domingo, 29 de setembro de 2013

Brigada de supercientistas para combater o fim do mundo

Brigada de supercientistas para combater o fim do mundo

: Muitos cientistas estão convencidos de que o desenvolvimento da tecnologia humana poderá em breve apresentar novos riscos de extinção, tanto para a espécie humana quanto para a totalidade do planeta

25 de Setembro de 2013 às 13:39

O SALÃO DEFUNTO

O SALÃO DEFUNTO
 
 
ROGEL SAMUEL
 
 
 
Em um dado momento, Proust diz de um “salão defunto”, um salão que não existe mais, mas moralmente resiste, conserva-se na imaginação, seu espírito sobrevive.
Os móveis podem ainda estar em outro lugar, mas só o antigo espaço sobrevive, como uma imagem virtual, uma fotografia espiritual, mas viva.
E eu senti logo que eu tenho vários, senão salões, mas salas antigas na minha memória.
A mais antiga é a da rua 24 de Maio, em Manaus, onde havia uns móveis escuros, a mesa de jantar, com fruteira, e as poltronas de pano listado. Uma vitrola, um móvel antigo chamado vitrola, ou eletrola, com rádio e toca discos, da marca RCA.
Isso existiu e eu me lembro bem das portas e da disposição dos quartos.
Eu tinha 5 ou 6 anos.
A segunda sala de que não consigo esquecer é aquela de um apartamentozinho conjugado onde morei em Copacabana, e nesse caso tenho no espírito a entrada: era a época mais cruel da ditadura militar e eu tinha ali fotos de Guevara, Fidel e Marx,
o que era perigoso.
Do resto da casa não me lembro bem, só da entrada, do seu espírito de época dos anos 60.
Lembro-me vagamente de todos os lugares onde vivi, mas esses dois me são os mais presentes.
Um dia, naquele apartamento de Copacabana, levei Antonio Carlos Villaça, o escritor. Ele se referiu depois negativamente ao lugar num dos seus livros de memória (sem citar o meu nome), dizendo que o espaço era muito “enfeitado”.
Meu vizinho era um médico, irmão do escritor Herbert Palhano, que conheci, a cujo curso de especialização em Manaus eu assisti.
Palhano era professor de língua portuguesa no Colégio Pedro II e autor de alguns excelentes livros de gramática e redação.
Ao lado daquele apartamento ficava o famoso “Beco da fome”, aonde eu ia quase todos os dias beber e comer. Principalmente beber.
Naquele tempo eu dava aulas particulares de língua portuguesa ali mesmo dentro de casa, e havia duas meninas irmãs que eram minhas alunas, me pagavam muito bem, e todos os anos me procuravam. Eram filhas de um homem muito rico, diretor de
um banco que existe até hoje. O pai só veio à minha casa no primeiro dia, conhecer o professor. Depois elas vinham sozinhas.
Eu tinha uma bela coleção de LPs de música clássica, jazz e rock.
Na realidade era um apartamento pequeno, dividido ao meio pela minha estante de livros. Um espaço só. A janela tinha uma espécie de vitral pintado pelo pintor Vidocq Casas, meu amigo. Tons verdes e amarelos, uma abstração. Quando o luz incidia,
raios de luzes coloridas invadiam o espaço e a cama.
Vidocq também pintou um quadro para mim, grande, que ainda deve existir na antiga casa que era de minha mãe.
Ao lado, a rua apontava para a praia, para o mar, que ficava logo ali.
O mar, recomeçando sempre.

SONETO DA PARTILHA


(Gravura de Picasso)



SONETO DA PARTILHA
JORGE TUFIC




Sonhei por um caminho, igual à trilha


que leva de um regato a outro regato;


e assim, me alçando vôo, no mesmo ato


revi meus pais, que triste maravilha!





Ambos em teto pobre: mesa e bilha


do tempo de meus acres só de mato,


mas de rifles também, para que exato


fosse o revide em caso de partilha.





De um sonho fui a outro e deste ao sonho


de que estava acordado; e vi-me fora


quando o circo tornara-se enfadonho.





Ainda vago, porém. A cada hora


de uma parte de mim logo disponho,


enquanto a que desperta, vai-se embora.

sábado, 28 de setembro de 2013

DA VINCI


IMAGEM: DIVULGAÇÃO
Com mais uma Virada Renascentista, o Centro Cultural Banco do Brasil encerra neste fim de semana a mostra Mestres do Renascimento, que trouxe para a cidade 57 obras do movimento artístico – entre elas, ‘Leda e o Cisne’, de Leonardo Da Vinci (acima). As portas estarão abertas a partir das 7h de amanhã (28) e só fecharão 39 horas depois, às 22h do domingo (29).
A exposição, inicialmente prevista para terminar no último domingo, foi prorrogada devido ao sucesso: até semana passada, 289 mil pessoas foram conferi-la. De São Paulo, os quadros renascentistas vão para Brasília. Na capital federal, ficam em exibição de 12 de outubro até 5 de janeiro de 2014.
Apesar dos bons números, não se trata do maior público do Centro Cultural Banco do Brasil. A recordista é a mostra ‘O Mundo Mágico de Escher’, que levou 381 mil visitantes ao museu em 2011. No ano seguinte, ‘Impressionismo: Paris e a Modernidade’ – que inaugurou em São Paulo essa ideia de abrir uma exposição a madrugada inteira em determinados dias – atraiu 325 mil pessoas.


O PEQUENO PRINCIPE, XVI


O PEQUENO PRINCIPE, XVI

O Pequeno Principe, Antoine de Saint-Exupery, XVI



O sétimo planeta foi pois a Terra.
A Terra não é um planeta qualquer! Contam-se lá cento e onze reis (não esquecendo, é claro, os reis negros), sete mil geógrafos, novecentos mil negociantes, sete milhões e meio de beberrões, trezentos e onze milhões de vaidosos - isto é, cerca de dois bilhões de pessoas grandes.
Para dar-lhes uma idéia das dimensões da Terra, eu lhes direi que, antes da invenção da eletricidade, era necessário manter, para o conjunto dos seis continentes, um verdadeiro exército de quatrocentos e sessenta e dois mil, quinhentos e onze acendedores de lampiões.
Isto fazia, visto um pouco de longe, um magnífico efeito. Os movimentos desse exército eram ritmados como os de um balé de ópera. Primeiro vinha a vez dos acendedores de lampiões da Nova Zelândia e da Austrália. Esses, em seguida, acesos os lampiões, iam dormir. Entrava por sua vez a dança dos acendedores de lampiões da China e da Sibéria. E também desapareciam nos bastidores. Vinha a vez dos acendedores de lampiões da Rússia e das Índias. Depois os da África e da Europa. Depois os da América do Sul. Os da América do Norte. E jamais se enganavam na ordem de entrada, quando apareciam em cena. Era um espetáculo grandioso.
Apenas dois, o acendedor do único lampião do Pólo Norte e o seu colega do único lampião do Pólo Sul, levavam vida ociosa e descuidada: trabalhavam duas vezes por ano.



quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Osesp realiza últimos concertos antes de turnê na Europa

Osesp realiza últimos concertos antes de turnê na Europa
DE SÃO PAULO
A Osesp realiza, na quarta (dia 2) e na quinta (3/10), os últimos concertos antes de zarpar para uma turnê de três semanas na Europa
A Orquestra Sinfônica de São Paulo realiza, na quinta-feira (dia 2/9), seu último concerto paulistano antes de partir para uma turnê de três semanas na Europa
Regida por Margin Alsop (centro da imagem), a Osesp passará por 13 cidades de seis países da Europa, como Alemanha e Áustria
Com repertórios diferentes, os espetáculos têm obras que serão executadas na viagem.
Na quarta serão apresentadas as composições "Concerto Nº 4 Para Piano em Sol Maior, Op. 56", de Beethoven, "Sinfonia Nº 5 em Si Bemol Maior, Op. 100", de Sergei Prokofiev, e "Terra Brasilis - Fantasia Sobre o Hino Nacional", de Clarice Assad.
Na quinta é a vez das obras "Concerto Nº 2 Para Piano em Fá Menor, Op. 21", de Frédéric Chopin, e "Sinfonia Nº 1 em Ré Maior - Titã", de Gustav Mahler.
Regida por Marin Alsop e com a participação do pianista Nelson Freire, a orquestra percorrerá 13 cidades de seis países, como França, Alemanha e Áustria.
Sala São Paulo - pça. Júlio Prestes, 16, Campos Elíseos, tel. 3367-9500. Marin Alsop e Nelson Freire, Ingressos esgotados p/ o dia 3, qua. e qui.: 21h. 100 min. Ingr.: R$ 28 a R$ 160 CC: AE, Au, D, H, M e V. Ingr. p/ 4003-1212 ou www.ingressorapido.com.br

O PEQUENO PRINCIPE, XV


O PEQUENO PRINCIPE, XV

O Pequeno Principe, Antoine de Saint-Exupery, XV


O sexto planeta era dez vezes maior. Era habitado por um velho que escrevia livros enormes.
- Bravo! eis um explorador! exclamou ele, logo que viu o principezinho.
O principezinho assentou-se na mesa, ofegante. Já viajara tanto!
- De onde vens? perguntou-lhe o velho.
- Que livro é esse? perguntou-lhe o principezinho. Que faz o senhor aqui?
- Sou geógrafo, respondeu o velho.
- Que é um geógrafo? perguntou o principezinho.
- É um sábio que sabe onde se encontram os mares, os rios, as cidades, as montanhas, os desertos.
É bem interessante, disse o principezinho. Eis, afinal, uma verdadeira profissão! E lançou um olhar em torno de si, no planeta do geógrafo. Nunca havia visto planeta tão majestoso.
- O seu planeta é muito bonito. Haverá oceanos nele?
- Como hei de saber? disse o geógrafo.
- Ah! (O principezinho estava decepcionado.) E montanhas?
- Como hei de saber? disse o geógrafo.
- E cidades, e rios, e desertos?
- Como hei de saber? disse o geógrafo pela terceira vez.
- Mas o senhor é geógrafo!
- É claro, disse o geógrafo; mas não sou explorador. Há uma falta absoluta de exploradores. Não é o geógrafo que vai contar as cidades, os rios, as montanhas, os mares, os oceanos, os desertos. O geógrafo é muito importante para estar passeando. Não deixa um instante a escrivaninha. Mas recebe os exploradores, interroga-os, anota as suas lembranças. E se as lembranças de alguns lhe parecem interessantes, o geógrafo estabelece um inquérito sobre a moralidade do explorador.
- Por que?
- Porque um explorador que mentisse produziria catástrofes nos livros de geografia. Como o explorador que bebesse demais.
- Por que? perguntou o principezinho.
- Porque os bêbados vêem dobrado. Então o geógrafo anotaria duas montanhas onde há uma só.
- Conheço alguém, disse o principezinho, que seria um mau explorador.
- É possível. Pois bem, quando a moralidade do explorador parece boa, faz-se uma investigação sobre a sua descoberta.
- Vai-se ver?
- Não. Seria muito complicado. mas exige-se do explorador que ele forneça provas. Tratando-se, por exemplo, de uma grande montanha, ele trará grandes pedras.
O geógrafo, de súbito, se entusiasmou:
- Mas tu vens de longe. Tu és explorador! Tu me vais descrever o teu planeta!
E o geógrafo, tendo aberto o seu caderno, apontou o seu lápis. Anotam-se primeiro a lápis as narrações dos exploradores. Espera-se, para cobrir à tinta, que o explorador tenha fornecido provas.
- Então? interrogou o geógrafo.
- Oh! onde eu moro, disse o principezinho, não é interessante: é muito pequeno. Eu tenho três vulcões. Dois vulcões em atividade e um vulcão extinto. A gente nunca sabe...
- A gente nunca sabe, repetiu o geógrafo.
- Tenho também uma flor.
- Mas nós não anotamos as flores, disse o geógrafo.
- Por que não? É o mais bonito!
- Porque as flores são efêmeras.
- Que quer dizer "efêmera"?
- As geografias, disse o geógrafo, são os livros de mais valor. Nunca ficam fora de moda. É muito raro que um monte troque de lugar. É muito raro um oceano esvaziar-se. Nós escrevemos coisas eternas.
- Mas os vulcões extintos podem se reanimar, interrompeu o principezinho. Que quer dizer "efêmera"?
- Que os vulcões estejam extintos ou não, isso dá no mesmo para nós, disse o geógrafo. O que nos interessa é a montanha. Ela não muda.
- Mas que quer dizer "efêmera"? repetiu o principezinho, que nunca, na sua vida, renunciara a uma pergunta que tivesse feito.
- Quer dizer "ameaçada de próxima desaparição".
- Minha flor estará ameaçada de próxima desaparição?
- Sem dúvida.
Minha flor é efêmera, disse o principezinho, e não tem mais que quatro espinhos para defender-se do mundo! E eu a deixei sozinha!
Foi seu primeiro movimento de remorso. Mas retomou coragem:
- Que me aconselha a visitar? perguntou ele.
- O planeta Terra, respondeu-lhe o geógrafo. Goza de grande reputação...
E o principezinho se foi, pensando na flor.


quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Dez mil médicos cubanos podem vir ao Brasil, diz governador

Dez mil médicos cubanos podem vir ao Brasil, diz governador

O governo de Cuba está ensinado português aos seus médicos. Os próximos, dois mil médicos deverão chegar ao Brasil. Até o final da implantação do programa serão 10 mil médicos cubanos, segundo o governador do Amapá,Camilo Capiberibe (PSB), que acaba de voltar de viagem ao país. Em Havana, ele visitou o Centro de Cooperação Médica, onde os profissionais se preparam.

Melhoram expectativas: mais PIB, menos inflação

Melhoram expectativas: mais PIB, menos inflação

: O pior já passou para a economia brasileira; diante de resultados e projeções, é isso o que a indústria está dizendo; relatório da CNI, de Robson Andrade, eleva projeção de crescimento do PIB anual de 2% para 2,4% e reduz expectativa de inflação de 6% para 5,8%; Alexandre Tombini, no Banco Central, foi claro no Senado, ontem: "As condições de oferta e demanda presentes na economia não apoiam uma visão pessimista da economia brasileira", cravou; EUA não reduziram estímulos, dólar se estabiliza e juros futuros já começam a cair; céu mais azul pela frente?

 

Terremoto no Paquistão mata ao menos 327

Terremoto no Paquistão mata ao menos 327

: O número de mortos em consequência de um forte terremoto que atingiu o Paquistão subiu para 327 nesta quarta-feira, após o desabamento de centenas de casas de barro com moradores dentro ao redor de uma área remota e pouco povoada, disseram autoridades




Ilha emerge a 200 metros da costa após terremoto no Paquistão

                                                               

Terremoto de magnitude 7,7 mata mais de 200 pessoas no Paquistão10 fotos

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25.set.2013 - Fotografia divulgada pelo governo do Paquistão mostra uma ilha de 200 metros de largura e 100 de comprimento que se formou após o terremoto em Gwadar, no Paquistão. Abalo de magnitude de 7,7 graus na escala Richter teria originado a formação Governo do Paquistão/EFE
Uma ilha de aproximadamente 214 metros de extensão e 16 metros de altura emergiu no litoral do extremo sudoeste do Paquistão após o terremoto de 7,7 graus que sacudiu essa região do país nessa terça-feira (24) e causou a morte de centenas de pessoas, informou nesta quarta-feira à Agência Efe uma fonte oficial.

Segundo Tufail Baloch, vice-diretor administrativo de Gwadar - a cidade mais próxima -, a ilha emergida a cerca de 200 metros da costa foi visitada hoje em uma primeira missão de exploração. Uma equipe de especialistas de Islamabad também já foi encaminhada à região para analisar a nova ilha.

"A percorremos toda sua área e me pareceu estável", declarou Baloch, um dos envolvidos nesta primeira missão de exploração. De acordo com o vice-diretor administrativo de Gwadar, a equipe técnica que virá da capital ficará encarregada de um estudo mais técnico.


O funcionário também explicou que os antigos habitantes da região afirmam que uma ilha semelhante também emergiu próxima à costa depois de um terremoto registrado na região em 1935.

"Aquela ilha desapareceu dez anos depois de repente e de maneira misteriosa e, por isso, as autoridades não descartam algo similar", apontou.

De acordo com o último boletim emitido, o número de vítimas do terremoto que ontem sacudiu o sudoeste paquistanês já ultrapassa 250, além dos mais de 400 feridos.

Mesmo sendo provisória, essa apuração do número de vítimas já transformou o terremoto de ontem, de 7,7 graus na escala Richter, em um dos mais mortíferos da década no Paquistão, país que registra movimentos telúricos com certa frequência


JÓIA RARA

  



 Leia a coluna quinzenal de Rogel Samuel, sobre a "Joia Rara", da Globo  em

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A morte de Francisco Otaviano

A morte de Francisco Otaviano
 
MACHADO DE ASSIS

 



 

 

Publicado originalmente em Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 29/05/1889.

   

Morreu um homem. Homem pelo que sofreu; ele mesmo o definiu, em belos versos, quando disse que passar pela vida sem padecer, era ser apenas um espectro de homem, não era ser homem. Raros terão padecido mais; nenhum com resignação maior. Homem ainda pelo complexo de qualidades superiores de alma e de espírito, de sentimentos e de raciocínio, raros e fortes, tais que o aparelharam para a luta, que o fizeram artista e político, mestre da pena elegante e vibrante. Vous êtes un homme, monsieur Goethe, foi a saudação de Napoleão ao criador do Fausto. E o nosso Otaviano, que não trocara a alma pela juventude, como o herói alemão, mas que a trouxera sempre verde, a despeito da dor cruel que o roía, que não desaprendera na alegria boa e fecunda, nem a faculdade de amar, de admirar e de crer, que adorava a pátria como a arte, o nosso Otaviano era deveras um homem. A melhor homenagem àquele egrégio espírito é a tristeza dos seus adversários.


  Francisco Otaviano (F. O. de Almeida Rosa), advogado, jornalista, político, diplomata e poeta, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 26 de junho de 1826, e faleceu na mesma cidade em 28 de junho de 1889. É o patrono da Cadeira n. 13, por escolha do fundador Visconde de Taunay.
Era filho do Dr. Otaviano Maria da Rosa, médico, e de Joana Maria da Rosa. Fez os primeiros estudos no colégio do professor Manuel Maria Cabral, e no decorrer da vida escolar dedicou-se principalmente às línguas, à história, à geografia e à filosofia. Matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo em 1841, na qual se bacharelou em 1845. Regressou ao Rio, onde principiou a vida profissional na advocacia e no jornalismo, nos jornais Sentinela da Monarquia, Gazeta Oficial do Império do Brasil (1846-48), da qual se tornou diretor em 1847, Jornal do Commercio (1851-54) e Correio Mercantil. Foi eleito secretário do Instituto da Ordem dos Advogados, cargo que exerceu por nove anos; deputado geral (1852) e senador (1867). Como jornalista, empenhou-se com entusiasmo nas campanhas do Partido Liberal e tomou parte preponderante na elaboração da Lei do Ventre Livre, em 1871. Já participara da elaboração do Tratado da Tríplice Aliança, em 1865, quando foi convidado por Olinda para ocupar a pasta dos Negócios Estrangeiros, mas não a aceitou, ficando em seu lugar Saraiva. Por ocasião da Guerra do Paraguai, foi enviado ao Uruguai e à Argentina, substituindo o Conselheiro Paranhos na Missão do Rio da Prata. A ele coube negociar e assinar, em Buenos Aires, em 1o de maio de 1865, o Tratado de Aliança ofensiva e defensiva entre o Brasil, a Argentina e o Uruguai, no combate comum a Solano Lopez, do Paraguai. Recebeu o título do Conselho do Imperador e do Conselho Diretor da Instrução Pública.
Poeta desde menino, não se dedicou suficientemente à literatura. Ele mesmo exprimiu com freqüência a tristeza de haver sido arrebatado à poesia pela política, por ele chamada de "Messalina impura", num epíteto famoso. Apesar da carreira fácil, respeitável e brilhante, cultivou sempre a nostalgia das letras. Sua obra poética representa uma espécie de inspiração do homem médio, mas não banal, o que lhe dá, do ponto de vista psicológico, uma comunicabilidade aumentada pela transparência do verso, leve e corredio. Em torno do eixo central de sua personalidade literária se organizam as tendências comuns do tempo, num verso quase sempre harmonioso e bem cuidado.
Nas suas traduções de Horácio, Catulo, Byron, Shakespeare, Shelley, Victor Hugo, Goethe, revela-se também poeta excelente. Ficou para sempre inscrito entre os nossos poetas da fase romântica, mesmo que não tenha exercido a literatura com paixão, e o patriota que foi dá-lhe lugar entre os grandes vultos brasileiros do século XIX.


RECORDAÇÕES
Oh! se te amei! Toda a manhã da vida
Gastei-a em sonhos que de ti falavam!
Nas estrelas do céu via teu rosto,
Ouvia-te nas brisas que passavam:
Oh! se te amei! Do fundo de minh’alma
Imenso, eterno amor te consagrei...
Era um viver em cisma de futuro!
Mulher! oh! se te amei!

Quando um sorriso os lábios te roçava,
Meu Deus! que entusiasmo que sentia!
Láurea coroa de virente rama
Inglório bardo, a fronte me cingia;
À estrela alva, às nuvens do Ocidente,
Em meiga voz teu nome confiei.
Estrela e nuvens bem no seio o guardam;
Mulher! oh! se te amei!

Oh! se te amei! As lágrimas vertidas,
Alta noite por ti; atroz tortura
Do desespero d’alma, e além, no tempo,
Uma vida sumir-se na loucura...
Nem aragem, nem sol, nem céu, nem flores,
Nem a sombra das glórias que sonhei...
Tudo desfez-se em sonhos e quimeras...

Mulher! oh! se te amei!
 
MORRER... DORMIR...
Morrer... dormir... não mais! Termina a vida,
E com ela terminam nossas dores;
Um punhado de terra, algumas flores,
E, às vezes, uma lágrima fingida!

Sim! minha morte não será sentida;
Não deixo amigos, e nem tive amores!
Ou, se os tive, mostraram-se traidores,
- Algozes vis de uma alma consumida.

Tudo é podre no mundo! Que me importa
Que ele amanhã se esboroe e que desabe,
Se a natureza para mim é morta!

É tempo já que o meu exílio acabe...
Vem, pois, ó Morte ao nada me transporta...
Morrer... dormir... talvez sonhar... quem sabe?

 
ILUSÕES DA VIDA
Quem passou pela vida em branca nuvem,
E em plácido repouso adormeceu;
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu;
Foi espectro de homem, não foi homem,
Só passou pela vida, não viveu.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

CRÔNICA DE MACHADO DE ASSIS

QUANDO A VIDA cá fora estiver tão agitada e aborrecida que se não possa viver tranqüilo e satisfeito, há um asilo para a minha alma — e para o meu corpo, naturalmente.
 
Não é o céu, como podeis supor. O céu é bom, mas eu imagino que a paz lá em cima não estará totalmente consolidada. Já lá houve uma rebelião; pode haver outras. As pessoas que vão deste mundo, anistiadas ou perdoadas por Deus, podem ter saudades da terra e pegar em armas. Por pior que a achem, a terra há de dar saudades, quando ficar tão longe que mal pareça um miserável pontinho preto no fundo do abismo. Ó pontinho preto, que foste o meu infinito I (exclamarão os bem-aventurados), quem me dera poder trocar esta chuva de maná pela fome do deserto! O deserto não era inteiramente mau; morria-se nele, é verdade, mas vivia-se também; e uma ou outra vez, como nos povoados, os homens quebravam a cabeça uns I aos outros—sem saber por que, como nos povoados.
 
Não, devota amiga da minha alma, o asilo que buscarei, quando a vida for tão agitada como a desta semana, não é o céu, é o Hospício dos Alienados. Não nego que o dever comum é padecer comumente, e atacarem-se uns aos outros, para dar razão ao bom Renan, que pôs esta sentença na boca de um latino: “O mundo não anda senão pelo ódio de dois irmãos inimigos”. Mas, se o mesmo Renan afirma, pela boca do mesmo latino que “este mundo é feito para desconcertar o cérebro humano”, irei para onde se recolhem os desconcertados, antes que me desconcertem a mim.
 
Que verei no hospício? O que vistes quarta-feira numa exposição de trabalhos feitos pelos pobres doidos, com tal perfeição que é quase uma fortuna terem perdido o juízo. Rendas, flores, obras de lã, carimbos de borracha, facas de pau, uma infinidade de coisas mínimas, geralmente simples, para as quais não se lhes pede mais que atenção e paciência. Não fazendo obras mentais e complicadas, tratados de jurisprudência ou constituições políticas, nem filosofias nem matemáticas, podem achar no trabalho um paliativo à loucura, e um pouco de descanso à agitação interior. Bendito seja o que primeiro cuidou de encher-lhes o tempo com serviço, e recompor-lhe em parte os fios arrebentados da razão.
 
Mas não verei só isso. Verei um começo de Epimênides, uma mulher que entrou dormindo, em 14 de setembro do ano passado, e ainda não acordou. Já lá vai um ano. Não se sabe quando acordará; creio que pode morrer de velha. como outros que dormem apenas sete ou oito horas por dia, e ir-se-á para a cova, sem ter visto mais nada. Para isso, não valerá a pena ter dormido tanto. Mas suponhamos que acorde no fim deste século ou no começo do outro, não terá visto uma parte da história, mas ouvirá contá-la, e melhor é ouvi-la que vivê-la. Com poucas horas de leitura ou de oitiva, receberá notícia do que se passou em oito ou dez anos, sem ter sido nem atriz nem comparsa, nem público. É o que nos acontece com os séculos passados. Também ela nos contará alguma coisa. Dizem que, desde que entrou para o hospício, deu apenas um gemido, e põe algumas vezes a língua de fora. O que não li é se, além de tal letargia, goza do benefício da loucura. Pode ser, a natureza tem desses obséquios complicados.
 
Aí fica dito o que farei e verei para fugir ao tumulto da vida. Mas há ainda outro recurso, se não puder alcançar aquele a tempo: um livro que nos interesse, dez, quinze, vinte livros. Disse-vos no fim da outra semana que ia acabar de ler o Livro de Uma Sogra. Acabei-o muito antes dos acontecimentos que abalaram o espírito público.
 
As letras também precisam de anistia. A diferença é que, para obtê-la, dispensam votação. É ato próprio; um homem pega em si, mete-se no cantinho do gabinete, entre os seus livros, e elimina o resto. Não é egoísmo, nem indiferença; muitos sabem em segredo o que lhes dói do mal político, mas, enfim, não é seu ofício curá-lo. De todas as coisas humanas, dizia alguém com outro sentido por diverso objeto,—a única que tem o seu fim em si mesma é a arte.
 
Sirva isto para dizer que a fortuna do livro do Sr. Aluízio Azevedo é que, escrito para curar um mal, ou suposto mal, perde desde logo a intenção primeira, para se converter em obra de arte simples. Dona Olímpia é um tipo novo de sogra, uma sogra avant la lettre. Antes de saber com quem há de casar a filha, já pergunta a si mesma (p. 112) de que maneira “poderá dispor do genro e governá-lo em sua íntima vida conjugal”. Quando lhe aparece o futuro genro, consente em dar-lhe a filha, mas pede-lhe obediência, pede-lhe a palavra, e, para que esta se cumpra, exige um papel em que Leandro avise à polícia que não acuse ninguém da sua morte, pois que ele mesmo pôs termo a seus dias; papel que será renovado de três em três meses. D. Olímpia declara-lhe, com franqueza, que é para salvar a sua impunidade, caso haja de o mandar matar. Leandro aceita a condição; talvez tenha a mesma impressão do leitor, isto é, que a alma de D. Olímpia não é tal que chegue ao crime.
 
Cumpre-se, entretanto, o plano estranho e minucioso, que consiste em regular as funções conjugais de Leandro e Palmira, como a famosa sineta dos jesuítas do Paraguai. O marido vai para Botafogo, a mulher para as Laranjeiras. Balzac estudou a questão do leito único, dos leis unidos, e dos quartos separados; D. Olímpia inventa um novo sistema, o de duas casas, longe uma da outra. Palmira concebe, D. Olímpia faz com que o genro embarque imediatamente para a Europa, apesar das lágrimas dele e da filha. Quando a moça concebe a segunda vez, é o próprio genro que se retira para os Estados Unidos. Enfim, D. Olímpia morre e deixa o manuscrito que forma este livro, para que o genro e a filha obedeçam aos seus preceitos.
 
Todo esse plano conjugal de D. Olímpia responde ao desejo de evitar que a vida comum traga a extinção do amor no coração dos cônjuges. O casamento, a seu ver, é imoral. A mancebia também é imoral. A rigor, parece-lhe que, nascido o primeiro filho, devia dissolver-se o matrimônio, porque a mulher e o marido podem acender em outra pessoa o desejo de conceber novo filho, para o qual já o primeiro cônjuge está gasto; extinta a ilusão, é mister outra. D. Olímpia quer conservar essa ilusão entre a filha e o genro. Posto que raciocine o seu plano, e procure dar-lhe um tom especulativo, de mistura com particularidades fisiológicas, é certo que não possui noção exata das coisas, nem dos homens.
 
Napoleão disse um dia, ante os redatores do código civil, que o casamento (entenda-se monogamia) não derivava da natureza, e citou o contraste do ocidente com o oriente. Balzac confessa que foram essas palavras que lhe deram a idéia da Fisiologia. Mas o primeiro faria um código, e o segundo enchia um volume de observações soltas e estudos analíticos. Diversa coisa é buscar constituir uma família sobre uma combinação de atos irreconciliáveis, como remédio universal, e algo perigoso D. Olímpia, querendo evitar que a filha perdesse o marido pelo costume do matrimônio, arrisca-se a fazer-lho perder pela intervenção de um amor novo e transatlântico.
 
Tal me parece o livro do Sr. Aluízio Azevedo. Como ficou dito, é antes um tipo novo de sogra que solução de problema. Tem as qualidades habituais do autor, sem os processos anteriores, que, aliás, a obra não comportaria. A narração, posto que intercalada de longas reflexões e críticas, é cheia de interesse e movimento. O estilo é animado e colorido. Há páginas de muito mérito, como o passeio à Tijuca, os namorados adiante, O Dr. César e D. Olímpia atrás. A linguagem em que esta fala da beleza da floresta e das saudades do seu tempo é das mais sentidas e apuradas do livro.
 
A SEMANA

Biografia de Silvio Tendler faz sucesso na última noite

Biografia de Silvio Tendler faz sucesso na última noite

: Poucas vezes, nos seis dias da mostra competitiva do 46º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o público se entusiasmou tanto quanto ao aplaudir, alguns até mesmo de pé, um filme: "A Arte do Renascimento - uma Cinebiografia de Sílvio Tendler", documentário de Noilton Nunes


segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Chopin: Polonaises, review



Chopin: Polonaises, review


Rafal Blechacz reaches to the heart of the seven works in this programme, his expressive personality finding a compelling accord with Chopin’s own, says Geoffrey Norris.






Pianist Rafal Blechacz

Chopin specialist: Pianist Rafal Blechacz Photo: Felix Broede/DG






Rafal Blechacz (piano)

DG 479 0928, £13.99

Rafal Blechacz’s name is inextricably linked with Chopin’s, and that can certainly be no bad thing for a pianist. Blechacz, at the age of only 20, swept the board at the 2005 Chopin Competition in Warsaw, winning first prize and all sorts of special accolades, and proving himself to be so much in a league of his own that no second prize was awarded.

He has already recorded the Chopin concertos (477 8088) and the complete preludes (477 6592) for Deutsche Grammophon, and this new disc of polonaises is, like them, of exceptional distinction.

If we think of Chopin’s polonaises as a multifaceted musical manifestation of the character of his native Poland – its pride, its spirit, its vulnerability, its sorrow – all those qualities are identified and brought into the potent interpretative mix of Blechacz’s performances. He has the requisite power to assert his presence, as Chopin so often does at the start of these pieces, but he also has the breadth of understanding to temper his tonal strength, depth and muscle with tenderness, lyrical warmth and a pianistic palette of both rich and delicate colours.


Take the particularly well-known A major Op 40 No1. Here Blechacz has complete command of the music’s swagger and healthy outlook, subtly maintaining the distinctive, propulsive polonaise rhythm in the bass and, with thoroughly natural inflections to the music’s pace, making the piece gleam with an exhilarating freshness.
Then in the contrasting C minor Op 40 No2, Blechacz conveys something much darker, more explosively passionate, more disturbingly restless. Blechacz reaches to the heart of the seven works in this programme, his expressive personality finding a compelling accord with Chopin’s own.


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