segunda-feira, 28 de março de 2022
domingo, 20 de março de 2022
TARDE
As moscas zumbem, malignas, no silêncio da tarde. Desfia vertigem o igarapé entre árvores. Não há ninguém nas adjacências. As árvores paradas. Profundas. Imersas no êxtase verde, no calor, na eternidade, na fecundação da tarde. O espírito do jovem jurista está com a índia. Um papagaio nacionalista quebra o silêncio do espaço e esvoaça em direção à outra margem. Papagueia esganiçado, com alarde de si, alarido e escândalo. Aparece, na curva do rio, um remador silencioso que cumprimenta o Palácio e lambe com o remo a lâmina líquida da superfície das águas. Na sucessão de novas ocorrências, aparece um belíssimo macaco-leão. Muito pequeno. No mamoeiro, peno do terraço. Começa a descer. Pula para o parapeito. Olha para os homens sentados, imóveis. Volta para o caule. Pára. Olha para cima, teme o céu. Olha para baixo, teme os patos. Olha para mim. Aquele macaquinho olha com toda a porção da cabeça, não apenas com os olhos. Depois desce, muito rápido, num risco do ar, desaparecendo no pátio dos patos. Agora há um cheiro de matrinchão, odor de pimenta e tucupi. O ar é tão oxigenado que fico tonto. Cai a calma. Penetra os poros. Vaporosa, gosto tranqüilizante. A estática, a impassibilidade. Um obscuro deus dorme, no inominável, no universal, imerso, incompleto, pré-histórico há um milhão de anos, desde que aquilo era mar.
sexta-feira, 18 de março de 2022
VENDENDO BEM
domingo, 13 de março de 2022
Enthronement Ceremony
Enthronement Ceremony
segunda-feira, 7 de março de 2022
Gonçalves Dias
Minha terra!
Gonçalves Dias
Quanto é
grato
em terra estranha
Sob um céu menos querido,
Entre feições estrangeiras,
Ver um rosto conhecido;
Ouvir a pátria linguagem
Do berço balbuciada,
Recordar sabidos casos
Saudosos – da terra amada!
E em tristes serões d’inverno,
Tendo a face contra o lar,
Lembrar o sol que já vimos,
E o nosso ameno luar!
Certo é grato; mais sentido
Se nos bate o coração,
Que para a pátria nos voa,
P’ra onde os nossos estão!
Depois de girar no mundo
Como barco em crespo mar,
Amiga praia nos chama
Lá no horizonte a brilhar.
E vendo os vales e os montes
E a pátria que Deus nos deu,
Possamos dizer contentes:
Tudo isto que vejo é meu!
Meu este sol que me aclara,
Minha esta brisa, estes céus:
Estas praias, bosques, fontes,
Eu os conheço – são meus!
Mais os amo quando volte,
Pois do que por fora vi,
A mais querer minha terra,
E minha gente aprendi.
Paris, 1864.
sexta-feira, 4 de março de 2022
Escrevo para Neuza Machado