quinta-feira, 30 de agosto de 2007

FIM. O que
não chegou
faltará depois

terça-feira, 28 de agosto de 2007

DOZE. Mais e mais
o que há são portas
para o pouso
das palavras

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

ONZE. Casamos
nossa paz
com tua dor

sábado, 25 de agosto de 2007

DÉCIMO. Esta página
tomada
como está
é perto
do que estou a pedir

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

NONO. É preciso negar
que o real
Quando não me amares mais
perdoarás sem repouso

domingo, 19 de agosto de 2007

e eu bebo veneno pelos olhos
quando vejo a tua forma de partir
que ela se torna numa larva preta
a espuma do mar fervente em cada mão
o desiderato rumo dessa casa feita
a linha errada em cada palma, o não
estarmos à roda desfibrada estreita
limita o mar que nos fareja o cão.
distúrbio funcional, minha malignidade
espectro desse quarto quando um morto
vagueava entre vivos a nos aterrorizar
humores, forma aquosa, vítrea,
e cristalina capa de estampadas letras.
eras superfície, punção, a gata morta
no leva e traz das ondas da maré
marco divisório de teus passos.

(Bournemouth, UK, 19 de agosto de 2007)

sábado, 18 de agosto de 2007


A ARTE

Théophile Gautier
(1811-72)


(Trad. Mário Faustino)

Sim, a obra sai mais bela de uma forma rebelde ao lavor: verso,
mármore, ônix, esmalte.
Nada de apertos forçados! Mas se queres marchar ereta, calça,
Musa, um coturno estreito.
Abaixo o ritmo cômodo, calçado frouxo onde qualquer pé entra e sai!
Repele, escultor, a argila que o polegar amassa - enquanto o
espírito paira ao longe;
Luta com o carrara, com o paros duro e raro, guardiães do puro
contorno;
Usa de Siracusa o bronze onde se mostra firme o traço altivo, o
traço encantador;
Com mão delicada pesquisa o perfil de Apolo num filão de ágata.
Pintor, evita a aquarela, fixa a cor demasiado frágil no forno do
esmaltador.
Pinta de azul as sereias, retorce de mil maneiras as caudas desses monstros de brasão;
Com sua auréola trilobada pinta a Virgem e seu Jesus, a cruz
encimando o globo.
Tudo passa. - Só a arte vigorosa é eterna. O busto sobrevive à
cidade.
E a medalha austera, que o lavrador encontra sob a terra, revela um imperador.
Os próprios deuses morrem. Mas os versos soberanos
permanecem, mais poderosos que os bronzes.
Esculpe, alisa, cinzela; fixa no bloco resistente teu sonho
fugitivo!


Théophile Gautier (1811-72)

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

OITAVO. Pinta o que escrevo
canta
palavra pinta acima. Nem
isso de aparição
SÉTIMO. Nunca mais
pomos os olhos no
tua pena
aceleraste

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

SEXTO. Por perto
ronda o céu
aberto
que é necessário ao
heroico fugir.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

os dias se arrastam, lentos
as noite se sucedem, escuras
e frias
neste quarto de hotel.

muitas vezes pensei em sair
em ver o mar na noite fria,
mas me recolho cedo
encapsulado
em recordações

o mundo não está
nem lá fora
nem aqui dentro

o mundo não está



(Bournemouth, UK, 15 de agosto de 2007)
QUINTO. Deixa de
lastimação
que amanhã
não acordarás

terça-feira, 14 de agosto de 2007

QUARTO. Mastigação
poroso
precipício pavor
pítico lavado
sinto
paro

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

à medida que envelheço
vou ficando
como minha avó

à medida que envelheço
mais vou tendo
minha avó no espelho

(Bournemouth, UK, 14 de agosto de 2007)
todas as coisas se parecem contigo
[passo a ver-te em cada dobrada lua]
nada me afastará de ti, pois estás em todas as coisas
onde o olhar
onde há olhar
onde olhar

ver quero ver-te
mas só consigo ouvir-te
há uma canção que me embala
e me adormece

não te tenho perto
tão perto
nem durmo contigo

mas não faz falta
o amor se espraia para sempre

no ar

(Bournemouth, UK, 13 de agosto de 2007,
às 21:20).
TERCEIRO. Do ser
precisavas no
que estavas fazendo
Perto de ti nada
podes fazer

domingo, 12 de agosto de 2007

SEGUNDO. O que
de que
ao qual pertences
te engole

sábado, 11 de agosto de 2007

NÃO. Não escreverá
um só texto
mas o que for dito
e luminoso
como salto de sapato
sapo

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

CALMAMENTE. Sentes
que é preciso assumir
o que sentes

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

CAIXA. Não na abertura
porém no vácuo
entregarás o cimentado
serviço de freiras

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

PÓ.

De tal
viverás
e renascerás
fênix

domingo, 5 de agosto de 2007

NAUS. Não velejarás
por viajar
não velejarás
entre as paredes más

sábado, 4 de agosto de 2007

TRÊS. Há tempos
querida
que eu quero escolher-te
entre os compatíveis
depois

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

DOIS. É preciso
dizer
e fazer
calmamente pensar
e dar-me
UM. Unicamente
delido e só
sou
neste meu quarto
passo