quarta-feira, 30 de abril de 2014

OS SONHOS COMO PRINCÍPIO DAS ESPERANÇAS ÀS VEZES PERDIDAS

OS SONHOS COMO PRINCÍPIO DAS ESPERANÇAS ÀS VEZES PERDIDAS
 
 
            Rogel Samuel
 
 
                        Há uma conferência de Ernst Bloch, conhecida como “O Homem Como Possibilidade”, que se inicia assim: “ Senhoras e Senhores, vamos começar moderadamente. Mas também com vigor e ousadia. Vamos começar com os sonhos.” Desde que a li, pela primeira vez, na década de sessenta, este texto me persegue. Bloch (1885–1977), como se sabe, foi marxista alemão  que saiu para os Estados Unidos, depois de 1933, por causa do nazismo. Sua obra mais famosa é “O princípio da esperança” (3 volumes, publicada de 1952 a 1959).
Na conferência citada diz ele que os sonhos não se dão só à noite, há sonhos diurnos, quando o eu não desaparece, mantém-se presente e sem censura. Nestes nossos desejos voam, povoam, sem hipocrisia, sem camuflagem. Sem medo. Nossos desejos dominam nossos sonhos diurnos: uma bela roupa, uma jóia, uma vitrine. A casa de nossos sonhos. O livro de nossos sonhos. No mundo dos sonhos, o custo de vida não é tão alto, nem nossos salários tão baixos. Não, nada precisamos comprar, pagar, no aberto mundos dos sonhos. Somos – todos – participantes dessa sociedade de consumo de sonhos.
                        E pronto: parece que aí está, quase sem a gente perceber, o “princípio da esperança”, que guia nossas vidas. Parece, mas não é bem assim. O livro de Bloch é difícil e gigantesco (três volumes, em cerca de 1400 páginas na tradução inglesa!).
            Bloch mistura marxismo com a doutrina judaica de redenção, e faz da dicotomia aristotélica de potência e ato a base de uma certa teoria da história à caminho da progressiva emancipação redentora, ou seja, o caminho da esperança  de melhores dias, vida melhor, em melhores condições.
                        Segundo Douglas Kellner, que encontrei na Internet, - (“ Ernst Bloch, Utopia and Ideology Critique”) -, o primeiro volume trata do nosso consumo dos sonhos diurnos: a moda, a propaganda, as viagens, os filmes e outros objetos culturais.
                        O segundo volume versa sobre os sonhos de “um mundo melhor”, analisa as utopias políticas, as utopias tecnológicas, as utopias arquitetônicas, além dos ideais de paz e tranqüilidade.
                        O terceiro volume aborda as imagens do desejo na moralidade, na música, na morte, na religião, na natureza e no ambiente, no bem.
                        Todos três volumes estudam a questão cultural do “sonho de uma vida melhor”, que ele trata como mitos, formas de arte, política e religião. Enfim, a questão da “emancipação”
                        Lembra Bloch que Lênin lastimou certa vez que o movimento havia perdido a capacidade de sonhar. Mostra a contradição entre o feijão e o sonho:  «Delicados coexistem os pensamentos, ásperas se chocam as coisas no espaço», escreveu. Lembra que estamos sempre cercados de conflitos, e que, frente aos sonhos, o mundo real é contrário e contraditório, e se acha carregado das tensões de ontem e anteontem. «O velho não quer passar. E o novo não quer chegar». Mas, «o que contrapomos ao mal, não deve ser uma loucura solitária». A realidade não é fixa, acabada, mas mutável. É possível enfrentá-la, modifica-la. As coisas estão fluindo. Ela foram feitas e por isso mesmo podem ser modificadas. Existe sempre a possibilidade de mudança. «Poder ser diferente significa poder transformar-se em outra coisa melhor».
            Ora, quem sonha são os poetas, principalmente românticos, que sonham «as ilusões perdidas»:  
 
Minh’alma é triste como a rôla aflita
Que o bosque acorda desde o albor da aurora,
E em doce arrulo que o soluço imita
O morto esposo gemedora chora.
E, como a rôla que perdeu o esposo,
Minh’alma chora as ilusões perdidas,
E no seu livro de fanado gôzo
Relê as fôlhas que já foram lidas.
E como notas de chorosa endeixa
Seu pobre canto com a dor desmaia,
E seus gemidos são iguais à queixa
Que a vaga solta quando beija a praia.
Como a criança que banhada em prantos
Procura o brinco que levou-lhe o rio,
Minh’alma quer ressuscitar nos cantos
Um só dos lírios que murchou o estio.
Dizem que há gozos nas mundanas galas 
Mas eu não sei em que o prazer consiste.
- Ou só no campo, ou no rumor das salas, 
Não sei porque mas a minh’alma é triste!     
 
            Como toda ilusão, a realidade já nasce «perdida», e os românticos lastimavam que, em verdade, não encontravam a materialidade de seus sonhos. Ou seja, a vida concreta (se se pode falar assim – e só em crônica se pode) não corresponde ao sonho abstrato, e aqui os gozos, os prazeres, os brincos (os brinquedos), os amores, no campo ou na cidade não correspondem ao idealizado pela imaginação.  Por isso, «a minha alma é triste».
 
No poema de Casimiro de Abreu se pode ouvir, até mesmo, um OH! – esta exclamação lamentosa -  rola, bosque, acorda,  albor, aurora, soluço, morto, esposo, chora etc. – uma série de oooos, todos lamentosos acentos.
            Incompatibilizados com o mundo, não é sem razão que os românticos acabem morrendo tão cedo. Morrem de inanição espiritual, depressão. Sucumbem à glória do capitalismo da primeira revolução industrial.
            A poesia (mas nem sempre) pertence à categoria dos sonhos:
 
Conheces a região do laranjal florido?
Ardem, na escura fronde, em brasa os pomos de ouro;
No céu azul perpassa a brisa num gemido...
A murta nem se move e nem palpita o louro...
Não a conheces tu? Pois lá... bem longe, além,
Quisera ir-me contigo, ó meu querido bem!
(Diz Goethe, na belíssima tradução do mestre João Ribeiro.)         
                              
Sim, esta é a região dos sonhos. Lá, bem longe, além. Lá é melhor. Para lá é que devemos ir, escapar, fugir. Lá está tudo o que é belo, perfeito. Lá está a felicidade. Não a conheces tu, leitor e leitora? Será que existe mesmo?
            Mas... não percamos as esperanças.

Rogel Samuel - LOUVAÇÃO A CIDADE MARAVILHOSA

Louvo o Padre, louvo o Filho
E louvo o Espírito Santo.
Louvado Deus, louvo o santo
De quem este Rio é filho.
Cantou Bandeira. Depois do auge das passeatas, depois do Papa Francisco, depois do frio polar (para nós), o Rio de Janeiro lentamente está voltando a ser o que era dantes, a cidade maravilhosa, porque o sol voltou a brilhar.
Louvo o santo padroeiro
- Bravo São Sebastião -
Que num dia de janeiro
Lhe deu santa defensão.
Esta cidade tem de ter sol, para viver. Como planta. O povo desta cidade não sorri se a chuva ou o vento lhe bate à porta. Ele não atende, não abre.
Louvo a Cidade nascida
No morro Cara de Cão,
Logo depois transferida
Para o Castelo, e de então
Descendo as faldas do outeiro,
Avultando em arredores,
Subindo a morros maiores
— Grande Rio de Janeiro!
No Morro Cara de Cão, onde moro, o Rio é sol, é mar, é chope, é  lugar comum. Eu sou um amazonense bem carioca, bem nascido nas ruas e praias, que já cantou o pernambucano Manuel Bandeira, na “Louvação à Cidade do Rio de Janeiro”.
Cidade de sol e bruma,
Se não és mais capital
Desta nação, não faz mal:
Jamais capital nenhuma,
Rio, empanará teu brilho,
Igualará teu encanto.
Louvo o Padre, louvo o Filho
E louvo o Espírito Santo.
O sisudo, o tímido Machado de Assis escrevia: “É meu costume, quando não tenho que fazer casa, ir por esse mundo de Cristo, se assim se pode chamar à cidade de São Sebastião, matar o tempo. Não conheço melhor ofício, mormente se a gente se mete por bairros excêntricos; um homem, uma tabuleta, qualquer basta a entreter o espírito, e a gente volta para casa "lesta e aguda", como se dizia em não sei que comédia antiga”.
O Gilberto Gil mandou aquele abraço e disse:
O Rio de Janeiro
 Continua lindo
 O Rio de Janeiro
 Continua sendo
 O Rio de Janeiro
 Fevereiro e março
Mesmo José de Alencar, o homem de seu mar, escreveu: “A cidade do Rio de Janeiro, com seu belo céu de azul e sua natureza tão rica, com a beleza de seus panoramas e de seus graciosos arrabaldes, oferece muitos desses pontos de reunião, onde todas as tardes, quando quebrasse a força do sol, a boa sociedade poderia ir passar alguns instantes numa reunião agradável, num círculo de amigos e conhecidos, sem etiquetas e cerimônias, com toda a liberdade do passeio, e ao mesmo tempo com todo o encanto de uma grande reunião... temos na Praia de Botafogo um magnífico boulevard como talvez não haja um em Paris, pelo que toca à natureza. Quanto à beleza da perspectiva, o adro da pequena igrejinha da Glória é para mim um dos mais lindos passeios do Rio de Janeiro.
Alô, alô, Realengo
 Aquele Abraço!
 Alô torcida do Flamengo
 Aquele abraço
Alô moça da favela
 Aquele Abraço!
 Todo mundo da Portela
 Aquele Abraço!
 Todo mês de fevereiro
 Aquele passo!
 Alô Banda de Ipanema
 Aquele Abraço!
E Pedro Nava, famoso morador da Glória, comentou: “Flanar nas ruas do Rio é prazer refinado. Exige amor e conhecimento. Não apenas o conhecimento local e o das conexões urbanas. É preciso um gênero de erudição. É preciso saber colocar os pés nos locais de Matacavalos onde pisou Osório, na calçada de São Clemente onde andou Tamandaré, nesta Glória onde perpassou o vulto de Capitu — na geografia citadina real e imaginária, no Rio velho de Manuel Antônio de Almeida, Alencar, Macedo, Artur e Aluísio — irmãos Azevedo; de Lima Barreto, João do Rio, Marques Rebelo, Drummond.
Machado, em A mão e a luva, descreve e comenta: “A Corte divertia-se, apesar dos recentes estragos do cólera —; bailava-se, cantava-se, passeava-se, ia-se ao teatro. O Cassino abria os seus salões, como os abria o Clube, como os abria o Congresso, todos três fluminenses no nome e na alma. Eram os tempos homéricos do teatro lírico, a quadra memorável daquelas lutas e rivalidades renovadas em cada semestre, talvez por um excesso de ardor e entusiasmo, que o tempo diminuiu, ou transferiu, — Deus lhe perdoe, — a coisas de menor tomo."
No dia da libertação do escravos, disse Lima Barreto que fazia sol: “Havia uma imensa multidão ansiosa, com o olhar preso às janelas do grande casarão. Afinal a lei foi assinada e, num segundo, todos aqueles milhares de pessoas o souberam. A princesa veio à janela. Foi uma ovação: palmas, acenos com lenço, vivas... Fazia sol e o dia estava claro. Jamais na minha vida, vi tanta alegria. Era geral, era total; e os dias que se seguiram, dias de folganças e satisfação, deram-me uma visão da vida inteiramente de festa e harmonia”.
Assim penso que é uma glória o simples estar nas ruas dessa cidade que a todos acolhe. E assim a cantou numa bela manhã de praia Carlos Drummond Andrade:
Umidade de areia adere ao pé.
 Engulo o mar, que me engole.
 Valvas, curvos pensamentos, matizes da luz
 azul
 completa
 sobre formas constituídas.
Bela
 a passagem do corpo, sua fusão
 no corpo geral do mundo.
 Vontade de cantar. Mas tão absoluta
 que me calo, repleto.
Bilac escreveu: “Num dos últimos domingos vai passar pela avenida central um carroção atulhado de romeiros da Penha; e naquele boulevard esplêndido, sobre o asfalto polido, entre as fachadas ricas dos prédios altos, entre as carruagens e os automóveis que desfilavam, o encontro do velho veículo em que os devotos urravam, me deu a impressão de um monstruoso anacronismo”.
Louvo o Padre, louvo o Filho
E louvo o Espírito Santo.
Louvado Deus, louvo o santo
De quem este Rio é filho.

terça-feira, 29 de abril de 2014

O IGARAPÉ DO INFERNO, 9

O IGARAPÉ DO INFERNO, 9
           



            Fui eu o primeiro a avistar uma fêmea Numa. Ao vivo. Mas fui o único.

            Aquelas águas escorriam desde o princípio do mundo, das partes íntimas do mundo. Gigantescas árvores deixam passar águas que vêm dos desconhecidos lugares numas. Os Numas lhes pertencem, da sobrevivência, esquecidas, feridas, passam. Frias. Se perdem. Perigo, atroz.

            A princípio não se pode delimitar com precisão. Onde as terras dos Numas? Onde as do Seringal?

            Depois se vêem.

            Sentem-se.

            No cheiro.

            Nas raras marcas macias.

            Uma flecha, especada no talo da árvore, atravessada na picada, vermelha. Um sinal.

            Um galho, quebrado, que diz: “Não passarás”.

            E, além da Curva do Tucumã, a passagem do eixo do rio em morte, que se separa.

            Pode-se banhar e pescar, mas deste lado. Nunca do outro lado. O lado secreto.



            Mas aos poucos os Numas se infiltravam.

            Avançavam. Atravessavam.

            Passavam além de si mesmos. Não respeitavam seus próprios limites.

            Atravessaram o rio, a ordem, o marco que existia, invisível, no rio e na floresta.



            A conduta, o êxtase, a curva onde moravam, o mediante, o perfeito domínio, os Numas se mexiam, silenciosos, invisíveis, nos múltiplos lados do rio, um rio em “S”, quase em sacado, um domínio incompreensível, ignorado, em torno do qual se distribuíam os seringueiros, aquela parte alta, terra-firme, cuidadoso controle, cordialidade.



            O Seringal, todas as noites, era invadido por fantasmas.



            O mundo se economizava.



            Harmonia de gestos, noturnos, em nenhum momento involuntários, violentos, irrompendo no pacto tênue, presente, do espírito do silencioso do palco armado.

            Não basta saber.

            Não basta esquecer.

            Não basta falar.

            Assegurar a paz, conforme um crime, como se a verdade dependesse do oculto.

            Não. Nada assustá-los, provocá-los.

            Não ameaçá-los, procedimentos que advertiam a hierarquia estabelecida. Eles, fantasmáticos e míticos. Eles, em liberdade de vento.



            Porque eles eram Nada.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

O IGARAPÉ DO INFERNO, 8

O IGARAPÉ DO INFERNO, 8

           


            Tudo aquilo está hoje em ruína descontínua, tudo aquilo acabou, a minha descrição corresponde ao que ele era, o Palácio, há muitos anos, na minha mocidade, na perdição da minha memória. Mas as árvores no meio da floresta estão lá, para confirmar a existência e elaboração.


            Ainda vejo bem o corpo retorcido daquele edifício oitocentista no alto da terra-firme, plantado como marco por conta de rios de sangue e de milhares de libras esterlinas, o reluzente ouro da borracha.


            Era longe, muito longe, afastado de tudo, afastado de si, distante.

            Eu não sou. Sou de outra época. Sou do tempo de um capitalismo primitivo, arcaico, luxuoso, tricotado em filigranas de ouro e pedras preciosas, de um outro modo, de um outro tempo, quando o Palácio buscava sua imagem na natureza perdida.


            Ali havia uma sala de música, onde se via um pequeno piano Pleyel, e a vitrine, onde Pierre Bataillon ostentava sua coleção de violinos (o Guarnerius, o Bergonzi, o Klotz, o Vuillaume), as gravuras, representando Viotti, Baillot, David, Kreuzer, Vieuxtemps, Joachim. Havia a máscara mortuária de Beethoven, laureada em bronze, de Stiasny.


            Mais além a Biblioteca, em que Madame Sabóia lia em voz alta versos de Lamartine.


            Depois vinham salas e salas se interrogando para quê, salões e galerias vazias e inúteis, cômodos se intercomunicando por portas sucessivas que se abriam em galerias e corredores restritos, e que se fechavam em si mesmos, ao som do piano de Pierre Bataillon em diálogo com o violino de Frei Lothar naquela sonata de Mozart.


            Como alguém que se concentra em si, num poder surdo, ágil, terrível, que se expressava nas paredes de estuque, pintadas com irisações de ouro esverdeado e escuro, numa entrançadura de ritmos e galhadas e folhagens de vegetação alucinada e japonesa que subia por aquelas formas até ao teto refletidas nos espelhos de cristal, nas flores dos lustres, de modo a evocar a lembrança de algum exótico prazer.


            Sim, sou eu um velho escroto de um outro século.

            Por isso me demoro em descrever, tudo em minúcias, aquele Palácio onde vivi, onde observei, onde apreendi, durante tantos anos. Eu passei a vida toda de palavras de nada.


            E aquela povoação de objetos e móveis antigos, descrevendo monstros e mitos: a cômoda veneziana, a visão da atividade sexual da imagem; o armário de Boulle, as cenas de caça com javalis do consumo e cães mastigando sangrentas aves abatidas a tiros pelo Duc de Chartres e outros cavaleiros fidalgos, na idiotia de vistosas calças vermelhas e botas pretas, e o silêncio rigoroso do gabinete inglês; a dinâmica, a morfologia prostituída do divã de Delanois; a unidade e variante elíptica do canapê - os cipós, íris, cardos, insetos estilizados, filiformes, incorporando-se aos móveis e às linhas dos painéis franceses, num delírio neo-rococó.


            Dá para descrever as estátuas sobre lambrequins? E as rocalhas e rosáceas ecléticas, urnas nas cimalhas dos balcões, as cariátides, os capitéis?


            Pierre Bataillon compôs e consumiu e fez em detritos toda a sua imensa fortuna na consumação daquelas mobílias suntuosas, amontoadas e sem uso, no processo da esquizofrenia desejante na reprodutora boca desumanizada para pôr fim ao exagerado dos seus lucros, no autofágico prazer do espetáculo de seu capital luxuriante, arte vã, fútil e suicida, em doença, em loucura, em mortes e crimes impunes vários povos desapareceram ali, nos critérios de uma singular estética do capital, nos vazios de um paganismo coquete, amoral e moderno.

MOZART!


domingo, 27 de abril de 2014

Obras de Heloisa Pires Ferreira na FBN


 

Obras de Heloisa Pires Ferreira na FBN

Obras de Heloisa Pires Ferreira na FBN Fernanda Távora 
Entre gravuras de sóis, galáxias, representações de países da América Latina e de estados brasileiros. Assim caminha o trabalho da experiente gravurista Heloísa Pires Ferreira. Hoje, esses elementos também compõem o acervo da Biblioteca Nacional: a artista que trabalha há 40 anos com diferentes técnicas acaba de doar mais 30 de suas obras para o setor de iconografia.

“Foi enquanto me organizava para uma exposição que selecionei as obras para a BN”, explica Heloísa, sobre a mostra que está prevista para acontecer no meio do ano, em São Paulo. Sandra Hitner, crítica da Associação Brasileira de Críticos da Arte, destaca que a aquisição das obras da artista contribui muito para o acervo da BN. “O papel da Heloísa Pires Ferreira é uma contribuição fundamental na arte da gravura contemporânea brasileira”, explica Sandra sobre a artista que já recebeu a bolsa de estudos da Fundação Calouste Gulbenkian, de Lisboa, e participou da organização e edição do livro Gravura brasileira hoje: depoimentos.

Entre as gravuras doadas estão representações de países como Honduras, Bolívia e Paraguai que são parte de uma narrativa sobre a América Latina, feita pela artista, e que apresentam nuances de seu processo criativo. “Antes as doações feitas pela Heloísa eram mais pontuais, incluindo algumas obras de outros artistas”, lembra Léia Pereira da Cruz, chefe do setor de iconografia da Biblioteca Nacional.
Confira na edição de abril nas bancas.

PÁSSAROS


O IGARAPÉ DO INFERNO, 7

O IGARAPÉ DO INFERNO, 7

           


             – Agora, vou contar pra você o que me disse Ribamar, naquela época... – e o velho, com as artríticas mãos trêmulas, bebeu um gole de água.

             Para beneficiar esta narrativa, digo que sou um homem condenado. Sim, câncer. Eu já devia ter morrido, mas a razão desta minha tomada é que, só esclarecendo isso, sei que é possível morrer em paz, compreender esse meu estilo antigo, que pode, talvez, ser capaz de descrever o inusitado quadro que se apresentará nesta minha estória.

             Esta narrativa é o meu relato da minha vida. Eu passei a vida toda de palavras de nada.

             Chamo-me de louco, e às vezes me trato na terceira pessoa, como um personagem, porque sei eu mesmo que não compreendo tudo o que aconteceu, e me vejo às vezes como um estranho louco.

             Naquele dia havia uma chuva compacta.

             Era um banco de madeira no alpendre do tapiri, ao som daquele Igarapé do Inferno... Lembro-me de que, naquele Igarapé, logo mais abaixo, na última linha que riscava o horizonte, naquela tarde... era uma diagonal tarde dourada, com a tempestade se aproximando... na outra extremidade do horizonte... como num sonho soberanizava o belo, o art-nouveau Palácio Maxini... oh, Deus, como era soberba aquela edificação, sede do Seringal, residência de Pierre Bataillon... Nós, você e eu, estamos agora num delírio, num sonho em busca daquele tempo, um tempo interdito. Estamos em busca do Palácio.

             Ostentava-se, deslumbrado, com seus múltiplos reflexos, as quinquilharias de seus espelhos de cristal, as suas inúmeras janelas e bandeiras das portas transformadas em lúcidas placas de prata rutilante ao sol.


             Você sabe, tenho vivido um tempo e vi de tudo muita coisa, viagem por muitos países, França, Alemanha, Espanha, eu louco, mas de ouro, de um ouro muito louco e muito vivo, de um brilho vivíssimo, dourado e fantasmático, delirante, desterritorializado, díspare, produzido pela acumulação primitiva de quase um século de exploração, investimento inexplicável, agenciamento de sobrepostos níveis heterogêneos de acumulação do capital, empreendimento engendrado de todo varrido do planeta, confinado ali, circunscrito ali, centrado ali, na dependência dali, da fidalguia, isolamento, anacrônico testemunho.


             Nós retornávamos à raiz da luz do nosso faustoso passado amazônico, chegávamos à brusca tarde sem sentido do Palácio.


             O monstruoso edifício ocupava a sua singularidade em todos os seus detalhes, no luxo de seu aspecto europeu.

             O Manixi (que era assim conhecida aquela construção, que depois entrou em decadência, ruína e morte, depois da quebra da borracha), Pierre Bataillon o tinha construído no meio das selvas.


             No límpido e repentino dia, o Manixi nos esperava, na imponência tranqüila dos seus pontos e ângulos, com que nos recebia na sua imoral bem-aventurança.

             Esperava-nos sobre as placas negras e primitivas das águas da origem da vida no mundo, nas curvaturas do Igarapé do Inferno.

             Naquelas águas deslizavam as riquezas das cabeceiras, perdidas, devolutas, não demarcáveis terras...

             Sim, porque tudo a fortíssima modificação daquilo tem a ver com a experiência do retorno morto, do esforço inútil, do gasto orgânico.

             O Palácio era uma edificação de dois andares, mais o porão, cercada de finos gradis de ferro torneado em convulsionadas e violentas volutas de gavinhas elegantes de efeminado contorno, travestidas, descomedidas, decoradas pela curva da escadaria de mármore, torta e enfática, escura e em pleno gozo das réplicas vilas européias.


             Me desculpe, me desculpe, mas não posso deixar de exclamar de exultar de exagerar o que era visto à distância.

             De longe já dava para ver a soberania catedralesca, que o olhar apropriava, as sacadas, os balcões de mármore, avançando no ar...

JOSÉ RIBAMAR MITOSO: - MINHA MODESTA LEITURA DO BRILHANTE ROMANCE REALISTA " TEATRO AMAZONAS ", DE ROGEL SAMUEL!

MINHA MODESTA LEITURA DO BRILHANTE ROMANCE REALISTA " TEATRO AMAZONAS ", DE ROGEL SAMUEL!

JOSÉ RIBAMAR MITOSO


Rogel , sobre o romance Teatro Amazonas: 1) depois da trama macabra do ex-governador Thaumaturgo Azevedo e da elite monarquista e feudal do Amazonas, você acredita mesmo que foi o jornalista Lima Silva que matou Eduardo Ribeiro apenas porque O Pensador comeu a Marinalva ? 2) o narrador/autor , através da boca do jornalista Lima Silva, afirma que José Paranaguá, que começou seu mandato em 1882, foi o melhor governador da história do Amazonas porque a) iniciou o Teatro Amazonas, a Biblioteca Pública de Manaus e o Museu Botânico; b) expandiu a educação pública para o interior, c) criou a infraestrutura para o Ciclo da Borracha e d) ainda estimulou o movimento abolicionista, entre outras iniciativas. Mas não foi ele que fortaleceu o Sistema de Decimentos, de escravização e conversão dos povos Aruak e Tucano? O romance é brilhante, mas o narrador minimiza o papel abolicionista e republicano de Eduardo Ribeiro, do grupo de Floriano Peixoto. No mais, dei mutas gargalhadas e adorei seu romance. Ah: a Marinalva, que deixou Eduardo Ribeiro pegar no xibiu dela, por baixo da mesa, na frente de Lima e Silva, dava mesmo para toda Manaus após alguns goles de cerveja ? Que cerveja doida era esta?


A artista plástica Heloísa Pires Ferreira doa mais 30 de suas gravuras para a Biblioteca Nacional

 


A artista plástica Heloísa Pires Ferreira doa mais 30 de suas gravuras para a Biblioteca Nacional


Fernanda Távora

   
  
      
 


Saiu na "Revista de História da Biblioteca Nacional" duas imagens de gravuras em metal. 
O número 103, de abril de 2014 - página 89, vocês encontram a imagem da gravura que foi capa  da revista AIÓ, que o Rogel publicava nos anos 1980, alem de  uma máteria sobre o trabalho de gravura que venho fazendo há décadas.

 


  • Entre gravuras de sóis, galáxias, representações de países da América Latina e de estados brasileiros. Assim caminha o trabalho da experiente gravurista Heloísa Pires Ferreira. Hoje, esses elementos também compõem o acervo da Biblioteca Nacional: a artista que trabalha há 40 anos com diferentes técnicas acaba de doar mais 30 de suas obras para o setor de iconografia.
    “Foi enquanto me organizava para uma exposição que selecionei as obras para a BN”, explica Heloísa, sobre a mostra que está prevista para acontecer no meio do ano, em São Paulo. Sandra Hitner, crítica da Associação Brasileira de Críticos da Arte, destaca que a aquisição das obras da artista contribui muito para o acervo da BN. “O papel da Heloísa Pires Ferreira é uma contribuição fundamental na arte da gravura contemporânea brasileira”, explica Sandra sobre a artista que já recebeu a bolsa de estudos da Fundação Calouste Gulbenkian, de Lisboa, e participou da organização e edição do livro Gravura brasileira hoje: depoimentos.
    Entre as gravuras doadas estão representações de países como Honduras, Bolívia e Paraguai que são parte de uma narrativa sobre a América Latina, feita pela artista, e que apresentam nuances de seu processo criativo. “Antes as doações feitas pela Heloísa eram mais pontuais, incluindo algumas obras de outros artistas”, lembra Léia Pereira da Cruz, chefe do setor de iconografia da Biblioteca Nacional.
    Confira na edição de abril nas bancas.

MOSTEIRO DE TAKSANG - NO BUTÃO


sábado, 26 de abril de 2014

NO MAR TANTA TORMENTA

106
No mar tanta tormenta e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida!
Na terra tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade avorrecida!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme e se indigne o Céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno?

 

O VIOLINO

LOGO limpo, satisfeito, depois do jantar, estava de melhor humor. O Barão prosseguia sua viagem no meio da noite - uma temeridade, mas como era de esperar Ferreira queria o navio em Manaus logo. O rumor das máquinas já não o incomodava, resignara-se. Frei Lothar subiu para a popa, para uma espécie de terraço no escuro. Estava sozinho. O vento começou a fazer-lhe bem, aquele vento tinha um cheiro terno, uma alma terna, ele ficou vendo a noite escura, na navegação de descida, entre o vulto das sombras. Era assim que ele sempre se sentia - um passageiro do mundo. Nunca parava, noite a dentro, vida a fora. Ficou pensando no homem que tinha assistido em Villa Seabra. Aquele homem ia morrer ... Que coisa é a morte? Que coisa é a fé? Muitos homens tinham morrido nos seus braços, e ele nada pudera fazer. Que coisa era a morte? Sua fé há muito perdida. Lixe-se o Provincial! O que Frei Lothar via e viu durante toda vida - não foi Deus: Foi a dor, a dor e a morte, a miséria e a desolação. Frei Lothar se levantou com esforço, saiu dali e foi ao camarote de onde veio com o violino. Sentou-se. Ia estudar até o sono chegar. Era a Segunda Partita de Bach, que sabia de cor, mas nunca conseguia superar certas dificuldades. Tocava sem a partitura. Estudava sem a partitura, no escuro, dentro do vento veloz. Sozinho. Sem partitura e sem luz, sem ninguém. Oh! No Amazonas era assim. O Amazonas não tinha partitura, não tinha luz, nem ninguém. O Amazonas era uma imensa planície de miséria. A depressão econômica pairava no seu monstruoso silêncio. A Partita saía quase boa dos artríticos e velhos dedos. Nunca tivera tempo de estudar, nunca tivera condições, acomodações. Viajava com o violino em navios e em canoas, nos furos e lagos, e por pouco não se perdeu o violino junto com os escorpiões: aquele era um violino precioso, simbolizava o que ele não tinha sido. O mau padre, o mau médico, o mau violinista. Nunca fizera nada bem. Nada inteiro. Agora estava velho, fraco, tinha pouca fé, pouca ciência, pouca técnica. Oh, pior que a morte é a mediocridade! Frei Lothar pensava, o violino gemia, ladainhas, recitações, reflexões. Assistira os doentes sem recursos, dissera missas sem paixão, e agora tocava mal a Partita. Sem remédios, sem partituras, sem higiene, sem saber. Frei Lothar tocava com imaginação. O violino era um Guarnerius. Tinha sido presente de Juca das Neves, um dos poucos homens por quem Frei Lothar tivera amizade. Na verdade, os Guarnerius não são imitação. São aprimoramento dos Stradivários e muito mais sonoros, apropriados para as salas de testes e grandes orquestras, ao passo que os Strad eram camerísticos. Ajudado pela inspiração, a Partita saía quase boa. O Barão avançava no meio da noite. De repente, o Frei se lembrou do Concerto Duplo - beleza! - e emendou a Partita num dos trechos de sua parte. No Concerto Duplo tudo era ânsia, sublimidade. Ele se imaginava no meio da orquestra, lembrava-se dos sonhos de ser músico, e não padre, mergulhava no concerto ouvindo o violoncelo e toda a grande orquestra. Via as galerias repletas, de onde explodia o sucesso, o aplauso, tudo aquilo bem longe do Amazonas, bem longe da morte. Ele foi levado pelo devaneio. Por quê? Do antigo misticismo não sobrava nada. Por quê? Tocava Brahms cortando ao meio a floresta Amazônica. Por quê? A noite corria no altíssimo, e o céu da Amazônia de repente ficou transparente e claro e coberto de estrelas que cintilavam, e tudo lhe apareceu de uma só natureza, num bloco em que ele não existia mas estava integrado num todo - e Frei Lothar, parando de tocar, correu para a amurada com lágrimas nos olhos, e de repente viu, em êxtase, que a Imensidão e a Eternidade apareciam subitamente ali na sua frente, vindo e chegando a ele, amplas, entrando por seus olhos, por seus ouvidos, e tudo era um só Incomensurável ... - e ele, integrado, eterno, deu um grito e se sentiu incompreensivelmente feliz
 
Rogel Samuel: O amante das amazonas.

PASSE LIVRE

Foto: Universitários amantes dos clássicos que vivem ou passam pela cidade de São Paulo acabam de ganhar incentivo para participar do circuito de concertos. A partir de 15 abril, entra em vigor o projeto "Passe Livre Universitário", da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), que destravará a roleta de espetáculos do grupo na Sala São Paulo para estudantes de graduação. Pelo regulamento, será possível se inscrever para assistir gratuitamente a apresentações da Temporada Osesp de até duas semanas seguintes. É necessário cadastrar-se antes. O link está disponível em http://viva.mu/passelivreosesp. A iniciativa faz parte da celebração dos 60 anos da orquestra, que também lança os projetos "Acervo Osesp: História Oral", com registros históricos do grupo, bem como depoimentos de artistas e funcionários, e "SP- LX Nova Música", na área de criações contemporâneas, em parceria com fundação portuguesa. Crédito da imagem: Wikimedia Commons.Universitários amantes dos clássicos que vivem ou passam pela cidade de São Paulo acabam de ganhar incentivo para participar do circuito de concertos. A partir de 15 abril, entra em vigor o projeto "Passe Livre Universitário", da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), que destravará a roleta de espetáculos do grupo na Sala São Paulo para estudantes de graduação. Pelo regulamento, será possível se inscrever para assistir gratuitamente a apresentações da Temporada Osesp de até duas semanas seguintes. É necessário cadastrar-se antes. O link está disponível em http://viva.mu/passelivreosesp. A iniciativa faz parte da celebração dos 60 anos da orquestra, que também lança os projetos "Acervo Osesp: História Oral", com registros históricos do grupo, bem como depoimentos de artistas e funcionários, e "SP- LX Nova Música", na área de criações contemporâneas, em parceria com fundação portuguesa. Crédito da imagem: Wikimedia Commons.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Outono em Washington

Outono em Washington




Uma chuva de folhas douradas
cai e espanta os esquilos de Washington
que não podem catar suas nozes
sem que não sejam incomodados.

Insólito aguaceiro de dólares
atrapalha as pombas que passeiam
entre os sapatos dos intocáveis
e talvez gripados milionários.

O estrondeio dos aviões a jato
estilhaça nos ares de estanho
os direitos civis dos pardais
em voo do Obelisco ao Potomac.

E o turbilhão de vento e folhagem
crispa a orquídea na loja de flores
entre o Bank of América e a noite
nos abrigos contra a bomba atômica.

Uma tempestade de corn-flakes
cai sobre as moças em flor que vão
aos psiquiatras perguntar como
lidar com as máquinas de amor.

Chuva de apartes no Capitólio.
Republicanos e democratas
dão ao foguete chamado Apolo
um prazo para chegar à Lua.

Um anjo de goma e pepsi-cola
faz o pedestre apressar o passo
nas avenidas incandescentes
de olhos de vidro inquebrável e aço.

Na poderosa e marmórea Washington
cheia de templos greco-latinos
só a borracha da noite de outono
apaga as garatujas dos homens.

                                          Lêdo Ivo

LEIA HOJE O 3º CAPÍTULO DO MEU NOVO ROMANCE "A PANTERA"

LEIA HOJE O 3º CAPÍTULO DO MEU NOVO ROMANCE "A PANTERA" EM:
http://www.blocosonline.com.br/home/index.php

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Segredo de briga entre Vargas Llosa e García Márquez vai para o túmulo



           

Segredo de briga entre Vargas Llosa e García Márquez vai para o túmulo


 
Por Diego Oré


CARACAS, 24 Abr (Reuters) - O motivo da briga que separou os prêmios Nobel de Literatura latino-americanos Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa vai para o túmulo com eles, disse nesta quinta-feira o escritor peruano.
A discórdia ocorreu em 1976 durante um encontro de escritores no México, quando Vargas Llosa deu um soco certeiro no colombiano García Márquez, deixando o olho esquerdo dele roxo e encerrando a amizade de uma década.
A razão da disputa tem sido um enigma para a imprensa e até mesmo para os biógrafos dos dois ganhadores do Prêmio Nobel. Nesta quinta-feira, Vargas Llosa disse na Venezuela, onde os dois se conheceram, que levará o segredo para o túmulo.
"É um pacto entre García Márquez e eu. Ele respeitou isso até a sua morte e vou fazer o mesmo", disse Vargas Llosa respondendo à pergunta sagaz em busca de uma pista sobre o mistério após a morte, na semana passada, do colombiano que revolucionou a literatura.
"Vamos deixar nossos biógrafos, se merecemos isso, investigar o assunto", disse o autor de "Conversa na Catedral" em uma entrevista coletiva, depois da abertura de um fórum "pela liberdade econômica" que ele participa em Caracas.
Testemunhas presenciais disseram anonimamente, durante anos, que García Márquez foi atingido por Vargas Llosa "pelo o que ele fez para Patricia", a mulher do peruano.
Uma teoria diz que o autor de "Cem Anos de Solidão" poderia ter sugerido a Patricia Llosa que se separasse do seu marido por uma suposta infidelidade dele.
Outra mais complicada garante que Patricia, para se vingar do seu marido, deu a entender que tinha um relacionamento com "Gabo". Aquela briga entre eles ficou registrada em uma foto do fotógrafo Rodrigo Moya na qual García Márquez aparece com o olho esquerdo roxo, mas sorrindo.
Antes, em 1971, Vargas Llosa havia publicado uma análise da obra do colombiano intitulada "García Márquez: história de um deicídio".
Apesar da briga, Vargas Llosa lamentou a morte de Gabo, mas lembrou que aconteceu com García Márquez o que todo escritor gostaria que acontecesse: "que sua obra sobreviva".
García Márquez morreu em 17 de abril aos 87 anos em sua casa na Cidade do México, onde viveu a metade da sua vida.
O Nobel colombiano também se desentendeu com a norte-americana Susan Sontag e o mexicano Octavio Paz depois de que os dois condenaram a sua "desonestidade intelectual" pela sua amizade com o líder cubano Fidel Castro.