quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Lucilene Gomes Lima: FICÇÕES DO CICLO DA BORRACHA NO AMAZONAS


Lucilene Gomes Lima: FICÇÕES DO CICLO DA BORRACHA NO AMAZONAS
Estudo comparativo dos romances A selva, Beiradão e O amante das amazonas

Dissertação de mestrado: Estudo comparativo dos romances “A selva” (FERREIRA DE CASTRO), “Beiradão” (ÁLVARO MAIA) e “O amante das amazonas” (ROGEL SAMUEL), Editora da Universidade do Amazonas, 2009. 240p. ISBN 978-85-7401-458-6.


    Escritores brasileiros abordaram amplamente os ciclos econômicos através de sua prosa. A partir do movimento romântico, alguns romances de caráter regionalista ou sertanista já abordam as temáticas em torno dos ciclos econômicos, entre eles, podemos citar O garimpeiro, de Bernardo Guimarães, em que o ciclo da mineração é subsidiário da temática amorosa.
    Não obstante, a abordagem literária em torno dos ciclos econômicos ganhou maior expressão com os denominados romances de 30, em que não apenas ciclos econômicos, como o do cacau e da cana-de-açúcar são abordados num maior número de obras, como também fenômenos de calamidade geográfica, a exemplo da seca na região do Nordeste brasileiro.
    O ciclo econômico do cacau propiciou destaque, principalmente, para  a literatura de Jorge Amado, sendo Terras do sem fim (1942) um dos seus romances mais representativos sobre essa temática. Em torno do ciclo da cana-de-açúcar, destacam-se as obras de José Lins do Rego: Menino do engenho (1932), Doidinho (1933), Moleque Ricardo (1935), Usina (1936) e Fogo morto (1943). O ciclo das secas motivou igualmente a produção de várias obras: O quinze (1930), de Raquel de Queiroz, A bagaceira (1928), de José Américo de Almeida, e Vidas secas (1938), de Graciliano Ramos.
    Especialmente nos romances do ciclo das secas, desenvolveu-se um discurso literário peculiar e, às vezes, linear, em torno de alguns aspectos como a atuação da seca no ambiente e suas conseqüências para os agrupamentos humanos. Desse modo, em torno desse tema, tornaram-se comuns imagens da vegetação esturricada e do solo fendido pelo sol inclemente, do céu límpido e sem nuvens e das aves de arribação. Outra imagem comum é a peregrinação do retirante que abandona a sua terra em busca de condições de sobrevivência. Esse momento do êxodo do flagelado da seca estabelece uma relação com outro ciclo econômico, amplamente explorado ficcionalmente, o “ciclo da borracha”.
    No Amazonas, desenvolveu-se uma literatura que abordou o ciclo econômico da borracha. Uma das primeiras obras sobre este tema, O paroara (1899), de Rodolfo Teófilo, faz a mediação entre o ciclo da seca e o da borracha, uma vez que trata do deslocamento dos nordestinos até a Amazônia para trabalharem nos seringais.
    Considerando-se como marco inicial O paroara, a ficção sobre o “ciclo da borracha” completou um século de produção. Podemos afirmar que a abordagem teve uma continuidade ao longo desse século, pois cada década apresenta pelo menos uma obra. Nesse contínuo, evidenciamos uma constância de abordagem em termos de um tratamento maniqueísta, em que o explorador (o seringalista) aparece como um ser vilanesco sem que sejam enfocadas as determinações históricas mais profundas do processo econômico. A recorrência à História aparece apenas como suporte documental para várias obras que procedem a enumeração e descrição de alguns tópicos (vida no barracão e nos centros de extração, carência sexual dos seringueiros, truculência do patrão seringalista, entre outros).
   

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