segunda-feira, 7 de março de 2016

O AMANTE DAS AMAZONAS




A noite é fomidanda. Exsurgem atros abismos. ...



Benito recitava de côr. A sonoridade das frases ecoava no ambiente. Homem sensível, Maneco se impressionava com aqueles versos que conhecia bem. As palavras saíam da boca alcoolizada com troar de tempestade.

Uma prostituta nova entrou no Bacurau e sentou-se à mesa onde havia restos de comida. Um gato se lambia sobre o balcão e a fumaça dos cigarros o envolveu. A voz empostada de Benito bêbado continuou:



Na lúgubre eclosão das tragédias eternas ...



Naquela manhã Abraão Gadelha fora ferido a firo por um desconhecido que se imaginava a mando de seu ex-correligionário Ribamar de Souza. Toda a cidade falara disso, mas o tiro agora estava esquecido no Bacurau. Gadelha sobreviveu.



No solene silêncio há mandingas e ritos ...

Vêem-se, na confusão de vidas e detritos,

Consolações de Deus, ódios de Satanás.



Benito era um homem liquidado. Tinha tido uma pancreatite e não podia continuar bebendo.

Seus dedos se agitavam no ar, e ele já nada via.

Algo morria.

FOI quando entrou, altaneiro, atlético, o poeta Lopes, que assinava Aflopes. Era um rapaz forte, simpático e talentoso.

- O Lopes! - gritou Maneco ao vê-lo. Aproxime-se do Ágora.



Como horroriza o luar! como é tão triste o seu brilho!





Lopes esperou que o poema chegasse ao fim. Benito esquecia versos, confundia estrofes.

Quando o Mestre acabou, o poeta Lopes falou:

- Sou portador de uma triste notícia

Silêncio.

- Sabem quem acaba de morrer?

O gato pulou do balcão.

- Frei Lothar.

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