O sol
Rogel Samuel
O sol fica fraco, o verão. O brilho intenso cai, os ares claros, as nuvens raras. O outono. O abril se vai para maio, mês das noivas. Do amor. Quando eu era garoto, havia uma canção:
Rosa de Maio
É meu desejo
Mandar-te um beijo
Nesta canção.
Não sei, creio que era Francisco Alves. Aqueles cantores: Orlando Dias, Vicente Celestino. Conheci, pessoalmente, Albenzio Perrone. No fim da vida, gerente de restaurante vegetariano. E pobre, e digno. Elegante, magro, educado. Contou-me que, um dia, quando era grande sucesso, uma
"fã" lhe telefona. Uma senhora estava em hospital. Dizia que, antes de morrer, queria conhecê-lo. Perrone mandou um amigo. Ela deixou toda a fortuna para o amigo. Rica. Sem herdeiros. Na época do rádio, não da TV - ela não sabia que o amigo era um impostor. Um falso Perrone.
Gosto de vozeirões escandalosos, Agnaldo Rayol, Timóteo, Caubi. Gosto de Miltinho. Encontrei Agnaldo Rayol em casa de amigos. Me disse que seu ídolo era Altemar Dutra. Espanta como Agnaldo é jovem, para sua idade. Alto, bonitão. Sorriso aberto. Me disse quão amigo é da Hebe. Por causa dela tinha-se incompatibilizado, na época, com a Globo, o que lhe custava muito caro. Caubi era meu vizinho, em Copacabana. Digo, sua "boite", creio que "Drink". Caubi posava, aos domingos de sol, na porta.
Via o movimento da garotada passar. Timóteo desfilava com seu conversível, emplacado em Timóteo, uma cidade. Passava glorioso pela Avenida Atlântica. Morava perto do Arpoador, num luxuoso prédio. Tinha predileção pelos domingos de sol, de verão.
Minha avó cantava uma canção que ouvi de sua boca refrão: "eu morro, eu perco vida, mas o amor dela não hei de deixar". Meu pai entoava uma estranha canção amazonense: "Cabocla do Caxangá, vem cá, cabocla, vem cá". E canções folclóricas alzacianas. O sol está ficando fraco, vai-se o verão, a vida, as canções. Mas o brilho intenso do passado estandartiza, nos ares, as claras visões dos cânticos do outono. Abril se vai para maio, quando se espera amar.
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