segunda-feira, 28 de maio de 2007


balada para todo amor


rogel samuel


todo amor é assim, plágio
cópia de cópia de si, no mesmo
sim na sua visibilidade
no seu sexo. Porque todo amor
é aquela alegre repetição
doença de sonho e de tensão
acontecimento que tanto faz
se desfaz. De que não posso
dizer o que quero, ou o que vale
nem mesmo vale a pena
[O amor, seu troco.]
O caro, o espaço, o caroço
o que sobra o que falta e o falho.
Todo amor falece. Não cresce.
Não é o que se espera.
Dele nada sobra. Além do gozo.
Da calma, da cama, do colo
da palavra: só as notas altas
o cantam. As baladas mais.
A exultação mais plena.
Pois todo amor é outra vez
o mesmo amor. É sempre. É pouco.
E só se estabelece quando
impossivelmente fala a falta
do tolo amor, que já é lembrança
excessiva. Que todo amor costura
um tédio. E tem a surpresa da morte.
Somos suas presas em suas levezas.
Corre o fundo tempo por seus lodos
mostra a sua sede à noite morta.
Quem me crê sabe o que digo:
o amor já vem perdido, pois perder-se
é o destino amante. Dele vem logo
o mote o trote o corte a espada
que o amor tem em seus dentes
pois sua loucura é o nada.
[Em 14 de maio de 2.000]

terça-feira, 22 de maio de 2007


A FRANÇA ESTÁ ENTRE NÓS, NA EXPOSIÇÃO DE SÃO PAULO.

terça-feira, 15 de maio de 2007

QUE A FELICIDADE CRESÇA! ALEGRIA!


A experiência amorosa recomeça o mundo a cada instante.

DUGPA RINPOCHÊ

um poema azul
sai da parte nova
da velha cidade
que escreve a cena
do azul poema
sob sol tão belo
por que neste zelo
esta cor tão velha
renova revela
risco no vermelho
sua prova senha
o azul aceita
por que neste traço
não se lança, pássaro
sobrevoa aquela
longínqua montanha?
esta cor tamanha
faz-me prisioneiro
e do ar cordeiro
que do texto inteiro
sou escrito nela?
leva me revela
sobrevejo aquela
forte aquarela
e naquela tela
me lanço no ar.
meu amor primeiro
vejo-te inteiro
neste meu ofício
de fantasiar.
mas triste é a noite
e esta senhora
que me trouxe a hora
para vida a fora
eu me lastimar.
cada vez mais perto
estende o seu mundo
seu ponto segundo
seu sagrado ato:
que não creio revele
seu pior segredo:
nem por mais sentir
o menor dos medos.
pois neste ofício
pois neste tinteiro
o azul faz o poema
e a tua pena
vai-te envenenar.
(maio de 2.000)
rogel samuel

segunda-feira, 14 de maio de 2007

MARIA COSTA

estremeço como que um estranho frio
vindo de dentro habitasse meu corpo frágil.

já não reconheço outras casas
tua ausência me transforma
em alguém sem lugar neste mundo
só encontro rios, inumeráveis rios
noites por detrás de noites
e apesar de cansado, meu olhar
que vê mais do que minha vista alcança
sobe sete degraus
enquanto meu corpo apenas respira

e tu me dizes

o amor é um lugar.


(in: A LUZ DO VÔO)

quinta-feira, 10 de maio de 2007

BERNARDINA DE OLIVEIRA


JOGO


Querer o quê?
Olhar entre séculos?

Caminhadas serviram aos reis,
catedrais serviram aos reis,
mausoléus serviram aos reis
e o metrô nem chega ao meu reino!
Ainda me guio pelas estrelas.
Passos não se perdem.

Em verdade há ausência de flores
na praça onde o saxofonista toca a vida,
equilibrado momento de notas e arranjos.

Querer o quê?
Mulher faz o jogo,
homem faz o jogo.

Jaz um hiato
no gramado simétrico
do amor.

terça-feira, 8 de maio de 2007

CONHEÇA LEILA MÍCCOLIS


LEILA MÍCCOLIS - Carioca, advogada, abandonou a profissão para dedicar-se à literatura. Mestra em Teoria Literária/UFRJ. 30 livros editados (poesia e prosa), poemas publicados na França, México, Colômbia, África, Estados Unidos e Portugal; teatróloga, roteirista de cinema e escritora de novelas de televisão, entre elas: “Kananga do Japão”, “Barriga de Aluguel” e “Mandacaru”. Elaborou o "Catálogo da Imprensa Alternativa”, pela RioArte/Prefeiura RJ, e verbetes para a “Enciclopédia de Literatura Brasileira” (MEC/OLAC). Publicada na Revista Poesia Sempre (Biblioteca Nacional/MEC), consta do Banco de Dados Informatizados do Banco Itaú - Módulo Literatura Brasileira, Setor Poesia (categoria: “Tendências Contemporâneas”) e dos “Cadernos Poesia Brasileira” - vol. 4, “Poesia Contemporânea” (idem, 1997). Sua obra é analisada por Affonso Romano de Sant'Anna, Aguinaldo Silva, Armando Freitas Filho, Assis Brasil, Carlos Alberto Messeder, Gilberto Mendonça Teles, Glauco Mattoso, Heloísa Buarque de Hollanda, Ignácio Loyola Brandão, Jair Ferreira dos Santos, Nélida Piñon, Paulo Leminski, Pedro Lyra, Rogel Samuel, Wilberth Clayton Salgueiro, entre outros. Edita o portal Blocos Online, com Urhacy Faustino.

PRIMEIRA CHUVA DE VERÃO

Bernardina de Oliveira


História desfolhada,

tosca luz na sombra,

primeira chuva de verão.



Corpo esculpido na pedra,

talhados traços.



Cidade desperta

volta às cavernas,
corte nas mãos,

ângulos da mesma vela.



segunda-feira, 7 de maio de 2007


o samba de Genesino Braga

Amigo, adorei. Você retratou fielmente GENESINO BRAGA. Quando comecei a crônica, pensei: puxa isto é poesia, foi quando cheguei à parte que você deu forma de poesia à prosa, ficou lindo. Quanto à casa, que você fala,ficava na Praça da Saudade - Ferreira Pena esquina com a Ramos Ferreira. Da casa e da praça só restam a saudade. Realmente o jardim era lindo e cuidado pessoalmente por papai e a praça com seus carramachões floridos era abrigo das emoções dos enamorados. Há promessa de reconstitui-la nos padrões originais, espero que assim o façam. Muito me emocionou, também, lembrar o carinho entre nossas famílias, e muito me alegro que papai tenha tido um afilhado maravilhoso que tanto ama a sua memória. Neste centenário de papai muitos escreveram sua biografia mas a sua pequena crônica, com tanto afeto, me tocou profundamente pois você que o conheceu de perto disse em poucas linhas o que os outros desconhecem porque não o vêem com o coração. Um grande e fraternal abraço da amiga Ursulita (FILHA DE GENESINO BRAGA).


domingo, 6 de maio de 2007


Ursulita Alfaia

BREVIDADE

No horizonte, com a lua ainda espiando,
celebra-se a madrugada.
É mais dia do que noite
no esplendor que acorda a passarada.
Tudo vive, tudo explode
na mais imitativa harmonia,
do fugidio bater de asas
às algazarras das cantorias.
No poente a lua
No nascente o sol
eternos namorados de um só momento,
a hora fugaz do amanhecer.
Como é breve o tempo!
Tão belo...
Tão breve...
Do nascer ao morrer é apenas um pulo.

sábado, 5 de maio de 2007


ABRAÇO


Bernardina Oliveira



Sair
dos anéis

palavra armada

a caminho do abraço,

águia construindo ninho.



Praça mais próxima é você,

verdade azul

no rabisco das ruas.

terça-feira, 1 de maio de 2007

ESTRANGEIRO

Em Manaus, agora, me sinto estrangeiro. Só estou em casa no Rio. Por quê? A leitora "Aya" me fez um tão belo comentário, o sentido do silêncio. Estou num café amazônico, dentro de uma livraria. Os livros me contemplam das estantes sem serem lidos. Me esperam. Me exigem. Perto de mim há livros de software, de javascript. Atmosferas explosivas das instalações elétricas, laboratório de uma nova poesia eletrônica. Penso num vazio coreldraw, num autocad. Preparo-me para a coldfusion da consulta rápida de mim mesmno.

ROGEL SAMUEL

DO AMOR

Rogel Samuel

O amor depende de condições. Exige duas pessoas. Nem uma, nem três, quatro, cinco. Seu número fixo é dois. Exige coincidência de duas vontades. Mútuas. Não uma que dá, outra que recebe. Ou o contrário. Tem de haver recíproca vontade. Mão dupla. Nem atração. Mas vontade mútua. Se há possuidor e possuído, não há amor. Mas sado-masoquismo. O amor não é infeliz, quando ativo. Amor existente, e infeliz, é contradição de termos. Como um quadrado redondo. Se há amor, há felicidade, instantânea, imediata, mesmo passageira (e qual felicidade não é passageira?). Energia, liberdade. No amor não pode haver prisão. Há controle? Não há amor. Há fraqueza? Amor não há. O Padre Vieira define, sabe bem o amor. Ainda que Padre não ame, como nós, leigos, ele conta do amor místico. Mas é amor, e, em certo sentido, êxtase. O amor é êxtase. Na época de Vieira, o Brasil era "paraíso" do amor. Não havia pecado debaixo da linha do Equador (pecado mata o amor, ao nascer). Todo amor é puro. Principalmente o sexual. Nosso clima brasileiro, praias, frutas, a cândida nudez indígena, o exotismo, o afastado das gentes... O Brasil nasceu sob o signo do erótico. Basta ler "Casa grande & senzala", de Gilberto Freire. Vieira, grande padre, grande pregador moralista, deve ter mantido a castidade. Mas a castidade do amor também é amor. O amor não se corrompe, não se compra. Não tem idade, sexo, limites. Nem é cabível em definição. Não é conceitual, teorético. O poetas são os que dele dão conta. Definem os amantes, que "se amam cruelmente, e com se amarem tanto não se vêem", diz Drummond. Em "Amor e medo", o poeta Casimiro diz do amor:

Quando eu te fujo e me desvio cauto
Da luz de fogo que te cerca, oh! bela,
Contigo dizes, suspirando amôres:
- Meu Deus! que gêlo, que frieza aquela!”
Como te enganas! meu amor é chama
Que se alimenta no voraz segrêdo,
E se te fujo é que te adoro louco...
És bela - eu moço; tens amor - eu mêdo!
Tenho mêdo de mim, de ti, de tudo,
Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes,
Das folhas sêcas, do chorar das fontes,
Das horas longas a correr velozes.
O véu da noite me atormenta em dores,
A luz da aurora me entumece os seios,
E ao vento fresco do cair das tardes
Eu me estremeço de cruéis receios.

Eis Amor. Tememos amor. É a dissolução do "eu". Quando amamos, mergulhamos em abismo. Nos perdemos. A felicidade apavorante do amor. Que quer tanto, é tanto, que eu, um reles cronistazinho de fim de semana, e pretensioso, meti-me a falar do que não sei, do amor, caindo no ridículo de todo amante. Certo é, e também, que há amores trágicos. Ou tragédias amorosas. Romeu e Julieta, Tristão e Isolda. Certa vez tentei assistir a uma impressionante adaptação de Romeu e Julieta. Ele era um jovem palestino muçulmano; ela era uma menina judia israelense. Em plena guerra! Atravessando barreiras e fantasmas! Num dos mais belos poemas de amor, Tristão e Isolda, Wagner diz mais ou menos assim: "Para matar-me basta que ele me olhe! Se eu vir a tristeza de seus olhos, seu olhar penetrará meu coração como um punhal!" Eis o grande Amor, acima da vida e da morte, sobre as limitações humanas! O amor, nobre, importante sentimento, que, como toda Arte, só aprendemos na Obra de Arte. A arte nos ensina a amar. Ou então, como disse certa vez Drummond: "Amar depois de perder". Aprendemos depois da perda. "Triste sina, estranha condição". (Diz Camões).