quinta-feira, 7 de julho de 2011
Rogel Samuel: Qualquer que seja a chuva desses campos
Frio. Dias escuros, chuvosos e frios. Mas a Primavera virá. O sol vai luzir no céu.
Rogel Samuel: Qualquer que seja a chuva desses campos
Há um soneto de Jorge de Lima que releio sempre, que não me canso de lembrar e que assim canta:
“Qualquer que seja a chuva desses campos
devemos esperar pelos estios;
e ao chegar os serões e os fiéis enganos
amar os sonhos que restarem frios.
Porém se não surgir o que sonhamos
e os ninhos imortais forem vazios,
há de haver pelo menos por ali
os pássaros que nós idealizamos.
Feliz de quem com cânticos se esconde
e julga tê-los em seus próprios bicos,
e ao bico alheio em cânticos responde.
E vendo em torno as mais terríveis cenas,
possa mirar-se as asas depenadas
e contentar-se com as secretas penas”.
Jorge de Lima, Invenção de Orfeu - Canto I – XXVI
Se tudo estiver bem, lembre-se de que tempos piores podem advir: “Qualquer que seja a chuva desses campos / devemos esperar pelos estios”. E quando a época ruim chegar, devemos contentar-nos com os sonhos. O poeta está sendo pessimista, espera os danos futuros. Pensa em não conseguir o amor sonhado, imortal: “Porém se não surgir o que sonhamos / e os ninhos imortais forem vazios, / há de haver pelo menos por ali / os pássaros que nós idealizamos”.
Feliz de quem com cânticos se esconde
e julga tê-los em seus próprios bicos,
e ao bico alheio em cânticos responde.
E vendo em torno as mais terríveis cenas,
possa mirar-se as asas depenadas
e contentar-se com as secretas penas.
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2 comentários:
Nossa! Que coisa mais linda!
Um poema assim num frio gostoso, num dia que choveu muito no Rio de Janeiro, "Qualquer que seja a chuva desses campos", cai como uma taça de vinho a aquecer o corpo.
Belíssimo!
Abração!
Mirze
sim, belissimo
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