sábado, 30 de novembro de 2013

O VÔO VAZIO

O VÔO VAZIO
 
ROGEL SAMUEL
 
Ah, que quando abri meus olhos não, não nos primeiros instantes, não, mas logo compreendi que não sabia onde estava. Aquilo, aquele ruído grave, surdo, me deixava inerme, e devia estar naquela posição desde muito tempo, ali e sim, era importante ver e entender o que se passava, era realmente urgente, eu estava sozinho naquele avião, e o vôo prosseguia e eu estava em pleno ar.
Era uma aeronave grande, MD-11, de 285 lugares, capaz de carregar 280.320 quilos e viajava a 890 km por hora.
Talvez estivesse ali por acaso, esquecido, mesmo restasse ali para morrer. Costumo tomar uns comprimidos fortes para dormir nos vôos demorados, depois de me prender bem com o cinto de segurança na poltrona. Porventura todos os outros passageiros teriam saído, pulado, estaria eu naquela aeronave e assim conduzido para algum lugar em perigo, sem nenhum retorno, como para a morte num avião seqüestrado.
Quando acordei vi que nem imaginava para onde ia.
Com muito custo consegui destravar o cinto e erguer-me dali.
Fui até a frente do aeroplano.
Não vi ninguém.
Como a sede me atormentava, abri uma garrafa de água mineral e bebi um gole. Aquilo me reanimou.
Na tentativa de explicação, e como já estivesse a ponto de entrar em pânico, fui à cabine de comando, cuja porta encontrei trancada, mas que logo consegui abrir.
Havia o pessoal de bordo, sim, havia, que pude ouvi-los mas não consegui vê-los.
Conversavam entre si e riam.
Lá estavam.
Mas apareceu uma aeromoça muito irritada comigo, criticando-me severamente por eu ter saído de meu lugar e ir aonde não devia, por ter entrado na cabine.
Ela, sem querer ouvir nem me deixar falar, me ordenou com impaciência e autoridade, que eu logo retornasse à minha poltrona, que voltasse imediatamente para meu lugar, não me dando nem tempo para formular minhas indagações e saber onde estava e para onde ia, já revelando que não responderia às minhas indagações.
Mais conformado vi que tudo funcionava bem, que o vôo prosseguia e não corria perigo, com serenidade deixei-me ficar naquela desconhecida rota, viagem fantasma, como sob o sigilo e o controle do piloto automático.
Voltei reconfortado mas muito mais cansado com o esforço, de tal forma que me sentei no mesmo lugar e logo adormeci, ainda sob o efeito do forte tranqüilizante.
Caí num sono profundo.
No meu sonho considerava eu não saber onde estava, sonho que sempre se repete, não me recordava de onde vinha, não sabia para onde ia.
Eu continuava a sonhar.
O efeito do tranqüilizante não passara ainda, e estava eu mergulhado numa indiferença mortal, como que entorpecido.
Quando acordei, tinha uma sede terrível. Minha vista se escurecia, a mente se obscurecia e desmaiava num véu escuro povoado de alguns súbitos clarões, como relâmpagos. Tentei erguer-me outra vez da poltrona, na intenção de informar-me outra vez com o pessoal de bordo. Curiosamente só me lembrava de ter visto a aeromoça.
Depois de algum tempo, consegui levantar-me. Andei. Entrei no banheiro.
Devíamos estar na velocidade de cruzeiro, porque havia estabilidade no vôo.
Sentei-se no vaso e desmaiei.
Uma turbulência me acordou.
Ergui-me e voltei.
Ao passar, tive vontade de tentar abrir a porta da aeronave. Eu sempre quis abrir aquela porta. Mas não consegui fazer nada.
Voltei ao meu lugar e percebi que agora existia alguém, alguma coisa que estava diferente: havia um homem sentado ali, no mesmo lugar, dormindo.
Tentei acordar aquele homem. Tentei acordá-lo. Mas não consegui, porque logo vi que era eu quem estava morto ali.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

O METRO ADVERSO

O METRO ADVERSO

ROGEL SAMUEL


Foi assim que este soneto de natal de Machado de Assis passou a figurar em todas as nossas nobres antologias históricas, desgraçadamente mal compreendido, mal lido, mal interpretado, sem que ninguém visse o que nele se esconde: a mediocridade, a critica da mediocridade nacional, escrita pelo mais mordaz dos críticos, que fica a rir da nossa ignorância e besteira:

Um homem, — era aquela noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno, —
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,

Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações da sua idade antiga,
Naquela mesma velha noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno.

Escolheu o soneto . . . A folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,
A pena não acode ao gesto seu.

E, em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
"Mudaria o Natal ou mudei eu?"



O que acontece é que o famoso “Soneto de natal”, de Machado de Assis, exibe a marca de algumas de suas mais famosas e misteriosas ironias: - Machado nunca está dizendo o que aparentemente diz - sempre possue algo escondido, ou melhor, aquilo que está ali precisamos verter para a sua outra verdade, que é a do (entre-)texto, procurando lá a real significação do que ele quer, no texto, apontar, - o sub-texto dos sentidos ocultos, possíveis, falíveis, omissos, mas cabíveis, ao leitor desconfiado de que Machado está traindo, escondendo o jogo, de que está ausente-presente ali, por trás dos óculos, a rir, a gargalhar, ironicamente, da nossa burrice nacional, da nossa incapacidade de ler aquele soneto “corretamente”, e da sua própria incapacidade de escrevê-lo, nesse Bin Laden dos poemas de natal.

* * *
O tal soneto começa com um indefinido: “um homem”... Um homem não é um poeta. Quem é senão a própria figura oculta de Machado? Se um certo homem resolve escrever um certo poema de natal, ou escrever um poema no dia de natal, lembrando-se da infância, e “a viva dança, e a lépida cantiga”, esse deve ser uma fotografia poética do autor - caso contrário o soneto não teria nenhum sentido estruturante.

* * *
Ora, um homem, quer dizer, um poeta, o poeta Machado - depois de lembrar-se da infância, ou por causa disso, resolve escrever um poema de natal no dia de natal, e não consegue, e nada sai, nem um verso, apenas a reflexão de que nada conseguiu, de que é incapaz de compor o mínimo poema de natal - seja porque sua lira se encontra em baixa, seja porque era mesmo Machado de Assis quem estava ali, e ele era verdadeiramente ateu, não acreditava em natais, nem naquela estória piedosa de “noite cristã etc” que só pode ser pura ironia do velho materialista - não se fie o leitor nessa estória comovente de “verso doce e ameno”, isso é pura galhofa do velho Machado - o que ali se tem é mesmo o “metro adverso”, a velhice, portas da morte, do nada, da folha em branco da morte, - a morte da inspiração, da juventude, do frescor musical de seus versos, da inspirada sensualidade juvenil - aquilo tudo que não mais existe, e em seu lugar a secura da voz, sem musicalidade nem poesia, apenas reflexão árida, cerebral, seca, vazia, amorfa, vinda do mofo interno, da mediocridade de almanaque: "Mudaria o Natal ou mudei eu?"
 
* * *
Mas o pior - e o mais grave, ou mais engraçado - é que a maioria dos leitores brasileiros, e os escolares, pelo tempo agora, mais de século, tem lido o soneto às avessas, ao contrario, vendo nele uma singular beleza que ali não há, que não está lá, que ele não tem, de que não dispõe, nem quis ter - pois o soneto é uma decepção, e é a expressão desta, a voz da mediocridade - pois o soneto é a escrita da incapacidade e da ausência, da insuficiência, e da não-poesia, do não-poético, pois Machado intencionalmente ironiza a incapacidade de escrever um belo soneto de natal por falta de fé, mas escrevendo um péssimo soneto sobre a sua própria falência de fazê-lo, e aquilo vem cheio de uma aparente “beleza” perfumada e barata, piegas e popular, que se traduz naquela “noite amiga”, naquela “noite cristã”, naquele “berço do Nazareno”, quando “sabemos” ou desconfiamos de que Machado não está falando sério, de que ele presumia que o leitor vulgar já ia achar o soneto maravilhoso, antológico, e realmente foi assim que o desgraçado soneto se tornou um clássico da literatura nacional, e foi assim mesmo que passou a figurar em todas as nossas nobres antologias históricas, desgraçadamente mal compreendido, mal lido, mal interpretado, sem que ninguém visse o que nele se esconde: a mediocridade, a critica da mediocridade escrita pelo mais mordaz crítico da mediocridade que foi Machado de Assis, que está a rir da nossa ignorância nacional brasileira...

* * *
E foi assim que este soneto se tornou um clássico.


quinta-feira, 28 de novembro de 2013

CAVALOS


Confeitaria italiana fará panetone de R$ 240 mil com ouro e diamantes

Confeitaria italiana fará panetone de R$ 240 mil com ouro e diamantes
 

 
  • Divulgação/Pasticceria del Borgo
    Protótipo do panetone de R$ 240 mil, feito com com ouro e diamantes Protótipo do panetone de R$ 240 mil, feito com com ouro e diamantes
Uma confeitaria da cidade de Carmagnola, na região de Turim (norte da Itália), anunciou que irá fazer um panetone avaliado em cerca de R$ 240 mil, incluindo uma cobertura extra de folhas comestíveis de ouro e uma faixa de base formada por cerca de 1,2 mil pequenos diamantes.
A encomenda foi feita em agosto por um magnata russo cuja identidade não foi divulgada e deverá ser entregue ao cliente na primeira quinzena do mês de dezembro.
A versão milionária do pão de Natal será feita com farinha, ovos, leite, açúcar, uva passa, frutas cristalizadas, marrom glacê e cobertura de chocolate, além dos ingredientes especiais já citados.
Segundo Dario Hartvig, proprietário da confeitaria e responsável pela confecção da encomenda de 2 kg, o panetone custará 3,2 mil vezes mais caro que um panetone normal vendido por ele.
Esta será a primeira vez que o confeiteiro de 40 anos, que trabalha com doces há 26 anos, faz uma receita tão cara.
Presente de Natal
Hartvig conta que a proposta inusitada surgiu durante uma viagem à Ilha de Sardenha.

"Tínhamos (eu e o magnata) um amigo em comum. O russo estava de férias ali com a família. Uma noite fui convidado para um jantar em seu iate e preparei um doce típico italiano, um tiramisu. Ele adorou. Começamos a conversar e veio essa ideia do panetone coberto de ouro", dise.
"Depois, um assistente dele deu outras sugestões para valorizar ainda mais esse panetone e veio a imagem da faixa na base. Eu tinha dito (Cristais) Swarovski, mas ele disse logo diamante."
De acordo com o confeiteiro, o panetone milionário será um presente de Natal do magnata a uma empresa. "A faixa de diamantes foi feita de forma a poder ser desmontada em cinco partes." Serão cinco fatias de "Feliz Natal", cada uma estimada em cerca de R$ 48 mil.
Hartvig conta ainda que, no início de novembro, o russo foi até a confeitaria em Carmagnola para fazer uma "prova" da encomenda. "Ele saboreou e aprovou tudo."
O dia exato da entrega do doce ao magnata, porém, não foi divulgado pelo confeiteiro italiano por questões de segurança. Segundo Hartvig, funcionários do milionário irão buscar o panetone e levá-lo de avião à Rússia.
O panetone deverá ainda ser entregue dentro de uma caixa transparente feita de um material chamado plexiglass, semelhante ao acrílico e resistente a altas pressões. A embalagem custa R$ 600.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

O insondável amor de Kafka e Felice

O insondável amor de Kafka e Felice

As cartas do autor de ‘O processo’ permitem reconstruir um enigmático relacionamento cheio de turbulências

Madrid           
Franz Kafka, no traço de Fernando Vicente.
No dia 16 de junho de 1913, Franz Kafka confessou a Felice Bauer que não era grande coisa. “A verdade é que não sou nada, o que não diz nada”, escreveu. Imediatamente depois explicava que não conhecia ninguém tão desastroso nos relacionamentos humanos como ele, e que tinha a impressão de que “não vivesse nada”. E acrescentava: a) que era incapaz de pensar e b) que também não sabia narrar, “nem sequer falar”. Pouco antes, depois de informar Felice que estava doente, perguntou para ela: “Você quer refletir (…) para chegar a uma conclusão sobre minha proposta de casamento?”.
A editora espanhola Nórdica vai relançar nos próximos dias Cartas a Felice, quase quarenta anos depois de o livro aparecer na Espanha. E fez uma magnífica edição no momento oportuno: nunca é demais submergir neste insondável e enigmático relacionamento. “Eu perderia minha solidão, que em sua maior parte é horrível, e te ganharia, a quem amo mais que nenhum outro ser”, seguia contando Kafka na mesma carta. “Em troca você perderia tua vida tal como a levaste até o momento, vida com a que te sente satisfeita quase por completo”. De modo que arrematava: “No lugar dessa nada desprezível perda ganharia um homem doente, débil, insociável, taciturno, triste, rígido, quase desprovido de toda esperança, cuja única virtude consiste em que te quer”.
Kafka conheceu Felice Bauer no 13 de agosto de 1912 na casa da família de Max Brod, seguramente seu melhor amigo. No dia 20 de setembro escreveu para ella pela primeira vez. Kafka tinha então 29 anos; Felice, 25. Ele trabalhava em uma empresa de seguros, vivia em Praga e estava a ponto de publicar seu primeiro livro de relatos, Contemplação. Ela era executiva na Carl Lindström S.A., uma empresa dedicada à fabricação e distribuição de aparelhos de gravação e residia em Berlim. “Quando cheguei a casa dos Brod”, anotou dias depois em seu diário a propósito de Felice, “estava sentada à mesa. Não senti a menor curiosidade por saber quem era, porque em seguida foi como se nos conhecêssemos a vida toda”.
Não tardou muito para que eles se encontrassem com uma inusitada frequência, quase diariamente. Em sua sexta carta, no 27 de outubro, Kafka reconstruiu milimetricamente o dia em que se conheceram. Não voltaram a se ver, no entanto, até o dia 23 de março de 1913, quase nove meses após seu primeiro encontro. Em maio, Kafka foi recebido pela família de Felice, e passou mal. Por fim, em junho, pede Felice em casamento. No dia 1 de abril, no entanto, lhe confessou: “Meu verdadeiro medo –não poderia dizer nem ouvir nada pior– consiste em que jamais poderei te possuir.”
As cartas de Kafka a Felice ocupam 827 páginas nesta edição. Quase 80% do espaço foi escrito antes do final do ano de 1914. A última é de 16 de outubro de 1917. Foram cinco anos de um relacionamento estranho, quase sempre a distância, cheia de recatos, de equívocos, de turbulências. Amavam-se loucamente, e loucamente temiam pelo que o futuro os reservava. Foram às vezes cúmplices e às vezes inimigos. Felice respondeu que “sim” à carta de junho de 1913, e imediatamente depois começou o tormento de Kafka. Em setembro ele desmancha o compromisso e entra em um sanatório na Alemanha. Lá conhece a “garota suíça” pela qual apaixona durante dez dias. Felice, por sua vez, envia no final de outubro uma amiga, Grete Bloch, para servir de mediadora.
Mais complicações: Kafka começa a cortejar Grete por correspondência, mas pouco a pouco recupera Felice. Voltam a se prometer em junho de 1914, voltam a romper um mês mais tarde, após um incômodo episódio em um hotel que Kafka identifica com um tipo de processo em que é condenado.
Entre o dia 3 e 13 de julho de 1916, Kafka e Felice passam dez dias em Marienbad, na República Checa. A princípio as coisas iam bem. “Seguiram-se cinco dias felizes com ela, um, diria, por cada um de seus cinco anos juntos”, escreve Elias Canetti no outro processo de Kafka. De novo pensam em se casar quando a guerra terminasse. Mas voltam a discutir. Há ainda um traço de amor, mas em outubro de 1917 o relacionamento finalmente acaba. No dia 30 de setembro Kafka escreveu a carta mais triste, a penúltima de todas, embora seja a que expresse o verdadeiro final. “Meu corpo é muito frágil”, escreve, referindo-se a sua doença. “Jamais recuperarei a saúde”. Tudo terminou.

O advogado da História

O advogado da História
 
ROGEL SAMUEL
 
 
1. Quando eu era menino tive um singular professor no curso ginasial.
Era o primeiro dia de aula. Turma cheia. Inquieta. Violenta. Moleques dispostos a bagunçar e brigar. Um perigo.
Então entrou em sala de aula o professor. Era atarracado, forte, aparência militar.
Não direi seu nome, seus filhos e netos devem estar em Manaus.
Começo da aula. O professor avaliava os alunos. Os alunos olhavam, desafiavam, tensos, o professor.
Algo secreto pairava no ar. Algo suspeito, uma bomba ia explodir.
O professor sério, falava, explicava o curso que ia dar. Nós nos entreolhávamos, ouviam-se risinhos sufocados. O professor começou a sentir-se mal, respirava fundo, com dificuldade.
Foi quando o professor voltou-se para o quadro-negro e começou a escrever. Escrevia rápido, a letra era muito bem feita, alinhada, de calígrafo. Então ele recebeu a primeira bolinha de papel.
Voltou-se para nós, branco, os lábios tremiam. Continuou a escrever, novas bolhinhas. Voltou-se para nós e disse, tinha a voz trêmula:
– Eu quero avisar uma coisa: eu não reprovo, não ponho aluno pra fora de sala, não chamo a diretora...
E abrindo o paletó, onde deixou aparecer um revólver:
– Eu quebro a cara de quem atrapalhar a aula!
2. Outra professora, excelente, era nossa professora de música. Dava aula regendo:
– Dó-ó! – Dividia os tempos, cantando.
Um dia um gaiato conseguiu por um gato no gavetão de sua mesa de tampa. Quando ela levantou a tampa e abriu a mesa o gato pulou sobre ela e ela desmaiou. “Estará morta?” Os alunos de apavoraram. O diretor, espírita, dava-lhe uns passes...
3. Nosso professor de ciências era magrinho, baixinho, mas muito brabo. Um dia, atravessando a rua, quase foi atropelado:
– Idiota! Gritou-lhe o chofer.
Ele tirou o revólver e deu vários tiros no carro. Não matou ninguém.
Estando em sala de aula enfureceu-se com o barulho dos alunos e deu um murro na mesa: seu anel de formatura com vários diamantes espatifou-se. Voaram brilhantes por todos os lados. Saímos catando pelo chão, para ele.
Já bem velhinho o encontrei num shopping no Rio de Janeiro.
4. Nosso professor de história, outro advogado, comunista. Vestia um impecável terno branco que tirava diante de nós:
– Na aula passada . – (e acendia o cigarro)... nós nos reportávamos à civilização bizantina...
Falava pausado, mas ininterruptamente, com voz nasal. Sua prova era oral: fazia só três perguntas, durante a chamada. Elegante no vestir, elegante no falar, sua aula (vejo hoje) era um desenrolar da História aos nossos olhos. A História se manifestava ali, na sua dialética marxista. O mais incrível era que ninguém o perturbava. Não usava nenhum livro didático, nós tínhamos de tomar as notas do que falava para responder às provas. Não era decorar, mas entender a História, com suas causas e conseqüências.
Nosso professor era um advogado. Um advogado da História.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Buraco misterioso chama atenção na Bósnia


Caderno com anotações ‘bizarras’ de Jim Morrison vai a leilão em dezembro

Caderno com anotações ‘bizarras’ de Jim Morrison vai a leilão em dezembro


  • Textos têm conteúdo confuso, possivelmente por causa do uso de drogas pelo cantor do The Doors
  • Valor pode passar de US$ 300 mil


O cantor Jim Morrison Foto: Divulgação
O cantor Jim Morrison Divulgação



RIO — Um caderno de anotações que pertenceu a Jim Morrison será leiloado em 18 de dezembro, em Los Angeles. O valor pode passar de US$ 300 mil.
Escritos a mão, os textos revelam, segundo o "The Times", pensamentos confusos do líder do The Doors, possivelmente influenciados pelo uso de drogas.
A primeira página apresenta a seguinte frase: "Vamos estragar os melhores segredos da vida ou ajudaremos a libertar um novo tipo de homem?". Outra passagem diz: "Visão do útero. Visão interna. Olho do meio ciclópico".
A última página fala sobre arte: "Arte é compromisso, uma vasta terra. Ela tenta unir o assunto ao objeto, revelando com olhar puro, mas pode suspender a separação de percebido e perceber. Beleza é, portanto, um absoluto, enraizada na percepção desinteressada — objetos desprovidos de qualquer propósito e significado."
Joe Maddalena, porta-voz do Profiles in History, que está organizando o leilão, chamou as anotações de "bizarras”. “E sem termos ele (Morrison) para explicá-las é difícil lhes atribuir qualquer significado. Mas em termos de memória do rock, é uma das melhores coisas que existem".
As anotações foram escritas depois que Morrison foi morar com a namorada, Pamela Courson. O músico morreu em 1971 vítima de uma suposta overdose de drogas. O caderno, então, ficou com o empresário do The Doors, Bill Siddons, que deu para o cantor Graham Nash — que, por sua vez, decidiu vendê-lo.

As raízes da floresta

As raízes da floresta
 
ROGEL SAMUEL
 
 
Pede-me o amigo Flavio Bittencourt que eu lhe diga quais livros, dentre os que li, mais importantes foram para mim na construção do meu romance O AMANTE DAS AMAZONAS.
Isso já faz tantos anos que tenho dificuldade e localizar.
A primeira fonte foram os relatos de meu pai, a principal raiz do livro, e seu livrinho JAGUARETÉ, O GUERREIRO. Ali estão alguns dos meus personagens em carne e osso, pois Albert Samuel recolheu lendas e narrativas sobre índios, capitalistas, seringais.
Maria Caxinauá ali está, com este nome exato.
Os Numas eu os inventei a partir de uma série de tribos que viveram no rio Juruá, nas perdidas planícies que iam até os pés do Andes.
O palácio Manixi foi inspirado no Palácio Rio Negro (mas não é o mesmo), e vários livros foram encontrados a respeito.
Um relato imprescindível para mim foi “Dez anos no Amazonas”, de Valadares, livrinho que não mais encontrei, não mais o possuo. Trata-se de um caderno escrito por um seringueiro que veio do Nordeste e depois de dez anos voltou. É impressionante.
Li muito Samuel Benchimol, João Nogueira da Mata, Genesino Braga, Raimundo Morais, Willy Aureli, Ramayana de Chevalier, Mario Ypiranga etc. De alguns autores creio que li a obra completa, como Raimundo Morais.
Li sobre armas, sobre arquitetura, sobre cobras, aranhas, venenos. Muitos livros de decoração da época. Visitei e anotei o Museu de Arte Decorativa de Paris. Alguns móveis do Manixi são de lá.
Li o roteiro do filme “O ano passado em Marienbad”, de Robbe-Grillet, para o filme de Resnais, onde se descreve aquele magnífico palácio. Assisti mais de 10 vezes ao filme e adquiri hoje em vídeo. O meu Manixi é o Marienbad.
Li vários volumes sobre os índios, de Roquete-Pinto, Viveiros de Castro etc. Mas foi com Raimundo Morais que adquiri a intimidade indígena. Muito me impressionaram os livros sobre o Coronel Fawcett, desaparecido no Amazonas há 100 anos. Li alguns.
A narrativa do meu livro é acompanhada de citações quase imperceptíveis da Divina comédia e outros clássicos. Aquela floresta é o meu inferno de Dante.
Meu principal personagem é a Floresta amazônica.
Paxiuba sai de um livro de Raimundo Morais, era o Mulo.
As orquídeas foram vistas por mim, quando criança, no maior e melhor orquidário existente no mundo: o do meu próprio pai.
Ele passou 40 anos viajando pelo Amazonas e, como era apaixonado por orquídeas raras, passou 40 anos colecionando orquídeas.
Havia tantas orquídeas naquele tempo que meu pai decorou toda uma igreja com orquídeas no casamento de uma pessoa amiga, a poetisa U. A.
De uma orquídea nunca esquecerei: era de veludo negro com franjas de ouro.
Não existem mais. Catléia Superba; catléia Eldorado.
Meu pai gostava de silêncios. Viajava pelo coração da floresta de barco. Viu coisas inacreditáveis.
Algumas vezes fui com ele. Eis a raiz do livro, aquelas viagens.
Ele quase morreu por uma flechada do mato que se cravou perto dele. Era um aviso. Dizia: “Volte!”
O mundo amazônico era aquele. Mítico. Sagrado.
Só quem o viveu saberá o que significa ouvir aqueles pássaros da noite.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Descoberta arqueológica prova que Buda nasceu no século VI a.C.

Descoberta arqueológica prova que Buda nasceu no século VI a.C.

  • Restos de uma estrutura de madeira e tijolos foram encontrados no mais antigo santuário budista do mundo, e pela primeira vez ligam o líder espiritual a um século específico
  • Escavações foram feitas dentro do templo sagrado Maya Devi, em Lumbini, no Nepal, considerado Patrimônio Mundial pela Unesco e há tempos identificado como o local de nascimento de Buda
    
Arqueólogos Robin Coningham e Kosh Prasad Acharya nas escavações do templo Maya Devi; ao fundo monges tailandeses meditam.
Foto: National Geographic / Ira Block
Arqueólogos Robin Coningham e Kosh Prasad Acharya nas escavações do templo Maya Devi; ao fundo monges tailandeses meditam. National Geographic / Ira Block
WASHINGTON - Arqueólogos encontraram no Nepal evidências de uma estrutura no local de nascimento de Buda que data do século VI a.C., e é o primeiro material arqueológico que liga a vida de Buda a um século específico.
Em escavações dentro do templo sagrado Maya Devi, em Lumbini, no Nepal (considerado Patrimônio Mundial pela Unesco e há tempos identificado como o local de nascimento de Buda) os arqueólogos descobriram os restos de uma estrutura de madeira sob tijolos com um espaço aberto no centro, como um santuário, datada do século VI a.C. A pesquisa foi parcialmente financiada pela National Geographic Society e será publicada na edição de dezembro da revista “Antiquity”.
Até agora, uma das primeiras evidências arqueológicas das estruturas do Budismo em Lumbini datava do século III a.C., do tempo do Imperador Asoka, que promoveu a expansão do Budismo do atual Afeganistão a Bangladesh.
- Muito pouco se sabe da vida de Buda, a não ser por textos e tradição oral - disse o arqueólogo Robin Coningham, da Universidade de Durham, no Reino Unido, coautor da investigação. - Agora, pela primeira vez, temos uma sequência arqueológica em Lumbini que mostra um prédio tão antigo quanto o século VI a.C.
O time internacional de arqueólogos, liderado por Coningham e Kosh Prasad Acharya, do Pashupati Area Development Trust, no Nepal, acredita que a descoberta contribui para um maior entendimento do desenvolvimento do Budismo, assim como a importância espiritual de Lumbini.
Para determinar as datas do santuário de madeira e da estrutura de tijolos, fragmentos de carvão e grãos de areia foram testados usando uma combinação de radiocarbono e técnicas de luminescência opticamente estimulada. Pesquisas geoarqueológicas também confirmaram a presença de raízes de árvores antigas no vazio central do templo — textos sobre o nascimento de Buda contam que a rainha Maya Devi no momento de dar à luz, em vez de sentir dor, teve uma visão: viu-se apoiada numa árvore, segurando um de seus ramos com a mão direita, enquanto os deuses Brahma e Indra tiravam dela, sem dor, uma criança.
- A Unesco está muito orgulhosa de estar associada a esta importante descoberta em um dos lugares mais sagrados para uma das religiões mais antigas do mundo - disse a diretora geral da Unesco, Irina Bokova, que pediu “mais pesquisas arqueológicas, trabalho de conservação e gerenciamento do sítio” para garantir a proteção de Lumbini.
- O governo do Nepal não poupará esforços para preservar este site - anunciou Ram Kumar Shrestha, ministro da Cultura, Turismo e Aviação Civil do Nepal.
Lumbini é um dos sítios arqueológicos associados à vida de Buda, os outros são Bodh Gaya, onde Buda se tornou iluminado; Sarnath, onde ele fez a primeira pregação; e Kusinagara, onde ele morreu. O templo Maya Devi continua sendo um santuário, tanto que os arqueólogos tiveram que trabalhar na presença de monges, freiras e peregrinos.

LIVROS À VENDA


domingo, 24 de novembro de 2013

O RIO NILO

O RIO NILO

 
por
 
CLARISSE DE OLIVEIRA
O Rio Nilo, possante, barulhento, corria ao meu lado...
Eu estava no jardim de um hotel no Cairo, lanchando
com uma colega de viagem...
O Nilo ha anos, deslizava sobre as dobras do meu
coração.
O Rio Nilo e Eu, sobreviviamos através da Vida,
correndo, cantando sua canção de Rio, sob o Palio
Triste que é o Céu como a coberta de um cadáver
que jamais será mumificado, pois a morte ainda
trará a Eternidade que é a Saudade Insatisfeita
do latejar de todos os desejos misturados com os
sonhos dos beijos dispersos pelo Vento do Deserto.
O Simum, o vento que não ouve os chamados dos
esquecidos e também como Vento Quente não
zela pela Eternidade do corpo que um dia, só pelo
Um Certo dia, ouvia o chamado para um beijo ser
depositado na beira de um coração murcho pelo
esforço de atração de uma "outra vez", Voce perto
                               de mim.
                                                      Clarisse

NEUZA MACHADO - OS NARRADORES

 
 

Cada capítulo de O Amante das Amazonas é um close que aumenta e ilumina o espaço narrado, um close dilatado pelo olhar ficcional poetizado de um escritor-narrador repleto de matéria lírica.
Nas páginas rogelianas, o chamado “simulacro pós-moderno” se
agiganta, transformando o Palácio Manixi em um local digno de
grandiosas filmagens cinematográficas. Não importa que a história se
localize no passado histórico em confronto com um verossímil presente
ficcional, o que vale é a representação da mesma no presente
cronológico, para que seja reavaliada no futuro, quando a Floresta e
seus míticos personagens não mais existirem. Os leitores do futuro se
sentirão vazios com a perda, como hoje nos sentimos despejados de um
passado de glórias, ao lermos as grandes obras literárias que nos foram
legadas. Satisfazemo-nos (os leitores-eleitos reflexivos) com os
preenchimentos prazerosos ou mentalizados desse vazio, com nossas
incomodações
culturais, com nossa ânsia de crescimento intelectual.
Mesmo que o autor afirme, em suas Entrevistas, que, desde as
primeiras páginas, imitou os autores amazonenses da época do auge da
borracha, os quais também foram imitadores de Euclides da Cunha,
mesmo que diga que a sua obra, como um patchwork quilt
(só para expressar-me como os autênticos críticos brasileiros pós-modernos, os
quais preferem reverenciar as expressões estrangeiras, em detrimento de
suas falas tupiniquins), explicita as suas dilatadas leituras teórico-
filosóficas, posso afirmar que o todo de sua narrativa se vale da
intencionalidade ficcional. A intencionalidade ficcional vai segurar e
assegurar o diferente fio narrativo, transformando em novidade, em
criação, o já instituído. A visão distendida do ficcionista sobre o seu
espaço romanesco é maior do que as informações que ele colheu nos
livros (em suas leituras filosóficas ou ficcionais). É uma visão
transcendental, particularíssima, que ele procura desmistificar, como se
ele não tivesse o direito de reivindicar a autoria plena de seu texto
ficcional. Ele “finge” saber menos do que os seus personagens (“o poeta
é um fingidor”, já disse Fernando Pessoa), por isto a criação de dois
narradores visíveis, fora os invisíveis que muito contribuíram. Por meio
dessa aparente simulação, ele refez/refaz os aspectos e atitudes dos
personagens perante a vida na Floresta, evitou/evita os juízos pré-
concebidos dos leitores desatentos, mas o propósito de criação ficcional
permaneceu/permanece direcionando o fio narrativo. Seus narradores
expuseram/expõem (e vão continuar a expor) seus pontos de vista sobre
a realidade da Grande Floresta, sobre aquele lendário universo que eles
desejaram/desejam perpetuar, para apresentá-lo aos leitores do futuro. A
criação ficcional é alguma coisa que independe de preço, porque a
história do conflito entre as duas realidades – a social e a mítica –
poderá ser reavaliada futuramente, quando os “verdadeiros” leitores de
Rogel Samuel, desconhecedores dessas passadas durações grandiosas,
começarem a interagir com as camadas ocultas de seu romance pós-
moderno/pós-modernista. Enquanto não aparecem esses futuros leitores,
naturalmente os leitores privilegiados, aproprio-me de minhas reflexões
e passo a afirmar que, se há mais de um narrador atuando, isto prova a
intencionalidade ficcional. E se suas faces são incomuns, reduplicadas,
estas são próprias das autênticas narrativas ficcionais da pós-
modernidade.

Filme de Saturno feito com um milhão de fotos do espaço

Filme de Saturno feito com um milhão de fotos do espaço

Por: Jesus Diaz
 
(o link para o filme é este:)
 
Stephen van Vuuren está trabalhando há sete anos para criar o filme Nos Anéis de Saturno (In Saturn’s Rings), que traz um olhar verdadeiramente incrível do planeta mais fotogênico no sistema solar.
Através de doações online, ele conseguiu arrecadar US$ 65.000 para processar um milhão de fotos e criar um filme pronto para ser lançado em cinemas IMAX.
O projeto é descrito assim:
Nos Anéis de Saturno é um filme inovador para IMAX, grandes salas de cinema e planetários, criado a partir de mais de um milhão de fotografias reais, no estúdio em um porão. Usando uma técnica única de foto-animação, o filme levará o público a uma viagem através do sistema solar e além, trazendo imagens de dezenas de missões espaciais, incluindo a Cassini-Huygens, Hubble, Apollo, Voyager 1-2 e muitas mais.
Para lançá-lo, no entanto, Stephen precisa de masterização para IMAX e de um trilha sonora, além dos direitos autorais ao redor do mundo. As músicas serão tocadas pela Orquestra Sinfônica de Greensboro (EUA).
Ele quer conseguir o dinheiro para isso através do Kickstarter: são US$ 37.500, e ele já conseguiu US$ 13.000. Ao doar US$20, você receberá um DVD do filme, e a trilha sonora em FLAC ou MP3; se você doar US$ 35, recebe um Blu-ray e a trilha sonora. Para também obter uma cópia digital do filme, é preciso doar US$ 50.
O filme In Saturn’s Rings está previsto para estreia em meados de 2014. Saiba mais sobre ele aqui: [In Saturn's Rings]
 

sábado, 23 de novembro de 2013

A espada das mãos vazias

A espada das mãos vazias

ROGEL SAMUEL



Fernando Pessoa é perfeito. Em tudo o que fez. Leio «O guardador de rebanhos», a sua técnica de meditação. Na melhor tradição dos mestres Zen, ele diz: sou um pastor de pensamentos.

"Sou um guardador de rebanhos
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

«Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz."

Reúne ele os pensamentos como um pastor suas ovelhas. Para que não se percam. Não se extraviem. Não divaguem. Não delirem. Reúne suas ovelhas dentro de si. É o que o Zen diz: "Viver dentro da casa". Dentro da casa é dentro de si. "Permanecer como se é, estar completo em si mesmo ... cada manhã é uma boa manhã, cada dia um lindo dia, não importa a tormenta que esteja desabando..." (Suzuki, "Viver através do Zen").

Diz Suzuki que o poeta Hakuin (1685-1768) explica aquilo assim:
"As formigas vagarosas lutam para carregar as asas de uma libélula morta;

As andorinhas da primavera pousam lado a lado num ramo de salgueiro;

As fêmeas dos bichos-da-seda, pálidas e cansadas, ficam imóveis segurando as cestas repletas de folhas de amora;

Os garotos da vila são vistos com rebentos de bambu roubados arrastando-se através das cercas quebradas.»

Mas não é para ser compreendido! Se for compreendido, terá outro sentido. Nossas experiências diárias «são de fato experiências do Zen, mas não conseguimos reconhecer isso porque nós, como seres intelectuais, perdemos algo que nos permitia entender o significado".

Que perdemos? Perdemos a beleza. A claridade. Não vemos a beleza dos pássaros no céu, as flores na terra. A luz sobre a montanha, as sombras estreladas da noite.

A vida em si é beleza, algo misterioso. Escapa à compreensão intelectual.

Sotoba, um dos poetas da dinastia Sung, escreveu:

"A chuva nebulosa no Monte Lu,
E as vagas encapeladas no Che Kiang;
Quando ainda não se esteve lá
Muita mágoa se possui;
Mas uma vez lá e para casa se encaminhando,
Quantas coisas prosaicas se observa!
A chuva nebulosa no Monte Lu,
E as vagas encapeladas no Che Kiang."
[Suzuki, "Essays in Zen Buddhism", I, p. 22.]

"Não há nada especial": O mesmo velho mundo... e não obstante deve haver algo novo e belo na nossa consciência, pois de outra forma não se poderia dizer: "Está tudo o mesmo".

Uma grande mudança, uma grande iluminação teve lugar. Mas tudo está o mesmo.

Por isso um monge jardineiro aproximou-se certa vez do mestre e manifestou-lhe o desejo de ser iluminado no Zen. O mestre disse: "Venha novamente quando não houver ninguém por perto". No dia seguinte, o monge observou que não havia ninguém perto e implorou-lhe para revelar o segredo. Disse o mestre: "Aproxime-se mais de mim". O monge chegou mais perto dele. Disse então o mestre: "O Zen é algo que não pode ser transmitido por palavras".

Algum segredo foi revelado? Sim, o sol brilha no luminoso dia. E ele está alegre e feliz.

Pessoa reúne seus pensamentos como um jogador reúne suas cartas de baralho. São os pensamentos-realidade, pensamentos-pedras.

Desconfia das aparências, das ilações. O Ser só existe quando se torna consciente de si mesmo, diz Suzuki. Mantêm-se na arte da atenção, da presença. Quando ver, ver. Quando ouvir, somente ouvir. Não sair. A distração, para o mestre Zen, é a morte. Como para o lutador de espadas. A alegria, a felicidade está no momento presente, no fragmento presente.

E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

O passado é um cadáver morto e podre, o futuro é ilusão e desconhecido. Passado e futuro trazem confusão mental, sofrimento. Se me deixo na confusão de minhas ilusões fico perdido e em perigo, como quem escala a montanha. Ver é ver, pensar é pensar. Cada um de cada vez. Ver e pensar ao mesmo tempo é a loucura burra das fantasias irreais. Uma realidade só se dá única. Ver e estar consciente de que estou vendo, pensar e estar consciente de que estou pensando. Um guardador de rebanhos.

É por isso que digo que Pessoa era perfeito, em tudo o que fazia, que fechava os olhos e deitava na relva. Pleno. Na rainha das meditações, a realidade plena. Plenamente alcançada. Desperto. Livre.

Como diz o Zen: "Seguro uma espada em minhas mãos e fico com as mãos vazias".


A RAINHA CLEMENTINA

A GRANDE CLEMENTINA

O LADO ESCURO DA CASA

O LADO ESCURO DA CASA
 
ROGEL SAMUEL
 
 
Sim, nasci em 1942, 2 de janeiro. O carnaval em Manaus era naquela rua, na Av. Eduardo Ribeiro. A principal da cidade. Em baixo, havia um salão de beleza famoso, a Mezodi. Acho que se escreve assim. Meu pai tinha uma loja, a Radiomotor, na mesma rua, mais abaixo. Mas não me lembro de nada. Nada disso.
Minha primeira lembrança – o berço, madeira escura, um braço de madeira avançando no ar, onde se pendurava um chocalho. Lembro-me bem disso. Sempre me lembrei disso. Das grades ao redor. Aquele quarto, paredes muito altas. Estou só, no berço. Já moramos na rua 24 de Maio, entre Eduardo Ribeiro e Joaquim Sarmento, do lado direito de quem vai em direção à Aparecida, quase na esquina. Deve ser o número 175, não sei. Aquela casa era escura e triste. Lembro-me bem. Depois da porta da rua havia uma escada. Depois um pequeno corredor até a sala.
Em frente, a bela casa da “Belinha”, minha amiga.
Formou-se comigo, na FNfi da Universidade do Brasil. A irmã dela tocava piano, tocava Chopin. E era bom de ouvir. Filhas do senhor Higino.
Belinha, ou Maria Izabel, casou-se com um americano e hoje mora nos Estados Unidos. Na esquina com Eduardo Ribeiro havia a mansão de Sócrates Bonfim, escritor, empresário, que se dizia Socratés, como em grego. Ele explorava minérios. Grande intelectual.
Perto havia uma vila de casas, perto da Eduardo Ribeiro. Ao lado, um casal de portugueses, que tinha um filho.
Manaus triste, as casas escuras.
Apareciam aranhas caranguejeiras nas paredes.
Mundo antigo. Homens tristes, curvados. De paletó preto e chapéu.
Manaus da década de 1940. Plena crise econômica.
A casa era muito grande, muito escura. Grande. Basta dizer que eu tinha dois quartos só para mim, um onde dormia, outro era o quarto dos brinquedos.
Mas aquilo mais aumentava a minha solidão, dentro de casa.
Meu pai, naquela época, comerciante, apesar da crise econômica. Faliu depois da guerra, muito depois.
Tive uma educação estranhamente europeia. Meu avô judeu casou-se com uma peruana e meu pai foi educado em Estrasburgo. Depois em Paris. Falava com fluência sete línguas, tocava piano e violino, tinha uma memória e uma cultura impressionantes, mas vivia no mato, no meio dos rios e lagos da Amazônia, que ele amava. Acabou virando um completo caboclo do mato.
Da minha infância eu só me lembro daquela casa escura e triste. Eu fui um menino triste e doente.
Meu mundo era aquele quarto escuro, mas cheio de brinquedos.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

FRED ASTAIRE and CYD CHARISSE - Dancing in the dark,

O Mistério do Rubi‏

O Mistério do Rubi‏

CLARISSE DE OLIVEIRA


Um Rubi pode ser eterno.
O Rubi não tem Alma, nem Espirito, que reintegrem na
Energia que mantém e Ordena o Mundo, o Universo.
Eu raciocino; desejo devolver tudo para Deus: meu Espirito,
minha Alma, meus sofrimentos, minhas realizações...
O Rubi foi formado pelo Mistério que construiu as
Galáxias.
Que havia, antes do Rubi ser "solidificado" na pedra
vermelha, sangue formado para a Eternidade?
O Rubi está realmente "petrificado"?
Antes de sua condensação em sólido, o que pré-existia
do Rubi?
Após minha morte, meu corpo se desmanchará; os ossos,
pode ser que não...ossos se petrificam... ossos são pedra,
como o Rubi... só que, os ossos petrificados, são feios, o
Rubi é lindo!
De meu corpo, nada restará... mas as pedras preciosas,
até se o planeta se desintegrar, as pedras preciosas serão
lançadas no Espaço, para a Eternidade.
Existe uma pedra brasileira, Hematita, parecida com o Rubi,
semelhante às
Hemácias, semelhante ao sangue de humanos e animais...
alguns animais, pois
existem animais que têm sangue azul ou arroxeado... como
alguns crustáceos e os famosos mariscos que se acabaram,
por fornecerem a Cor Púrpura para as
vestes dos "humanos nobres". A Púrpura, ao
contrário do que muitos pensam,
não era "vermelha".
Restou o Rubi... Imagino meu Espirito, após a
fragmentação do Planeta, meu
espirito varar o Universo, para colher numa condensação
de Energia, um Rubi! Não tenho aparencia terrestre, não
tenho mãos... Capto uma Energia para condensar uma
matéria que possa colher um Rubi solto no Espaço, apenas
para mirá-lo ao meu alcance, porque nada sei, até da
Imortalidade, até de passado, presente e futuro, onde Tudo
é um Instante, o Único e Verdadeiro
Presente, naquele momento, que pelo menos, pude ter por
mim, um presente de
Deus que me desafia, porque o desafio é a Origem da
Ciencia dos Destinos,
visto pelos Olhos de Deus!
clarisse

RAINHA


Fundação Leonardo DiCaprio doa US$3 mi para salvar tigres no Nepal

Fundação Leonardo DiCaprio doa US$3 mi para salvar tigres no Nepal

·          
A fundação de conservação do ator Leonardo DiCaprio doou 3 milhões de dólares à organização World Wildlife Fund para ajudar o Nepal a aumentar sua população de tigres.
A WWF afirmou nesta quinta-feira (21) que o dinheiro da Fundação Leonardo DiCaprio, criada pelo ator de 39 anos, será utilizado para dobrar o número de tigres no Nepal até 2022, o próximo ano chinês do tigre.
"Sua fundação é focada em proporcionar resultados reais para a conservação da terra e o empoderamento de comunidades locais; nenhum lugar isso é mais evidente do que no Nepal", disse o presidente da WWF, Carter Roberts, em comunicado.
Os tigres do Nepal, conhecidos como tigres de Bengala, foram classificadas como ameaçados de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza, com números decrescentes ao longo dos anos.
DiCaprio disse em comunicado que a população mundial de 3.200 Tigres estava ameaçada pela "destruição do habitat e a crescente caça ilegal". Sua fundação ajudou a aumentar o número de tigres no Parque Nacional Terai Bardia, no Nepal, de 18 para 50.
(Reportagem de Patricia Reaney)
 

AOS CEM ANOS TOMIE OHTAKE TRABALHA

Tomie Ohtake aos cem anos: "A gente trabalha e nem percebe que está velho"
 


Do UOL*, em São Paulo
       

      

Tomie Ohtake completa 100 anos                   


Tomie Ohtake comparece a cerimônia da Ordem do Mérito Cultural, no Auditório Ibirapuera, em São Paulo Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press/Estadão Conteúdo/05.nov.2013
Foi em 1936 que a jovem Tomie Ohtake desembarcou no Brasil, vinda de Kyoto, no Japão. E quase 20 anos depois ela virou artista. A pintora japonesa naturalizada brasileira completa nesta quinta-feira (21) cem anos de vida e garante que nem viu o tempo passar. "A gente trabalha e nem percebe que está ficando velho", disse ela em entrevista ao UOL.
Conhecida pelas pinturas sem título, as seis décadas de trabalho incluem também gravuras e esculturas, e a permanente pesquisa sobre abstração com elementos simples, como cores monocromáticas, traços e círculos feitos à mão livre. A artista abre na sexta-feira, no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, a terceira e última das mostras que celebram seu centenário. "Eu só percebo [que o tempo passa] quando vejo os livros com as minhas obras, quando são organizadas as exposições, quando encontro com pessoas que têm trabalhos nas suas coleções ou viram em lugares diferentes, aí eu constato que trabalhei bastante".
Tomie começou a pintar em 1952, com quase 40 anos de idade. "No início foi a procura do caminho, depois um abstracionismo mais definido, seguido da pintura cega", relembra. "Comecei a pintar figuras geométricas, sem ser geométrica (1963), depois um pouco mais geométrica, as linhas, sem ser figuras. Quando já estava nos anos 1980, as minhas pinturas tinham mais texturas, o Miguel Chaia dizia que eram cósmicas, eu procurava transparência e profundidade", conta ela.
"Só agora nestes últimos anos, faço texturas uniformes com movimentos pequenos de pincel, construindo linhas e formas internas, que é a minha fase atual. Isso que eu falei tinha que ser dito por um historiador ou crítico de arte, com fundamentação e com palavras bonitas, afinal eu prefiro pintar", conta.
Tomie fez sua primeira exposição individual de destaque no Museu de Arte Moderna em 1957. Participou de oito edições da Bienal de São Paulo e em 1973 esteve na Bienal de Veneza. Já ganhou mostras no Masp (Musica de Arte de São Paulo), no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro e no Hara Museum of Contemporary Art, em Tóquio. Mas ela tem certa a referência de sua obra: "A minha pintura é ocidental, mas deve ter influência japonesa".
Ante a diversidade de linguagens e novas mídias atuais dentro das artes, Tomie é clara sobre as adaptações necessárias. "Faz parte da história que a todo tempo a arte se modifique e se desenvolva. Há 40 anos atrás, eu me lembro que falavam que a pintura estava morta, pelo aparecimento de outras modalidades artísticas. Acho que só vieram a acrescentar. É importante que se mostre arte, que se estude, se publique, se debata e se divirta com arte".
*Com informações de Gabriel Mestieri