segunda-feira, 21 de setembro de 2015
A PANTERA 24
A PANTERA 24
ROGEL SAMUEL
Não mais vi Jara. Gastei muito pagando expedições no Amazonas em busca da desaparecida. Aquilo começava a chamar atenção da mídia e era falado em Manaus.
Sem Jara, fiquei em Paris no fundo da mais sombria noite de grande depressão.
Continuei meu curso de costura na “Ecole” e já fazia pequenos trabalhos em diversos ateliers além de dar aula na própria escola. Era fácil desenhar e costurar roupas para aquelas modelos altas e magras. Difícil era fazer o que eu fazia, trabalhar com senhoras de meia idade, ou mesmo idosas, algumas gordas e barrigudas como as freguesas de minha mãe. Mas eu conseguia que elas se sentissem elegantes. Sabia realizar aquele milagre. Era o que eu ensinava na escola, uns truques, com poucos alunos. Mas aquelas senhoras milionárias podiam pagar o trabalho de um estilista de alta costura.
A minha especialidade foi logo reconhecida.
Eu não era um novato, vinha de longe, e a escola reconhecia logo quem sabia fazer o difícil, os melhores em cada especialidade. E nisso era eu um consumado mestre.
Então compreendi havia algo em Jara que sempre dizia - sou livre, sou um animal selvagem, um caçador solitário da floresta.
Sim, Jara era livre, uma solitária pantera.
Mas eu quase morto, no fundo de mim algo morrera para sempre. O meu âmago chorava diariamente.
Mas resolvi esquecê-la, apesar de procurá-la pelo telefone. Depois, nem isso. A pantera é um animal solitário. Ninguém alcança no fundo da noite. Eu sabia disso.
Toquei minha vida. Sempre fui um sobrevivente, um guerrilheiro.
Não mais vivia às custas do dinheiro dela, que tinha acabado. Comecei a ganhar alguma coisa como professor, estilista, costureiro.
Passava a gozar meus instantes. Vivia modestamente. Tomava o café de manhã em casa, ia para as aulas na Escola. Voltava para casa. Dava aulas noturnas. Lia até bem tarde. Era o meu cotidiano.
Apesar do trabalho, vi que meu dinheiro era pouco. Paris é uma cidade cara. Comecei a pensar em morar num quarto no subúrbio.
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