Ernst Bloch
O Homem Como Possibilidade
Desenho originalmente aparecido com Neither Marx nor Moses (June 29, 1972)
Senhoras e Senhores, vamos começar moderadamente. Mas também com vigor e ousadia. Vamos começar com os sonhos.
Em sonhos se pensa geralmente de noite. Não sonhamos apenas de noite. Sonhamos também de dia, embora não se investigue com igual energia o sonho diurno. Chega-se mesmo a reduzi-lo a um simples prelúdio do sonho noturno. Entre ambos há distinções consideráveis. No sonho diurno o eu não desaparece. Mantém-se até bem vivo e sem exercer nenhuma censura. A ponto de os desejos tanto mais funcionarem. Serem mais visíveis, do que no sonho noturno. Apresentarem-se sem máscara nem vergonha. Livres de inibições. Corajosamente. De peito aberto. As ruas vivem cheias de gente com sonhos diurnos. Os mostruários das lojas tocam seus acordes. Um sapato elegante. Um vestido “toillette”. A nova máquina de lavar. Uma cadeira de balanço. E tudo o mais que se mostra. Em primeiro lugar, a casa sonhada a que tudo isso vai pertencer. Todo um mundo de vento em popa, multiplicando os castelos no ar, onde o custo de vida não é tão alto.
Em sonhos se pensa geralmente de noite. Não sonhamos apenas de noite. Sonhamos também de dia, embora não se investigue com igual energia o sonho diurno. Chega-se mesmo a reduzi-lo a um simples prelúdio do sonho noturno. Entre ambos há distinções consideráveis. No sonho diurno o eu não desaparece. Mantém-se até bem vivo e sem exercer nenhuma censura. A ponto de os desejos tanto mais funcionarem. Serem mais visíveis, do que no sonho noturno. Apresentarem-se sem máscara nem vergonha. Livres de inibições. Corajosamente. De peito aberto. As ruas vivem cheias de gente com sonhos diurnos. Os mostruários das lojas tocam seus acordes. Um sapato elegante. Um vestido “toillette”. A nova máquina de lavar. Uma cadeira de balanço. E tudo o mais que se mostra. Em primeiro lugar, a casa sonhada a que tudo isso vai pertencer. Todo um mundo de vento em popa, multiplicando os castelos no ar, onde o custo de vida não é tão alto.
Acontece que muitos dos castelos de hoje, transformam-se amanhã em palácios e cidades, ou mesmo em sociedades. Esse fato possibilita a observação, até a constatação de que nada de grande surge na história sem ter sido primeiro esboçado, para depois da devida racionalização ser então planejado. Tipos de políticos realistas fundamentalmente diversos, como Bismarck aqui, Lenine lá, tiveram seus planos no ar. Apesar do caráter sóbrio, Lenine queixou-se certa vez de que o movimento havia perdido a capacidade de sonhar.
Delicados coexistem os pensamentos, ásperas se chocam as coisas no espaço. Mas também elas se entrechocam primeiro no espaço dos pensamentos do desejo. Assim por exemplo no papel, que não é só paciente mas o lugar onde manobra a fantasia geométrica. Se ásperas se atritam as coisas no espaço, como reage então o mundo ambiente ao sonho acordado, que já amadureceu e tomou consciência de sua responsabilidade? Na maioria dos casos estamos cercados de conflitos. Talvez que frente aos sonhos o mundo não se mostre apenas contrário mas contraditório, absolutamente irredutível. Sacode os ombros indiferentes ou nem mesmo isso, porque já seria bastante relação. O mundo ainda se acha por demais carregado das tensões de ontem e anteontem. O velho não quer passar. E o nôvo não quer chegar.
O Destino Normal do Sonho
Em tais condições o sonho se torna no mais infeliz sentido da palavra um simples sonho. Transforma-se no que pejorativamente se chama utópico, nada mais que utópico. Uma coisa é reconhecer êsse destino, outra, não procurar modificá-lo, curvar-se a êle. “A hesitação medrosa de pensamentos tímidos não muda a miséria, nem vos fará livres”.
É um convite a opor resistência ao mal. Ao mal que se impõe de fora. Ao mal impertinente e obsedante. Nunca deve acontecer que o fermento nem mesmo leve de direito mas só faça azedar. O que contrapomos ao mal, não deve ser uma loucura solitária.
A realidade não é uma grandeza fixa. O mundo não é acabado. É possível enfrentá-lo de outra maneira do que simplesmente murmurando ou ainda omitindo-se, servindo-se de oportunismo, instalando-se no quietismo. Tomar as coisas como são, não é uma fórmula empiricamente exata. Não é positivismo. É uma fórmula de vilania, de covardia, de mesquinharia. O que são as coisas - êsses momentos num processo que chamamos fatos? Estão fluindo. Foram feitos e por isso mesmo são suscetíveis de serem modificados. Persiste sempre a possibilidade de alteração. Isso pressupõe o domínio do acaso. Que haja espaço para a contingência - até à indeterminação física, até a indeterminação histórica, que é tanto mais importante.
Poder ser diferente, isso significa: também poder transformar-se em outra coisa: no mal a conter, no bem a promover.
Há muitos graus de realidade. Não há fôrça inelutável, que predomine independente de nós. A realidade não traz a justiça em si mesma. Está aberta sôbre o porvir, onde mais do que nunca há perspectiva e, caso não fracassemos, espaço para o progresso no bem como para o progresso na contenção do mal.
Senhoras e Senhores, a realidade é uma categoria sujeita à dúvida e destinada à transformação. Sua solidez e simplicidade é uma pura aparência. Considera-se realista, quem é prático. Quem está plantado com os dois pés na terra firme. Isso é uma caricatura, como a caricatura oposta do sonhador.
http://historiadosamantes.blogspot.com.br/
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