o Rio, deixando Manaus e meus livros na distância, mas depois trouxe uma caixa de livros que se arrastou e se perdeu nos vários lugares e quartos alugados por onde passei.
Biblioteca é coisa de rico. De mansão de rico.
Por vários anos minha pobre biblioteca pessoal ficou na garagem de minha mãe, e no escritório de um amigo. Tudo perdido. Difícil de explicar, mas perdido.
Depois eu tive uma biblioteca na minha sala da Faculdade de Letras das UFRJ: quando me aposentei sem espaço em casa doei para a mesma.
Hoje meus livros estão amontoados no meu escritório. Longe de onde moro. Não acho nada.
Há bibliotecas que pegaram fogo, como a do escritor Moacyr Rosas. Ele acendia velas contra a umidade.
Quando pesquisei para escrever o “Teatro amazonas”, passei um ano indo à Biblioteca Nacional. É a melhor do Brasil.
Sonho com o tempo em que possamos ter os maiores livros num pen-drive.
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