O
filho de Letícia
Rogel
Samuel
Ela
estava grávida de oito meses quando se viu no meio da guerra. As balas
atravessavam os ares, zumbiam no espaço, atravessavam o céu. Bombas explodiam
por todos os lados. Era julho de 1769. Seu marido estava lá, jovem oficial de
20 anos, lutava. Ela, com 19 anos de idade, destemida, mas gestante, tinha
vindo acompanhar a guerra de perto, por não abandonar o esposo, corajosa.
Chefiados por Paoli, meses antes eles
tinham vencido, expulsaram os franceses para o mar. Letícia, a linda Letícia,
acampara próxima, com um filho de colo, para seguir a guerra de perto. Seu pai,
seu avô também lutaram, primeiro na Itália, de onde provinham, depois ali,
naquela ilha. Sabiam que o inimigo era muito forte, mas venceram.
Agora
ela estava grávida outra vez. Os filhos, naquele pequeno país, a riqueza de uma
família. Quando seu primeiro filho
nasceu, ela tinha quinze anos.
-
Nossos filhos não serão escravos da França, dizia ela.
Mas
logo o perigo aumentou, a França, o rei Luiz envia novas tropas, que
desembarcaram na praia, bem perto de sua casa. O rei insistia em anexar aquela
ilha genovesa no império. Maria Letícia fez levarem seus sete filhos para um
abrigo nas altas montanhas e acompanhou Carlo, o marido, mesmo que grávida, na
nova luta.
Perderam.
Paoli
teve de fugir para Gênova. Carlo, seu ajudante de campo, compareceu ante o
conquistador e capitula. Era julho de 1769.
No
dia 15 de agosto do mesmo ano, Maria Letícia dá à luz um menino enfezado,
raquítico, miúdo e feio.
Ela
o chamou de Napolione.
Com
o sobrenome do pai Carlo, que era de família de pequena nobreza, passou a
chamar-se Napolione di Bonaparte, e depois Napoleão Bonaparte.
Eis
como nasceu na Córsega aquele de que nos fala Gonçalves de Magalhães, em “Napoleão
em Waterloo”, de que transcrevo alguns versos:
Waterloo!
... Waterloo! ... Lição sublime
Este
nome revela à Humanidade!
Um
Oceano de pó, de fogo, e fumo
Aqui
varreu o exército invencível,
Como
a explosão outrora do Vesúvio
Até
seus tetos inundou Pompéia.
Dizem
que Napoleão foi inspirado por sua mãe, Maria Letícia, que por isso alcançou
tantas vitórias e a glória em que até hoje brilha o seu nome.
(QUADRO DE DAVID)
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