quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

OS MISTÉRIOS DE UNS VERSOS

OS MISTÉRIOS DE UNS VERSOS

ROGEL SAMUEL

Olavo Bilac escreveu:

Língua Portuguesa

Ultima flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma 
De virgens selvas e de oceano largo! 
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

E me chama logo a atenção as críticas veladas à língua portuguesa que se encontram ali, e as oposições do tipo “esplendor e sepultura”, “ouro - ganga impura”, etc – mas principalmente  “O gênio sem ventura [Camões] e o amor sem brilho [da mãe do poeta]”.
Bilac nunca é simples tanto quanto parece [mesmo nos mistérios de sua vida].
Que Camões tivesse tido uma vida “desventurada” tudo bem... mas não a sua obra, principalmente “Os lusíadas”, que é o melhor e o mais moderno poema épico da Modernidade, a epopéia do imperialismo capitalista, da globalização moderna que se seguiu. Camões, é hoje autor universalmente consagrado, “apesar” da língua portuguesa (que Bilac critica, que chama de “sepultura”), ao nível de Dante, Shakespeare etc.
A crítica camuflada a essa “língua-túmulo” pode ser lida talvez como da acanhada vida literária brasileira daquela época, em comparação com Paris e com a consagração imediata de um escritor como Victor Hugo...
Mas Bilac aqui era o “príncipe”... um refinado dândi, elegante e vaidoso... Suas conferências enchiam as salas... Talvez por isso é que a rebeldia modernista o atacou com tanto ódio.
Não podia reclamar.
Mas só uma crítica psicanalítica pode entender esse “amor sem brilho” no que se refere ao amor de sua mãe. Algo curioso que ainda vou pesquisas na enciclopédia da vida literária daquela época que é o “Diário secreto”, de Humberto de Campos.
Mas para isso tenho de descobrir os dois volumes na minha sala desorganizada. 
P.S.: BILAC BRIGOU COM SEU PAI E CEDO SAIU DE CASA E NUNCA MAIS VOLTOU. IA VER A MÃE MAS NÃO ENTRAVA, FICAVA NA RUA. A MÃE LAVAVA ELA MESMA A SUA ROUPA. BILAC MOROU EM PENSÕES MODESTAS E NO FIM NA CASA DE SUA IRMÃ. COELHO NETO CONTA QUE ELE TEVE UM FILHO, MAS NUNCA SE PROVOU ISSO. MEDEIROS DE ALBUQUERQUE INSINUA QUE BILAC ERA GAY. NA HORA DA MORTE, SEU PAI SE RECONCILIOU COM ELE E ENCONTRARAM O LIVRO MUITO USADO DAS POESIAS DE BILAC ESCONDIDO NA CAMA DO VELHO, QUE ERA MÉDICO E QUERIA QUE O FILHO FOSSE MÉDICO E NÃO... POETA.

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