A PANTERA 6.
ROGEL SAMUEL
Acrescentar eu devo que prosseguindo mudos naquela
direção o dia inteiro do pico ainda estávamos distante ao anoitecer; e não mais
senti a presença negra da pantera nos perseguindo, quando os olhos ao céu
dirigindo vemos clarões brilhar como relâmpagos mudos e lumes dois ou três que
a terra estremeciam e aí vejo que de Jara os olhos se assustaram, e ligeira
logo se fez. E assim deparamos com uma pequena planície onde havia montículos
de terra que pensei serem túmulos rasos. Mas “não”, disse-me Jara (pois se
fossem os animais já teriam descobertos), e encontro sacolas de dinheiro e
mochilas com armas e vestimentas, sapatos e botas e comida tudo envolvido em
plásticos. Eu me aproprio das utilidades, visto-me de casaco e botas, encho um
saco de maços de dinheiro, armas e um cantil. Ao que um terrível urro nós
ouvimos da pantera que chegava que toquei nas armas ao que Jara me conteve, e
já ela vestida de soldado e armada de faca e de fuzil me parecia protegida. E
depois de revistar todos os montes e de umas mochilas que nos apropriamos,
assim Jara partiu e eu a segui somente ao primeiros passos logo sentimos o peso
da carga recebida, e sendo assim Jara e eu entramos na floresta que rara se
fazia, e caminhamos por alguns dias subindo a encosta da montanha lentamente e
passando ao mais alto, mas Jara revelava que aqueles sítios todos antes
conhecera.
Do medo a cor que o gesto me alterara ao ver que
aparecia, na ponta da planície, marchando célere em nossa direção, aquela
pantera mas Jara, como escutando, espreita e me diz: ”quer ela nos atalhar e
nos levar nesta direção” que aponta naquela direção antiga e de subida, - “é
mister vencer nesta porfia”, - e da pantera a marcha acelerada nos adiantou e
de lá saímos, buscando o alto da montanha, que é raro o parecer, e um ensejo de
nos fazer guiar pelo caminho que entre abismos nos comunica. Ali, porém, já fui
que a inimiga pantera constrangia-nos a fazer essa jornada. Que pensei, e
pensando disse para Jara, que agora poderíamos fazer, para das sombras nos
tirar dos seus precitos, com as armas de que agora dispúnhamos poderíamos a
fera abater a tiros: “Esta é a pior solução” - dizendo ela, voltou-se para mim
– e usando uma expressão nova: “esforça-te, querido, eu também sei o caminho
que da grande batalha vai nos afastar” – “este paul que a fera cheira é o
circundo da guerra e o tormento que de entrar já não podemos sem ira” – e não me
lembro o que mais disse o pensamento e o olhar pondo no cimo chamejante que os
olhos me prendia, vi que estava atenta, pois de lá longe o aspecto de
horripilante explosões sucessivas que o chão estremecia, que com as unhas a
pantera a terra arranhava e com suas patas o solo rebatia e com tal brado que à
guerreira me acerquei de pavor cheio. Ela volta a face de fúlgida luz o rosto
farto conserva a calma a encarar-me, transformando-se numa sorte de deusa e as
mãos juntando às minhas mãos e os olhos no fundo dos meus olhos a amparar-me
dessa arte, e logo um tufão distante fremiu impetuoso que de ardores explosivos
se cercando, sem pausa fere a terra, que se abria como em leques de sonoridades
entre nuvens de pó alevantando e após o mundo se cobriu de um estranho
silêncio, mudo e quieto, mundo derradeiro e deserto que vem da insânia rara.
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