sábado, 18 de agosto de 2007
A ARTE
Théophile Gautier
(1811-72)
(Trad. Mário Faustino)
Sim, a obra sai mais bela de uma forma rebelde ao lavor: verso,
mármore, ônix, esmalte.
Nada de apertos forçados! Mas se queres marchar ereta, calça,
Musa, um coturno estreito.
Abaixo o ritmo cômodo, calçado frouxo onde qualquer pé entra e sai!
Repele, escultor, a argila que o polegar amassa - enquanto o
espírito paira ao longe;
Luta com o carrara, com o paros duro e raro, guardiães do puro
contorno;
Usa de Siracusa o bronze onde se mostra firme o traço altivo, o
traço encantador;
Com mão delicada pesquisa o perfil de Apolo num filão de ágata.
Pintor, evita a aquarela, fixa a cor demasiado frágil no forno do
esmaltador.
Pinta de azul as sereias, retorce de mil maneiras as caudas desses monstros de brasão;
Com sua auréola trilobada pinta a Virgem e seu Jesus, a cruz
encimando o globo.
Tudo passa. - Só a arte vigorosa é eterna. O busto sobrevive à
cidade.
E a medalha austera, que o lavrador encontra sob a terra, revela um imperador.
Os próprios deuses morrem. Mas os versos soberanos
permanecem, mais poderosos que os bronzes.
Esculpe, alisa, cinzela; fixa no bloco resistente teu sonho
fugitivo!
Théophile Gautier (1811-72)
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