CONFLUÊNCIA - Rogel Samuel
Escrevo da rodoviária. Ao meu lado, um sertanejo idoso lê vagarosíssimo uma carta de cinco folhas de caderno escritas em tinta azul. Distingo ler algumas linhas: "...o lindo lenço que ganhou...", "...a terrível crise que estamos passando...", "...a mãezinha e nosso irmão..." Há vários viajantes apressados. Ouço música sertaneja. Na minha frente um jovem alto, branco e sólido, vestido de bermuda curta azul e camiseta clara. Parece um atleta. Vejo de repente passar um conhecido. Não tem bagagem nas mãos, deve estar esperando alguém que chega. Saio, vou ver os jornais. Não os compro. Só os leio pela Internet. Nas capas de revista os esquecidos... Tudo passa. Mesmo os arrogante romanos passaram. Na Idade Média, uma rã coaxava com tranquilidade sobre a pedra de onde Cícero discursava. Há uma jovem que chora, sozinha. Aproximo-me, sento perto. Por que chora? É muito jovem, magrinha, saía da adolescência. Chora. Tenho vontade de
chegar mais perto, abraçá-la. Perguntar, "por que chora?" Mas não ouso. Não é um pranto alto, convulso, mas interno, para dentro de si, lá onde a dor é mais secreta, mais funda. Quase não há lágrima. Está desolada e só, nesta cidade terrível, com seus cadáveres, seus bandidos, seus fracassos, seus jardins e praias e mágoas. Volto-me e vejo que o velho continua a ler sua carta de cinco folhas. Seus lábios tremem.
chegar mais perto, abraçá-la. Perguntar, "por que chora?" Mas não ouso. Não é um pranto alto, convulso, mas interno, para dentro de si, lá onde a dor é mais secreta, mais funda. Quase não há lágrima. Está desolada e só, nesta cidade terrível, com seus cadáveres, seus bandidos, seus fracassos, seus jardins e praias e mágoas. Volto-me e vejo que o velho continua a ler sua carta de cinco folhas. Seus lábios tremem.
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