quinta-feira, 18 de agosto de 2011

EUROPA ESCAVA O FUNDO DO ABISMO


EUROPA ESCAVA O FUNDO DO ABISMO. OBAMA COGITA UM BNDES. COM ARROCHO FISCAL?

A economia do euro está parando. Mergulhado numa tempestade perfeita de asfixia fiscal, desemprego e vazio assustador de liderança, o continente alterna dias de falso alívio com outros de puro desespero. A quinta-feira é do desespero. Carteiras de ações queimam nas mãos de fundos e investidores. Pregões despencam. Ventos frios transformam temores em confirmações: França e Alemanha estagnadas; dos EUA chegam números da mesma cepa. Vendas de imóveis usados caíram ao nível mais baixo desde 2009; pedidos de seguro desemprego crescem; atividade industrial tombou em Nova Iorque, embicou na Filadelfia. Há coisas piores no cardápio dos próximos dias: em setembro a Itália terá que levantar 50 bilhões de euros para girar sua dívida pública da ordem de 120% do PIB. Centuriões do euro, Sarkosy e Merkel, jogaram água fria na expectativa de um reforço no fundo europeu de estabilização que pudesse prefigurar uma unificação fiscal solidária. Não por acaso a bolsa de Milão caía 5,7% na tarde desta 5º feira. As portas vão se fechando. A esperança de que o mundo possa evitar um rastejante ciclo de crise longa e dissolvente, como diz Maria da Conceição Tavares, esfarelam-se. Cada vez que as lideranças conservadoras abrem a boca a bradar por mais ortodoxia para acudir seus efeitos, manadas pró-cíclicas escavam o fundo do abismo. Uma luz tardia vem das palavras de Obama, em caravana pré-eleitoral no Meio-Oeste americano. Acuado por críticas, o democrata fala em relançar o emprego com incentivos a pequenos e médios negócios. Num vislumbre de ativismo fiscal algo anacrônico depois da derrota para o arrocho do Tea Party, chega a acenar com a criação de um banco de desenvolvimento para infraestrutura. Se decidir peitar seus ortodoxos, Obama poderá buscar experiência no maior banco desenvolvimento estatal do mundo: o BNDES. Três vezes maior que o Banco Mundial, ele ancora outra ferramenta anti-cíclica de que se ressentem os EUA e demais redutos da autossuficiencia dos mercados:o PAC, plano de aceleração do crescimento, alavanca keynesiana que reúne R$ 1,5 trilhão em obras nos próximos anos, sendo R$ 960 bi até 2014. Números de causar urticária em Sarah Palim e congêneres tropicais, cuja agenda em meio à hecatombe é a ambígua 'caça aos corruptos', os da base do governo,bem entendido.
(Carta Maior; 5º feira, 18/08/ 2011)

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