sexta-feira, 20 de outubro de 2017
QUINZE: A LIVRARIA.
QUINZE: A LIVRARIA.
AQUELE era um cômodo sem janela, debaixo da escada, e ali dentro sentia-se muito calor, umidade e mofo.
Para Ribamar, um luxo. Naquele quarto, durante uma década, vivera a finada Benedita, velha empregada de Juca das Neves, muito asseada. Mas na parede mofada a umidade alargara duas manchas pardas. Ribamar armou a rede, deitou-se. Poderia sair sem ser visto pelas pessoas da casa, pelo corredor lateral. No primeiro andar, o piano de Melina tocava uma mazurca de Chopin. Juca das Neves já se tinha recolhido. Naquele dia, Ribamar conhecera o Hotel Cassina, em decadência, a se transformar no Cabaré Chinelo. Conhecera o Alcazar, a Livraria Royal, na Rua Municipal, 85, expostas as novidades de Garcia Redondo, de João Grave, de Júlio Brandão e Bento Carqueja - autores da moda. Ali havia um livro de Carmen Dolores, outro de Haeckel. Eram panegíricos e leitura recreativa. A “Biblioteca para o Povo”, a “Biblioteca Racionalista”. Os Serões da Aldeia, de João de Lemos. Um livro se intitulava De cara alegre, de Alfredo de Mesquita e tinha sido um best-seller. Custava $50. Juca das Neves tinha parte da biblioteca de Pierre Bataillon em casa. Melina não tocava mal. Ribamar recordava-se de Pierre Bataillon tocando Schubert. Alvarengas rebocavam pélas de borracha. Ribamar passara pela porta do London Bank. As alvarengas suaves entravam na porta do Banco. Ivete, quando era servente, vivia quase nua. Ribamar estranhou encontrá-la, agora, grande dama, casada com Antônio Ferreira.
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