MARIA AZENHA - Carta do século
Óleo – Zademack
Publicado em 30 de novembro de 2015
Somos escravizados por gente maldosa fechada em gabinetes.
Somos escravizados por mentiras que sustentam o planeta.
Somos escravizados pelos medos.
Somos escravizados quando o corpo cai e ninguém lavra a terra.
Somos escravizados, Europas!
Somos escravizados, Américas!
Somo escravizados, Ásias!
Somos escravizados, Montanhas altas,
onde as mães cantam a luz acesa das estrelas!
O medo é a ditadura dos currais das trevas!
Não temos a quem gritar este grito de eremitas e de panteras acossadas.
Continentes todos, passando pelas Áfricas!,
somos escravizados duma ponta a outra da Terra!
Alguns de nós, dentro de paredes.
Outros, fora das casas, em tarefas.
Outros ainda, com as mãos postas em grades, aprisionando as pedras
que lá foram colocadas.
Todos encerrados em gaiolas como cárceres de répteis!
Abaixo a escuridão das tochas.
Têm medo de nós.
Nós temos medo deles.
O medo transformou-se no sursum corda dos escravos atuais!
Fermat é um artista matemático! Cantou o seu belíssimo teorema!
Encontrei-o a caminho de uma terra prometida!
Tenho medo!
Não! Nós não temos medo!
Esse é o mais belo Teorema da humanidade.
O Medo é uma porta de dois sentidos: a de entrada e a de saída!
Não vedes as estrelas e as vacas anunciando tudo isto e muito mais?! ?
Digo: A virgindade das sombras tem alta cotação no mercado!
Sabiam?
Quem negoceia com metáforas democráticas?
Fora a lógica! Fora as falácias!
Os ventos fluem.
O planeta tem árvores cobertas de frutos.
Quem sacia a fome de biliões de crianças nuas?
O Teorema de Fermat é minúsculo comparado com tudo isto.!
A alta finança é um navio que desliza nos subúrbios das grutas!
Foi lá que nasceu a primeira Mentira a ser vendida ao mundo!
Não vos parece, a Terra, um túmulo?
Vede os grandes transatlânticos humanos!
Vede!
Atravessamos a escuridão das fábulas.
Somos cegos de mãos dadas!
Sabemos que não acabou o banquete da miséria.
O anjo guardião das trevas continua vestido de Príncipe.
Príncipe, sim!
Batemos à porta, em turbas, cheios de fome e frio
e já aconteceu a inúmeros suicidarem-se!
O meu coração dá voltas dos pés à cabeça e não tem sossego.
Há árvores cobertas de moscas!
Sinto vontade de gritar a plenos pulmões, mas que não me chegam!
Libertem-nos !
LIBERTEM-SE!
Podemos todos escrever versos! Fazer um Poema Contínuo!
As nuvens escrevem todos os dias mais uma letra!
O Anjo do Medo está sempre escarnecendo!
Tornei-me uma mulher insuportável.
Espanco todos os dias a minha boca com palavras de amor.
Sou uma criança com fome, como todos vós .
Trago em meus lábios o verso mais puro do ódio!
Sinto-me Eléctrica ! Robot! Maquiavélica!
O que nós fazemos é horrível! Mentimos
uns aos outros com palavras doces!
Parece que dormi toda a noite num Inferno.
Acordei um monstro vomitando tudo o que engoli durante séculos!
Nem queiram saber!
Os meus olhos são um Abysmo-de-Ver.
Tenho uma Monumental Cabeça como numa escultura de Giacometti.
Os meus braços são janelas sem piedade!
Os meus pés pegam fogo a tudo quanto passa!
Entrámos no Inverno.
A Hora está cada vez mais próxima!
Vivemos uma aventura que dura há mais de vinte séculos.
Não fiquem sentados!
Todos em pé!
Libertemo-nos das amarras!
A partir de agora é em frente que vamos.
É a nossa Hora!
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