O SONETO PARA CHE GUEVARA DE JORGE TUFIC
ROGEL SAMUEL
O primeiro verso assim canta: “Crepita
em teu boné teimosa estrela”. E é interessante este verso, e é interessante perceber
desde logo, desde este primeiro verso o “crepitar” das armas, crepitar que é o
estalar de metralhadoras, elas que crepitam nesses sons crepitantes:
“CRE- PI- TA em TEU boné TEImosa
esTREla”.
Ali onde, naquela teimosa estrela, não
se vê a intenção rebelde, a intenção revolucionária, a teimosia poética (a
revolução é sempre uma utopia poética, uma licença poética armada, um ideal
inscrito em versos “sobre as chagas da terra”).
Mas aquela estrela projeta, sobre a
América Latina, um rumo, uma luz, um código, a estrada escancarada da
libertação, a escancarada esperança de vitória.
Pois o poema diz:
Crepita em teu boné teimosa estrela
da qual nada se vê do que projeta
- e pois Guevara – o poeta
revolucionário sonhador - trazia a direção na sua testa, na sua estrela, no seu
caminhar, no nseu destino estelar – aquela estranha estrada projeta um projétil
balístico, como uma bala, como uma balsa, ou um ideal, ou um corpo de idéias
arremessado ao jogo do futuro, o seu boné militar, onde a estrela brilha, é o
símbolo de um poeta que um dia chegou a vê-la, chegou a tê-la, como não o puderam
ter o camponeses “na escassez de seu vislumbre”:
Só os camponeses que puderam tê-la
na escassez de um vislumbre, em noite
quieta,
foram dar-te um cabrito; e a fogo e
seta
molhada na esperança, enfim retê-la.
O soneto projeta uma luz sobre o futuro
da América, o fogo, a seta “molhada na esperança”, o crepitar da bandeira, das
chamas que iluminaram a escuridão.
O soneto é um retrato dinâmico daquele
jovem sonhador, daquele poeta armado, cujas ideias projetaram sobre nós, até
hoje, suas luminosidades.
O soneto é o pórtico da manifestação do
porvir, seu manifesto. E faz de cada camponês um herói, um porta-voz:
Camponeses e bravos, Serra acima,
entre andantes e alegros, logo anima
saber que cada um vale por mil.
Foram dias sofridos, aqueles, foram
andanças e pujanças, robustez, força e vigor sobre aqueles campos floridos e a
serra, coberta de hera, contou os dias sofridos, muito de flores e de lutas,
quando Guevara sonhava com rosas em seus fuzis.
Quando eu era jovem, um dia pernoitei
numa casa que (dizem) serviu de abrigo a Che Guevara nas suas andanças por
entre nós.
SONETO PARA CHE GUEVARA
Jorge Tufic
Crepita em teu boné teimosa estrela
da qual nada se vê do que projeta
sobre as chagas da terra onde um poeta,
de repente, a lutar, chegou a vê-la.
Só os camponeses que puderam tê-la
na escassez de um vislumbre, em noite
quieta,
foram dar-te um cabrito; e a fogo e
seta
molhada na esperança, enfim retê-la.
Camponeses e bravos, Serra acima,
entre andantes e alegros, logo anima
saber que cada um vale por mil.
Foram dias contados e sofridos.
Pesar de tudo os campos tão floridos?
Chega de rosas, vamos ao fuzil.
(In: Dueto para sopro e corda)
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