sábado, 31 de maio de 2008

CAPÍTULO 12


ELEAZAR DE CARVALHO EM MANAUS, PROBLEMA DE ACÚSTICA


- Mas uma concha acústica é indispensável para a realização de concertos nas salas de espetáculos, disse José Brandão, já suado e nervoso.
- Sim, mas nós não temos...
- Como não? Gritou o outro. Por que não?
- Nós tínhamos uma caixa acústica... chamada de “caixa timpânica”... mas foi retirada nas reformas do governo Efigênio Sales.
- O que é uma caixa timpânica, perguntou o deputado Lourival Gadelha que estava perto.
- É um equipamento cênico que tem a dimensão total da área de cena e que se monta e desmonta no palco sempre que necessário.
- Sim.
- São paredes laterais, parede de fundo e teto, feitas de material refletor acústico. Envolvem a orquestra, disse Brandão.
- Sim, concordou, o deputado.
Essas paredes oblíquas entre si, em ângulos criteriosamente definidos, de forma a garantir os níveis de reflexão e reverberação adequados, dando melhor audição para o público e músicos. O som tem que ser jogado para fora do palco uniformemente, permitindo o equilíbrio das diversas sonoridades de acordo com a formação da orquestra.
- E quando não estão sendo utilizadas?
- Elas saem. São móveis.
- Explique melhor, repetiu o deputado.
- Os diversos instrumentos emitem diferentes sons em todas as direções, disse Brandão, e uma considerável parte desses sons se perde no volume da caixa de palco, ao invés de preencher acusticamente a sala de espetáculo. A concha acústica conduz a sonoridade para o público, garantindo uma boa audiência em todas as partes da sala de espetáculo.
- Agora entendi, disse o deputado.
- Outra questão da maior importância é que os músicos têm de ouvir muito bem uns aos outros, para conseguirem tocar em harmonia. E para o solista, para o bom desempenho do solista, é fundamental garantir o que chamamos de conforto acústico.
- Sim. Sim. E agora? Que faremos?
- Uma caixa de palco como a do Teatro Amazonas sem uma concha acústica montada se revela como o pior espaço possível para um concerto. Os sons se misturam, viram barulho.
Foi chegando o Maestro Eleazar de Carvalho e todos se calaram de repente.
A Orquestra Sinfônica de São Paulo, naquele ano de 1981, se apresentaria no Teatro Amazonas, com seus 87 músicos.

- Como está a acústica, Maestro, perguntou, timidamente e temeroso, João Brandão.
- Péssima, respondeu Eleazar. Péssima. A acústica não é boa para a orquestra, esta
muito seca.
- Para compensar essa deficiência são necessários muitos instrumentos, explicou. E depois de olhar em volta:
- O espaço é insuficiente para reverberar, para rebater o som.
- Como assim? Perguntou o deputado.
- Por exemplo: cada som teria de percorrer 152 metros e voltar. Aqui ele
vai (ele fez um gesto), e quando volta o outro ainda está saindo.

Foi interrompido por João Brandão, o engenheiro do som:
- Maestro, verificamos que há um porão vazio nas mesmas dimensões do palco, aqui abaixo de nós... E que lá em cima tem uma caixa d’água.
- Ótimo, respondeu Eleazar de Carvalho. Serão usados como “caixas de ressonância”.
Foram ver a “caixa d’água”: era a tal “caixa-timpânica” que por um mecanismo de correntes descia até atrás da caixa do palco, fechando-a.
Era a primeira vez que Eleazar se apresentava em Manaus. Sua apresentação foi um sucesso.

Cerca de 85 anos antes, em Manaus, Lima Silva tinha sido chamado pelo ex-governador Ribeiro à sua chácara. Ele agora era advogado e graças à sua inteligência tinha uma banca rica e famosa. Teve de levar Marinalva, que fez um escândalo para ir junto. Quando ele disse que estava indo à chácara de Eduardo Ribeiro ela não teve dúvida:
- Ou me leva ou eu te mato!
Brandia um garfo.
- Mas, meu amor, vou a serviço...
Não teve jeito. Ribeiro era o grande ídolo político dela. “O maior homem da história”, dizia ela. Não ia perder nunca aquela oportunidade de conhecer o Pensador.

- De que o acusam, Governador? – perguntou Lima e Silva, olhando profissionalmente o outro.
- De tudo, doutor, de tudo! Calúnias! Mentiras!
E colocou um copo d’água em sua frente e uma jarra de refresco de manga sobre a mesa, perto de Marinalva. Estavam na copa do governador, que era o lugar mais fresco da casa, sentados ao redor da mesa quadrada coberta de papéis.
- Beba um refresco, madame, disse ele.
- Muito obrigada, Governador, respondeu ela, lisonjeada.
Eduardo Ribeiro falava como se dirige às massas, ainda que estivesse apenas com o advogado e sua esposa.
Aquela copa era o seu gabinete de trabalho, anexo à sala de jantar. Era a primeira vez que o advogado entrava na mansão que Ribeiro chamava de chácara, o chalé da Cachoeira Grande. Ribeiro tinha móveis exóticos, importados de vários lugares do mundo (algumas cômodas venezianas e poltronas voltaire talvez tivessem vindo do Teatro Amazonas), tapetes exóticos, quadros de Crispim do Amaral, pássaros, animais raros, jardins de orquídeas, catléia superba, catléia el-dorado, lago, tanque com cisne, um pequeno bosque ricamente preparado, caramanchões. Ribeiro vivia suntuosamente no seu pequeno palácio.
Eduardo Ribeiro passou para o outro uma folha de papel com a lista dos seus bens em discussão.
- Ladário e Gregório me acusam de enriquecimento ilícito.
- Sim, disse o outro.
Marinalva começou a se meter na conversa:
- Cretinos! disse ela. Vão pro Inferno!
Lima Silva tentou impedi-la de falar, mas Eduardo Ribeiro se antecipou:
- Vão mesmo, madame, disse ele, gostando.
E a seguir:
- Vejamos: O primeiro terreno... Sim, o primeiro terreno comprei de Juvêncio Alves. É posse antiga, na Praça da República. Custou 5.000$000.
Lima Silva anotou esse número numa folha de papel.
- Os terrenos número 2, 4 e 16 dessa lista, disse com naturalidade Ribeiro, foram comprados aos herdeiros do Capitão Nuno por 600$000, 2.000$ e 500$000 respectivamente. Estão fora de Manaus.
Marinalva jogava todo o seu charme em cima de Eduardo Ribeiro. Em dado momento encostou sua perna por baixo da mesa na dele. Ele delicadamente se afastou. Como ela repetiu alguns minutos depois, ele deixou e com a mão acariciou-a por entre as pernas, curvando sobre o papel que o marido estava atentamente lendo.
Lima Silva nada via ou fingia não ver. Examinava as contas e começava a ver dificuldade.
- O terreno número 3 está avaliado em 150$ e me foi doado pelo Dr. José Mello, juiz de direito. Está fora da Capital.
- Continue, governador.
- O terreno número 5 foi comprado por 100$000 ao Doutor Joaquim Lalor.
- O senhor dispõe dos recibos, não?
- Sim, claro, todos. O Thaumaturgo diz que custou 1.500$000.
- Mentiroso! – disse Marinalva. E conseguiu dar um leve beliscão na coxa do outro.
Lima Silva suspirou, bebeu um gole de água. Mas Eduardo Ribeiro gostou do apoio e disse:
- Sim, madame, mentiroso e covarde!
E continuou:
- Os terrenos de 6 a 16 estão na mesma situação, disse Eduardo Gonçalves Ribeiro com muita dignidade. E foram comprados pelos preços que estão nas escrituras.
Houve um silêncio constrangedor na sala.
- E os prédios? – perguntou, com voz neutra, o Dr. Lima Silva.
- Sobre os prédios que possuo em Manaus... No da Praça da República gastei 49:684$200 na sua construção.
Eduardo Ribeiro citava de memória, que era prodigiosa.
- Este chalé aqui não custou 500 contos, como o crápula inventou! Gastei 48:800 para construí-lo. Não é luxuoso, como o Senhor vê, apenas especial e elegante.
E levantando-se caminhou até a sacada, de onde apontou:
- Não tenho raridades da natureza, como a acusação aponta, mas uma variedade de animais que mandei vir da América.
- São lindos, disse Marinalva.
Ele, voltando para Lima Silva, disse:
- Tenho um prédio, que o Senhor certamente conhece, na rua Henrique Martins, comprado por 30 contos...
- Muito bonito por sinal, disse Marinalva.
- Obrigado Madame, sim, é bem elegante.
E a seguir disse:
- E a casa de minha velha mãe, no Maranhão, na rua de Santana número 110, comprei por 6 contos.
- Como ela está? Perguntou Marinalva.
- Não muito bem, madame. Está quase cega de um olho e tem fortes dores reumáticas.
- Reumatismo? Eu tenho um santo remédio, disse ela, tentando ajudar. Diga para tomar extrato de sucupira, bem forte, toda manhã...
- E a casa de sua irmã? Perguntou Lima Silva, tendo disfarçar o vexame.
- A casa de minha irmã, na rua São João, no Maranhão, foi-me doada, em 1893, por amigos de Manaus, que não quiseram revelar o nome.
- Vejamos os ativos monetários, Dr. Eduardo.
- Sim, sim. No Banco do Amazonas tenho 30 ações de 200$ cada uma.
- Na Cooperativa Militar?
- Ali tenho apenas 172 ações que valem 20$ cada uma. Eu as comprei quando ainda era estudante.
- No Maranhão?
- No Maranhão tenho 17 ações da Companhia de Viação Maranhense, hoje muito desvalorizadas.
- Sim, disse o outro. Eu conheço.
- E aqui tenho 3 carroças e um carro de luxo – uma vitória, o senhor viu – que comprei por 9:000$.
Lima Silva já estava atônito, mas não se revelava. Mantinha-se de reserva. E perguntou:
- O Senhor, Governador, tem com provar a origem desses bens? Quanto recebeu?
- Certamente, disse o outro com uma calma palaciana.
E tirando um papel da gaveta começou:
- Como comandante militar recebi 12 contos oitocentos e setenta mil réis (12:870$000).
E continuou:
- No meu primeiro mandato, como Governador Provisório, recebi 9 contos novecentos e quarenta mil réis (9:940$000).
- Sim, estou anotando.
- Como tenente recebi novecentos mil réis (900$000).
Marinalva estava sorridente e flertava abertamente.
- Sim, pois não.
Eduardo parou, para refletir. Depois disse:
- Como Governador do Amazonas, no meu segundo mandato, recebi 137:500$000.
- E como Capitão do Estado Maior?
- Recebi 13:250$000.
Lima Silva rapidamente somou.
- Somando tudo dá uns 173:420$000, disse Lima Silva.
- Sim, disse o ex-líder, com voz de liderança. Mais o que recebi como professor particular, de gratificações, de orçamentos e consultorias deve somar uns 200 contos. Sempre fui muito econômico, todos sabem.
Marinalva aplaudiu.

Sem se importar, Lima Silva parou para refletir um momento e começou a bater com o lápis nos dentes.
Fez-se um silêncio diplomático.
Depois Lima Silva disse:
- Governador, vai ser difícil para mim. Eu não me sinto preparado para defendê-lo. Está acima de minhas qualidades jurídicas. Para este caso eu aconselharia um advogado do porte de Ruy Barbosa.

Na despedida, já à porta, Marinalva beijou Eduardo Ribeiro. Ela era bem mais alta que ele e teve de curvar-se.
- Governador, disse ela, o senhor é o político mais honesto que eu conheço. Eu o amo, Governador! Eu o amo!
- Obrigado! Obrigado, minha senhora, respondeu Eduardo Ribeiro beijando sua mão e realmente feliz.
E acrescentou:
- Em todo caso, doutor, gostei muito de sua visita. Venham os dois jantar comigo na quinta-feira. Eu insisto!

E foi assim que, graças à Marinalva, começou a grande amizade de Lima Silva com Eduardo Gonçalves Ribeiro.

O que ele nunca soube foi que, já no dia seguinte, depois que ele saiu para o escritório, Marinalva foi ao Mercado e lá um emissário secreto do ex-governador entregava nas mãos de sua mulher um bilhetinho do governador.

LEITORES E INTERNAUTAS

Rogel Samuel

Pesquisa revela que o brasileiro lê muito. Ao contrário do que sempre se supôs, o brasileiro lê 4,7 livros por ano. Este é o resultado da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil encomendada pelo Instituto Pró-Livro ao Ibope e publicada em 28/05/2008 pelo Globo Online.
O brasileiro não é mau leitor. Os adultos lêem menos, 1,3 livros por ano. O Sul lê mais (5,5) do que o Sudeste (4,9). Depois vem o Nordeste (4,2) e o Norte (3,9).
As grandes cidades lêem mais (5,2) do que as pequenas (4,3). As mulheres (5,3) mais que os homens (4,1 livros por ano).
Quem mais lê são os jovens: “O público entre 12 e 13 anos chega a ler 8,6 livros por ano. De 5 a 10 anos, lêem 6.9. E de 14 a 17 anos o volume é de 6,6 livros por ano”.
A pergunta foi realizada em 311 municípios, em todo território nacional. Realizadas 5.012 entrevistas nas casas das pessoas, em novembro e dezembro de 2007.
Melhor, muito melhor está a Internet.
A banda larga atinge 18,3 milhões dos lares do Brasil. São 18 milhões de consumidores de media. O Brasil tem 40 milhões de internautas; e 22,4 milhões navegam em casa.
O número de brasileiros com acesso residencial à banda larga cresceu 53% no período de um ano, segundo estudo divulgado na quarta-feira, dia 28, pelo Ibope/Netratings. Eles chegaram a 18,3 milhões em abril de 2008. São 82% dos usuários domésticos no país, contra 11,9 milhões no mesmo período do ano passado.
O Ibope//Netratings usou a mesma definição da Anatel para definir a velocidade da banda larga. Considerou conexões acima de 56 Kbps (kilobits por segundo).
Os números são impressionantes.
São 22,4 milhões de brasileiros os que navegaram pela web de suas casas no mês passado, crescimento de 41,3% em relação a abril de 2007.
Foi o maior aumento dos 10 países monitorados.
“Considerando acesso residencial e doméstico, o Brasil tem cerca de 40 milhões de usuários de internet com mais de 16 anos”.
A média de tempo de navegação brasileira foi de 22 horas e 47 minutos no mês de abril. Foram milhares de páginas abertas, um recorde no mundo. Principalmente os adolescentes, nos site de relacionamento. E cresce o número de crianças e adultos.
A web vai fazer uma revolução no Brasil. E é por isso que nós escrevemos na web desde 1999.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

O ÚLTIMO REI DO NEPAL



O ÚLTIMO REI DO NEPAL

Rogel Samuel

O rei Gyanendra talvez seja o último rei do Nepal. O anterior foi assassinado. Gyanendra era tio do rei anterior, e o povo desconfiava que tenha sido o mandante de sua morte. O anterior, Birendra, foi assassinado dentro do palácio, com toda a família real. Alguém, armado de metralhadora portátil, fuzilou toda a família, que estava sentada na mesa de jantar. E depois se matou. Era o príncipe. Mas esta versão nunca convenceu ninguém.
O anterior, Birendra, foi um dos homens mais ricos do mundo. Apesar de corrupto,o povo o amava. Construiu um novo palácio. E uma nova coroa, que custou milhões de dólares. Casou-se com uma cantora de cabaré (dizem), que já era casada. Chamava-se a Rainha Aishwarya Rajya Laxmi Devi Shah. Era bela.
Fui ao Nepal em 93, 95 e 97. Birenda, o anterior, era rei.
Um dia, fomos receber uma amiga no aeroporto de Katmandhu. Como o rei ia sair do palácio à tarde, a cidade foi dividida ao meio pela manhã. Interditado o caminho por onde o rei ia passar para Pashupati, sagrado lugar hindu. Quase não conseguimos voltar para a Lótus Guest House.
Khatmandu é a reunião de 3 antigas cidades. Em Boudha estávamos nós. Ali, um monge budista, chamado Shamar Rinpochê, alertou o rei anterior Birenda do perigo de sua morte. Mais tarde, o rei teve um enfarte. Achou que era o perigo. O monge disse que não era. Era pior. O rei não acreditou.
Birenda, o anterior, vivia cercado de seguranças. Os muros do palácio, eletrizados, matavam curiosos. Mas o assassino morava lá dentro, junto com o rei. Era seu filho.
O Rei anterior, Birenda, significava o próprio deus Vishnu. Trocou o velho palácio de Hanuman Dhoka pelo novo, que mandou construir e apareceu na TV agora. Eu visitei o velho palácio. O novo ocupa uma área gigantesca em Narayan Hity, perto do centro de Thamel. São vários quarteirões. O velho palácio Hanuman Dhoka é um labirinto de corredores e salas escuras, com o nome do invencível protetor do exército nepalês, Sri Hanuman, o deus macaco. O Nepal nunca foi invadido pelos inimigos externos por causa dele.
O último rei do Nepal, Gyanendra, agora deposto, foi coroado naquele velho palácio de Hanuman Dhoka, e entronizado em trono de ouro, com uma grande serpente de ouro como espaldar. Mas o velho palácio foi cenário do maior massacre da história nepaleza. A célebre e sanguinolenta carnificina de Kot, de 1846, quando o Primeiro Ministro, Jung Bahadur Rana e seus 16 irmãos, mataram mais de 150 rivais no mesmo pátio. Pouparam o rei e a rainha.
Os maoístas agora estão no poder. Que os deuses o protejam.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

PESQUISA REVELA QUE BRASILEIRO LÊ

PESQUISA REVELA QUE BRASILEIRO LÊ

Rogel Samuel

Ao contrário do que sempre se supôs, o brasileiro lê 4,7 livros por ano. Este é o resultado da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil encomendada pelo Instituto Pró-Livro ao Ibope e publicada em 28/05/2008 pelo Globo Online.
Os adultos lêem menos, 1,3 livros por ano. O Sul lê mais (5,5) do que o Sudeste (4,9). Depois vem o Nordeste (4,2) e o Norte (3,9).
As grandes cidades lêem mais (5,2) do que as pequenas (4,3). As mulheres (5,3) mais que os homens (4,1 livros por ano).
Quem mais lê são os jovens: “O público entre 12 e 13 anos chega a ler 8,6 livros por ano. De 5 a 10 anos, lêem 6.9 e de 14 a 17 anos o volume é de 6,6 livros por ano”.
“A pesquisa foi realizada em 311 municípios, em todo território nacional. Foram realizadas 5.012 entrevistas domiciliares nos meses de novembro e dezembro de 2007”.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Há perigos rondando realmente a Amazônia?

Há perigos rondando realmente a Amazônia?

Rogel Samuel

Está cada vez mais interessante reeditar o livro “A Amazônia e a cobiça internacional” (Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1982), de Arthur Cézar Ferreira Reis. A primeira edição deve ser de 1960. Está esgotado, há muitos anos e foi pioneiro no assunto. No nosso blog publiquei um capítulo. Lá, Arthur Cézar também denuncia a destruição dos animais da Amazônia. Citando Silva Coutinho, escreveu, por exemplo: “só no ano de 1719, para as 192.000 libras de manteiga de tartaruga exportada pela Capitania de São José do Rio Negro, hoje Estado do Amazonas, foi necessário exterminar 24 milhões de tartarugas”. Arthur Cézar escreveu: “A ocupação da terra foi feita pelo homem desordenadamente. Era natural que assim fosse. Sem considerar o futuro e na ignorância de que estava trabalhando contra as gerações de amanhã, destruiu florestas, secou rios, removeu dificuldades criando problemas para amanhã. Em todos os continentes ocorreu esta maneira de agir desastrada e imprevidente. O pior, porém, é que, sem querer aprender a lição da experiência, prosseguiu na tarefa condenável, desatento a tudo e a todas as previsões dos que se alarmavam com a conduta criminosa, destruindo, com a sua teimosia, as esperanças e as possibilidades dos que deviam sucedê-lo”.
No seu último pronunciamento, o senador Jefferson Péres ridicularizou o correspondente no Rio de Janeiro do jornal The New York Times que publicou uma matéria, com o título: “Amazônia, de quem é afinal?” O texto põe em dúvida a soberania do Brasil sobre a Amazônia. “Não se pode levar a sério, disse o Senador. Por quem seria feita a internacionalização? Pela ONU? A Carta da ONU não dá poderes a essa organização para retirar território de nenhum país. Isso não encontra amparo jurídico. A ONU não pode fazer isso. Quem faria a internacionalização? Uma intervenção americana? Não seria internacionalização, seria uma invasão, seria um ato imperialista impensável... Isso não vai acontecer. Não tenho tanto medo da cobiça internacional sobre a Amazônia. Tenho medo da cobiça nacional sobre a Amazônia, da ação de madeireiros, de pecuaristas e de outros que podem provocar, repito, o holocausto ecológico naquela região.”

Seja como for, é bom que sempre estejamos nós levantando o assunto. Dia virá que talvez tenhamos de defender nossa soberania na região com paus e pedras.

Arthur Cézar Ferreira Reis

A PRESSÃO DOS INTERESSES UNIVERSAIS


Arthur Cézar Ferreira Reis




Há perigos rondando realmente a Amazônia? Depois do que aqui já foi registrado, poderá alguém duvidar do que pretendemos ter provado? No tocante ao passado, essas dúvidas não devem existir. No que diz respeito à atualidade, os perigos antevistos, propostos, terão algum fundamento?
A industrialização do mundo, marcando, evidentemente, a etapa econômica de nossos dias, está ligada, como é óbvio, ao da produção de matérias-primas. No passado foi fácil às nações que dispunham do primado industrial obter matéria-prima, através da política colonialista que executaram na África e na Ásia, através de acordos de comércio ou ainda por meio da aplicação de seus capitais na própria América tropical. A história do século XIX e das primeiras décadas do século XX é, realmente, uma história que se distingue justamente pela ação daquelas potências na divisão dos espaços onde colheram ou onde compraram aqueles recursos, essenciais à movimentação de seus parques fabris.
Essas matérias-primas vegetais, todavia, estão sendo substituídas pelo que a técnica, em seu desenvolvimento vertiginoso, vai alcançando. Os sintéticos, obtidos nos grandes laboratórios de pesquisa e de produção intensiva, se ainda não são suficientes para satisfazer o apetite da indústria, já vão alimentando em muito as necessidades dos grandes centros manufatureiros, permitindo a impressão de que está encerrado o ciclo dos mercados produtores de matéria-prima vegetal ou animal - extraídas ou colhidas em estado de natureza. E com eles, assegurando-se maiores venturas aos povos que até então viviam subordinados à extração de recursos da terra, seja os recursos minerais, seja os recursos florestais e, nessa condição de inferioridade, sujeitos a soberanias que não eram legitimamente aquelas que melhor lhes falavam ao coração porque estranhas às respectivas etnias, estranhas às suas tradições nacionais, estranhas ao seu passado religioso, político e cultural. Às técnicas, com os sucedâneos, conseqüentemente, poder-se-ia atribuir, de certo modo, o êxito que os programas nacionalistas dos povos colonizados estão alcançando.
As teses, pergunta-se, estão certas? Os sintéticos estarão realmente pondo fim ao ciclo das matérias-primas naturais? Os impérios coloniais terão atingido o seu encerramento como realidade política e econômica como decorrência natural desse novo estado de coisas no campo da produção?
O problema da produção de matérias-primas ainda não atingiu a fase final. Sua solução ainda não foi coberta pela produção dos sintéticos. Quando certos cientistas ou amadores de cientistas pretendem que os sintéticos levaram â sepultura a matéria-prima natural, evidentemente estão afirmando uma inverdade ou se colocaram ao serviço de iniciativas suspeitas.
Se quiserem a palavra final, de contestação, é só consultar as estatísticas que se publicam anualmente pelos órgãos internacionais. Nesses dados temos o esclarecimento definitivo - a produção de matérias-primas, como resultante do saque à natureza ou efeito do investimento de capitais e de técnicas mais amadurecidas, mais adiantadas, mais eficientes, nas regiões tropicais, continua a processar-se em ritmo que não diminui, antes se avoluma, cresce, aumenta sensivelmente. Vamos a um exemplo — afirmou-se que a borracha natural estava condenada ao desaparecimento como atividade econômica, uma vez que nos Estados Unidos, na Europa, o sintético, já previsto em 1865 por um cientista alemão que visitara a Amazônia e se alarmara com o sistema rotineiro, agressivo, destrutivo porque a extração de látex era realizada pelos seringueiros, estava superando quantitativa e qualitativamente aquela, de sorte que, num futuro muito próximo, as gomas naturais, fossem as da floresta amazônica, fossem as das plantações orientais, não teriam mais existência no particular da atividade lucrativa ou mesmo da simples atividade que mobilizasse energias humanas. Ora, o que estamos verificando é que, no Oriente, as plantações continuam a fazer-se, restaurando-se velhas culturas decadentes, reanimando-se vastas áreas tradicionalmente ligadas àquela economia, o que importa concluir, imediatisticamente, que ninguém acredita que o sintético superará aquele gênero comerciável. Os investimentos de capitais continuando a operar-se regularmente significam que esse capital não se arreceia da competição dos sintéticos. As necessidades dos mercados de consumo não acompanham o ritmo da produção industrial. A vingança dos povos que perderam o Oriente e começaram a perder a África não poderá ser um sucesso na base do sintético.
É certo que estamos chegando a um momento em que teremos todos de, numa tomada de consciência universal muito séria, medir as nossas responsabilidades e os perigos a que nos estamos expondo pelo tratamento bárbaro da natureza, pelo nosso comportamento agressivo em face dela, que saqueamos numa desenvoltura desumana e profundamente criminosa. O assalto a que temos dado a nossa contribuição para usufruir bem-estar material imediatista, com ignorância ou desprezo pelo desacerto dessa política tão danosa ao nosso futuro, precisa parar. Deve cessar. Nem por isso, isto é porque temos vandalizado o patrimônio imenso e admirável da natureza em qualquer latitude em que vivemos, mas preferentemente nos mundos tropicais, chegaremos à conclusão perigosa de que a primeira conseqüência seria a de que as matérias-primas, extraídas da natureza, em seu estado de primitividade ou através da ação do homem nas culturas extensivas que faz com o uso e abuso dos adubos, estariam faltando, donde a conveniência da adoção da política de produção dos sintéticos, produção em grande estilo, muito mais cara que a outra, a exigir equipes técnicas de alta qualificação e o emprego de capitais muito maiores que aqueles investidos na produção da matéria-prima natural. Dar-se-ia, então, uma inversão no problema. Porque iríamos entregar novamente a produção aos poderosos de todas as horas, desse modo passando os sintéticos a constituir um perigo à existência livre dos povos menos beneficiados pela técnica e pelos capitais financeiros. Sim, porque só esses países estariam em condições de atuar, governando os mercados de produção e de consumo.
Acontece que as necessidades do mundo não diminuíram. Ao contrário, desenvolvem-se, aumentam. E se desenvolvem principalmente porque também cresce o padrão cultural dos povos e cresce grandemente a população do mundo, portanto as solicitações de mercadorias industrializadas.
Ora, se essas necessidades aumentam, como aumenta a população, é de ver que nem os sintéticos serão suficientes nem farão a concorrência mortífera às matérias-primas naturais, como pressagiam as vozes agourentas dos que se deixam impressionar facilmente pelo êxito invulgar, como obra de técnica avançada do século XX, é certo, daqueles mesmos sintéticos.
Num livro admirável, como grito de alarme, como advertência, como análise de nossa posição em face do que temos ao nosso dispor e utilizamos com tanto desamor ou tão desapiedadamente, La Planête au pillage,(1) Fairfield Osborn passou em revista a destruição da Terra por efeito do superpovoamento e do uso indevido dela, assinalando a tendência que possuíamos para essa obra de destruição das fontes de vida. Examinando o problema no particular do continente africano, Jean Paul Harroy, com larga experiência no trato daquele mundo tropical, detalhou (2) o que vem sendo, a degradação dos solos africanos. Seja pela ação dos próprios nativos, seja pelos europeus colonizadores, aqueles



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1 Paris, 1948.
2 Afrique terre qui meurt, Bruxelas, 1944.

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ignorantes do que estão fazendo e estes indiferentes ao vandalismo a que se entregam, degradação que preocupa hoje os responsáveis pela existência dos impérios coloniais ali ainda existentes mas não logram provocar as soluções que os homens de ciência, em reuniões realizadas, estudos feitos, já aconselharam e têm procurado executar. Operação velhíssima, essa da destruição das fontes de vida, em nenhum momento atendemos às observações dos que existiram em todos os tempos e pediram um pouco de demência para com a terra e seus elementos integrantes. No caso particular da Amazônia, para ficar logo em casa, será suficiente recordar que todo o processo de sua ocupação, a começar do século XVII, vem sendo realizado com a atuação nefasta do homem. (3) Os portugueses de Lisboa expediam ordens e mais ordens visando á defesa da natureza no seu potencial florestal e na sua riqueza animal. A legislação a respeito é abundante. Nunca, todavia, foi cumprida, obedecida. Como posteriormente, sob o Império e sob a República. Exemplifiquemos com os quelônios. Em quanto poderíamos avaliar as tartarugas na região no momento da chegada dos europeus? Nenhuma estimativa foi elaborada. Nenhuma avaliação foi feita. Considerada infindável pelo colono a “apanha” de tartaruga, que não servia apenas de base alimentar, mas igualmente em outros usos domésticos, inclusive o óleo para a fabricação de velas ou de condimento, apesar das instruções vindas do Reino para impedir a agarração e a matança impiedosa, essa agarração e essa matança se operaram, ininterruptamente. Não foi interrompida depois da Independência. (4) Silva Coutinho, que examinou o assunto com a serenidade de um homem de ciência, registrou algarismos impressionantes. Será suficiente este: só no ano de 1719, para as 192.000 libras de manteiga de tartaruga exportada pela Capitania de São José do Rio Negro, hoje Estado do Amazonas, foi necessário exterminar 24 milhões de tartarugas!!!
Na atualidade, a aquisição de uma tartaruga, em Belém ou Manaus, é operação cara, difícil. Porque elas não existem mais, não só naquelas proporções dos tempos coloniais, mas na medida das exigências de mercados normais, pequenos, como são os daquelas duas cidades. Custam fortunas e são escassas, escassíssimas. As garças, abundantes também na região, perseguidas sem cessar para a obtenção de plumas solicitadas pelos mercados de elegância da Europa, constituem outra espécie que vai rareando. O “galo da serra”, que se escondia no alto rio Negro, é hoje praticamente inexistente. Como vários outros espécimes da fauna selvagem regional, que desaparecem ante a fúria dos que os perseguem



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3 No tocante ao Brasil em geral, pode ser consultado o livro magnífico de Wanderbilt Duarte de Barros, A Erosão no Brasil, Rio, 1956. Sobre a ação dos colonos portugueses na Amazônia, desrespeitando a vontade expressa de Lisboa, cf. o ensaio de nossa autoria, intitulado A Política de Portugal no vale amazônico, Belém, 1940.

4 Cf. SILVA COUTINH0, na memória escrita a pedido de Emilio Goeldi, in Boletim do Museu Goeldi, tomo 4, Belém, 1906; JOSË VERISSIMO, A Pesca na Amazônia,
Rio, 1895.



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para o comércio lucrativo dos couros e peles. (5) Ocorreu o mesmo com o pau-rosa na Guiana Francesa.
A destruição das riquezas da terra, pelo seu uso irregular, sendo uma nociva constante no comportamento humano, apesar do progresso cultural que atingimos, progresso que não conhece teto no espaço nem medida no tempo, tem aumentado. As reflexões dos homens de ciência e as medidas adotadas pelos Governos não vêm sendo suficientes. Degradam-se os solos sem cessar. Desplantam-se regiões, levando ao desértico, provocando o despovoamento, criando a miséria. Nem por isso, no entanto, as matérias-primas vegetais e animais, como os minerais, vêm deixando de abastecer os mercados em ascensão permanente. Sua produção não cessa. Ao contrário, intensifica-se. O relatório intitulado Recursos para a liberdade, referindo-se, por exemplo, aos Estados Unidos nas suas imensas necessidades de consumo de matéria-prima, depois de 1959, chama-a de gigantesca... Esse consumo não se processa no mesmo nível em todas as nações. Os desequilíbrios são imensos; as distâncias, amplíssimas. Embora, aumentem as solicitações dos mercados, que impõem, desse modo, o aumento da produção. Como assinala J. Gottmanm, “o convite constante do consumo, sem ter, ainda de longe, atingido quantidades que satisfaçam a sede atual do mundo é entretanto impressionante”. (6)





Outra característica do século XX é o seu desenvolvimento demográfico verdadeiramente gigantesco. Em 1650, a população do mundo estava calculada em 450 milhões de indivíduos; em 1850, em 1.100 milhões; em 1900, em 1.195 milhões; em 1940, em 2.150 milhões. Segundo Landry, (7) a Europa contribuía para esse algarismo final com 530 milhões, a América com 271 milhões, a África com 153 milhões, a Oceania com 10 milhões e a Ásia, nela incluída a Insulíndia, com 1 .185 milhões. Em 1956, na conformidade com as estatísticas da ONU, os algarismos já são os seguintes: Europa, 610 milhões; América, 366 milhões; África, 215 milhões; Oceania, 14 milhões; Ásia, 1.480 milhões. Esta, em 1650, não passava dos 300 milhões, superando a Europa em 200 milhões. A grande concentração humana era, e continua sendo, uma constante asiática, constante profundamente perigosa pelo que podia e



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5 O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia confiou ao Sr. Manoel Nunes Pereira uma investigação acerca da caça e pesca na vida regional, inclusive no particular dos aspectos destrutivos por que vem sendo realizada essa atividade econômica.

6 Les marchées des matières premières, pág. 31, Paris, 1957. Cf. também M. F. TABAH, La population du monde et les besoins en matière premiière, in Population, out./dez. 1953.

7 Traité de Démographie, pãg. 66, Paris, 1945.



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pode representar no ajuste de contas das velhas civilizações que ali se haviam desenvolvido e no decorrer de quinhentos a novecentos tinham experimentado um retrocesso de que era acusada a Europa dos descobrimentos geográficos e do colonialismo impenitente. Ademais, tais grupos humanos asiáticos se desenvolveram igualmente qualitativamente. A aspiração de ascensão cultural neles é hoje outra preocupação, como foi ontem a aspiração política de independência, por fim alcançada.
Para Jacqueline Beaujeu-Garnier, há, presentemente, uma média de 18 habitantes por quilômetro quadrado no conjunto do mundo. (8) Na África, todavia, como unidade, vivem em cada quilômetro quadrado apenas 6,7 habitantes; na América, 8 e na Oceania, 2. Na Ásia, a situação altera-se profundamente — 50 habitantes. Em face do quadro tão sensacional, a pergunta natural é essa — por que o crescimento da população do mundo está alcançando estes algarismos? As previsões alarmistas de Malthus estarão certas? Haverá alimentos e espaço para satisfazer dietas e acolher toda essa multidão? Haverá necessidade de apelar-se para a política da limitação de nascimentos, ou apelar para as soluções violentas das guerras? O espaço terrestre será suficientemente grande para permitir que continue, sem alterações substanciais, o aumento demográfico?
A explicação tem desafiado os demógrafos e os outros estudiosos dos problemas da habitabilidade da Terra. Para uns, o crescimento vertiginoso é uma conseqüência imediata das transformações conquistadas pelo homem com os progressos das ciências e das técnicas que criaram condições várias mais saudáveis para a espécie humana. Mais — das vitórias alcançadas sobre as doenças, o que importaria na diminuição da mortalidade, no aumento da longevidade dos homens, no aumento da natalidade. (9) Para Josué de Castro, a explicação deve ser encontrada no estado de fome crônica que atormenta certos setores ou áreas da Humanidade. Essa fome crônica determinaria uma excitação da capacidade reprodutora dos homens, a exaltação das funções sexuais. E como justamente na Ásia, onde o estado de fome crônica e não de fome aguda, que seria aquela momentânea, episódica, que ao contrário forçaria a inapetência sexual, é uma realidade constatada através dos séculos, o acréscimo demográfico tem apresentado índices altíssimos, verdadeiramente espetaculares.(10)
O exame do comportamento humano, no que diz respeito ao seu aumento numérico, não se encerra, porém, com estas explicações ou na simples constatação do fato físico do crescimento. Porque se agrava diante das perspectivas de que não cesse o desenvolvimento demográfico.

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8. Geographie de la Population, T. 1. pág. 35, Paris, 1956.
9. A bibliografia que procura explicar o fundamento da velocidade do crescimento populacional é imensa. Gaston Bouthoul é o autor do livro mais recente a respeito. Intitula-se La Superpopulation dans Ie monde, Paris, 1958.
1O. Geopolítica da fome, Rio, 195 1.

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Mesmo que se conservem, para o futuro, espaços livres visando à localização das disponibilidades populacionais das regiões mais afetadas pelo desequilíbrio social e econômico.
Como assinala Castro Barreto — “Os dois bilhões e setecentos milhões de habitantes do planeta atualmente aumentam de 80 mil por dia ou cerca de 29 milhões por ano. Entre 1900 e 1950, a população mundial aumentou em 850 milhões e o ritmo desse crescimento tende a acelerar-se, esperando-se para 1980 mais 1 bilhão, 174 milhões, isto é, mais 324 milhões neste curto período. Só a Índia contribui com 5 milhões anualmente para esse crescimento. As previsões para o ano 2000, no ritmo atual, dão mais 1 bilhão, o que, vale dizer, dentro de 44 anos teremos 3.700 milhões de habitantes. II No Congresso Mundial de População, reunido em 1954, as conclusões foram ainda mais alarmantes - em 1980, 3.600 milhões. (12)
As perspectivas são, portanto, assustadoras. Porque não há qualquer esperança de que este ritmo de crescimento se interrompa. Dir-se-á que, exata a tese de Josué de Castro, a modificação do regime de vida alimentar das populações asiáticas, que são as mais alarmantes em desenvolvimento numérico, ou, como diz Castro Barreto, as que apresentam uma densidade patológíca, poderia constituir uma contribuição expressivíssima para conter a corrida ou revolução demográfica, assegurando melhores dias à Humanidade. Se já se fala em algarismos mais gritantes, mais alarmantes — para o ano 2000— 6 bilhões. 13
Como proceder? Como solucionar o problema? Ë preciso não ignorar que “a China, com a sua população crescendo com uma taxa anual de 2%, já atingindo 602 milhões (1953), ou seja, um aumento anual de 10 a 12 milhões de habitantes, considera entretanto esse crescimento demográfico perfeitamente aceitável ao mesmo tempo que eleva a condição do seu povo com a nova orientação política unificando a nação, utilizando as riquezas naturais e evitando as fomes.
Entre 1881 e 1931, a população da Índia cresceu 113 milhões, ou seja, numa ordem de grandeza de 10,60/o; entre 1931 e 1941, aumentou 56 milhões, ou seja, 15%; na última década, de 1941 a 1951, o aumento foi de 43 milhões, ou seja, 13,5%. Na situação atual, com a melhoria geral das condições, a tendência é para um percentual maior no crescimento.’’( 14)
Não devemos esquecer, lembra ainda Castro Barreto, que “o controle da natalidade não é uma medida facilmente aplicável a qualquer população. São precisamente aqueles que se encontram sob maior pressão demográfica que oferecem maiores dificuldades para essa providência



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11 “A superpopulação da terra e suas perspectivas”, in Revista Brasileira de Estatística, n.0 68/70, pág. 18, Rio, 1957.
12 Cf. MARTIN BRUGAROLA, 5. J. El Drama dela población. Pág. 78, Barcelona,
1958.

13 Cf. LOURIVAL FONTES, Política, Petróleo e População, pág. 69, Rio, 1958.

14 CASTRO BARRETO, artigo cit. pág. 19.



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atenuadora dos seus sofrimentos. As populações asiáticas da Índia e da China, por motivos culturais e religiosos, desdenham o controle das dimensões da família que tanto as pouparia de tanto sofrimento e miséria e oferecem resistência à restrição do número de filhos. A proliferação inconseqüente prossegue agravando cada ano a extensão do mal,
crescendo na Índia, por exemplo, 5 milhões de habitantes por ano
Na China, a diminuição do potencial demográfico espera-se que possa ser alcançada através da política visando à limitação dos nascimentos. Nos primeiros momentos da fase marxista que vive aquele pais, essa limitação foi considerada. Imaginou-se que uma produção alimentar maior, a distribuição das terras e a industrialização bastassem como solução. A superpopulação parecia um problema apenas para os paises capitalistas. Verificada a insuficiência daquelas medidas, o Governo de Pequim passou ao sistema das limitações, aceitando como verdade que a superpopulação não é problema próprio dos países capitalistas. (16)
Quanto à Índia, a política de limitações não tem encontrado eco. E melhorando as condições sanitárias, as perspectivas são mais angustiantes. (17) O quadro indiano é, pois, mais dramático que o chinês. Além do espaço onde localizar os milhões de seres que já não têm mais onde instalar-se, há, de outro lado, a situação grave do abastecimento alimentar. Já no Exterior viviam 3.768.000 indianos. Será essa a solução? Esses 3.768.000 indianos representariam, porém, menos de um por cento da atual população da Índia, que é de 480 milhões, ou seja, 18% da população mundial.(18).




A alimentação que vem sendo produzida não está sendo suficiente, nem quantitativa nem qualitativamente, para o sustento dos grupos humanos que crescem na forma por que assinalamos páginas atrás. O estado de fome endêmica, conseqüentemente, assume caráter verdadeiramente perigoso à estabilidade social, pondo em graves riscos instituições e soberanias. Não há exagero na conclusão. Os dados estatísticos que a FAO vem publicando acerca da matéria são ilustrativos acerca desses aspectos gritantemente graves do problema. Por eles, verifica-se que há um tremendo desequilíbrio entre regiões, continentes, uns mais ou menos regularmente abastecidos, satisfeitos em suas necessidades,



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15 CASTRO BARRETO, art. cit. págs. 21-2.

16 ALFRED SAUVY, La population de la Chine, Novelies donnés et novelle politique, in Population, n.0 4, Paris, 3957.

17 GILBERT ETIENNE — “La population de l’Inde. Perspectives demographiques et allmentaires”, in Population, n. 4, Paris, 1957.

18 J. BEAUJEU-GARNIER, Geographie de la population, T.2, pág. 364, Paris, 5958.



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outros não dispondo de recursos para obtenção de um mínimo ou não possuindo os recursos alimentares com que matar a fome de suas populações, seja a fome epidêmica, seja a fome chamada crônica ou endêmica. E a história ensina que em todos os tempos os que sofrem de fome não medem meios para obter alimentos, indo ao extremo dos pronunciamentos populacionais que podem pôr abaixo regimes e governantes.
A Europa, o Canadá e os Estados Unidps, a Austrália e a Nova Zelândia, segundo os quadros estatísticos e os inquéritos que se vêm realizando com certa freqüência e rigorismo científico, vivem uma vida de abastança. Não lhes faltam aqueles elementos nutritivos indispensáveis. Os Estados Unidos, como poucas nações do mundo, alcançaram, aliás, um grau de bem-estar alimentício verdadeiramente sensacional. Na Europa, paises como a Grã-Bretanha, a Holanda, a Dinamarca, a Noruega e a Suécia 19 possuem dietas alimentares que lhes garantem uma população em condições de realizar bem as suas tarefas diárias e produzir as riquezas essenciais ao pais em ritmo normal, e muitas vezes dinâmico. Já não sucede o mesmo, todavia, com os países da América ibérica, exceção da Argentina e do Uruguai. Pagam todos a sua quota de sacrifício, sem dispor do suficiente às solicitações de suas populações que aumentam em ritmo bastante apreciável. 20
No particular da Ásia e da África, a situação apresenta-se catastrófica. O crescimento da população ultrapassa todas as possibilidades de sustento, não havendo, em conseqüência, os alimentos essenciais ao equilíbrio dos habitantes. 21
Segundo a informação de Marin Brugarola, 22 morrem presentemente de fome, no mundo, 30 a 40 milhões de pessoas. Entre 1948 e 1950, adianta o mesmo autor, as disponibilidades alimentícias por habitante não tinham alcançado o nível das disponibilidades anteriores ao conflito universal, com a agravante de que havia milhões de seres carecendo de comida.
Segundo cálculos recentes, divulgados por aquele demógrafo espanhol, na Sul-América, o número de subalimentados compreendia mais



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19 Isso não significa, porém, que nos Estados Unidos não haja regiões que padeçam do estado de fome. Essas regiões existem no chamado velho sul, isto é, aqueles trechos da grande nação que constituíram a mais antiga colonização, realizada na base da escravização do negro e de uma economia do tipo da que foi operada no Nordeste do Brasil. Na generalidade, todavia, a situação alimentar norte-americana é boa;

20 Além do livro de Josué de Castro, há hoje abundante bibliografia a respeito das condições alimentares da América ibérica. De todos os países o mais afetado é a Bolívia. Cf. PEDRO ESCUDERO, El presente y ei futuro deI problema alimentario en Bolivia. Buenos Aires, 1947.

21 Cf. S. CHANDRASEKHAR, Pueblos hambrientos y tierras desprobladas, Madrid,
1957; J. BEAUJEU-GARNIER, Geographie de la population, T. 2, Paris, 1958;
CHARLES ROBEQUAIN, Le Monde malais, Paris,l946; MICHEL CEPEDE e
MAURICE LENGELLS, Economie alimenta ire du globo, Paris, 1953.

22 El drama dela población, pág. 95.



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de dois terços da respectiva população. No Oriente, todavia, as condições eram ainda mais alarmantes, pois os subalimentados somavam 90% dos habitantes! Se 30% da Humanidade consome 80% dos bens alimentícios, registrando-se, portanto, que os 70% restantes dispõem apenas de 20%, que lhes sobram. 23
As técnicas agrícolas, nos Estados Unidos, no Canadá e na Austrália asseguraram àqueles países um padrão de produção alimentícia que explica a euforia que desfrutam. Já na Índia e na China, ocorrendo a circunstância de a atividade agrícola permanecer submetida a processos rotineiros, e só agora experimentando transformações substanciais. Na China, principalmente, essa produção não alcança índices satisfatórios, explicando-se assim o desequilíbrio tremendo que ali ocorre. 24 Na África, só agora os governos colonialistas procuram enfrentar o problema, fazendo produzir alimentos em quantidades apreciáveis e que concorram para o levantamento dos padrões de vida das populações aborígines. E que ali aconteceu o que era fatal, dadas as políticas de imprevidência ou de exploração que caracterizaram a ocupação da África pelos europeus nos séculos passados, além da exportação de africanos nas condições de escravos — o regime alimentar vigente fora alterado profundamente. Introduziram-se espécies novas, modificando-se a dieta a que estavam habituadas as populações nativas. Com a modificação, alteraram-se substancialmente certas condições existenciais daquele continente o que comprometeu o crescimento da população 25
Ora, apesar de todos os programas, todos os clamores, todas as críticas feitas, as sugestões apresentadas, nada de prático vem sendo realizado em grande estilo, no sentido de pôr termo ou mesmo minorar essa situação que aflige a Humanidade. Quando dissemos no começo que esse estado de carência podia trazer como conseqüência profundas mudanças no equilíbrio social, não estávamos afirmando apressadamente. Em face dos algarismos que aqui enunciamos poderá chegar-se a outra conclusão? Alguém poderá duvidar que esses povos famintos não se decidam a procurar o alimento de que carecem em outros pontos da Terra, onde encontrem possibilidades em espaço e em produtividade da terra? E justamente esses milhões de seres não vivem nos trechos do


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23 Op. cit., pág. 99 e III.
24 Sobre a China, há que referir as alterações profundas que vem sofrendo e em torno às quais há um bom documentário nos estudos: de GEORGES DAVIDOFF, Dela medicine et de la securitê sociale en Chine, e de ALFREDO SAUVY, “La population dela Chine. Nouvelles donnés et nouvelle politique”, ambos em Population, n.0 4, Paris, 1957.

25 A propósito, Pierre Gourou apresentou ao III Coloquium Luso-Brasileiro de Estudos, que reuniu em Lisboa em 1957, interessantissima tese intitulada “Les plantes alimentaires americanes en Afrique tropicale; remarques geographiques”, e em que examinou o problema, evidentemente como uma contribuição para investigação de maior tomo. A matéria vem sendo considerada por outros especialistas nos problemas africanos, como se pode verificar do capitulo pertinente da Geographie dela Population, n.0 2, vol., de Jacqueline Beaujeu-Garnier.



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mundo onde não há mais possibilidade de um palmo de terra por ocupar na tarefa de produzir alimentos? Os alimentos sintéticos serão suficientes? Resolverão o problema?
Chandrasekhar, ao estudar, com a autoridade que ninguém lhe nega, o que ocorre no mundo dos povos famintos e das terras despovoadas, apôs a análise penetrante e irrecusavelmente exata do quadro alimentar e populacional da Índia, da China, do Japão, recordou que, crescendo a população mundial em cerca de 20 a 22 milhões de pessoas por ano, não ocorria idêntico crescimento no tocante aos gêneros alimentícios. E certo que será possível aceitar-se a tese de que a má distribuição, o baixo poder aquisitivo e a má produção constituem fatores que não devem ser desprezados ao equacionar-se o problema da fome. Sendo assim, tendo eles o peso ponderável que muitos pretendem, então o problema perderá em muito a importância por que se está apresentando uma vez que sua solução estará no entendimento pacifico entre os povos abastados e os povos famintos, mudanças de técnicas de produção, financiamento por intermédio dos órgãos especializados internacionais, e uma rede de distribuição mais perfeita que proceda à entre g a de alimentos de maneira a que ninguém mais possa afirmar que tem fome. O simplismo da tese, todavia, encontra resistência na experiência e na eloqüência dos algarismos e dos fatos. Os entendimentos vêm sendo processados. Nem por isso, o problema foi resolvido de maneira a lhe pôr fim a gravidade. E a solução que mais está despertando interesse é aquela ligada ao aproveitamento das áreas onde o homem ainda não realizou a atividade criadora, portanto, árias que constituem verdadeiros convites à iniciativa, ao capital, às técnicas avançadas, à coragem e à decisão dos povos fortes e onde se espera que possa ser criada uma fonte de suprimento alimentar.
A ocupação da terra foi feita pelo homem desordenadamente. Era natural que assim fosse. Sem considerar o futuro e na ignorância de que estava trabalhando contra as gerações de amanhã, destruiu florestas, secou rios, removeu dificuldades criando problemas para amanhã. Em todos os continentes ocorreu esta maneira de agir desastrada e imprevidente. O pior, porém, é que, sem querer aprender a lição da experiência, prosseguiu na tarefa condenável, desatento a tudo e a todas as previsões dos que se alarmavam com a conduta criminosa, destruindo, com a sua teimosia, as esperanças e as possibilidades dos que deviam sucedê-lo. Ao mesmo tempo que assim agia, crescia numericamente numa proporção maior que aquela que seria aconselhável em face dos próprios recursos de que dispunha para trabalhar e para viver. O espaço sobre que agiu aqui e ali começou, então, a tornar-se pequeno. As migrações pacíficas ou violentas que realizou não resolveram a situação que fora criando. As técnicas aperfeiçoadas que começou a empregar também não contribuíram para a solução ideal nem para a solução definitiva. A terra continuou a ficar pequena. Por que nem toda ela está em condições para receber os grupos humanos que desejem utilizá-la para a obtenção de alimentos ou para a exploração econômica de rendimento apreciável, que autorize o bem-estar ou mesmo a condição mínima de vida? Os limites da terra, limites da terra habitável, isto é, que possa ser trabalhada, são reais? (27) É essa hoje, aliás, uma das mais graves cogitações dos organismos internacionais, de governos nacionais e de grupos que tomaram consciência da situação e procuram resolve-la dentro de programas executáveis.
E certo que há ainda vastas áreas do mundo que não receberam ocupação nem foram exploradas convenientemente. Constituem verdadeiros espaços abertos que representam convite aos povos capazes, problemas políticos dos mais sérios e desafiam a inteligência e as planificações pragmáticas de seus estadistas, O acesso a tais áreas será, porém, tão fácil que possam ser ocupadas sem que surjam incidentes ou produzam o rendimento necessário? Essas áreas desocupadas apresentam condições de habitabilidade? Permitirão que nelas se crie gado, haja lavouras de subsistência, exploração do subsolo, mobilização de braços na produção agrária, de alto valor econômico? O clima dessa área permitirá que povos de todas as latitudes vivam nelas com a sua capacidade de reprodução, com seu potencial de trabalho e em perfeito funcionamento? Sobre tais espaços não haverá o exército tranqüilo e centenário de soberanias nacionais, que não lhes cederão o uso sem ajustes, muito seguros, sem imposições, sem medidas acauteladoras de seus interesses, sem perda de seu império político? Em face de conceituação nova criada pelas exigências internacionais, decorrentes do crescimento social e da diminuição do espaço econômico, ainda vigorarão os princípios das soberanias nacionais?
Não resta mais dúvida de que o homem pode viver em qualquer trecho do mundo, com a sua capacidade de reprodução e seu potencial de trabalho em perfeito funcionamento. Aquelas teses da inaptabilidade de certas espécies humanas a determinados pedaços da terra não podem ser consideradas mais na categoria das conclusões científicas. O homem vive nos trópicos secos e úmidos, nas regiões mais frias, nas zonas temperadas. Adapta-se a todas elas. Vence em todas. Para isso progrediu e descobriu processos para sua adaptação, que lhe asseguraram o maior êxito. 28 O que não estará certo é o homem nórdico querer viver nos trópicos secos ou úmidos com os mesmos processos existenciais que adotou em sua terra de origem. Terá que ceder aos imperativos mesológicos



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27 Cf. F. OSBORN, Los limites dela tierra, México, 1956.
28 Cf. JOSÉ DE PAIVA BOLEO, As falsas nações acerca das possibilidades das terras e das populações intertropicais, Bissau, 1950; Clima e Coloniza çio, Lisboa, 1952; Determinismo antropogeográ fico, Lisboa, 1936; ELLSWORTH HUNTINGTON, Civlización y clima, Madrid, 1942; MAX SORRE, Fundements de la Géagraphie humaine, vol. 1.0, Paris, 1947; GEORGES HARDY, Geographie & Colonisatian, Paris, 1933.



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condicionada sua existência a um certo número de regras que resultam do novo meio em que pretende realizar-se como unidade social ou como membro de uma coletividade. Nessa tarefa ou aventura de domínio que o homem exercita sobre qualquer trecho do mundo onde pretenda instalar-se, o que deverá ser considerado mais vivamente será se essa terra está em condições de recebê-lo, apresentando aquelas condições mínimas. O progresso das técnicas, em matéria de tratamento de solos, todavia, já não admite mais, também, que se afirme que estas ou aquelas terras são impróprias à vida humana. Todas elas podem ser empobrecidas, e esse tem sido o mais intenso da ação humana, insistamos, como todas elas podem ser enriquecidas, recuperadas, tornadas capazes de reagir às solicitações que lhes façamos para que se tornem boas, úteis, produtivas, amigas da espécie humana. Os adubos vegetais, animais ou minerais, as maneiras de tratar os solos, recompondo-se, zelando para que não se lateralizem, os reflorestamentos, os canais de irrigação, todo um vasto empreendimento cientifico está hoje ao dispor da Humanidade para que ela vença tais dificuldades e possa possuir terras em porção bastante, pelo menos no século que estamos vivendo, para que sua existência descanse um pouco das aflições que experimenta.
Quais serão, porém, esses espaços abertos, isto é, que ainda não foram ocupados ou estão ocupados insatisfatoriamente, proporcionando um vasto campo para os excedentes populacionais? Essas áreas são encontradas na África central, na América do Sul, nas partes central e setentrional da América do Norte, na Austrália e em ilhas do Pacifico. São considerados países vazios, isto é, cujas terras apresentam densidade demográfica baixíssima — a Nova Guiné holandesa, Papua, Nova Guiné australiana, Bornéu, Austrália, América ibérica tropical, África tropical, Nesta, segundo Chandrasekhar, a densidade por quilômetro quadrado é de 4,5. Na América ibérica, aqui incluído o Brasil, 3,9. A Austrália, para exemplificar, com uma extensão de 7.704.000km2, tem presentemente população de apenas 7 milhões, com a densidade de um habitante por quilômetro quadrado. Cerca de 40 milhões de hectares de terras cultiváveis em termos de freqüência de chuvas e de clima ameno estão ali situados. Pois desses 40 milhões apenas 9 milhões foram utilizados. Dir-se-á que a Austrália é um continente que apresenta verdadeiros desertos, que assim tem permanecido à falta de condições de habitabilidade. Seus geógrafos, contestando a tese da possibilidade de todas as terras serem utilizadas pelo homem, tese que consideram um mito, alegam que esses desertos são um desafio. Conseqüentemente, além daqueles 30 milhões ainda disponíveis nada mais haverá na Austrália, que, assim, não deverá estar contida na relação dos chamados espaços abertos. Evidentemente, os geógrafos australianos não atentam para os êxitos da ciência na sua empresa de vencer os solos, transformando-os, recuperando-os, vitalizando-os. Esquecem que os desertos estão sendo conquistados, vencidos. Tanto os desertos naturais como os que o homem criou com suas práticas criminosas. Os casos de Israel e do Saara são de nossos dias e estão ao nosso dispor para a observação do sucesso. Depois do que ali se realiza, poderemos falar em desertos impróprios à vida humana? 29 A Austrália, queiram ou não, é, pois, um espaço aberto. Um imenso espaço aberto. No particular da Africa, recordemos que sua extensão representa 23% das terras do mundo. Sua população, 7% da população do universo. E, pois, insista-se, um deserto. No quadro político, são apenas 7 os Estados soberanos, permanecendo quase a totalidade do espaço em mãos das potências colonialistas.
Na Ásia, já não ocorre o mesmo. Mas suas populações, em especial na China e na India, não dispõem de terras para ocupar. Começam a movimentar-se, impacientes.
Quanto à América ibérica, as áreas desérticas existem no sul do continente. Nem mesmo a Argentina, para onde convergiu a multidão emigrante nos séculos XIX e princípios do XX, pode falar que seu território já foi totalmente ocupado. O mundo amazônico, do Brasil, da Bolivia, do Peru, do Equador, da Colômbia e da Venezuela, num total de 6 1/2 milhões de quilômetros quadrados, esse é, porém, o grande deserto. Como unidade continuada e de características uniformes, não há, em qualquer parte da Terra, maior área desértica.
O mundo por ocupar não é, portanto, pequeno, como se supôs. Seus limites não são tão apertados. Seus recursos podem ser aumentados. O superpovoamento da Terra não constitui, não resta dúvida, conseqüentemente, um perigo à estabilidade social, ao equilíbrio das nações. Os territórios coloniais da África serão assim, só eles, um imenso ambiente acolhedor para os excessos demográficos do Oriente.
Um dos assuntos cruciais dos tempos que estamos vivendo é, todavia, esse da liberdade dos povos de cor, que não se comportam mais com aquela passividade do passado e reagem com violência para alcançar um novo status político. E com esse desassossego, que atormenta as nações colonizadoras do Velho Mundo, começa a pôr-se fim ao chamado colonialismo para ingressar-se num mundo em que todos tenham o direito de dirigir-se, compondo-se politicamente, assegurando-se a condição soberana que os povos do Novo Mundo conseguiram atingir ainda em princípios do século XIX ou fins do século XVIII, como foi o caso dos Estados Unidos.


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29 Cl’. E. F. GAUTIER, Le Sahara, Paris, 1946; JEAN POUQUET, Les deserts, Paris,
1951; ANDRE CHOURAQuI, L’État d’israel, Paris, 1955; PIERRE PARAF,
L ‘État d’Israel dans le monde, Paris, 1958.
30 A. D. C. PETERS0N, L’Extreme-orient, Geographie sociale, Paris, 1951; BRUNO DEOSKER, Les peuples deI ‘Asie en mouvement, Paris, 1946.
31 J. EHRHAND, Le destin du colonialisme, Paris, 1957; JUBERT DESCHAMPs, Le fin des empires coloni ux, Paris, 1950.

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in: A Amazônia e a cobiça internacional. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1982. pp. 169-182.

Cuscuz, pupunha ou tucumã

Cuscuz, pupunha ou tucumã

Rogel Samuel

Volto do supermercado com algumas compras triviais. Mas na sacola trago um Camemberg e uma baguete. E pronto, me sinto na França, mais precisamente em Marlenheim, que quase não é francesa, onde morei por um mês. Milagre da queda do dólar: estamos no mundo globalizado, onde podemos ter essas iguarias na mesa do café. Sim, mais fácil do que as delícias amazonenses, como a pupunha, a tapioca e o cuscuz. Mesmo em Manaus, agora, não é fácil você comer um cuscuz como deve ser: milho cozido, depois ralado. O verdadeiro cuscuz é feito com a massa de milho, pilada, temperada com sal. É cozido no vapor da água e depois umedecido com leite de coco. Com manteiga. Nada de farinha de trigo industrial, não presta para o cuscuz. O milho cozido deve ser ralado, portanto o cuscuz tem fragmentos de grãos de milho. Iguaria muito difícil de conseguir. É mais pegar um avião e ir a Paris comer um cuscuz marroquino, no “Le Roi Du Cuscuz”, no Boulevard de Grenelle, entre os metrôs Motte-Picquet e Duplex, onde fica aquela feira dominical que adoro e vende de tudo, como discos e DVDS por preço irrisório, e onde encontrei um raro CD de Nelson Freire jovem. Um restaurante libanês, que faz aquelas comidas gordurosas e excelentes, cheias de colesterol, com o apetitoso cuscuz que é um prato originado do Maghreb, região do Norte da África. A música é daquelas cantoras árabes que rebolam chorosas, gozosas, lânguidas, gordas e sensuais. A decoração faz parecer que estamos dentro de uma tenda marroquina, bom preço, barato, delícia. Podemos tomar café com cuscuz, com pupunha ou tucumã, sobre o qual escreveu Luiz Bacellar:

do teu minúsculo coquinho
relatam lendas milenares
brotaram sono, amor, carinho,
a lua e outras luminárias;
onças e pássaros noturnos
quando em teu bojo se escondia
dele fugiu com ares soturnos
enquanto o breu se derretia;
tu fostes a caixa de Pandora
das tribos bárbaras de outrora
e a cor das asas da graúna
saiu de ti como um trovão
para que a filha da boiúna
pudesse amar na escuridão.

terça-feira, 27 de maio de 2008


Books of The Times

Home as a Power Base and Balm to an Arid Heart

By RICHARD EDER


THE HOUSE ON FORTUNE STREET
By Margot Livesey.
320 pages. Harper. $24.95.


The vitamin-deficiency diseases, a longtime scourge in the impoverished corners of the world, are all but unknown in its well-nourished ones. The British novelist Margot Livesey, a shrewd diagnostician of Western mini-maladies, writes of two talented young women whose lives are malformed by what you might call emotional scurvy.

The deficiency that afflicts Abigail, a theater director, and her lifelong friend Dara, a psychological counselor, is a father. Abigail’s was feckless and disengaged; Dara’s left home when she was 5.

The two are the focus of the novel, but Ms. Livesey is after a larger and sharper view of their comfortable world. “The House on Fortune Street” is a title with a sting in its tail.

It refers to the expensive refuge in the Brixton section of London that Abigail remodels to shore against her inner ruins. At the same time “fortune” (a two-faced word that twins precariousness with prosperity) suggests the skull concealed beneath the polished skin of the women’s lovers, parents and friends; and the ambitions, illusions, compulsions and betrayals through which the women stumble.

Concealment is the novel’s deforming villain, an expansive mask borne about upon shriveled, misstepping legs. Whereas subsequent disclosure, with its painful results, sows explosive momentum through a story that otherwise bogs down as it burrows through so many layers of insight that it all but sinks out of sight.

Ms. Livesey uses an interesting device to get to her two main characters. She approaches Abigail initially not through the childhood damage she suffered but through the adult damage she inflicts, mainly upon Sean, her sweet-natured lover. Before getting to Dara, whose suffering proves suicidal, the author devotes a section to Cameron, Dara’s father, a kindly man whose pedophile inclinations, essentially unacted upon, caused his wife, Fiona, to divorce him and, for years, to ban all contact with his children.

Sean, blocked in his efforts to write a dissertation on Keats, makes a meager living as a hack writer in partnership with a friend, Valentine. (One project is a study of how those who assist loved ones to commit suicide pass the time while waiting for them to do it; a husband goes up in a balloon to see if he can spot his wife’s soul rising.)

Peacefully married to a fellow student, Sean was appropriated after a fiery campaign by Abigail, who brings him to live at Fortune Street. Her love life had been a series of casual affairs, two or three at a time, but Sean arouses real passion. For a while. Then she begins charging him rent and, after that, starts an affair with Valentine.

Only in the book’s last section is Abigail shown as something other than monstrously cold, though all along she provides more verve than the other, less vigorous characters. Her father, George, an airy charmer, moved the family every few months without regard to Abigail’s schooling. Determined to study, she left home at 15, took a series of menial jobs to support herself and did well enough to win a university scholarship.

Years later, having made something of a theater career, she goes to stay with George, who is dying of a brain tumor. She demands that he recognize the damage he has done her, but even in pain he is insouciant as ever.

By this time it is evident that Abigail is both a product of George’s fecklessness (those serial and simultaneous affairs, that easy betrayal of Sean) and a reaction against it (her hardworking career and above all her tenacious attachment to Fortune Street).

Abigail’s need for permanence had also forged her attachment to Dara, and to the refuge and support she found as a student in the warm, apparently secure home of Dara’s mother and her second husband, Alastair. (He of course turns out to be a sleaze.) As for Dara, she is a quivering mess, prone to long unhappy affairs and betrayal by other sleazes.

Dara is tedious. A couple of pages are devoted to her migraines. The preceding section about Cameron, her fugitive father, is far more interesting. He is a decent, affectionate man and a loving parent whose struggle to resist his attraction to little girls succeeds (except for a momentary Charles Dodgson-like lapse, when he takes a photograph of one of Dara’s friends half-naked) at the cost of his marriage, his access to his children and semi-darkness of the spirit.

The larger cost, of course, is Dara’s crippling and eventually fatal anguish over his unexplained abandonment. Even when Cameron and Dara come together years later, he can’t bring himself to disclose the real circumstances of his disappearance. Concealment here, as in so much else (Abigail’s adultery, her father’s secretive elusiveness, Sean’s betrayal by his friend Valentine, the phony image of conjugal fidelity in Dara’s stepfather’s home), is the destroyer.

Ms. Livesey’s writing is acutely observant; her psychological algebra is admirable and sometimes astonishing. Except for the wicked Abigail and the part-saintly Cameron, though, her characters tend to resemble algebra’s purposeful X’s and Y’s rather more than the grand purposelessness of the creatures of fiction.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Diário do Povo destaca barrenses no Amazonas


Barras

por Manoel Lages (barras@45graus.com.br)

26.05.2008 | 11:31:34


Diário do Povo destaca barrenses no Amazonas

Artigo publicado pelo escritor Dílson Lages Monteiro na edição de hoje, 26, no Diário do Povo, ressalta a participação de barrenses na História do Amazonas, a partir do novo romance de Rogel Samuel, um dos mais destacados críticos literários do Brasil. Fileto Pires Ferreira e Thaumaturgo, segundo o artigo, tiveram enorme participação na vida política daquela região no final do século XIX. Reproduzimos ao deleite dos conterrâneos o artigo, seguido de entrevista concedida por Rogel, do Rio de Janeiro, onde mora, para Dílson Lages, Ei-la:

Piauienses viraram ficção na Amazônia

TEATRO DO AMAZONAS: romance sobre a casa de espetáculos joga luz nas figuras de Fileto Pires Ferreira e Thaumaturgo de Azevedo
(*) Dílson Lages Monteiro
Especial para o Diário do Povo

Um é descrito como "magro, ágil, elétrico, homem de fino trato, olhar inteligente, meio romântico, ousado, impetuoso, um tanto ingênuo, elegante de espírito (...) bem nascido, família abastada, dona do Norte do Piauí, a terra do gado". O outro, como um combativo homem público de ampla atuação, a seu tempo, no Norte do País. Fileto Pires Ferreira e Thaumaturgo de Azevedo, piauienses que governaram o Amazonas, respectivamente, entre 1896-1898 e 1891-1892, são personagens do romance "Teatro do Amazonas", de autoria do amazonense Rogel Samuel.


A obra conta a história de uma das mais opulentas casas de espetáculos do país, o Teatro do Amazonas, inaugurado em 31 de dezembro de 1896 e, dentre outras características, redimensiona o papel de Fileto e Thaumaturgo na história do Amazonas.
O romance põe em relevo a atuação do protagonista da obra, Fileto Pires, na vida política daquele Estado. Para o autor, Pires Ferreira foi um dos grandes governadores do Amazonas, porém, injustiçado.
Para construir o perfil dos personagens, Rogel realizou vasta pesquisa histórica, vasculhando desde os livros clássicos sobre a história amazo-nense aos estudos genealógi-cos. Até mesmo cemitérios o autor visitou durante a pesquisa. Mas foi na Biblioteca Nacional que encontrou preciosidades, desconhecidas dos piauienses e mesmo de historiadores amazonenses, e, baseado nelas, deu fôlego à obra.
O livro permite mergulhar em detalhes da Manaus do final do século XIX e início do século XX. "A vida em Manaus era exuberante, elegante e rica, e bem alegre, já naquela época. Era o início do apogeu de uma sociedade que enriquecia rapidamente, com a extração da borracha."
Ainda retratando Manaus, no capítulo quarto, o Natal de 1900, descreve o autor:


"Poucos anos depois a economia do Amazonas entrou em decadência e ruína. Ma-naus quase foi transformada numa cidade fantasma. O manto negro de uma recessão a cobriu durante cinqüenta anos, povoando suas ruas uma legião de mendigos. O Teatro Amazonas fechou as portas por meio século e durante algum tempo se transformou em depósito de borracha crua. Todos os espelhos de cristal, os quadros, as estátuas, as cortinas de veludo, os lustres, os tapetes de linho, os jarros de porcelana, os móveis de luxo, as mesas e cadeiras móveis foram roubados."
A publicação dos capítulos de Teatro do Amazonas ocorre originalmente nos endereços eletrônicos Blocosonline e, simultaneamente, em Entre-textos e no próprio site do escritor. A cada quinzena, novo capítulo é publicando nesses sites. Atualmente, 11 capítulos estão à disposição do internauta.
Rogel Samuel é poeta, escritor, webjornalista e colunista do Blocos On Line e Entre-textos, além de ser professor aposentado adjunto e doutor do Departamento de Ciência da Literatura na Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ.
Dentre as suas obras, já publicou: "Crítica da Escrita", em 1979; "Manual de Teoria Literária", já com 14 edições; "Literatura Básica, em 3 volumes, em 1985; "O que é Teolit?", em 1986; "120 Poemas, em 1991"; "Novo manual de Teoria Literária", 4ª. Edição, em 2007 e o romance "O Amante das Amazonas", 2005. O autor assina o blog http://literaturarogelsamuel. blogspot.com/

Romance é publicado na Internet
Como nos folhetins antigos, que tinham seus capítulos publicados nas páginas dos jornais, o autor de "Teatro do Amazonas" usa a rede mundial de computadores e divulga o romance em seu diário virtual.

DIÁRIO DO POVO - Como nasceu, escritor, a idéia de construir este romance?
Rogel - A minha intenção inicial era escrever sobre Eduardo Ribeiro, governador do Amazonas. Cheguei a escrever vários capítulos, que se perderam. Dele pouco se sabe.

DP - O Teatro do Amazonas é o tema de seu romance de mesmo nome. O Teatro foi construído no final do século XIX. Que tempo é esse na narrativa de Teatro do Amazonas?
Rogel - Procuro reconstruir o ambiente da época, ou pelo menos na minha imaginação. É um tempo romanesco.

DP - O romance histórico é resultado não apenas do talento do escritor em escrever ficção, mas também de pesquisa. Quais as fontes de pesquisa em que o senhor mergulhou e que foram decisivas na construção de espaços, personagens e da própria trama?
Rogel - Foram decisivas algumas fontes, como os livros de Fileto Pires Ferreira, Thaumaturgo de Azevedo e Eduardo Ribeiro, que quase ninguém leu. Além de Mário Ypiranga e Genesino Braga.

DP - Um dos protagonistas do romance é Fileto Pires Ferreira, piauiense, que governou o Amazonas. Em linhas gerais, como é o Fileto personagem? Por que ele figura como um dos protagonistas?
Rogel - Fiquei impressionado com o livro de Fileto "A verdade sobre o caso do Amazonas", muito bem escrito. Descobri que, apesar de só governar 19 meses, foi o grande governador de sua época e de todos os tempos no Amazonas. Descobri também que ele é esquecido e injustiçado.

DP - Por que Fileto Pires Ferreira seria um injustiçado na história do Amazonas?
Rogel - Sim, um injustiçado. Era honesto, empreendedor e romântico. Aliás, ainda estávamos no Romantismo, no Amazonas. Fileto amava tanto o Amazonas que seus três filhos tiveram nome de índio.

DP - Pesquisando para construir o romance, o senhor descobriu bastante sobre Fileto e também sobre o piauiense Taumaturgo de Azevedo, outro personagem que integra o enredo. Que informações descobertas sobre essas figuras foram motivo de encantamento?
Rogel - Thaumaturgo foi um herói nacional, mas reconhecido ainda hoje. Governou o Piauí e o Amazonas. Não foi esquecido, como Fileto. Entretanto, não há uma rua ou escola em Manaus com o nome deles. E pouca gente sabe que foi Thaumaturgo quem traçou o plano da cidade de Manaus.

DP - No século XIX, os romances históricos eram declaradamente nacionalistas. Já no século XX, passaram a agregar elementos psicológicos e a voltar-se para as mentalidades em relação ao passado. Qual precisamente o viés de o "Teatro do Amazonas"? A missão dele é reinterpretar o passado?
Rogel - Não sei, ao sabor da pena, não tenho distan-ciamento estético para saber. Só sei é que é algo que estava há muito dentro de mim, e que há muitos anos precisava sair de mim. O viés é pessoal. É um ajuste de contas comigo mesmo, está nas minhas entranhas, no meu sangue.

DP - A publicação dos capítulos ocorre gradativamente em Blocos online, em seu site e no site Entre-textos. O que muda na recepção da obra, em sua análise, quando ela é publicada dessa forma e na internet?
Rogel - Acredito na Internet, creio que por aí se vai encontrar o futuro. O atual governo pretende instalar dezenas de milhões de computadores nas escolas de primeiro e segundo grau, com Internet banda larga. Se não me engano serão 37 milhões. Você pode imaginar o que isso vai significar em número de leitores novos, de futuros leitores. Em breve, cada romance como o meu, publicado na Internet, terá não mais milhares de leitores, mas alguns milhões.

(*) Dílson Lages Monteiro é escritor

VALÉRY: O CEMITÉRIO MARINHO

VALÉRY: O CEMITÉRIO MARINHO





Esse teto tranqüilo, onde andam pombas,
Palpita entre pinheiros, entre túmulos.
O meio-dia justo nele incende
O mar, o mar recomeçando sempre.
Oh, recompensa, após um pensamento,
um longo olhar sobre a calma dos deuses!


Que lavor puro de brilhos consome
Tanto diamante de indistinta espuma
E quanta paz parece conceber-se!
Quando repousa sobre o abismo um sol,
Límpidas obras de uma eterna causa
Fulge oTempo e o Sonho é sabedoria.


Tesouro estável,templo de Minerva,
Massa de calma e nítida reserva,
Água franzida, Olho que em ti escondes
Tanto de sono sob um véu de chama,
-Ó meu silêncio!... Um edifício na alma,
Cume dourado de mil, telhas, Teto!



Templo do Templo, que um suspiro exprime,
Subo a este ponto puro e me acostumo,
Todo envolto por meu olhar marinho.
E como aos deuses dádiva suprema,
O resplendor solar sereno esparze
Na altitude um desprezo soberano.


Como em prazer o fruto se desfaz,
Como em delícia muda sua ausência
Na boca onde perece sua forma,
Aqui aspiro meu futuro fumo,
Quando o céu canta à alma consumida
A mudança das margens em rumor.



Belo céu, vero céu, vê como eu mudo!
Depois de tanto orgulho e tanta estranha
Ociosidade - cheia de poder -
Eu me abandono a esse brilhante espaço,
Por sobre as tumbas minha sombra passa
E a seu frágil mover-se me habitua.



A alma expondo-se às tochas do solstício,
Eu te afronto, magnífica justiça
Da luz, da luz armada sem piedade!
E te devolvo pura à tua origem:
Contempla-te!... Mas devolver a luz
Supõe de sombra outra metade morna.


Oh, para mim, somente a mim, em mim,
Junto ao peito, nas fontes do poema,
Entre o vazio e o puro acontecer,
De minha interna grandeza o eco espero,
Sombria, amarga e sonora cisterna
- Côncavo som, futuro, sempre, na alma.


Sabes tu, prisioneiro das folhagens,
Golfo roedor de tão finos gradis,
Claros segredos para os olhos cegos
Que corpo a um fim ocioso me compele,
Que fronte o atrai a tal rincão de ossadas?
Um lampejo aqui pensa em meus ausentes.


Sacro, encerrando um fogo sem matéria,
Pouca de terra oferecida à luz,
Prezo este sítio, que dominam tochas,
Composto de ouro, pedras e ciprestes,
Onde mármores tremem sobre sombras.
O mar lá dorme, fiel, sobre meus túmulos.



Cadela esplêndida, afugenta o idólatra!
Quando, sorriso de pastor, sozinho
Apascento carneiros misteriosos
- Branco rebanho de tranqüilos túmulos -
Afasta dele as pombas temerosas
Os sonhos vãos, os anjos indiscretos.


Aqui vindo, o futuro é indolência.
Nítido inseto escarva a sequidão;
Tudo queimado está desfeito e no ar
Se perde em não sei que severa essência,
Faz-se a amargura doce e claro o espírito.



Os mortos estão bem, sob esta terra
Que os aquece e resseca seu mistério.
O meio-dia no alto, o meio-dia
Quedo se pensa em si e a si convém.
Fronte completa e límpido diadema,
Eu sou em ti recôndita mudança!


Eu, somente eu, contenho os teus temores!
Meus pesares, limitações e dúvidas
São a falha de teu grande diamante...
Em sua noite grávida de mármores,
Entanto, um povo errante entre as raízes
Tomou já teu partido, lentamente.



Dissolveu-se na mais espessa ausência;
Bebeu vermelho barro a branca espécie;
Passou às flores o dom de viver.
Dos mortos, onde as frases familiares,
A arte pessoal, as almas singulares?
Tece a larva onde lágrimas nasciam.



O riso agudo de afagadas jovens,
Olhos e dentes, pálpebras molhadas,
O seio ousado desafiando o fogo,
Sangue a brilhar nos lábios que se rendem,
Últímos dons e dedos que os defendem
- Tudo se enterra e ao jogo outra vez volta.




E tu, grande alma, acaso um sonho esperas,
Despido, então, das cores de mentira
Que a estes meus olhos a onda e o ouro mostram?
Cantarás, quando fores vaporosa?
Tudo flui! Porosa é minha presença;
A sagrada impaciência também morre.



Magra imortalidade negra e de ouro,
Consoladora com horror laureada,
Que seio maternal fazes da morte
- O belo engano, a astúcia mais piedosa!
Quem não conhece e quem não repudia
Esse crânio vazio, o riso eterno?



Pais profundos, cabeças desertadas,
Que sob o peso de tantas pàzadas
Terra sois, confundindo os nossos passos!
O verdadeiro verme, irrefutável,
Não para vós existe, sob a lousa
Ele de vida vive e não me deixa.



Amor, talvez? Talvez ódio a mim mesmo?
Seu dente oculto está de mim tão próximo
Que qualquer nome, acaso, lhe convém.
Que importa!... Ele vê, quer, sonha, ele toca:
Minha carne lhe agrada, e até no leito
Vivo de pertencer a este vivente.


Zenão, cruel! Zenão, Zenão de Eléia!
Feriste-me com tua flecha alada,
Que vibra, voa e que não voa nunca.
O som engendra-me e a flecha me mata!
O sol... Ah, que sombra de tartaruga
Para a alma, Aquiles quedo e tão ligeiro!




Não, não!... De pé! No instante sucessivo!
Rompe meu corpo, a forma pensativa!
Bebe meu seio, o vento que renasce!
Esta frescura a exalar-se do mar
A alma devolve-me... Ó, poder salgado!
Corramos à onda para reviver!


Sim, grande mar dotado de delírios,
Pele mosqueada, clâmide furada
Por incontáveis ídolos do sol,
Hidra absoluta, ébria de carne azul,
Que te mordes a fulgurante cauda
Num tumulto ao silêncio parecido,




Ergue-se o vento! Há que tentar viver!
O sopro imenso abre e fecha meu livro,
A vaga em pó saltar ousa das rochas!
Voai páginas claras, deslumbradas!
Rompei vagas, rompei contentes o
Teto tranqüilo, onde bicavam velas!




(Trad. de Darcy Damasceno e Roberto Alvim Corrêa)

O MAR VAI CHEGAR


O MAR VAI CHEGAR

Finalmente leio o que já há muito esperava: o Rio está condenado pelo mar. Pelo Aquecimento global. A matéria é antiga. Vem do dilúvio. Rubem Braga escreveu sua obra-prima: “Ai de ti, Copacabana”, sobre exatamente o tema. Minha sala vai submergir, e os bagres nadarão na estante de livros e sobre a tampa do computador. Meus papéis flutuarão no cemitério marinho, entre as fotos de meus antepassados e gurus. Pouca coisa sobrará, na Internet. Os originais finalmente estarão em estado primordial, finalmente esquecidos. Alguns poemas ainda mergulharão no azul, sairão pela janela, nadarão pela Guanabara, alcançarão o mar alto, onde afundarão nos abismos do Oceano e ali permanecerão Eternos. Será a glória. Como nos versos eternos de Valery, no seu "Cemitério marinho":


Sim, grande mar dotado de delírios,
Pele mosqueada, clâmide furada
Por incontáveis ídolos do sol,
Hidra absoluta, ébria de carne azul,
Que te mordes a fulgurante cauda
Num tumulto ao silêncio parecido,




Ergue-se o vento! Há que tentar viver!
O sopro imenso abre e fecha meu livro,
A vaga em pó saltar ousa das rochas!
Voai páginas claras, deslumbradas!
Rompei vagas, rompei contentes o
Teto tranqüilo, onde bicavam velas!

domingo, 25 de maio de 2008


La condition humaine



LE MONDE




Jamais ce que Pierre Teilhard de Chardin nommait "la température psychique de la Terre" n'a été aussi élevée. Avec le développement du cyberespace, des réseaux, de la téléphonie mobile, le monde est devenu en quelques années un gigantesque océan tourmenté, envahi non plus seulement d'énergie et de matière, mais, la numérisation aidant, d'informations. De savoirs, de connaissances.




Des informations, il y en a de toutes formes et de toutes sortes, brutes ou dégrossies, surexposées ou juste entreposées. Chacune a ses atomes propres : les bits. Chacune a sa possibilité d'extension moléculaire : l'hypertexte, qui permet à la mémoire de chacun de devenir la mémoire de tous. Pas un élément du réel qui ne puisse être désormais encodé, stocké, manipulé, expédié. Et pour ainsi dire, dans le même temps : "virtualisé". Voici advenu le règne de l'" hyper-information".

Dans Homo sapiens 2.0 (éd. Max Milo, 288 p., 25 €), Gérard Ayache, spécialiste de la communication, tire des conséquences anthropologiques de ce mouvement lancé jadis (sur un tout autre rythme) par l'imprimerie. L'homme, qui vit de plus en plus dans l'instant (un instant mondialisé), changerait également dans son corps : "augmenté" ou "complété" qu'il est désormais par les outils technologiques que sont téléphones et ordinateurs, dont il ne peut se séparer.

Commandée par la société Nortel, une étude aurait récemment mis au jour un plus grand attachement des salariés à leur portable (tout au moins une plus grande attention portée à l'objet)... qu'à leur porte-monnaie, lorsqu'ils sont appelés à partir en déplacement. L'enquête a conclu que 16 % de 2 400 salariés interrogés dans 17 pays, qualifiés d'"hyperconnectés", utilisaient quotidiennement sept appareils différents, professionnels ou personnels, et neuf applications distinctes, telles que messageries instantanées, boîtes électroniques, Webconférences, etc. La proportion, selon l'étude, pourrait monter à 40 % dans cinq ans.

Cette multiplication des hyperconnectés s'opère alors que l'universalité et la diversité des savoirs disponibles aujourd'hui à travers les flux informationnels induit une collectivisation de la connaissance. Un brassage permanent d'idées, de valeurs, de cultures. Un magma informel en perpétuelle extension sur lequel chacun peut se brancher (encore qu'il y ait une frange importante d'exclus aussi sur ce terrain-là). Qui s'accompagne d'une sursaturation émotionnelle et, par mimétisme, d'une multiplication des stéréotypes. L'hyper-information modifie le rapport de l'individu au réel (à sa représentation), au pouvoir, à l'information, dont il n'est plus seulement le récepteur, mais un "interacteur" opérant dans la complexité, sur un territoire allant de l'univers aux méandres du cerveau humain. Résultat : "Les individus transhument d'un espace à l'autre, observe Gérard Ayache, forgeant leur conscience des choses sur un ensemble d'hypothèses, de probabilités et de valeurs, et plus seulement sur une sélection d'informations diffusées par ceux qui avaient le privilège de leur détention."

Certains s'en inquiètent. Des scientifiques, des enseignants, les médias. "A quoi sert un journaliste ?", s'interrogeait ainsi la profession aux cours des deuxièmes Assises du journalisme, organisées à Lille du 21 au 23 mai. "N'ayez pas peur !, confrères, rassure le président du groupe Bayard, Bruno Frappat. Tant qu'il y aura des nouvelles, il faudra des gens pour faire le tri, hiérarchiser les "événements", en jeter. Autrement dit, pour penser l'actualité (...). Il faut parier sur le journalisme durable." Nécessairement adapté à la nouvelle condition humaine. C'est-à-dire qui ne réduise pas, mais ouvre au contraire à la complexité, à la multiplicité des possibles et des interprétations.

VIVER DE INTERNET


VIVER DE INTERNET

Rogel Samuel


Para alguns, toda a vida escrita está na Internet e dela depende. E a ela pertence. Viver de Internet. É nela que se expressam, por ela vivem. Compreendem. Compreendo-me nisso. Noblog, no Entre-texto e em Blocos me localizo, vivo. Se acabassem com a web eu teria de, para não morrer, voltar a escrever no mimeógrafo. Plínio Marcos vendia seus livros de mesa em mesa, no bar. Morrer como escritor é morrer para o público. Qualquer número. Temos nós escritores temos de ter público. Qualquer número. O escritor hoje não dispõe dos jornais, e poucos têm as grandes editoras. Mas a web é o maior dos palcos entrelaçados de difusão cultural. Dos textos. A web é a grande casa da Pós-modernidade da literatura. Faz o escritor ser, agir, viver, produzir. Viver para o escritor é produzir. Ser escritor é não poder
passar sem o texto. O dia que eu parar de escrever já estou morto

Conferências amanhã no Centro Cultural de Cuba, no Alentejo
Cristóvão Colombo era português, e de Cuba?
23.05.2008 - 15h49 Teresa Firmino
Nos últimos anos surgiram novos livros de investigação com a tese de que Cristóvão Colombo era português - de Cuba, no Alentejo - e não genovês, como conta a versão "oficial" da história. Será mesmo assim? Amanhã, para discutir os mistérios em torno do explorador, o Núcleo de Amigos de Cuba e a câmara municipal organizam uma tarde de conferências no centro cultural da vila.

Dos EUA virá o luso-americano Manuel da Silva Rosa - que há 17 anos anda às voltas com os mistérios de Cristóvão Colombo. Na sua palestra em Cuba, Manuel Rosa vai argumentar que o documento aceite como testamento de Colombo, de 22 de Fevereiro de 1498, é falso. Ora, este documento, sublinha Rosa, é o único em que Colombo aparece descrevendo-se como um tecelão de Génova. "Todos os outros documentos que falam de Génova são de terceiros", diz Manuel Rosa. "Há 200 ou 300 anos que os historiadores se apoiam neste testamento como prova de que ele era um tecelão de Itália."

Manuel Rosa não está nada convencido desta tese, e explica porquê: um dia antes de morrer, a 19 de Maio de 1506, na cidade espanhola de Valhadolid, Colombo mandou chamar o notário e várias testemunhas para fazer uma adenda a um testamento que tinha feito em 1502.

Pedido a um morto

A adenda de 1506 ainda existe, no Arquivo Geral das Índias, em Sevilha; o testamento de 1502 é que já desapareceu. Em seu lugar, surgiu uma cópia do suposto testamento de 1498, apresentada por um Baltasar Colombo, cidadão de Génova, que dizia ser familiar do explorador. Afinal, estava a decidir-se uma das maiores heranças do mundo, no processo judicial que se seguiu à morte de Colombo.

No testamento de 1498, Cristóvão Colombo pede a alguém já falecido, o príncipe D. Juan, filho dos reis de Espanha, que faça cumprir o documento, uma vez que o posto de almirante fazia parte da herança e eram os reis quem controlava esses cargos.

Mas D. Juan morrera a 6 de Outubro de 1497 - quatro meses e meio antes do testamento de 1498 ter sido escrito. "Se Colombo não soubesse que D. Juan tinha morrido, ficava a dúvida. Mas temos uma prova escrita de que ele sabia."

Essa prova surgiu cerca de um mês depois da morte do príncipe: os filhos de Colombo, D. Fernando e D. Diego, tinham sido pajens de D. Juan, e existe o relato de um deles a dizer que o pai os enviou, a 2 de Novembro de 1492, para servir de pajens à rainha D. Isabel. Portanto, conclui este historiador amador, Colombo soube da morte do príncipe pelo menos um mês depois e não iria assinar um documento três meses mais tarde a pedir a um morto para cumprir o testamento.

Então, se não era de Génova, era de onde? "Com tudo o que sei hoje, só pode ter sido um nobre português ou estrangeiro que veio para Portugal muito novinho aprender a língua portuguesa como materna", diz Manuel Rosa. "Ele nunca escreveu em italiano. Escrevia em castelhano com palavras portuguesas. E quando escrevia para Itália, escrevia em castelhano."

Veríssimo Serrão convencido a "99 por cento" de que Colombo seria português

Muitos mistérios em torno de Critóvão Colombo continuam em aberto. Onde está sepultado - na República Dominicana? - é um deles. O que foi fazer para Espanha? Foi de facto trabalhar para os reis católicos, Fernando e Isabel? Ou era um agente secreto ao serviço do rei português D. João II, para desviar as atenções espanholas da costa africana e da descoberta do caminho marítimo para a Índia?

Cristoval Colon, como era conhecido Colombo em Espanha, era o nome que inventou para se proteger?

Informático de profissão, a paixão de Manuel Rosa é investigar a vida do navegador. O resultado desse trabalho encontra-se nas 638 páginas da versão portuguesa do livro O Mistério Colombo Revelado (Ésquilo), publicado em 2006.

Manuel Rosa continua na peugada de Colombo, e promete trazer alguns factos novos no final do ano, numa nova edição do seu livro, mais concisa e clara.

Esta tese sempre foi muito atacada, principalmente pelo facto de quem a investigou não ser licenciado em História.

Mas o historiador Veríssimo Serrão, depois de ter lido a imensa pesquisa de Manuel Rosa, escreveu-lhe para dizer: "[...] Que o seu Colombo Revelado foi objecto de leitura e releitura, e que me convence a força da argumentação que o Manuel Rosa apresenta. Posso dizer que estou de acordo com o Manuel Rosa em 99 por cento dos pontos que oferece à meditação do leitor."

Na carta, em parte disponível no site do autor (www.colombo.bz), Veríssimo Serrão diz ainda: "Há muito que eu defendo também ser ele um "agente duplo" de D. João II, que foi necessário ao grande monarca até 1488, mas que após o descobrimento do Cabo da Boa Esperança já não servia o plano índico ou indianista de Portugal!"