domingo, 10 de abril de 2011

'Quem vai fazer o reconhecimento do corpo?'









Irmão de atirador diz que não há condições de ir ao Rio. Família está com receio de represálias

“Que País é este? Está tudo pichado, levaram tudo da casa da minha irmã”, diz P, irmão de Wellington de Oliveira, ao comentar sobre o imóvel onde morava com a família em Realengo e foi depredado. Em conversa por telefone com o iG, neste domingo (10), P., muito nervoso, diz que não agüenta mais o assédio da imprensa após o massacre em Realengo e disse que está tomando uma “série de remédios” desde que saiu do hospital com problemas nos rins.

“Fiquei 40 dias internado, anemia, não tem nada a ver com essa história, não temos nada a ver com isso. Quem te passou meu telefone? Eu não agüento mais, a gente não tem sossego com negócio de jornal. Estou evitando falar”, afirmou, com a voz trêmula.

Um dos cinco irmãos de Wellington, P., pede para desligar porque "precisa almoçar" e passa o telefone para um homem que mora com ele e não quis se identificar. "Gostaria que vocês deixassem a gente em paz. Liga mais tarde, deixa ele almoçar. Ele está com os papéis do médico", disse.

Questionado se alguém da família faria o reconhecimento do corpo do atirador, que continua no Instituto Médico Legal (IML) do Rio para reconhecimento, ele responde: “E quem vai fazer o reconhecimento do corpo? Não tem condições de fazer. E nesta situação? A gente mora longe. Quem vai fazer o reconhecimento do corpo?”

Caso ninguém apareça para fazer o reconhecimento, o corpo de Wellington será enterrado como indigente. Funcionários do IML, que preferem não ser identificados, relataram ao iG que a família estaria com medo de ir ao local para retirar o corpo por conta de represálias. Uma das irmãs do atirador, inclusive, deixou a casa da família em Realengo com o marido e o filho. O local foi depredado na madrugada de sábado.

Após mais um ataque à casa da família de Wellington neste domingo, vizinhos decidiram pedir reforço policial com receio de novas represálias. Uma moradora chegou a dizer à polícia que os vândalos ameaçaram atear fogo no imóvel. Policiais que registraram a ocorrência não descartam a possibilidade de o crime ter sido cometido a mando de traficantes que atuam na região, já que duas crianças mortas moravam na favela.

* Com Priscila Bessa e Flávia Salme, iG Rio de Janeiro

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