domingo, 17 de julho de 2011

OUTONO EM CIGULDA


OUTONO EM CIGULDA



Salto para a plataforma do comboio

e digo adeus.

Adeus, Verão.

Mas já sinto saudades

Da datcha onde o martelo soa.

Fecham a minha casa de madeira.

Adeus.



As árvores perderam já as folhas

E agora, nuas e tristes,

São como um acordeão

sem música.

E nós, nós

também somos estranhos,

partimos,

como se fosse assim determinado,

do erg,

das mães

e das mulheres,

assim tem sido sempre assim será.



Adeus, Mãe,

começas a ficar já transparente

à janela, como num casulo.

O dia extenuou-te, certamente,

e só nos resta descansar.



Amigos e inimigos, good-bye!

Em breve, quando soar o silvo do comboio

vocês, aí, vão ficando para trás

e eu vou-me afastando de vocês.



Despeço-me da terra.

Serei talvez estrela ou salgueiro branco,

mas não irei chorar, não sou nenhum pedinte.

E agradeço à vida que passou.



Nos campos de combate,

tentei matar, poupando as munições,

mas não fui capaz

e pela terceira vez digo obrigado,

porque entre as pás transparentes a vista penetrava

como um punho de sangue

em luvas de borracha.





Andrei Voznessensky



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Amélia Pais
http://barcosflores.blogspot.com
http://cristalina.multiply.com

2 comentários:

Luiz Filho de Oliveira disse...

Ah, como esses russos são bons escritores! Muito bem, Rogel,não se pode negar a quem não conhece o sabor dos excelentes textos.

ROGEL DE SOUZA SAMUEL disse...

obrigado pela visita, amigo