segunda-feira, 30 de maio de 2011
René Char
Picasso
Nas ruas da cidade caminha o meu amor. Pouco importa onde vai no tempo dividido. Já não é meu amor, todos podem falar-lhe. Ele já não se recorda. Quem de facto o amou?
Procura o seu igual no voto dos olhares. O espaço que percorre é a minha fidelidade. Ele desenha a esperança e ligeiro despede-a. Ele é preponderante sem tomar parte em nada.
Vivo no seu abismo como um feliz destroço. Sem que ele o saiba, a minha solidão é o seu tesouro. No grande meridiano onde inscreve o seu curso é a minha liberdade que o escava.
Nas ruas da cidade caminha o meu amor. Pouco importa onde vai no tempo dividido. Já não é o meu amor, todos podem falar-lhe. Ele já não se recorda. Quem de facto o amou e de longe o ilumina para que ele não caia?
René Char
(trad. de Yvette Centeno)
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