Marília de Dirceu Parte 2-3 |
Lira XXXIII Morri, ó minha Bela: Não foi a Parca impia, Que na tremenda roca, Sem Ter descanso, fia; Não foi, digo, não foi a Morte feia Quem o ferro moveu, e abriu no peito A palpitante veia. Eu, Marília, respiro; Mas o mal, que suporto, É tão tirano, e forte, Que já me dou por morto: A insolente calúnia depravada Ergueu-se contra mim, vibrou da língua A venenosa espada. Inda, ó Bela, não vejo Cadafalso enlutado, Braço de ferro armado; Mas vivo neste mundo, ó sorte impia, E dele só me mostra a estreita fresta O quando é noite, ou dia. Olhos baços, e sumidos, Macilento, e descarnado, Barba crescida, e hirsuta, Cabelo desgrenhado; Ah! que imagem tão digna de piedade! Mas é, minha Marília, como vive Um réu de Majestade. Venha o processo, venha; Na inocência me fundo: Mas não morreram outros, Que davam honra ao mundo! O tormento, minha alma, não recuses: A quem sábio cumpriu as leis sagradas Servem de sólio as cruzes. Tu, Marília, se ouvires, Que ante o teu rosto aflito O meu nome se ultraja C'o suposto delito, Dize severa assim em meu abono: "Não toma as armas contra um Cetro justo "Alma digna de um trono." |
sexta-feira, 4 de maio de 2018
Marília de Dirceu
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário