segunda-feira, 5 de abril de 2010

Ulysses Bittencourt



Ulysses Uchôa Bittencourt (Manaus, 4 de abril de 1916 — Rio de Janeiro, 19 de março de 1993), também conhecido como Ulysses Bittencourt, foi um jornalista, administrador público e historiador brasileiro. Foi prefeito de Guarapuava, município do estado do Paraná, durante o primeiro mandato do presidente Getúlio Vargas, por indicação do então interventor no estado, Manuel Ribas.

De acordo com o amazonólogo Samuel Benchimol, Ulysses Bittencourt - pesquisador que produziu uma descrição acadêmica do povoamento da bacia Amazônica (Porto Alegre, PUC-RS, 1988) - foi um dos autores que logrou delinear alguns dos tipos humanos da região, especialmente o do coronel de barranco (o assim chamado "barão da borracha", da época do boom amazônico da hévea - que não pertencia ao Exército Brasileiro -, geralmente adquiria uma patente da extinta Guarda Nacional). Outras figuras regionais (o trabalhador ribeirinho; o ex-escravo afrodescendente; e o poeta amazonense - que, muitas vezes, vivia em dificuldades financeiras - da Manaus da primeira metade do século XX) também foram abordadas por Ulysses Bittencourt, em seus trabalhos historiográficos publicados inicialmente na imprensa de Manaus [Nota - U.B. produziu uma resenha sobre o livro Fim de mundo sem fim, de Gebes Medeiros (A&M Editores, 1984) [1] [2], que, de acordo com Bittencourt, "(...) [conta] com uma precisão desafiadora, a saga de um grupo humano em determinado seringal do Rio Juruá, a vida de cada um e a coletiva (...) (p. 120); discorreu sobre descendentes de auxiliares negros do desbravador do Baixo Purus (Cap. Manoel Nicolau de Mello [3]): Carolina dos Santos e seus filhos Fileto, Cecília e Damiana (pp. 104-105); e apresentou um resumo biográfico do poeta-operário Hemetério Cabrinha [4] [5] [6], em Patiguá, p. 46].

Graduado pela Escola Nacional de Veterinária, abandonou a profissão de médico veterinário quando se tornou administrador público, tendo sido, em 1939, nomeado prefeito de Guarapuava. Modernizou, em sua gestão, a capital daquele município (Cf. "Depoimento", trecho do Desemb. Lauro Fabrício de M. Pinto: "O Interventor Manuel Ribas (...) [nomeou] prefeito de Guarapuava o jovem Ulysses Bittencourt. (...) O jovem prefeito modernizou a cidade, construíu estadas e pontes, e erigiu (pela primeira vez, naquela velha região pastoril) um posto de monta, que melhorou sensivelmente o rebanho equino do Município" (São Paulo-SP, 28/02/1984), Patiguá, p. 65; artigo publicado originalmente no jornal A Crítica, de Manaus, ed. de 13/03/1984).

Membro da Academia Amazonense de Letras [7] e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas [8], escreveu Raiz (Rio de Janeiro: Copy e Arte, 1985), Povoamento da Bacia Amazônica (Porto Alegre, PUC, 1988 - conferência proferida na PUC-RS) e Patiguá (Rio de Janeiro: Copy e Arte, 1993). Articulista, nos anos 1980, do jornal A Crítica, de Manaus, o historiador Mário Ypiranga Monteiro escreveu na apresentação de seu livro Patiguá: "Por muitos anos [seu primeiro livro publicado, Raiz] constituirá o testemunho valioso dos quadros históricos amazonenses não tratados anteriormente (...)" (p. 19). Raiz e Patiguá são citados na obra de Samuel Benchimol Manáos do Amazonas - Memória empresarial, vol. 1 (Manaus: ACA (Associação Comercial do Amazonas) - Fundo Editorial / Governo do Estado do Amazonas, 1994).
Artigo publicado na revista Baricéa, Manaus, março/abril/1940, p. 13, mantida a grafia do original
Chegou a Manaus, pelo Anselm aqui aportado no dia 26 de Março recem-findo, o jovem médico veterinário Dr. Ulysses Bittencourt, que alguns anos atrás tomara passagem para o Rio de Janeiro, onde fôra cursar com brilhantismo a Escola Nacional de Veterinária.

O jovem médico amazonense, filho do nosso presado professor Dr. Agnello Bittencourt, Delegado do Serviço Nacional de Recenseamento, trás para sua terra um documentário que é um histórico palpitante, sobretudo lisongeiro para o seu portador. Regressa à sua terra, ofertando-lhe o título que soube merecer sua perseverança e inteligência.

Aos vinte e poucos anos, uma idade que florece entre as avalanches da maior das crises, a adversidade, êsse moço que daqui saiu, levando sómente os abraços dos amigos e uma mentalidade apta para uma cultura ainda maior, é um profícuo homem de governo, o elaborador, o idealisador de fantasias realisáveis. Quando, a convite do interventor Manoel Ribas, aceitou o cargo de Prefeito de Guarapuava, Pérola do Oeste, como cognominou a imprensa sadia do Paraná, já tinha em mente a ação notável que faria no Município de Guarapuava, a cidade princesa. Foi o restaurador ousado, de grande senso patriótico, o homem-ação que, em dez meses adminsitrativos, fez a própria imprensa observar que Guarapuava merecia o título de Pérola do Oeste. Com a força do seu entusiasmo moço, construiu pontes, praticou o urbanismo, fez jardins [A praça onde se situa o Museu de Guarapuava, com a galeria de fotos de ex-prefeitos, foi mandada construir por U.B. Nesse museu, o ex-prefeito foi homenageado quando da colocação de sua fotografia na citada galeria de fotos (reprodução de foto de U.B jovem); no Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Amazonas consta uma fotografia de Bittencourt já septuagenário], remodelou e calçou ruas, criou um posto de monta e outras ações de marcante progresso.

Êsse amazonense de cultura e patriotismo tomou uma licença de três meses para rever o seu grande Amazonas e abraçar sua digna família. Será um curto estágio e o Dr. Ulysses voltará ao seu posto.

Entretanto, se o Amazonas, farto e bondoso, preparar um futuro brilhante que merece o jovem intelectual, então veremos ficar entre nós, pervagar o nosso horizonte e compartilhar de nossas mesmas desditas e vitórias.

Que sejas feliz e benvindo, irmão-amazonas! (Texto reproduzido em Patiguá, p. 13.)

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ulysses_Bittencourt

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