quinta-feira, 24 de novembro de 2022

A PATRIA IMAGINÁRIA

A pátria real e a pátria imaginária Rogel Samuel Por: Rogel Samuel Em: 09/06/2008, às 01H59 “Não sejas um escritor, mas um profeta”, diz o verso de Antonio Quadros (1923-1993), o poeta português. Certamente assim os poetas eram conhecidos, na Grécia antiga. Que é um profeta? Profeta é o indivíduo que prevê o futuro, o que diz o que vai acontecer. “Não digas o que sabes nos teus versos, / Deixa para trás a ciência e a consciência; / Tudo aquilo que em ti não for ausência / São ideais perdidos, ou submersos.” É o poema. Não dizer o que sabe significa não repetir o passado, mas proferir o futuro, inaugurá-lo, fundá-lo. Falar do ausente, construir a presença daquilo que ainda não existe ou do que não está lá. O poema assim se chama “Poética contraditória”: Não digas o que sabes nos teus versos, Deixa para trás a ciência e a consciência; Tudo aquilo que em ti não for ausência São ideais perdidos, ou submersos. Abandona-te às vozes que não ouves, E liberta os teus deuses nos teus dedos; Não busques os sorrisos, mas os medos, E o que não for ignoto e só, não louves. Ser misterioso e triste, é ser poeta: Mesmo a luz que palpita nos teus cantos. É uma imagem heróica dos teus prantos. Percorre o teu caminho até ao fundo, E com os versos que achaste, aumenta o mundo. Não sejas um escritor, mas um profeta. É um poema do livro de António Quadros “Viagem desconhecida”, de 1952. Nesta região desconhecida do porvir o poema se lança, ouvindo as vozes, liberando os seus deuses, os seus medos, o seu mistério, o seu pranto. É um mergulho no caminho do herói, ou seja, do profeta. Do que profere. O que diz o que não sabe, o que ouve o que não foi dito, o que vê o que não está na frente de seus olhos. Ou seja, entra nos portal heróico e perigoso do mito. “António Quadros (1923-1993) defende que a nação portuguesa na sua essência (...) é dotada de um eschaton, de uma razão teológica, que consiste num diálogo ou numa dialética entre o humano e o divino: «Talvez nenhuma história humana, como a portuguesa, em seu esplendor, em seu claro-escuro e em seu negrume, seja tão dramaticamente exemplar desta dialéctica.» (...), escreveu Antonio Quadros Ferro (que deve ser seu filho). Ele chama isso de dialética entre Pátria Real e Pátria Imaginária. “As caravelas já não partem deslumbradas a desvelar o Cabo. Não. O tempo é outro. Mas os pescadores portugueses continuam na praia a fixar com olhos estáticos o mar infindável e a viver e a lutar e a sofrer e a morrer o destino do mar. E na imaginação das crianças e dos adolescentes, no inconsciente dos adultos frustrados numa fixação à terra que lhes parece injusta e odiosa, a ideia da aventura, da viagem, do descobrimento palpita como uma promessa e como uma fascinação" escreveu António Quadros. Confira em: http://antonioquadros.blogspot.com/

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