quarta-feira, 27 de julho de 2016

NEUZA MACHADO: ESPLENDOR E DECADÊNCIA DO IMPÉRIO AMAZÔNICO


NEUZA MACHADO: ESPLENDOR E DECADÊNCIA DO IMPÉRIO AMAZÔNICO


Por este prisma fenomenológico, quem se percebe chorando, “no abandono e solidão”, é o criador ficcional da pós-modernidade, o escritor da narrativa O Amante das Amazonas. Foram dez anos de pesquisa para a elaboração de seu projeto literário. A caminhada foi longa. Ele teve de revolver o passado familiar, buscar as próprias origens nordestinas, peruanas, judaicas e francesas (como herdeiro de sobrenomes ─ nomes familiares ─ notáveis), leu os grandes clássicos, escritores famosos, lecionou em um respeitável curso universitário e produziu literatura técnica de qualidade. Desenvolveu inúmeros talentos além da escrita literária, como pintura e música, reconheceu a validade da computação e aceitou a novidade da Internet pós-moderna como veículo indispensável para a projeção intelectual. A trajetória (de Manaus para o Mundo) não foi um caminho suave. Muitos obstáculos surgiram. E, em sua narrativa extremamente elevada, o seu narrador-alter ego se defronta com “parentes” que não o reconhecem mais como tal, porque esses já não são mais de sua espécie, “tinham virado bichos”, e não lhe poderiam ensinar mais nada . A “mala de amarrado”, no início da narrativa ─ mostrando-se repleta de suas próprias idéias originais, idéias que se entrelaçam, se ajustam, se repelem (repouso fervilhante), em meio a “duas mudas de roupa”  ─ “escorrendo chuva”, teria de ser aberta de qualquer maneira. Seu primeiro narrador Ribamar de Sousa iniciara a viagem em seu lugar, “a família toda” (seus familiares, seus conterrâneos, seus pares intelectuais amazonenses ou não) o deixara sozinho “no horror de Deus”, retomar as regras ficcionais do passado, regras passadistas, naquele início narrativo, seria algo impossível. A “mala de amarrado” teria de ser aberta e re-arrumada várias vezes, por meio de novas e diferentes diretrizes ficcionais.

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