domingo, 29 de novembro de 2009

Falece Pessoa











Falece Pessoa

Rogel Samuel


Neste dia, lembra Amelia Pais, em 1935, falecia Fernando Pessoa, um dos maiores poetas de todas as literaturas. Mas em vida morria desconhecido. Apenas um pequeno grupo o reconhecia. Os jornais de Lisboa nunca falaram dele. O "Diario de notícias" somente publicou uma nota policial, quando desapareceu um mágico seu amigo... (parece que fazia uma representação e desapareceu mesmo). Ninguém o lia, nem sabia, no escritório em que trabalhava.

De certo modo suicidou-se, pois bebia muito, escondido no seu quarto, e fora proibido de beber por causa de uma cirrose (creio). Mas continuou. Pagava um mendigo para comprar cachaça e deixar na sua janela.

Morreu de genialidade. Morreu de sensibilidade. Não podia suportar este mundo.

África: Tanzânia

Robert de Montesquiou



Robert de Montesquiou, retrato por Giovanni Boldini, Paris, Musée d'Orsay.




Robert de Montesquiou


Rogel Samuel

Ele era temido e admirado. Rico (depois se arruinou). Dândi. Escritor e poeta. Homem de sociedade. Era muito culto e inteligente. Sarcástico, talvez homossexual, tinha um talvez namorado de origem peruana, seu secretário.

"O fascínio exercido por este personagem sobre os seus contemporâneos fez dele um modelo para numerosos heróis de romance: des Esseintes em À Rebours (1884) de Huysmans, O conde de Muzaret, em Monsieur de Phocas (1901) de Jean Lorrain e, principalmente, o Barão de Charlus em Em Busca do Tempo Perdido de Marcel Proust".

Ele era importantíssimo: Proust disse que a chave da Recherche era ele.

Celeste Albaret dedica um capítulo inteiro sobre ele. Que era esnobe. Irritante. Certa vez, num jantar de grande pompa, Montesquiou se reencontrou como uma senhora que detestava e que era sua vizinha de mesa:

- Senhora, no meio de um intervalo de silêncio gritou ele para a dona da casa, não compreendo que me tenha colado ao lado desse camelo!

A dona da casa ficou fora de si e nada respondeu, houve um silêncio constrangedor, depois as pessoas, todas ricas e elegantes, continuaram a comer e a conversar fingindo nada ter escutado. A vítima, envergonhada, também fingiu que não era com ela.

Ele era a insolência impune em pessoa. Mas Proust lhe tinha uma grande admiração. Para construir o personagem.

Montesquiou foi capaz de colocar uma cobra venenosa aos pés de uma senhora que odiava, a cobra vinha dentro de uma cesta. Eles estavam dentro de um bonde. A vítima desmaiou. Ele deu grandes gargalhadas, com sua voz bem aguda.


Era descendente de D'Artagnan. Escreveu:


Berceuse d'ombre

Des formes, des formes, des formes
Blanche, bleue, et rose, et d’or
Descendront du haut des ormes
Sur l’enfant qui se rendort.
Des formes!



Des plumes, des plumes, des plumes
Pour composer un doux nid.
Midi sonne: les enclumes
Cessent; la rumeur finit. . .
Des plumes!


Des roses, des roses, des roses
Pour embaumer son sommeil,
Vos pétales sont moroses
Près du sourire vermeil.
O roses!



Des ailes, des ailes, des ailes
Pour bourdonner à son front,
Abeilles et demoiselles,
Des rhythmes qui berceront.
Des ailes!



Des branches, des branches, des branches
Pour tresser un pavilion,
Par ou des clartés moins tranches
Descendront sur l’oisillon.
Des branches!



Des songes, des songes, des songes
Dans ses pensers entr’ouverts
Glissez un peu de mensonges
A voir la vie au travers,
Des songes!



Des fées, des fées, des fées
Pour filer leurs écheveaux
De mirages, de bouffées
Dans tous ces petits cerveaux.
Des fées!



Des anges, des anges, des anges
Pour emporter dans l’éther
Les petits enfants étranges
Qui ne veulent pas rester . . .
Nos anges!

Amizades









Amizades


Rogel Samuel


"A amizade é um refúgio, uma comunidade sagrada, fraterna. É um dos "refúgios preciosos" de que falam os diferentes Budas. No tumulto do mundo moderno, o homem e a mulher devem encontrar refúgio. Quando se encontrou refúgio, os problemas desaparecem como um vôo de pássaros perturbados pela pedra de uma fisga. Perdem o seu peso, e põem-se a dançar.
Precisarias da força ascética do eremita, do mestre de sabedoria, para te libertar a ti próprio da cegueira e da ilusão. Hoje, o homem moderno não pode fazer nada sem a ajuda dos outros. Não vive nas solidões do Tibete, fora do mundo, protegido dos profanos pelo recinto sagrado do mosteiro. É o diálogo, a partilha, a reciprocidade que nos libertam, e nos trazem de novo à nascente Única, comum a todos os seres", escreveu Dugpa Rinpochê.


É uma arte, a fazer amigos. Uma arte rara. Na adolescência é fácil. Temos os amigos da escola, os colegas da faculdade. Na maioridade vai-se tornando difícil. Se você é professor universitário, difícil. A competição faz com que todos se tornem inimigos. Cordiais. Na família, depende de cada uma. Há famílias unidas e desunidas.

Mas na velhice os únicos são os remanescentes, os amigos antigos. E vão morrendo. Cada vez que morre um deles, mais a solidão nos cerca, como uma ilha nos tornamos.

É aí que forçadamente aprendemos a nos abrir para os outros e a conquistar novas amizades.

Dizia Hegel que a "necessidade" move a História.

E move nossas vidas.

sábado, 28 de novembro de 2009

A cidade de Manaus













A cidade de Manaus


Rogel Samuel


Outro dia comentei: os historiadores amazonenses atuais ignoram a história da República em Manaus. Não conhecem senão o que ouviram falar.

Sobre Eduardo Ribeiro, parece que ninguém lá leu o livro "Contra a calúnia", do
próprio Eduardo Ribeiro, que é uma coletânea de artigos. Só há um único exemplar na
Biblioteca Nacional. O livro está em estado precário, desintegrando-se, e eu o li para escrever o meu romance "Teatro Amazonas".

Também ninguém leu "A verdade sobre o caso do Amazonas", de Fileto Pires Ferreira. Somente Agnello Bittencourt e Mario Ypiranga Monteiro falam sobre este livro importantíssimo para a História do Amazonas.

Ninguém leu os artigos que foram escritos contra Eduardo Ribeiro no Rio. Ninguém pesquisou nada.

Infelizmente é assim.

Florbela Espanca














Florbela Espanca




Rogel Samuel




Para Florbela Espanca a dor é, e estranhamente, um convento. No seu famoso soneto «A minha dor», escreveu ela: « A minha Dor é um convento»:

A minha Dor é um convento ideal
Cheio de claustros, sombras, arcarias,
Aonde a pedra em convulsões sombrias
Tem linhas dum requinte escultural.

Os sinos têm dobres de agonias
Ao gemer, comovidos, o seu mal...
E todos têm sons de funeral
Ao bater horas, no correr dos dias...

A minha Dor é um convento. Há lírios
Dum roxo macerado de martírios,
Tão belos como nunca os viu alguém!

Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e dias rezo e grito e choro,
E ninguém ouve... ninguém vê... ninguém...

Florbela era mulher bonita e uma extraordinária poetisa. A maior de seu tempo. Chamava-se Flor Bela de Alma da Conceição. Mas seu sucesso é posterior e recente. Otto Maria Carpeaux não a conhece, na sua gigantesca História da Literatura Ocidental. A arte de Florbela é antiquada, seu «Livro das Mágoas», publicado em 1919, livro não modernista numa época em que apareceu a Bauhaus, em Weimar, fundada por W. Gropius, em que aparece Miró, com seu «Nu com espelho». Ela continua cultuando o velho soneto à moda parnasiana. Hernâni Cidade referirá "a violenta contradição entre o conceito de poesia de duas épocas distantes ou próximas". Mas é, possivelmente, António Ferro que, em artigo do Diário de Noticias, logo em Janeiro de 1931, chama a atenção para a poesia de Florbela.

O primeiro verso canta:« A minha Dor é um convento ideal». Como interpretar esse verso, esse convento? Talvez pela solidão, abandono... mas isso é uma deformação do sentido ideal de convento. As freiras lá não estão senão porque comungam e comungam com Deus, com Cristo. Um convento doloroso é uma contradição de termos, idéia de que alguém lá tivesse sido colocado à força, algo como uma prisão solitária, vazia e sinistra. De forma que esse verso, «A minha Dor é um convento ideal» determina as significações do inteiro soneto. E mais:

«Cheio de claustros, sombras, arcarias,
Aonde a pedra em convulsões sombrias
Tem linhas dum requinte escultural.»

- mantém um segredo, ou melhor, uma «bela» contradição, pois que, se ali há claustros, sombras, a pedra em convulsões sombrias, há também «requinte», ou seja, apuro, refinamento, elegância, esmero, elevação, perfeição, volutas simétricas, arcos belos de pedras convulsionadas, Florbela transpôs, contagiou o seu secreto claustro com toda a sua sensualidade feminina, com o seu erotismo amante, esses arcos nada místicos ou de um misticismo tântrico, amoroso, sexualizado, corporal, poderosamente inscrito nas paredes, reescrito nas curvas, nas ancas, nas pernas daquela construção ideal e reservada à sua agonia amorosa, onde «os sinos têm dobres de agonias Ao gemer, comovidos, o seu mal...», o seu pecado, o seu som de funeral. Há lírios, mas belos, há:

«Há lírios
Dum roxo macerado de martírios,
Tão belos como nunca os viu alguém!»

Florbela contradiz o seu misticismo feminino, a beleza mística, na solidão final de seus versos:

«Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e dias rezo e grito e choro,
E ninguém ouve... ninguém vê... ninguém...»

- onde se ouvem os sinos tocarem, nesses «em» que três vezes se repetem, em ninguém.

Filha ilegítima, nascida em 8 de dezembro de 1894, Florbela se mata em 1930. Chamava-se Flor Bela de Alma da Conceição. Não foi pobre, teve 3 maridos e 2 divórcios, algo incomum, na época. Estudou Direito, em Lisboa. Culta. Editou seus próprios livros: «Livro de mágoas» em 1919, e «Livro de Soror Saudade», em 23. Não era conservadora, como disse. Mas avançada para seu tempo. E feminista. Era. Matou-se. Sua morte ela o anunciou em carta. Não conheceu o seu grande sucesso posterior.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Manaus 340 anos
















Manaus 340 anos


Rogel Samuel


A cidade fez 340 e o Jornal do Commercio produziu um caderno muito bom sobre a data e um vídeo.

Eu ganhei o vídeo de uma amiga, que me mandou.

Mas como os nossos historiadores não conhecem a construção da cidade!

Para eles, tudo foi feito por Eduardo Ribeiro. Mas não foi assim. Mesmo o Teatro Amazonas.
O Teatro teve muitos construtores, muitos antes de Ribeiro. Sem esquecer Fileto Pires Ferreira, que o concluiu e o inaugurou.

Depois da morte de Eduardo Ribeiro ele virou santo.
Ele deve ter sido assassinado, mas disseram que se suicidou. Nunca se explicou o crime, e os laudos da polícia desapareceram. Ele era muito querido pelo povo, mas odiado pela elite, como Lula. Era baixinho, praticamente negro, filho de escravos, e com problemas mentais, como seu pai. Morreu solteiro e nunca se soube de que tivesse mulher, mas vivia com seus soldados.
Eduardo perseguiu Fileto, seu ex-aliado, e o traiu. Morreu rico.
Não estou dizendo que ele não era um grande administrador. Mas quando saiu do seu segundo governo, deixou o Estado endividado. Foi Fileto quem pagou as dívidas. Fileto, em18 meses de governo, quase fez tanto quanto ele. Fileto era Secretário de Estado de Eduardo
Ribeiro.

Ribeiro foi grande, sim. Mas era tão grande quanto alguns outros.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Jornada








Jornada

Rogel Samuel



Escreveu Dugpa Rinpochê: "Escolhe os teus amigos pela qualidade das suas almas, mesmo que eles não partilhem as tuas aspirações, os teus projectos. Não fiques sozinho. Precisas de uma família humana maior, para abrir o teu coração e libertar-te. Considera-os como irmãos e irmãs, com os quais partilhas um segredo".

Mas como é difícil!

Como é difícil ter e escolher amigos puros, bons, de qualidade, mesmo se não pensem comigo, como eu. Não ficar sozinho, sim, é possível, numa rua de Copacabana. Pensar: Minha família é o mundo! - não resolve - quem ama a todos não ama a ninguém, exceto os grandes iogues. Abrir o coração, libertar o coração, sem medo. Sim, sorir... sorrir para todos, sorrir para os desconhecidos...

terça-feira, 24 de novembro de 2009

domingo, 22 de novembro de 2009

Tudo é mistério.








Antes de morrer, Narciso Lobo postou o seguinte poema do I ching no seu blog:


I Ching

Ele diz com todas as letras:

É preciso persistência

Na travessia do grande rio



Diz que a luz do sol poente

Sinaliza o transitório

Da existência impermanente



E adverte: Nem euforia desenfreada

Nem tristeza amedrontada

Ambas totalmente erradas



Foi a sua última postagem, pois logo veio a falecer.

O I ching previu a sua morte?

A travessia do grande rio, a necessidade de persistência nessa travessia, a luz do sol poente, - tudo parece indicar a morte.

Se o sol fosse o nascente, talvez houvesse alguma dúvida. Mas o sol poente sinalizava o transitório, a existência impermanente, transitória.

E o I ching fez uma recomendação: nem euforia, nem medo, nem tristeza.

O mistério. Tudo é mistério.



Narciso morreu em 24 de julho de 2009. Era meu amigo.


Veja o blog em:

http://njlobo.blog.uol.com.br/index.html

sábado, 21 de novembro de 2009

"Madonna é dona do palco"












LEIA HOJE:

"Madonna é dona do palco"

EM

http://www.blocosonline.com.br/home/index.php



Madona andou por aqui. Com seu Jesus. Jesus Luz. Com um nome desse, o garoto tinha de dar certo na vida, e encontrar a sua Madona. Não porque ele é rica, famosa, coisas sem grande valor... (risos). Mas porque ela é bonita, genial, grande figura. Porque ela é incomparável.

Madona é única.

Vamos ter Madona no ano Novo, em Copacabana. Talvez até eu consiga ver, pela TV. Ela me encanta, como se eu bem jovem fosse. Assisto a seu último DVD com frequencia.

Creio que ela me rejuvenesse.

E me alegra.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Alda Merini: a infame aurora







Alda Merini: a infame aurora


Rogel Samuel



Quando Alda Merini faleceu, neste 2 de novembro passado, Amelia Pais enviou no seu "A companhia dos poetas", que é diário, o poema abaixo, poema profético, anuncia a morte, revela a paz que há na morte de quem sofre, a morte que sobe pelos tornozelos até o trovão da cabeça dessa poetisa forte, o corpo todo vencido e a unidade em repouso nos declives do destino, paz na hora da morte, paz que antecede a "infame aurora" de quem não quer mais viver, paz suave mas suicida, do fim do inferno em vida.



Cessou finalmente este inferno,
já de há muito tempo, agora a primavera:
a índole justa
do sono sobe-me pelos tornozelos
atinge-me a cabeça como um trovão.
Finalmente a paz,
as minhas ancas e a minha mente vencida,
e eu repouso justa nos declives
do meu destino pelos menos nesta hora
que me separa da infame aurora.



Alda Merini, italiana, falecida 2 de novembro.‏

___________________________

A notícia:
Morreu poetisa italiana Alda Merini
Hoje às 11:48

A poetisa Alda Merini, de 78 anos, considerada a última grande expoente deste género em Itália, faleceu no domingo no hospital São Paulo de Milão após prolongada doença, informaram os "media" italianos.

Merini dedica a sua obra aos excluídos, aos que sofrem e, sobretudo, à loucura. Ela própria esteve internada algum tempo num centro para doentes mentais.

Segundo a própria, existem «dois tempos» na sua poesia. «Um, o primeiro - precisa -, o tempo da minha adolescência, que surpreendeu alguns leitores pelos voos do verso, pelas assonâncias, pelo relevo dos mitos, e o segundo tempo, que se seguiu ao internamento».

Merini era considerada a maior poetisa italiana viva e uma das grandes escritoras do século XX em Itália.

Nascida em Milão em 1931, começou a publicar poesia aos 15 anos e o seu primeiro livro, "La presenza di Orfeo" (1953), obteve o aplauso da crítica, que a acolheu como "uma menina prodígio".

Ao livro de estreia seguiram-se "Paura di Dio" (1955), "Nozze romane" (1955) e "Tu sei Pietro. Anno 1961" (1962).

Depois, e durante cerca de 20 anos, a poetisa não publicou, só voltando ao contacto com os leitores em 1980 com "Destinati a morire. Poesie vecchie e nuove".

A sua vida e a sua obra estão marcadas pela alternância entre a loucura e a lucidez, como ficou patente na que é considerada a sua obra mais importante, "A Terra Santa" (1984), já traduzida em Portugal (Livros Cotovia), com a qual ganhou vários prémios.

"Delirio amoroso" (1989), "Il tormento delle figure", "Vuoto d'amore" (1991), "Ipotenusa d'amore" (1992), "La pazza della porta accanto" (1995), "Folle, folle, folle d'amore per te" (2002) são outras das suas obras.

Entretanto, em finais dos anos 80, Merini encetara a escrita de livros em prosa centrados na sua experiência pessoal, com destaque para "L'altra verità. Diario di una diversa" (1986), "Il tormento delle figure" (1990), "Le parole di Alda Merini" (1991), "La vita facile. Sillabario"(1996) e "Lettere a un racconto. Prose lunghe e brevi" (1998).

Em 1996, Alda Merini tinha sido indigitada para o Prémio Nobel da Literatura, uma candidatura apoiada, sobretudo, pelo escritor italiano Dario Fo (Nobel em 1997).

"Era uma extraordinária figura poética, entre as maiores de Itália. Por isso participei activamente na sua candidatura ao Nobel", declarou Fo.

in http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Vida/Interior.aspx?content_id=1408000

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

500.000 animais a serem sacrificados







500.000 animais a serem sacrificados

Chegou hoje um email com um pedido de Lama Zopa falando do festival que irá ocorrer no Nepal durante dois dias a partir de 24 de novembro quando 500.000 animais serão sacrificados.

Com o intuito de evitar a matança, Rimpoche fez observações e a recomendação é recitar O Sutra da Luz Dourada 100 vezes (a seu pedido os monges de Kopan irão até a stupa com fortes preces para que o sacrifício não ocorra e também pela paz mundial).

Rimpoche pede que os centros e os alunos participem lendo o Sutra da Luz Dourada e recitando a Prece a Guru Rimpoche para Eliminar Obstáculos no Caminho, ambos anexos, para um rápido sucesso em evitar a matança. Rimpoche lembra que é preciso agir com rapidez pois o sacrifício está programado para o dia 24 de novembro.

Por favor, recitem qualquer número de vezes o Sutra da Luz Dourada e a Prece a Padmasambhava. O texto completo do email original segue abaixo.
Muito grata,
Marly

terça-feira, 17 de novembro de 2009

BANDEIRAS DE FERRO


Foto de R. Samuel: Katmandhu.








Bandeiras de ferro

Rogel Samuel

Estranhas bandeiras são aquelas, que vi em Katmandhu, bandeiras de ferro. Acenam ao vento do alto da montanha, mas são, pesadamente, bandeiras do mais fero ferro. Parecem oscilar aos ventos frios que por ali passaram, adejando e ondulantes no ar limpo da tarde, mas são solidamente, asperamente, de ferro bruto.

Elas estão no alto da estupa de Soyambhu, têm um mantra de Kalachakra marcado como um carimbo ao centro, ao ventre, talvez para proteger o meio-ambiente, os arredores. Estou pasmo como naquele tempo eu pude tanto circular, tanto fotografar, tanto circumambular aquela extraordinária estupa.

Somos todos devedores dos ares que vêm de lá trazendo as graças, as bênçãos daquela estupa, com seus templos, com suas trompas, com suas bandeiras de ferro, imóveis, imobilizadas pelos anos perenes.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Quietude de Ungaretti








Quietude de Ungaretti

Rogel Samuel

Ungaretti está em quietude, fala em quietude, no lar, no poema traduzido por Menottti Del Picchia. Já comentei esta sua vidade mas sempre recorro ao poema quando em paz. É um poema rural, sossegado, campestre. Uva madura, campo arado, na paisagem há um monte, nos poentos espelho de cristal do verão. A luz do verão.


“A uva está madura e o campo arado, o monte se destaca das nuvens.
Nos poentos espelhos do verão caiu a sombra
Entre os dedos incertos sua luz é clara e longínqua
Foge com as andorinhas o último desespero”.


Várias maneiras há de ler esta pequena obra-prima.
Vamos dedicar-nos hoje ao tema da velhice.
Calma, paz, serenidade, silêncio interior se encontram nessa “quietude” do título.
Um equilíbrio tranqüilo consolida essa entrada, nesta cena, na horizontalidade do campo.
Nada pode perturbar, as andorinhas do verão estão partindo.
Só, ao longe, o monte.


“A uva está madura e o campo arado” significa que tudo está feito, tudo, para ser colhido, para ser plantado. É como se ele dissesse: enfim fiz, enfim produzi e realizei o que tinha para ser plantado e colhido, minha vida está aí, vem agora o Outono, vem agora a Noite, mas estou eu preparado para ela, antes do Inverno eu já terei colhido, antes do Inverno eu já terei plantado.


E tudo nesses UU de “uva”, de “madura”. E nesses AA de “campo, de “arado”.
“A uva está madura e o campo arado” é, pois, em si, um poema-síntese, um poema-preço, uma ponte-poema, um cartão-postal, janela em que eu me contemplo, me vejo, me sei, me testo, pois “a uva está madura e o campo arado” e fui eu quem assim o quis, assim o fiz, tudo está pronto, a mesa posta, o verso escrito, o rumo tido, a estrada andada.


Ungaretti sintetiza neste verso o que diz: cumpri o meu dever, cumpri o meu destino, tive o meu dia, produtivo, e agora posso estar em paz. Deixo ao tempo a conclusão, a solução, o desfecho.

“A uva está madura” e vou colher.“O campo arado” e vou plantar.

Ungaratti colhe para plantar, em vez de planta para colher. A colheita significa que agora tenho o que plantar, e na relação da uva com o campo se costura a união do maduro com o arado. Nas uvas o campo está arado, no campo as uvas estão prontas para serem colhidas. E sobre a terra desta maneira há serenidade, há paz, o sol se põe, os dedos espelham luz, as andorinhas, o ar, o sagrado monte entre as nuvens, muito longe, muito alto, muito sereno, para onde vai o olhar. E a luz declina, talvez também as forças, o esforço, o trabalho concluído.
A luz declina, no brilho dos espelhos do verão, na sua luz metálica.
Ungaretti está em quietude.
No lar.
Eu me repito nesta releitura. Mas a paisagem é amazônica.
.

sábado, 14 de novembro de 2009

explicação dos espelhos de Maria Azenha
















explicação dos espelhos de Maria Azenha


Rogel Samuel


Para ela, os espelhos cantam, encantam, se multiplicam, se escondem no coração nos seus reflexos, na chuva e no corpo escondidos, ninguém os vê, e sobe aos céus uma escada imaginária de relâmpagos, de reflexos, uma escada rural, feita e emoldurada de folhas, de cântaros, de cantares, Maria Azenha mata a sede mata a pomba de dentro do poema, de dentro dos espelhos em que os reflexos se vêem e se negam, para que alguém possa morrer, para que alguém possa viver, cantar seu rumo no rumor do fogo, no rumor do jogo, no rumor dos espelhados, dos despedaçados.


explicação dos espelhos

e multipliquem os espelhos que cantam

tenho o coração escondido para que ninguém o veja

conheço a chuva dos olhos e encosto o ouvido

aos joelhos



dou-te uma escada construída por relâmpagos

uma escada feita de folhas e de cântaros para

matar a sede

e uma pomba dentro do poema

para que possas morrer



cantar num rumor

do

fogo

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Ainda o apagão












Ainda o apagão


Rogel Samuel





A oposição e a grande media tentaram criar uma crise com o apagão e acusaram o governo Lula.
Nem sei por que não criaram uma CPI.

A oposição e a grande media tentaram diminuir a vitória de Lula ao receber o título de "estadista do ano", em Londres. Anunciaram que Lula é o 33 homem mais importante do mundo (na lista está um traficante...)

A oposição e a grande media tentaram apagar a vitória do Rio de Janeiro em sediar as
olimpíadas 2016 com a derrubada do helicótero da polícia.

E assim vai.

Mas o país mudou e a oposição e a grande media ainda não perceberam.

No meio do apagão alguém disse, na Internet: "Feliz é a Madonna que tem Jesus e luz".

Afinal, Madonna significa nossa senhora.

A lista completa da Forber, "seleccionadas através de parâmetros que incluiam capacidade de influenciar pessoas, controlo de grandes recursos financeiros comparados com os seus pares, influência em vários sectores e exercício efectivo do seu poder, a revista norte-americana escolhe 67 personalidades, que incluem chefes de estado, os criadores do Google e um traficante":



1. Barack Obama

2. Hu Jintao

3. Vladimir Putin

4. Ben S. Bernanke

5. Sergey Brin and Larry Page (criadores do Google)

6. Carlos Slim Helu

7. Rupert Murdoch

8. Michael T. Duke

9. Abdullah bin Abdul Aziz al Saud

10. William Gates III

11. Pope Benedict XVI

12. Silvio Berlusconi

13. Jeffery R. Immelt

14. Warren Buffett

15. Angela Merkel

16. Laurence D. Fink

17. Hillary Clinton

18. Lloyd C. Blankfein

19. Li Changchun

20. Michael Bloomberg

21. Timothy Geithner

22. Rex W. Tillerson

23. Li Ka-shing

24. Kim Jong Il

25. Jean-Claude Trichet

26. Masaaki Shirakawa

27. Sheikh Ahmed bin Zayed al Nahyan

28. Akio Toyoda

29. Gordon Brown

30. James S. Dimon

31. Bill Clinton

32. William H. Gross

33. Luiz Inacio Lula da Silva

34. Lou Jiwei

35. Yukio Hatoyama

36. Manmohan Singh

37. Osama bin Laden

38. Syed Yousaf Raza Gilani

39. Tenzin Gyatso

40. Ali Hoseini-Khamenei

41. Joaquin Guzman

42. Igor Sechin

43. Dmitry Medvedev

44. Mukesh Ambani

45. Oprah Winfrey

46. Benjamin Netanyahu

47. Dominique Strauss-Kahn

48. Zhou Xiaochuan

49. John Roberts Jr.

50. Dawood Ibrahim Kaskar

51. William Keller

52. Bernard Arnault

53. Joseph S. Blatter

54. Wadah Khanfar

55. Lakshmi Mittal

56. Nicolas Sarkozy

57. Steve Jobs

58. Fujio Mitarai

59. Ratan Tata

60. Jacques Rogge

61. Li Rongrong

62. Blairo Maggi

63. Robert B. Zoellick

64. Antonio Guterres

65. Mark John Thompson

66. Klaus Schwab

67. Hugo Chavez






quarta-feira, 11 de novembro de 2009

As flores elétricas










As flores elétricas


Rogel Samuel


A mais quente das noites. O calor me acorda. A luz apagou, os ventiladores paragem. Blecaute. Não consigo dormir, neste abafado. Impossível abrir a tela que me protege dos mosquitos. Apesar de estar gripado, vou no escuro até o banheiro e tomo uma ducha fria. Assim melhoro.

Nossos dois mais importantes confortos modernos são a luz elétrica e a água encanada. No tempo de Proust não havia eletricidade nas casas. Conta Céleste Albaret que um dia o jovem Proust teve um desejo, um capricho, e resolveu dar um jantar ornamentando a mesa com flores elétricas. Sua mãe, que satisfazia a todos as suas extravagâncias, teve alugar um gerador de eletricidade para o evento.

- Mas ficou muito bonito, conta Proust. Cada convidado tinha uma flor iluminada diante de si.

Para aliviar, trabalho no meu novo pequeno poema, que se encontra no "Novos poemas":

porta calada
madrugada
o silêncio é nada
o vento me acorda
o silêncio morre
sobre esta triste noite
a quente suportada espera
volto ao sonho antigo
no sonho palavra dada

porta calada
madrugada

e que horas são?
qual tempo lembrar?
da minha janela percebo
um pedaço de rua
vento da noite nua
sopra na solidão

porta calada
madrugada

terça-feira, 10 de novembro de 2009

domingo, 8 de novembro de 2009

Aluna vítima de violência tribal

Leia hoje "Chapeuzinho vermelho" sobre a jovem Geisy Arruda, hostilizada na faculdade por usar vestido curto, - uma tentativa de explicação do caso por Rogel Samuel - em:http://www.blocosonline.com.br/

AS ONDAS DO TEMPO DESTE FIM DE ANO














AS ONDAS DO TEMPO DESTE FIM DE ANO



Rogel Samuel




Que a última estrofe de «O cemitério marinho» de Paul Valéry assim canta:

«Ergue-se o vento! Há que tentar viver!
O sopro imenso abre e fecha meu livro,
A vaga em pó saltar ousa das rochas!
Voai páginas claras, deslumbradas!
Rompei vagas, rompei contentes o
Teto tranqüilo, onde bicavam velas! »

Uso a extraordinária tradução de Darcy Damasceno e Roberto Alvim Correia.
O poema enorme, difícil.
Desde que o li, pela primeira vez, há mais de quarenta anos, tento penetrar no mar de seu sentido. Às vezes, parece entender-se. Outras vezes, inatravessável é o seu mar. Mas sempre o sinto, o que importa. O que importa é sentir um poema. Não «interpretá-lo». Os intelectuais matam o poema, intelectualizam-no. Por isso Barthes foi tão bom crítico. Barthes fazia o texto falar, deixava-o falar-se.

«Esse teto tranqüilo, onde andam pombas,
Palpita entre pinheiros, entre túmulos.
O meio-dia justo nele incende
O mar, o mar recomeçando sempre.
Oh, recompensa, após um pensamento,
um longo olhar sobre a calma dos deuses! »

Seja como for, Valéry nos abre à imaginação o grande oceano da morte. Mas «recomeçando sempre». Sempre, «sobre a calma dos deuses».
Sei que não é algo para ser lido no Ano Novo, mas que tema mais religioso do que a morte neste túmulo do oceano de «tanto diamante de indistinta espuma », onde «quanta paz parece conceber-se!».

«Quando repousa sobre o abismo um sol,
Límpidas obras de uma eterna causa
Fulge o Tempo e o Sonho é sabedoria. »


O poema tem ímpetos de infinito, abre-se para a eternidade, «massa de calma e nítida reserva»:

«Água franzida, Olho que em ti escondes
Tanto de sono sob um véu de chama,
-Ó meu silêncio!... Um edifício na alma,
Cume dourado de mil, telhas, Teto!»

Valery disse que seu poema é sua «poesia verdadeira», mesmo as passagens mais abstratas. Disse que via ali uma espécie de «lirismo» , algo «abstrato mas de uma abstração motriz mais que filosófica».


Templo do Templo, que um suspiro exprime,
Subo a este ponto puro e me acostumo,
Todo envolto por meu olhar marinho.
E como aos deuses dádiva suprema,
O resplendor solar sereno esparze
Na altitude um desprezo soberano.

Diz da vida, do amor, da ordem e desordem da vida e do amor, do mar e do sol, das colinas das ondas, da chave do mistério do «mar de nossa conversa», como dizia Cabral:


Como em prazer o fruto se desfaz,
Como em delícia muda sua ausência
Na boca onde perece sua forma,
Aqui aspiro meu futuro fumo,
Quando o céu canta à alma consumida
A mudança das margens em rumor.

É uma reflexão sobre o tempo:


Belo céu, vero céu, vê como eu mudo!
Depois de tanto orgulho e tanta estranha
Ociosidade - cheia de poder -
Eu me abandono a esse brilhante espaço,
Por sobre as tumbas minha sombra passa
E a seu frágil mover-se me habitua.


É uma reflexão sobre os movimentos das ondas da vida:

A alma expondo-se às tochas do solstício,
Eu te afronto, magnífica justiça
Da luz, da luz armada sem piedade!
E te devolvo pura à tua origem:
Contempla-te!... Mas devolver a luz
Supõe de sombra outra metade morna.

O poema foi publicado no número de junho de «La Nouvelle Revue française», mas ele deve ter trababalhado no poema desde muito tempo.


Oh, para mim, somente a mim, em mim,
Junto ao peito, nas fontes do poema,
Entre o vazio e o puro acontecer,
De minha interna grandeza o eco espero,
Sombria, amarga e sonora cisterna
- Côncavo som, futuro, sempre, na alma.


Aqui vindo, o futuro é indolência.
Nítido inseto escarva a sequidão;
Tudo queimado está desfeito e no ar
Se perde em não sei que severa essência,
Faz-se a amargura doce e claro o espírito.



Ergue-se o vento! Há que tentar viver!
O sopro imenso abre e fecha meu livro,
A vaga em pó saltar ousa das rochas!
Voai páginas claras, deslumbradas!
Rompei vagas, rompei contentes o
Teto tranqüilo, onde bicavam velas!

É esta tradução de Darcy Damasceno e Roberto Alvim Correia que me ocorre das ondas do tempo neste Novo Ano.

sábado, 7 de novembro de 2009

O dom mantém-se na superfície














O dom mantém-se na superfície


Rogel Samuel





Escreveu Dugpa Rinpochê: "Não é necessário ter um domínio total de si, um conhecimento profundo do coração, para dar aos outros. O dom mantém-se na superfície dos lábios, ao virar de um gesto. É fácil de levar. Cresce na inocência e na luz. Partilhar, é multiplicar as ocasiões de felicidade".

A felicidade, a fenomenologia da felicidade está aí, na exteriorização do amar, na gestualidade, manifestada, explicitada da gentileza, significa isso, o que nós oferecemos aos outros até pode não vir das profundezas do nosso inferno, mas da superfície do nosso céu, fácil de sorrir, crescente na face, na luz, partilhada, multiplicada, nas ocasiões de felicidade...

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Um coral de liras











(Foto de M. Furtado)


Um coral de liras


Rogel Samuel


Começa pela música de Mahler, a quinta sinfonia, que nos faz sonhar, que nos mergulha nas profundezas de uma sonoridade não sei por que azul, para mim azul, e Mahler nos conduz aos melhores poemas de V. Solteiro, aos seus encantos sonoros e imagísticos, como nessa "Escrevedeira...", onde um pássaro toca o seu "lírico canto, sulca a sua rejubilante melopéia", doce como o néctar das maduras amoras, toca com seu bico afinado e agudo, pontiagudo como um flautim "revolteando o vazio" do ar, as vibrações do ar, cordas da sua fuga, da suas partituras, o poema de V. Solteiro ensombra as grades que aprisionam os homens e os faz livres, como livre é o seu pássaro, como livre são os acordes daquela sinfonia de Mahler... sinfonia que lembra Solti, que lembra "Morte em Veneza"... onde morremos de felicidade...





Tecelã das velas do lírico
canto
a escrevedeira
sulca
na sua rejubilante melopeia
um coral de liras


O seu fino e pontiagudo bico
flautim revolteando o vazio
vibra no ar
as cordas da fuga


Doce como o néctar
das maduras amoras
a frutuosa harpa que tanje
esculpe no xisto
um umbral
de deslumbramento


Prelúdio de novas partituras
o brilho do seu trinado
ensombra as grades
que agrilhoam
o peito dos homens


Poema de V. Solteiro
http://aarquitecturadaspalavras.blogspot.com/

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O verso-corpo














O verso-corpo


Rogel Samuel





Jefferson Bessa escreveu um dos seus melhores poemas, o mais erótico, o mais interessante.

Na realidade ali vejo, ali leio um ato copular, excelente e sensual. A poesia erótica fina, que tem sua própria estética, como escreveu o autor: "Penso que os melhores são os que fazem do erotismo uma própria estética...pensar na constituição de um verso com o erotismo que há no corpo humano e, por outro lado, o verso que se torna erótico por ser também um corpo ao lado de outro corpo - o corpo humano".


Nada melhor, nada mais sagrado do que a expressão do corpo humano, com seus músculos, com seus braços, ombros e mãos, e mesmo o "verso vigoroso". Difícil é esta arte de expressar a erótica da arte, ou seja, a estética erótica.

São poucos os escritores de eros, poucos que sabem (de sabor e de saber) dar conta do corpo de prazer.

Os antigos gregos o sabiam. Os grandes iogues tântricos o praticavam. Nossa civilização foi perdendo e desgastando e corrompendo esta arte fina.



verso-corpo

Jefferson Bessa



no vão do braço
no vão dos músculos
o verso sobe e se deita

na contração natural se esvai,
na linha de fibra cordial
o verso desce e desliza

ombros e mãos se elevam
tudo recebe assim afável
a cavidade crescente cortê
o corpo se abre como assento
nele aqui deixarei se sentar
o verso ofertado e mais vigoroso



terça-feira, 3 de novembro de 2009

Lévi-Strauss



















Lévi-Strauss


Rogel Samuel



Quando Jakobson esteve no Brasil, mais precisamente na nossa Faculdade (Fnfi, UFRJ), disse que só conheceu dois alunos inteligentes na vida: Claude Lévi-Strauss e Matoso Câmara Jr.

Penso nisso agora, quanto toda media ficou escandalizando Lévi-Strauss... Por acaso sabem quem foi Matoso Câmara Jr?

Os jornais brasileiros têm espírito, mentalidade colonizada. Só vale o que é europeu.

Quando Jakobson disse aquilo, abrindo uma conferência neste Rio de Janeiro: "Tenho muito prazer de falar nesta Universidade..." meu professor Matoso Câmara Jr. estava presente no fundo da sala, quieto.

Eu me lembro da estória contada sobre Jakobson: Um dia, antes de uma prova, disse ele:

- Vocês podem escrever sua prova na sua própria língua.

Aí um jovem timidamente perguntou se podia ser lá numa daquelas línguas africanas.

Jakobson disse "não".

Seis meses depois, antes da prova, ele disse: "Você pode escrever na sua língua" - tinha aprendido aquilo.

Não estou dizendo que a obra de Lévi-Strauss não seja importante. Um dos seus maiores legados foi aplicar o estruturalismo lingüístico à antropologia. O que me espanta é desconhecerem Matoso Câmara Jr e outros brasileiros.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Nemo, o peixinho obra-prima














Nemo, o peixinho obra-prima


Rogel Samuel

Este texto de Assis Brasil é uma obra-prima para todas as idades. A trama, aparentemente simples, vai-se tornando mais densa e o leitor arrebatado para saber o que vai acontecer. Até mesmo o lado religioso, as passagens que falam de Deus etc estão na medida certa e metafisicamente compensadas por um entrosamento perfeito: eu não vou contar, para que o leitor mantenha o suspense.
Não é uma simples estória para criança, como o título pode sugerir. Mas uma narrativa bem construída, bem dosada, e podemos dizer que é um dos melhores romances da literatura brasileira de todos os tempos.
É um romance? Sim, porque apreende um mundo (na realidade dois...). O comandante Nemo e sua esposa Débora estão mais reais, mais verossímeis do que Dil ou Zé Déo o que é uma façanha extraordinária na arte de narrar.
Assis Brasil alcançou as culminâncias de sua arte, e seu “Nemo, o peixinho filosófico” (Teresina, Nova Aliança, 2009) pode comparar-se a “O velho e o mar”, de Hemingway.
É ler para crer.

domingo, 1 de novembro de 2009

A Catedral













A Catedral



Rogel Samuel




Alphonsus de Guimaraens sonha com uma catedral, misteriosa, entre brumas, entre as luzes da aurora, branca de sol, cantam os sinos, cor de sol, ao som dos cânticos lúgubres, a catedral segue o seu rumo, o segue o seu sol, atravessa o dia, lírios, lilases e a tarde esquiva, clamam os sinos, a catedral é o luar, os sons da lua e o céu se apagam, cortam os relâmpagos pela noite escura, a catedral mergulha no caos de sua noite, de sua morte, e os sinos choram, a catedral mergulha em sua luz, em sua sonoridade... de manhã na sua paz, de tarde na sua amargura, de noite no seu medo, na sua morte...



Entre brumas ao longe surge a aurora,
O hialino orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece na paz do céu risonho
Toda branca de sol.

E o sino canta em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

O astro glorioso segue a eterna estrada.
Uma aurea seta lhe cintila em cada
Refulgente raio de luz.
A catedral eburnea do meu sonho,
Onde os meus olhos tao cansados ponho,
Recebe a bencao de Jesus.

E o sino clama em lugebres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

Por entre lirios e lilases desce
A tarde esquiva: amargurada prece
Poe-se a luz a rezar.
A catedral eburnea do meu sonho
Aparece na paz do ceu tristonho
Toda branca de luar.

E o sino chora em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

O céu e todo trevas: o vento uiva.
Do relâmpago a cabeleira ruiva
Vem acoitar o rosto meu.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Afunda-se no caos do céu medonho
Como um astro que já morreu.

E o sino chora em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

O fundo do mar está esquentando

O fundo do mar está esquentando

 Rogel Samuel 

 A calota polar está desaparecendo. Isto pode ser um gravíssimo acontecimento. Pode haver de tudo: aumento do nível das águas, deslocamento da massa das águas, eliminação do nível que hoje os oceanos têm, mudança de clima, etc. etc. Não sei se isto pode eliminar a vida na Terra, mas o desequilíbrio pode ser grande. Diz o jornal Publico, de Portugal: "Temperaturas do solo sempre congelado na Antárctida estão a subir durante o Verão.Até aqui não havia muitos dados a nível mundial sobre o que se está a passar na Antárctida com o solo sempre congelado, o permafrost. Mas, graças às investigações na região da Península Antárctica, nos últimos nove anos, de uma equipa coordenada pelo Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, começa a ter-se uma ideia: a parte superior do permafrost tem vindo a aquecer. Estes resultados foram apresentados numa sessão de divulgação no Centro de Estudos Geográficos (CEG), na segunda-feira. "Já sabíamos que havia um aumento das temperaturas do ar, que foi de 2,5 graus [Celsius] nos últimos 50 anos. Não se sabia era nada do que se passava no solo, não havia dados", explica ao PÚBLICO Gonçalo Vieira, coordenador do Grupo de Investigação em Ambientes Antárcticos e Alterações Climáticas do CEG". Dizem que "o derretimento da calota Polar do Ártico não teria nenhuma influência no nível do mar, pois se trata de gelo flutuante. Isso significa que, em estado sólido ou não, ele eleva o nível do oceano igualmente. Nenhum aumento ocorreria no nível do mar, por motivo do derretimento dessa camada de gelo". Mas o solo, o fundo do mar, está esquentando.