sexta-feira, 17 de agosto de 2018

O filho de Letícia


O filho de Letícia

Rogel Samuel

Ela estava grávida de oito meses quando se viu no meio da guerra. As balas atravessavam os ares, zumbiam no espaço, atravessavam o céu. Bombas explodiam por todos os lados. Era julho de 1769. Seu marido estava lá, jovem oficial de 20 anos, lutava. Ela, com 19 anos de idade, destemida, mas gestante, tinha vindo acompanhar a guerra de perto, por não abandonar o esposo, corajosa.

         Chefiados por Paoli, meses antes eles tinham vencido, expulsaram os franceses para o mar. Letícia, a linda Letícia, acampara próxima, com um filho de colo, para seguir a guerra de perto. Seu pai, seu avô também lutaram, primeiro na Itália, de onde provinham, depois ali, naquela ilha. Sabiam que o inimigo era muito forte, mas venceram.

Agora ela estava grávida outra vez. Os filhos, naquele pequeno país, a riqueza de uma família.  Quando seu primeiro filho nasceu, ela tinha quinze anos.

- Nossos filhos não serão escravos da França, dizia ela.

Mas logo o perigo aumentou, a França, o rei Luiz envia novas tropas, que desembarcaram na praia, bem perto de sua casa. O rei insistia em anexar aquela ilha genovesa no império. Maria Letícia fez levarem seus sete filhos para um abrigo nas altas montanhas e acompanhou Carlo, o marido, mesmo que grávida, na nova luta.

Perderam.

Paoli teve de fugir para Gênova. Carlo, seu ajudante de campo, compareceu ante o conquistador e capitula. Era julho de 1769.

No dia 15 de agosto do mesmo ano, Maria Letícia dá à luz um menino enfezado, raquítico, miúdo e feio.

Ela o chamou de Napolione.

Com o sobrenome do pai Carlo, que era de família de pequena nobreza, passou a chamar-se Napolione di Bonaparte, e depois Napoleão Bonaparte. 

Eis como nasceu na Córsega aquele de que nos fala Gonçalves de Magalhães, em “Napoleão em Waterloo”, de que transcrevo alguns versos:

Waterloo! ... Waterloo! ... Lição sublime
Este nome revela à Humanidade!
Um Oceano de pó, de fogo, e fumo
Aqui varreu o exército invencível,
Como a explosão outrora do Vesúvio
Até seus tetos inundou Pompéia.



Dizem que Napoleão foi inspirado por sua mãe, Maria Letícia, que por isso alcançou tantas vitórias e a glória em que até hoje brilha o seu nome.  


(QUADRO DE DAVID)

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