quinta-feira, 31 de março de 2016

EM TODAS AS LIVRARIAS DO BRASIL...




EM TODAS AS LIVRARIAS DO BRASIL...SE NÃO TIVER, PEÇA (EDITORA VOZES)... APESAR DA CRISE CONTINUA VENDENDO BEM... (Depois das 14 edições do "Manual de teoria literária", este "Novo Manual" de Teoria Literária é o livro ideal para quem gosta de ler.- 6ª EDIÇÃO REIMPRESSA)...


quinta-feira, 24 de março de 2016

quarta-feira, 23 de março de 2016

Em uma Tarde de Outono



Em uma Tarde de Outono

Outono. Em frente ao mar. Escancaro as janelas 
Sobre o jardim calado, e as águas miro, absorto. 
Outono... Rodopiando, as folhas amarelas 
Rolam, caem. Viuvez, velhice, desconforto...
Por que, belo navio, ao clarão das estrelas, 
Visitaste este mar inabitado e morto, 
Se logo, ao vir do vento, abriste ao vento as velas, 
Se logo, ao vir da luz, abandonaste o porto?
A água cantou. Rodeava, aos beijos, os teus flancos 
A espuma, desmanchada em riso e flocos brancos... 
Mas chegaste com a noite, e fugiste com o sol!
E eu olho o céu deserto, e vejo o oceano triste, 
E contemplo o lugar por onde te sumiste, 
Banhado no clarão nascente do arrebol...

Olavo Bilac, in "Poesias"

O Homem Como Possibilidade






Ernst Bloch

O Homem Como Possibilidade

Desenho originalmente aparecido com Neither Marx nor Moses (June 29, 1972)

Senhoras e Senhores, vamos começar moderadamente. Mas também com vigor e ousadia. Vamos começar com os sonhos.
Em sonhos se pensa geralmente de noite. Não sonhamos apenas de noite. Sonhamos também de dia, embora não se investigue com igual energia o sonho diurno. Chega-se mesmo a reduzi-lo a um simples prelúdio do sonho noturno. Entre ambos há distinções consideráveis. No sonho diurno o eu não desaparece. Mantém-se até bem vivo e sem exercer nenhuma censura. A ponto de os desejos tanto mais funcionarem. Serem mais visíveis, do que no sonho noturno. Apresentarem-se sem máscara nem vergonha. Livres de inibições. Corajosamente. De peito aberto. As ruas vivem cheias de gente com sonhos diurnos. Os mostruários das lojas tocam seus acordes. Um sapato elegante. Um vestido “toillette”. A nova máquina de lavar. Uma cadeira de balanço. E tudo o mais que se mostra. Em primeiro lugar, a casa sonhada a que tudo isso vai pertencer. Todo um mundo de vento em popa, multiplicando os castelos no ar, onde o custo de vida não é tão alto.
Acontece que muitos dos castelos de hoje, transformam-se amanhã em palácios e cidades, ou mesmo em sociedades. Esse fato possibilita a observação, até a constatação de que nada de grande surge na história sem ter sido primeiro esboçado, para depois da devida racionalização ser então planejado. Tipos de políticos realistas fundamentalmente diversos, como Bismarck aqui, Lenine lá, tiveram seus planos no ar. Apesar do caráter sóbrio, Lenine queixou-se certa vez de que o movimento havia perdido a capacidade de sonhar.
Delicados coexistem os pensamentos, ásperas se chocam as coisas no espaço. Mas também elas se entrechocam primeiro no espaço dos pensamentos do desejo. Assim por exemplo no papel, que não é só paciente mas o lugar onde manobra a fantasia geométrica. Se ásperas se atritam as coisas no espaço, como reage então o mundo ambiente ao sonho acordado, que já amadureceu e tomou consciência de sua responsabilidade? Na maioria dos casos estamos cercados de conflitos. Talvez que frente aos sonhos o mundo não se mostre apenas contrário mas contraditório, absolutamente irredutível. Sacode os ombros indiferentes ou nem mesmo isso, porque já seria bastante relação. O mundo ainda se acha por demais carregado das tensões de ontem e anteontem. O velho não quer passar. E o nôvo não quer chegar.
O Destino Normal do Sonho
Em tais condições o sonho se torna no mais infeliz sentido da palavra um simples sonho. Transforma-se no que pejorativamente se chama utópico, nada mais que utópico. Uma coisa é reconhecer êsse destino, outra, não procurar modificá-lo, curvar-se a êle. “A hesitação medrosa de pensamentos tímidos não muda a miséria, nem vos fará livres”.
É um convite a opor resistência ao mal. Ao mal que se impõe de fora. Ao mal impertinente e obsedante. Nunca deve acontecer que o fermento nem mesmo leve de direito mas só faça azedar. O que contrapomos ao mal, não deve ser uma loucura solitária.
A realidade não é uma grandeza fixa. O mundo não é acabado. É possível enfrentá-lo de outra maneira do que simplesmente murmurando ou ainda omitindo-se, servindo-se de oportunismo, instalando-se no quietismo. Tomar as coisas como são, não é uma fórmula empiricamente exata. Não é positivismo. É uma fórmula de vilania, de covardia, de mesquinharia. O que são as coisas - êsses momentos num processo que chamamos fatos? Estão fluindo. Foram feitos e por isso mesmo são suscetíveis de serem modificados. Persiste sempre a possibilidade de alteração. Isso pressupõe o domínio do acaso. Que haja espaço para a contingência - até à indeterminação física, até a indeterminação histórica, que é tanto mais importante.
Poder ser diferente, isso significa: também poder transformar-se em outra coisa: no mal a conter, no bem a promover.
Há muitos graus de realidade. Não há fôrça inelutável, que predomine independente de nós. A realidade não traz a justiça em si mesma. Está aberta sôbre o porvir, onde mais do que nunca há perspectiva e, caso não fracassemos, espaço para o progresso no bem como para o progresso na contenção do mal.
Senhoras e Senhores, a realidade é uma categoria sujeita à dúvida e destinada à transformação. Sua solidez e simplicidade é uma pura aparência. Considera-se realista, quem é prático. Quem está plantado com os dois pés na terra firme. Isso é uma caricatura, como a caricatura oposta do sonhador.
http://historiadosamantes.blogspot.com.br/

NAPOLEÃO




ESCREVEU DUGPA RINPOCHÊ:
Não descuides de nada. Tudo é receptáculo de promessa, se o teu olhar for de alegria. Não aprendas a pensar em termos de começo e de declínio, de bem e de mal, de luz e de escuridão. Em cada coisa, aprende a ver o começo de todas as coisas. (QUADRO DE DAVID).

terça-feira, 22 de março de 2016

QUADRO DE DELACROIX


A Liberdade guiando o povo (1830, Louvre, Paris) é uma das obras mais nitidamente românticas e célebres de Delacroix. A tela, comprada pelo governo francês

A CASA FICCIONAL



NEUZA MACHADO: A casa ficcional de D. Mariazinha de Abreu é mais do que a casa primitiva, é representante da Cidade íntima, a casa onírica, a casa dos sonhos (felizes e/ou infelizes), “onde se condensam os mistérios da felicidade” (ou os mistérios dos momentos infaustos). Esta “casa” se revela por intermédio de “inspirações inconscientes profundas”, originárias de antigas vivências ou de externa realidade angustiante, ainda presentes no século XX. “O onirismo arraigado assim localiza de algum modo o sonhador”, e este sonhador não poderá se revelar apenas como um narrador, que, ao longo da narrativa, se posiciona simplesmente como um personagem como outro qualquer (Roland Barthes). Este segundo narrador não será jamais um personagem qualquer. Ele é o porta-voz de uma consciência interativa. No capítulo ONZE: RIBAMAR, o mundo sócio-substancial e o mundo mítico-substancial se desvanecem para cederem o lugar à referida casa onírica do narrador aqui reverenciado. Esta casa diferenciada, edificada nos domínios de um singular imaginário-em-aberto, foi um poderoso alicerce para a posterior realidade ficcional, entrópica, da ficção pós-modernista de Segunda Geração.
Para mostrar a decadência da Cidade e provar que os “ratos” do capitalismo selvagem a invadiram, a corroeram, levando-a ao isolamento, à falência, tornou-se necessário, ao segundo narrador, apresentar, aos leitores, primeiramente, a sua indiscutível formosura. Não havia/há limites geográficos para a situação desta casa (“morava na Rua Barroso, numa casa cujos fundos davam para o Igarapé do Aterro”), porque a casa, da Rua Barroso, era ampla e bem arrumada (para conservá-la, sua proprietária contava com “uma legião de empregadas”), portanto, é representativa do local da casa primordial e de todas as ruas da cidade ficcional. Os fundos da casa “dava para o Igarapé do Aterro”, um símbolo de projeção social, já que foi nomeado. Certamente, o local do Igarapé do Aterro, à época, não era simplesmente um lugar comum. “Para os valores inconscientes em imagens da volta à terra natal”, no mencionado Igarapé se concentram todos os outros que se entrelaçam pela cidade de Manaus.
http://ofogodalabaredadaserpente.blogspot.com.br/

http://ofogodalabaredadaserpente.blogspot.com.br/

domingo, 20 de março de 2016

AS ENTRANHAS DO CORAÇÃO DA FLORESTA



AS ENTRANHAS DO CORAÇÃO DA FLORESTA

Rogel Samuel

O Choro n. 10 de Villa Lobos está entre o que de melhor se fez em música sinfônica no Brasil. Achei um vídeo no YouTube que me impressionou: a interpretação de Eleazar de Carvalho, magnífica. O ritmo de batuque é um grande "samba-enredo sinfônico", “um acompanhamento coral bem ritmado de onomatopéias supostamente indígenas (mas inventadas por Villa-Lobos) e a uma bateria marcada revezadamente por ganzá, tamborim, reco-reco, cuíca e similares de escola de samba”. É um show de brasilidade, um carnaval de sublimidades, vozes em delírio, aleluias, gritos alucinantes na ginga de Eleazar, que está imponente em sua Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo que corresponde, respondendo de pronto. Eleazar, como sempre, dançante no pódio, desvelando o útero do Brasil desde as suas entranhas selvagens, pois Villa Lobos alcança um nível raramente ultrapassado até hoje. Villa tinha consciência e amava o Brasil em sua aguda natureza, olhava para o horizonte futuro, para na sua raiz popular, mas com uma altivez e uma grandeza e uma imponência e um orgulho monumental. A música é um estranho ritual indígena, um festival, um hino de amor às belezas do Brasil. O filme é antigo, em preto-e-branco, mas dá para sentir a superioridade da massa orquestral. Sim, Villa era um louco. Louco porque tinha grandeza. Muito além do que os seus contemporâneos podiam assimilar. O excelente Coral é o da Associação Coral Adventista de São Paulo. Foi na Abertura do Festival de Inverno de Campos do Jordão de 1988. 
Confira em:
http://www.youtube.com/watch?v=eT8u7_EsT5g&feature=related

O FUTURO


Milhões de crianças chorando
na noite esférica.
Por que choram?
Não são
elas que choram.

É o futuro.


CASSIANO RICARDO

sábado, 19 de março de 2016

NÃO SOU EU QUEM CHORA - rogel samuel


NÃO SOU EU QUEM CHORA - rogel samuel

não sou eu quem chora
quem chora é o futuro
os que virão depois
de Cassiano Ricardo

os que não tem futuro
os que ainda vão nascer

choram


FOTO


Guimarães e Tufic

Guimarães e Tufic

Guimarães e Tufic



O ilustre poeta e ensaísta Jorge Tufic, como membro do Clube da Madrugada, recepcionou e foi hostess do escritor Guimarães Rosa quando este esteve pela primeira e única vez em Manaus, em 15 de janeiro de 1967. É sobre esse encontro, ocorrido há 42 anos, que Tufic nos conta um pouco.



Revista Literária – O que Guimarães Rosa veio fazer em Manaus naquele ano de 1967?

Jorge Tufic: Guimarães Rosa esteve em Manaus de passagem para uma reunião diplomática, se não me engano, em Bogotá, na Colômbia. Questões lindeiras.



RL – De quais atividades, culturais ou não, ele participou na cidade?

JT: Não houve tempo para isso. GR nos dera a impressão de que estava querendo aproveitar os dois dias que passaria em Manaus, a) conhecendo o Clube da Madrugada e b) ultimando questões diplomáticas do Itamarati (ao mesmo tempo em que se empenhava em experimentar um suco de taperebá). Tentei ajudá-lo nesse último desejo, mas, lamentavelmente, ainda não era época da fruta.



RL – A vinda do escritor famoso mexeu com a comunidade literária de Manaus? Cite nomes de quem participou da estada dele na cidade.

JT: De fato, mexeu com a turma do Clube. O restante dos intelectuais e escritores da terra, visceralmente apegados à tradição acadêmica, ficara à distância. Tanto que não houve imprensa nem fotógrafo no jantar que lhe fora oferecido pelo Clube da Madrugada, ali na Peixaria do Balaio, ou do velho Francisco, ao lado fluvial da Igreja dos Educandos. O Clube em peso compareceu ao ágape: Aluisio Sampaio, Ernesto Pinho Filho, Afrânio Castro, Saul Benchimol, Francisco Batista, Sebastião Norões, Farias de Carvalho, todos, enfim, com algumas exceções. Vale informar que ele, o grande Guimarães Rosa, ficou na berlinda diante de seus mais aferrados leitores, como Ernesto Pinho e Aluisio Sampaio, dando respostas breves, contudo substanciais quanto às personagens realmente polêmicas de seus romances, a exemplo de Grande Sertão Veredas e Sagarana. Outro fato histórico nessa sua rápida passagem por Manaus: dali a uma semana o nosso ilustre visitante tomaria posse na Academia Brasileira de Letras. Logo a seguir, se “encantaria”.



RL – Que impressões, em você, ficaram dele?
JT: Impressões indefiníveis só comparáveis a um prêmio que eu tivesse recebido, ainda sem o merecer. GR era um ser todo afeto, carinho verbal, solicitude, companheirismo nas andanças por onde quer que o levássemos, talvez para demonstrar com isso a plenitude da criatura, antes do criador. Quanta saudade ainda hoje sinto dele, quase uma falta, apesar das poucas horas de nosso contato.



João Guimarães Rosa, mais conhecido como Guimarães Rosa, nasceu em Cordisburgo, Minas Gerais, em 27 de junho de 1908. Foi um dos mais importantes escritores brasileiros de todos os tempos, bem como médico e diplomata.

Os contos e romances escritos por Guimarães Rosa ambientam-se quase todos no chamado sertão brasileiro. A sua obra destaca-se, sobretudo, pelas inovações de linguagem, sendo marcada pela influência de falares populares e regionais. Tudo isso, somado a sua erudição, permitiu a criação de inúmeros vocábulos a partir de arcaísmos e palavras populares, invenções e intervenções semânticas e sintáticas.

O escritor morreu de infarto, dez meses depois de ter vindo a Manaus, em 19 de novembro de 1967, no Rio de Janeiro.

Guimarães Rosa em Manaus

quinta-feira, 17 de março de 2016

A QUESTÃO FUNDAMENTAL DA METAFÍSICA

A QUESTÃO FUNDAMENTAL DA METAFÍSICA 

MARTIN HEIDEGGER 

Trad. Emmanuel Carneiro Leão

 Por que há simplesmente o ente (1) e não antes o Nada? Eis a questão. Certamente não se trata de uma questão qualquer. “Por que há simplesmente o ente e não antes o Nada?” - essa é evidentemente a primeira de todas as questões. A primeira, sem dúvida, não na ordem da seqüência cronológica das questões. Em sua caminhada histórica através do tempo o homem e os povos investigam muito. Pesquisam e procuram e examinam muitas coisas antes de se depararem com a questão, “Por que há simplesmente o ente e não antes o Nada?” Muitos nunca a encontram, não no sentido de a lerem e ouvirem formulada, mas no sentido de investigarem a questão, i.e, de a levantarem, de a colocarem, de se porem no estado da questão. E não obstante todos são atingidos uma vez ou outra, talvez mesmo de quando em vez, por sua fôrça secreta, sem saberem ao certo, o que lhes acontece. Assim num grande desespero, quando todo peso parece desaparecer das coisas e se obscurece todo sentido, surge a questão. Talvez apenas insinuada, como uma badalada surda, que ecoa na existência (2) e aos poucos de novo se esboroa. Assim num júbilo da alma, quando as coisas se transfiguram e nos parecem rodear pela primeira vez, como se antes nos fosse possível perceber-lhes a ausência do que a presença e essência. Assim numa monotonia, quando igualmente distamos de júbilo e desespero e a banalidade do ente estende um vazio, onde se nos afigura indiferente, se há o ente ou se não há, o que faz ecoar de forma especial a questão: Por que há simplesmente o ente e não antes o Nada? Em todo caso, quer seja mesmo investigada ou quer, ignorada como questão, perpasse pela existência como um hálito tênue, quer nos pressione mais duramente ou quer se veja preterida e recalcada por qualquer pretexto, de fato nunca é a questão que na ordem cronológica investigamos por primeiro. Mas é a primeira questão em outro sentido - a saber quanto à dignidade. O que se explica de três modos. A questão, “por que há simplesmente o ente e não antes o Nada?”, se constitui para nós na primeira em dignidade antes de tudo por ser a mais vasta, depois por ser a mais profunda e afinal por ser a mais originária das questões. A questão cobre o máximo de envergadura. Não se detém em nenhum ente de qualquer espécie. Abrange todo ente, i. e, não só o ente atual no sentido mais amplo, como também o ente, que já foi e o que ainda será. O arco da questão encontra seus limites apenas no que absolutamente nunca pode ser, no Nada. Tudo, que não for nada, cai sob seu alcance, no fim até mesmo o próprio Nada. Não certamente por ser alguma coisa, um ente, de vez que dele falamos, mas por “ser” o Nada. É tão vasto o âmbito da questão, que nunca o poderemos ultrapassar. Não investigamos esse ou aquele nem mesmo, percorrendo um por um, todos os entes, mas antecipadamente o ente todo, ou como dizemos, por razões a serem discutidas ainda, o ente como tal na totalidade. 

A água canta

A água canta




Rogel Samuel

O outono lentamente se instala. Nas árvores, nas casas, no ar. Há a sutileza de um ar frio. Não é inverno, mas outono invernal. Dá para usar uma roupa um pouco mais quente. Ler um poema mais antigo de Bilac. Descreve o poema uma janela, o jardim, o mar. As folhas mortas, o navio o viajar o mar inabitado e morto. A água canta. É o amor quem canta. O fugidio amor que veio de noite, só por uma noite, amor marinheiro de Bilac que se sente envelhecido e desconfortado. O amor foge, ele é o sol. O mar está deserto, triste, as folhas amarelas caem, viuvez, velhice. Desconforto. Solidão.

Em uma Tarde de Outono

Outono. Em frente ao mar. Escancaro as janelas
Sobre o jardim calado, e as águas miro, absorto.
Outono... Rodopiando, as folhas amarelas
Rolam, caem. Viuvez, velhice, desconforto...

Por que, belo navio, ao clarão das estrelas,
Visitaste este mar inabitado e morto,
Se logo, ao vir do vento, abriste ao vento as velas,
Se logo, ao vir da luz, abandonaste o porto?

A água cantou. Rodeava, aos beijos, os teus flancos
A espuma, desmanchada em riso e flocos brancos...
Mas chegaste com a noite, e fugiste com o sol!

E eu olho o céu deserto, e vejo o oceano triste,
E contemplo o lugar por onde te sumiste,
Banhado no clarão nascente do arrebol...

Olavo Bilac

segunda-feira, 14 de março de 2016

Laranja Mecânica


Laranja Mecânica - Anthony Burgess - Tradução: N.Dantas


1
- Qual vai ser o programa, hein?
Tinha eu, quer dizer, Alex e meus três drugues, quer dizer, Pete, Georgie e o Tapado, o Tapado sendo
realmente tapado, e nós estávamos sentados no Leite-bar Korova, rassudocando o que fazer da noite, num
inverno agitado, preto e gelado, uma merda, se bem que seco. O Leite-bar Korova era um méssito de tomar
leite-com, e vós, ó meus irmãos, já podem ter se esquecido como eram aqueles méssitos, com as coisas
mudando tão escorre hoje em dia e todo mundo muito rápido pra esquecer, os jornais também não muito lidos.
Bom, o que vendiam lá era leite com alguma coisa. Não tinham licença pra vender bebida, mas também ainda
não tinha nenhuma lei contra prodar algumas das novas véssiches que eles costumavam botar no moloco, de
modo que a gente podia pitar ele com velocete, ou sintemesque, ou drencrom, ou uma ou duas outras
véssiches que deixavam a gente uns bons e tranqüilos quinze minutos horrorshow admirando Bog e Todos os
Seus Bem Aventurados Anjos e Santos no sapato esquerdo, e com luzes pipocando dentro do mosgue. Ou se
podia pitar leite com facas, como a gente costumava dizer, e isso deixava a gente afiado e pronto pra uma
sujeira de vinte-contra-um, e era isso que a gente estava pitando naquela noite com que eu estou começando a
hist6ria.
Nossos bolsos estavam cheios de dengue, portanto, não havia realmente necessidade, do ponto de vista de
crastar mais tutu, de toltchocar um veque velho qualquer num beco e videar ele nadando no próprio sangue,
enquanto a gente contava a féria e dividia por quatro, nem de fazer ultraviolência com alguma trêmula ptitsa
estarre de cabelo branco numa loja e aí sair esmecando com o recheio da caixa. Mas, como diz o outro, o
dinheiro não é tudo.
Nós quatro estávamos vestidos no rigor da moda que, naquele tempo, eram umas malhas pretas muito justas,
com um acolchoado preso as virilhas por baixo da malha, sendo isso pra proteger e também uma espécie de
desenho que ficasse visível, havendo uma certa luz, de modo que eu tinha um com formato de aranha, Pete
tinha um rúquer (quer dizer, mão), Georgie tinha uma flor muito bacaninha e o coitado do Tapado, um cretino
dum litso (rosto, quer dizer) de palhaço, porque o Tapado não tinha muita noção das coisas e era, sem sombra
da menor duvida, o mais tapado de nós quatro. Depois, a gente estava usando jaquetas cintadas sem lapelas,
mas com aqueles enchimentos enormes nos ombros (a gente dizia pletchos) e que eram uma espécie de
arremedo de quem tinha os ombros realmente assim. Depois, meus irmãos, a gente estava usando aqueles
gravatões largos, feito lenços, esbranquiçados, que pareciam purê de cartófel, ou batata, com uma espécie de
desenho marcado em cima do tecido com um garfo. A gente usava o cabelo não muito longo e calçava botas
pesadas horrorshow pra chutar.
- Qual vai ser o programa, hein?
Tinha três devótchecas sentadas juntas no balcão, mas nós, os maltchiques éramos quatro e geralmente o
negócio era um por todos e todos por um. As tais gurias também estavam no rigor da moda, de perucas roxas,
verdes e cor-de-laranja nos respectivos gúlivers, cada peruca não custando menos do que três ou quatro
semanas de trabalho de cada uma delas, pelos meus cálculos, e usavam pintura combinando (quer dizer, arcoíris
em volta dos glazes e a rote muito pintada). Depois, elas estavam de vestidos longos pretos, muito lisos e,
na altura dos grudes, tinham plaquetas de prata com diversos nomes de maltchiques escritos - Joe, Mike e
outros mais. Era pra ter Os nomes dos diversos maltchiques com quem elas tinham espatado antes dos catorze
anos. Olhavam muito na nossa direção e eu estava com vontade de dizer que nós três (isso seria com o canto
da boca, é claro) devíamos dar uma saída pra fazer um pouco de pol e deixar o coitado do Tapado pra trás,
porque era só questão de cupetar pra ele um meio litro de branco, mas dessa vez com uma bombada de
sintemesque dentro, mas isso não ia ser da regra do jogo. 

http://www.portalentretextos.com.br/livrosonline.html

A FOTO DO DIA... rsss

A FOTO DO D A FOTO DO DIA... rsss

 

 

sábado, 12 de março de 2016

Casa tomada

Casa tomada

Julio Cortázar


Gostávamos da casa porque, além de ser espaçosa e antiga (as casas antigas de hoje sucumbem às mais vantajosas liquidações dos seus materiais), guardava as lembranças de nossos bisavós, do avô paterno, de nossos pais e de toda a nossa infância.

Acostumamo-nos Irene e eu a persistir sozinhos nela, o que era uma loucura, pois nessa casa poderiam viver oito pessoas sem se estorvarem. Fazíamos a limpeza pela manhã, levantando-nos às sete horas, e, por volta das onze horas, eu deixava para Irene os últimos quartos para repassar e ia para a cozinha. O almoço era ao meio-dia, sempre pontualmente; já que nada ficava por fazer, a não ser alguns pratos sujos. Gostávamos de almoçar pensando na casa profunda e silenciosa e em como conseguíamos mantê-la limpa. Às vezes chegávamos a pensar que fora ela a que não nos deixou casar. Irene dispensou dois pretendentes sem motivos maiores, eu perdi Maria Esther pouco antes do nosso noivado. Entramos na casa dos quarenta anos com a inexpressada idéia de que o nosso simples e silencioso casamento de irmãos era uma necessária clausura da genealogia assentada por nossos bisavós na nossa casa. Ali morreríamos algum dia, preguiçosos e toscos primos ficariam com a casa e a mandariam derrubar para enriquecer com o terreno e os tijolos; ou melhor, nós mesmos a derrubaríamos com toda justiça, antes que fosse tarde demais.

Irene era uma jovem nascida para não incomodar ninguém. Fora sua atividade matinal, ela passava o resto do dia tricotando no sofá do seu quarto. Não sei por que tricotava tanto, eu penso que as mulheres tricotam quando consideram que essa tarefa é um pretexto para não fazerem nada. Irene não era assim, tricotava coisas sempre necessárias, casacos para o inverno, meias para mim, xales e coletes para ela. Às vezes tricotava um colete e depois o desfazia num instante porque alguma coisa lhe desagradava; era engraçado ver na cestinha aquele monte de lã encrespada resistindo a perder sua forma anterior. Aos sábados eu ia ao centro para comprar lã; Irene confiava no meu bom gosto, sentia prazer com as cores e jamais tive que devolver as madeixas. Eu aproveitava essas saídas para dar uma volta pelas livrarias e perguntar em vão se havia novidades de literatura francesa. Desde 1939 não chegava nada valioso na Argentina. Mas é da casa que me interessa falar, da casa e de Irene, porque eu não tenho nenhuma importância. Pergunto-me o que teria feito Irene sem o tricô. A gente pode reler um livro, mas quando um casaco está terminado não se pode repetir sem escândalo. Certo dia encontrei numa gaveta da cômoda xales brancos, verdes, lilases, cobertos de naftalina, empilhados como num armarinho; não tive coragem de lhe perguntar o que pensava fazer com eles. Não precisávamos ganhar a vida, todos os meses chegava dinheiro dos campos que ia sempre aumentando. Mas era só o tricô que distraía Irene, ela mostrava uma destreza maravilhosa e eu passava horas olhando suas mãos como puas prateadas, agulhas indo e vindo, e uma ou duas cestinhas no chão onde se agitavam constantemente os novelos. Era muito bonito.

Como não me lembrar da distribuição da casa! A sala de jantar, lima sala com gobelins, a biblioteca e três quartos grandes ficavam na parte mais afastada, a que dá para a rua Rodríguez Pena. Somente um corredor com sua maciça porta de mogno isolava essa parte da ala dianteira onde havia um banheiro, a cozinha, nossos quartos e o salão central, com o qual se comunicavam os quartos e o corredor. Entrava-se na casa por um corredor de azulejos de Maiorca, e a porta cancela ficava na entrada do salão. De forma que as pessoas entravam pelo corredor, abriam a cancela e passavam para o salão; havia aos lados as portas dos nossos quartos, e na frente o corredor que levava para a parte mais afastada; avançando pelo corredor atravessava-se a porta de mogno e um pouco mais além começava o outro lado da casa, também se podia girar à esquerda justamente antes da porta e seguir pelo corredor mais estreito que levava para a cozinha e para o banheiro. Quando a porta estava aberta, as pessoas percebiam que a casa era muito grande; porque, do contrário, dava a impressão de ser um apartamento dos que agora estão construindo, mal dá para mexer-se; Irene e eu vivíamos sempre nessa parte da casa, quase nunca chegávamos além da porta de mogno, a não ser para fazer a limpeza, pois é incrível como se junta pó nos móveis. Buenos Aires pode ser uma cidade limpa; mas isso é graças aos seus habitantes e não a outra coisa. Há poeira demais no ar, mal sopra uma brisa e já se apalpa o pó nos mármores dos consoles e entre os losangos das toalhas de macramê; dá trabalho tirá-lo bem com o espanador, ele voa e fica suspenso no ar um momento e depois se deposita novamente nos móveis e nos pianos.

Lembrarei sempre com toda a clareza porque foi muito simples e sem circunstâncias inúteis. Irene estava tricotando no seu quarto, por volta das oito da noite, e de repente tive a idéia de colocar no fogo a chaleira para o chimarrão. Andei pelo corredor até ficar de frente à porta de mogno entreaberta, e fazia a curva que levava para a cozinha quando ouvi alguma coisa na sala de jantar ou na biblioteca. O som chegava impreciso e surdo, como uma cadeira caindo no tapete ou um abafado sussurro de conversa. Também o ouvi, ao mesmo tempo ou um segundo depois, no fundo do corredor que levava daqueles quartos até a porta. Joguei-me contra a parede antes que fosse tarde demais, fechei-a de um golpe, apoiando meu corpo; felizmente a chave estava colocada do nosso lado e também passei o grande fecho para mais segurança.

Entrei na cozinha, esquentei a chaleira e, quando voltei com a bandeja do chimarrão, falei para Irene:

— Tive que fechar a porta do corredor. Tomaram a parte dos fundos.

Ela deixou cair o tricô e olhou para mim com seus graves e cansados olhos.

— Tem certeza?

Assenti.

— Então — falou pegando as agulhas — teremos que viver deste lado.

Eu preparava o chimarrão com muito cuidado, mas ela demorou um instante para retornar à sua tarefa. Lembro-me de que ela estava tricotando um colete cinza; eu gostava desse colete.

Os primeiros dias pareceram-nos penosos, porque ambos havíamos deixado na parte tomada muitas coisas de que gostávamos. Meus livros de literatura francesa, por exemplo, estavam todos na biblioteca. Irene pensou numa garrafa de Hesperidina de muitos anos. Freqüentemente (mas isso aconteceu somente nos primeiros dias) fechávamos alguma gaveta das cômodas e nos olhávamos com tristeza.

— Não está aqui.

E era mais uma coisa que tínhamos perdido do outro lado da casa.

Porém também tivemos algumas vantagens. A limpeza simplificou-se tanto que, embora levantássemos bem mais tarde, às nove e meia por exemplo, antes das onze horas já estávamos de braços cruzados. Irene foi se acostumando a ir junto comigo à cozinha para me ajudar a preparar o almoço. Depois de pensar muito, decidimos isto: enquanto eu preparava o almoço, Irene cozinharia os pratos para comermos frios à noite. Ficamos felizes, pois era sempre incômodo ter que abandonar os quartos à tardinha para cozinhar. Agora bastava pôr a mesa no quarto de Irene e as travessas de comida fria.

Irene estava contente porque sobrava mais tempo para tricotar. Eu andava um pouco perdido por causa dos livros, mas, para não afligir minha irmã, resolvi rever a coleção de selos do papai, e isso me serviu para matar o tempo. Divertia-nos muito, cada um com suas coisas, quase sempre juntos no quarto de Irene que era o mais confortável. Às vezes Irene falava:

— Olha esse ponto que acabei de inventar. Parece um desenho de um trevo?

Um instante depois era eu que colocava na frente dos seus olhos um quadradinho de papel para que olhasse o mérito de algum selo de Eupen e Malmédy. Estávamos muito bem, e pouco a pouco começamos a não pensar. Pode-se viver sem pensar.

(Quando Irene sonhava em voz alta eu perdia o sono. Nunca pude me acostumar a essa voz de estátua ou papagaio, voz que vem dos sonhos e não da garganta. Irene falava que meus sonhos consistiam em grandes sacudidas que às vezes faziam cair o cobertor ao chão. Nossos quartos tinham o salão no meio, mas à noite ouvia-se qualquer coisa na casa. Ouvíamos nossa respiração, a tosse, pressentíamos os gestos que aproximavam a mão do interruptor da lâmpada, as mútuas e freqüentes insônias.

Fora isso tudo estava calado na casa. Durante o dia eram os rumores domésticos, o roçar metálico das agulhas de tricô, um rangido ao passar as folhas do álbum filatélico. A porta de mogno, creio já tê-lo dito, era maciça. Na cozinha e no banheiro, que ficavam encostados na parte tomada, falávamos em voz mais alta ou Irene cantava canções de ninar. Numa cozinha há bastante barulho da louça e vidros para que outros sons irrompam nela. Muito poucas vezes permitia-se o silêncio, mas, quando voltávamos para os quartos e para o salão, a casa ficava calada e com pouca luz, até pisávamos devagar para não incomodar-nos. Creio que era por isso que, à noite, quando Irene começava a sonhar em voz alta, eu ficava logo sem sono.)

É quase repetir a mesma coisa menos as conseqüências. Pela noite sinto sede, e antes de ir para a cama eu disse a Irene que ia até a cozinha pegar um copo d'água. Da porta do quarto (ela tricotava) ouvi barulho na cozinha ou talvez no banheiro, porque a curva do corredor abafava o som. Chamou a atenção de Irene minha maneira brusca de deter-me, e veio ao meu lado sem falar nada. Ficamos ouvindo os ruídos, sentindo claramente que eram deste lado da porta de mogno, na cozinha e no banheiro, ou no corredor mesmo onde começava a curva, quase ao nosso lado.

Sequer nos olhamos. Apertei o braço de Irene e a fiz correr comigo até a porta cancela, sem olhar para trás. Os ruídos se ouviam cada vez mais fortes, porém surdos, nas nossas costas. Fechei de um golpe a cancela e ficamos no corredor. Agora não se ouvia nada.

— Tomaram esta parte — falou Irene. O tricô pendia das suas mãos e os fios chegavam até a cancela e se perdiam embaixo da porta. Quando viu que os novelos tinham ficado do outro lado, soltou o tricô sem olhar para ele.

— Você teve tempo para pegar alguma coisa? — perguntei-lhe inutilmente.

— Não, nada.

Estávamos com a roupa do corpo. Lembrei-me dos quinze mil pesos no armário do quarto. Agora já era tarde.

Como ainda ficara com o relógio de pulso, vi que eram onze da noite. Enlacei com meu braço a cintura de Irene (acho que ela estava chorando) e saímos assim à rua. Antes de partir senti pena, fechei bem a porta da entrada e joguei a chave no ralo da calçada. Não fosse algum pobre-diabo ter a idéia de roubar e entrar na casa, a essa hora e com a casa tomada.

FREI ANTONIO MOSER


QUE IMPORTA O AREAL E A MORTE E A DESVENTURA?

QUE IMPORTA O AREAL E A MORTE E A DESVENTURA?

QUE IMPORTA O AREAL E A MORTE E A DESVENTURA?
 QUE IMPORTA O AREAL E A MORTE E A DESVENTURA?

Rogel Samuel


                A leitura do romance histórico de Aydano Roriz, «O Desejado», me fez reler a terceira parte da MENSAGEM de Fernando Pessoa.

'Sperai! Cai no areal e na hora adversa
Que Deus concede aos seus

        O romance me surpreendeu. Em vários pontos.
O autor diz que o jovem rei era hermafrodita, e por isso não se casou.
Seu cadáver foi embalsamado em Marrocos, e anos mais tarde resgatado por Felipe de Espanha.
        Oh, tudo é mistério, e não «haverá rasgões no espaço / que dêem para outro lado»...
        Romance intrigante, momentos de rara beleza. Mas volto ao mito. Prefiro o mito.
        Sou, a meu modo, um sebastianista (mais seria se não fosse, para tanto viver tão curta a vida...). Por isso Camões entregou seu poema a D. Sebastião.
        O jovem rei, no livro, é rapaz extremamente religioso, pudico, puritano, se delicia a matar porcos na cozinha, a assistir às sessões de tortura, ao suplicio dos condenados. Havia condenados pelos mais extremos e hediondos crimes, como o crime da masturbação, por exemplo.
        A obsessão do rei em matar-mouros lembra certo presidente de nação distante, hoje. Conflito que vem de longe, entre nossa boníssima e caridosa civilização cristã e a dos cruéis árabes pagãos. Mas:

Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!

        Devemos a D. Sebastião o nome da nossa cidade do Rio de Janeiro.

Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?

        Talvez seja Mito.
        Prefiro o Mito.

«No imenso espaço seu de meditar,
Constelado de forma e de visão,
Surge, prenúncio claro do luar,
El-Rei D. Sebastião».


quarta-feira, 9 de março de 2016

Coluna quinzenal de Rogel Samuel, capítulo 36 de "A Pantera"


Literatura / Prosa  
  Coluna quinzenal de Rogel Samuel, capítulo 36 de "A Pantera" em

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A vitória rápida

A vitória rápida













A vitória rápida


Rogel Samuel




"Na guerra, preze pela vitória rápida e evite as operações prolongadas" - Sun Tzu, "A arte da guerra".


O que será isso? Talvez uma longa preparação, para um ataque relâmpago. Uma guerra longa desgasta, enfraquece o espírito. A vida é uma guerra? Não creio. A rapidez da Internet, contra a lentidão do processo editorial.

Sun Tzu viveu no século IV a.C. Não se diz que os orientais são pacientes? Como Sun Tzu recomenda uma vitória rápida? O que é uma vitória rápida? Se a vitória custar a chegar as armas se desgastarão, a tropa se cansará. Aí é a derrota.

Está pensando no Afeganistão?

"Nenhum Estado aguentará uma guerra prolongada", diz seu livro milenar. Como não pensar no Brasil?

Mas será uma guerra, isso que hoje existe? Ou um comércio de golpes?

Tudo é um mistério.

segunda-feira, 7 de março de 2016

O AMANTE DAS AMAZONAS




A noite é fomidanda. Exsurgem atros abismos. ...



Benito recitava de côr. A sonoridade das frases ecoava no ambiente. Homem sensível, Maneco se impressionava com aqueles versos que conhecia bem. As palavras saíam da boca alcoolizada com troar de tempestade.

Uma prostituta nova entrou no Bacurau e sentou-se à mesa onde havia restos de comida. Um gato se lambia sobre o balcão e a fumaça dos cigarros o envolveu. A voz empostada de Benito bêbado continuou:



Na lúgubre eclosão das tragédias eternas ...



Naquela manhã Abraão Gadelha fora ferido a firo por um desconhecido que se imaginava a mando de seu ex-correligionário Ribamar de Souza. Toda a cidade falara disso, mas o tiro agora estava esquecido no Bacurau. Gadelha sobreviveu.



No solene silêncio há mandingas e ritos ...

Vêem-se, na confusão de vidas e detritos,

Consolações de Deus, ódios de Satanás.



Benito era um homem liquidado. Tinha tido uma pancreatite e não podia continuar bebendo.

Seus dedos se agitavam no ar, e ele já nada via.

Algo morria.

FOI quando entrou, altaneiro, atlético, o poeta Lopes, que assinava Aflopes. Era um rapaz forte, simpático e talentoso.

- O Lopes! - gritou Maneco ao vê-lo. Aproxime-se do Ágora.



Como horroriza o luar! como é tão triste o seu brilho!





Lopes esperou que o poema chegasse ao fim. Benito esquecia versos, confundia estrofes.

Quando o Mestre acabou, o poeta Lopes falou:

- Sou portador de uma triste notícia

Silêncio.

- Sabem quem acaba de morrer?

O gato pulou do balcão.

- Frei Lothar.

sábado, 5 de março de 2016

quarta-feira, 2 de março de 2016

ASAS SONORAS DISSE: Olá, Rogel, tudo bem?, essa adaptação alterou em muito o sentido que você quis dar ao seu texto? abs



ASAS SONORAS DISSE:
Olá, Rogel, tudo bem?, essa adaptação alterou em muito o sentido que você quis dar ao seu texto? abs

terça-feira, 1 de março de 2016