domingo, 8 de maio de 2011

O texto nu ou a teoria desvelada







Rogel Samuel*


Quando abri o belo livro de Zemaria Pinto, O texto nu, logo pensei, pelo título: “trata-se de obra de poesia”. Pois ele é um poeta. E bom poeta. Mas qual surpresa foi a minha ao ver que abria um volume de... teoria literária. E ainda mais, um compêndio teórico prático, didático, claro, metódico, onde se explicam as diversas teorias literárias, no mais claro texto possível, o mais facilitado, e tudo muito bem escrito, no seu bom estilo, para o público em geral e para os alunos da graduação em letras.

O título não engana. Ali a teoria da literatura – como ele a chama – está nua. Desnudada, sem véu. Entramos ali num terreno complexo, variado, infinito, movediço, que é aquela disciplina plural, entre filosofia e ciência, vasta e renovável. E notável. E desafiadora.

Poucos são os bons manuais que sobreviveram, por isso mesmo. Porque as novas teorias sempre aparecem. Localizadas, nacionalizadas. Porque o teórico da literatura deve saber de tudo o muito necessário para dar conta de suas tantas faces daquele conjunto de saberes: a linguística, as estéticas, as filosofias, as diversas línguas, as diferentes literaturas nacionais etc.

Quando iniciei por concurso minhas aulas na Faculdade de Letras da UFRJ me jogaram aos leões, e o joguei durante vários anos, numa maluquice, uma infernal disciplina que se chamava “Evolução da literatura”, aquela loucura, uma trapalhada, pois o curso ia desde a Idade Média até as Vanguardas! Quem é capaz de saber, de dominar aquilo tudo? Lembro-me do professor Brisemeister, um filólogo alemão, que na primeira aula do nosso curso de Pós-graduação na UFRJ perguntou a um colega:

– Qual sua disciplina?

– Literatura brasileira, respondeu o aluno.

– De que época? – quis saber Brisemeister, que nos deu um curso em português, pois falava vários idiomas.

Um dos maiores talentos brasileiros, que foi José Guilherme Merquior, caiu naquela armadilha, a de escrever sobre tudo e sobre todos: Freud, Marx, Hegel etc. Assim um grande filósofo brasileiro, o mestre Ivan Lins, comentou que passara a vida inteira lendo Hegel. No final da vida afirmou: “Estou começando a compreender...”

Mas isso não aconteceu com o escritor e poeta Zemaria Pinto. Ele só expôs, no seu livro, as ideias claras e clássicas, as consagradas, as mais conhecidas, as mais gerais, de maneira direta, sem viés, sem polêmica. Basta dizer que não cita ninguém durante o texto, só na bibliografia, onde nos orgulhamos de estar, com dois títulos.

Seu livro é daqueles que já nascem clássicos.



Rogel Samuel é poeta, escritor, webjornalista, doutor em Letras, professor aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autor, entre outros títulos, do Novo manual de teoria literária e do romance O amante das amazonas.


(*) Orelha do livro O texto nu, de Zemaria Pinto – 2ª edição, Valer, 2011 –, que será lançado na próxima quarta-feira, 11 de maio, às 19h30, na Saraiva MegaStore, no Shopping Manauara.


Na ocasião, inaugurando o evento Encontro com a palavra, o autor falará sobre o conteúdo de seu livro, que serve tanto a estudantes e escritores principiantes quanto a interessados na literatura de modo geral.

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