METAMORFOSES DE OVIDIO
Metamorfoses em Tradução
Raimundo Nonato Barbosa de Carvalho
Livro I (TRECHO)
Faz-me o estro dizer formas em novos corpos
mudadas. Deuses, já que as mudastes também,
inspirai-me a empresa e, da origem do mundo
ao meu tempo, guiai este canto perpétuo.
Antes do mar, da terra e céu que tudo cobre, 5
a natureza tinha, em todo o orbe, um só rosto
a que chamaram Caos, massa rude e indigesta;
nada havia, a não ser o peso inerte e díspares
sementes mal dispostas de coisas sem nexo.
Inda nenhum Titã iluminava o mundo, 10
nem Febe, no crescente, os chifres renovava,
nem a terra pendia no ar circunfuso,
suspensa no seu peso, nem, por longas margens,
os seus braços havia espraiado Anfitrite.
E como ali houvesse terra e mar e ar, 15
instável era a terra, a onda inavegável
e o ar sem luz; a nada aderia uma forma,
e cada coisa obstava outras, pois num só corpo
o frio combatia o quente, o seco o úmido,
o mole o duro, e o peso o que não tinha peso. 20
Deus ou douta natura esta luta sanou,
pois do céu separou a terra, e desta as ondas,
e do ar espesso um céu límpido discerniu.
E depois que os tirou do disforme conjunto,
cada qual num lugar ligou, em paz concorde. 25
Do céu convexo, força ígnea e sem peso
surgiu e se alocou no mais alto da abóbada;
o ar, dela, se aproxima em leveza e lugar;
mais densa, a terra atrai os elementos grandes
e é premida por seu peso; a água circunfluida 30
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ocupou o restante e cercou o orbe sólido.
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