terça-feira, 15 de setembro de 2015

balada para todo amor


balada para todo amor


rogel samuel


todo amor é assim, plágio 
cópia de cópia de si, no mesmo 
sim na sua visibilidade 
no seu sexo. Porque todo amor 
é aquela alegre repetição 
doença de sonho e de tensão 
acontecimento que tanto faz 
se desfaz. De que não posso 
dizer o que quero, ou o que vale 
nem mesmo vale a pena 
[O amor, seu troco.] 
O caro, o espaço, o caroço 
o que sobra o que falta e o falho. 
Todo amor falece. Não cresce. 
Não é o que se espera. 
Dele nada sobra. Além do gozo. 
Da calma, da cama, do colo 
da palavra: só as notas altas 
o cantam. As baladas mais. 
A exultação mais plena. 
Pois todo amor é outra vez 
o mesmo amor. É sempre. É pouco. 
E só se estabelece quando 
impossivelmente fala a falta 
do tolo amor, que já é lembrança 
excessiva. Que todo amor costura 
um tédio. E tem a surpresa da morte. 
Somos suas presas em suas levezas. 
Corre o fundo tempo por seus lodos 
mostra a sua sede à noite morta. 
Quem me crê sabe o que digo: 
o amor já vem perdido, pois perder-se 
é o destino amante. Dele vem logo 
o mote o trote o corte a espada 
que o amor tem em seus dentes 
pois sua loucura é o nada.
[Em 14 de maio de 2.000]

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