terça-feira, 31 de julho de 2018

Mario Benedetti

Mario Benedetti




Mario Benedetti

Rogel Samuel

Em “Amor de tarde” Mario Benedetti se lastima como um burocrata no escritório, no trabalho, que escreve e trabalha com papel carbono, máquina de somar, telefone. O poema é simples, o poema segue mecanicamente as normas impostas pelo relógio de ponto, pelo regulamento, pela administração, um poema administrativo, um poema de planilha, carteira, identidade, do padronizado, em cujas colunas-versos se registram os cálculos do levantamento do tempo, um poema topográfico, de formulário impresso onde se lançam informações poéticas padronizadas, e que permite que estabeleçam entre elas relações definidas, por isso mesmo falsas, mentirosas, convencionais, como fórmulas lógicas e matemáticas que nunca se realizam, mas que servem para a venda, para o marketing pessoal, a ferramenta mais eficiente, o ambiente profissional, numérico, atencioso, gentil e dissimulado, no modelo de uma sociedade dos minutos e das cifras.


É uma pena você não estar comigo
quando olho o relógio e já são quatro
e termino a planilha e penso dez minutos
e estico as pernas como todas as tardes
e faço assim com os ombros para relaxar as costas
e estalo os dedos e arranco mentiras.

É uma pena você não estar comigo
quando olho o relógio e já são cinco
e eu sou uma manivela que calcula juros
ou duas mãos que pulam sobre quarenta teclas
ou um ouvido que escuta como ladra o telefone
ou um tipo que faz números e lhes arranca verdades.

É uma pena você não estar comigo
quando olho o relógio e já são seis.
Você podia chegar de repente
e dizer "e aí?" e ficaríamos
eu com a mancha vermelha dos seus lábios
você com o risco azul do meu carbono.

Mário Benedetti faleceu, aos 88 anos, deixando mais de 80 livros de poesia, romances, contos e ensaios, assim como roteiros para cinema. Famoso por seus contos, "Esta manhã" (1949), "A última viagem" (1951), "Montevideanos" (1959), "A morte e suas surpresas" (1968), "Geografias" (1984), onde captou aguda e sutilmente os pequenos fatos da vida cotidiana do homem comum, e famoso por sua poesia, como os "Poemas de escritório" (1956) - e suas novelas, como "A trégua" (1960).

terça-feira, 24 de julho de 2018

O CORVO

O CORVO

E. A. POE

TRAD. FERNANDO PESSOA

O CORVO


Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
      É só isto, e nada mais." 

 
Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu’ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P’ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais —
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
   Mas sem nome aqui jamais! 

 
Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundindo força, eu ia repetindo:
"É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
    É só isto, e nada mais." 

 
E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
"Senhor", eu disse, "ou senhora, de certo me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo
Tão levemente, batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
  Noite, noite e nada mais.

 
A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais —
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse os meus ais,
        Isto só e nada mais.

 
Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais.
Meu coração se distraia pesquisando estes sinais.
       É o vento, e nada mais."

 
Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um Corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nenhum momento,
Mas com ar sereno e lento pousou sobre os meus umbrais,
  Foi, pousou, e nada mais.

 
E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
"Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
Ó velho Corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."
 Disse o Corvo, "Nunca mais".

 
Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos seus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
        Com o nome "Nunca mais".

 
Mas o Corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento,
Perdido murmurei lento. "Amigos, sonhos — mortais
Todos — todos já se foram. Amanhã também te vais."
   Disse o Corvo, "Nunca mais". 

 
A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
"Por certo", disse eu, "são estas suas vozes usuais.
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entorno da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp’rança de seu canto cheio de ais
   Era este "Nunca mais".

 
Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu’ria esta ave agoureira dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
 Com aquele "Nunca mais".

 
Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sombras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sombras desiguais,
 Reclinar-se-á nunca mais!

 
Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
"Maldito", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"
  Disse o Corvo, "nunca mais".

 
"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta! —
Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, e esta noite e este segredo
A esta casa de ânsia e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!"
     Disse o Corvo, "Nunca mais".


"Profeta", disse eu, "profeta — ou demônio ou ave preta! —
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais,
Dize a esta alma entristecida, se no Éden de outra vida,
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"
     Disse o Corvo, "Nunca mais".


"Que esse grito nos aparte, ave ou diabo", eu disse. "Parte!
Torna à noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"
        Disse o Corvo, "Nunca mais".


E o Corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda,
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha dor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão mais e mais.
E a minh’alma dessa sombra que no chão há de mais e mais,
     Libertar-se-á... nunca mais!




trad. Fernando Pessoa - 1924

domingo, 22 de julho de 2018

O Quinto Império

O Quinto Império









O Quinto Império

Rogel Samuel




Abandonar o aconchego da lareira, do lar, do ninho, e lançar-se no sonho, no erguer das asas, abandonar a felicidade, a paz da vida que apenas dura, a espera da sepultura, o contentamento e lançar-se para as conquistas, para a Conquista, para o realidade do Quinto Império.

Que seria o Quinto Império?

O Quinto Império foi imaginado por Vieira: os quatro Impérios eram dos Assírios,
dos Persas, dos Gregos e dos Romanos.

Pessoa diz que os quatro primeiros impérios são o Império Grego, Romano, o Cristianismo e a Europa.

Seria a Era de D. Sebastião.

Oh, triste de quem fica em casa, feliz com seu lar. "Vive porque a vida dura". Não tem alma, ou nada lhe diz mais que a espera da sepultura.

Ser descontente! Viajar! Perder e perder-se em países! Um dia a terra será o Teatro do Dia Claro do Quinto Império... parece que o Quinto Império deve ser procurado, não construído.

Será que o Quinto Império não seria o próprio Fernando Pessoa?


Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!

Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz
Ter por vida a sepultura.

Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!

E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.


Grécia, Roma, Cristandade,
Europa-- os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?

sexta-feira, 20 de julho de 2018

AS VAGAS DA ELEGIA DE CAMÕES


AS VAGAS DA ELEGIA DE CAMÕES

Rogel Samuel


No início o poeta conta que «Simônides, falando ao capitão Temístocles, um dia», lhe prometia ensinar uma arte mnemônica que fizesse com que nunca se esquecesse de nada. Mas o capitão tinha um passado tormentoso de batalhas e de mortes, e lhe disse que melhor seria que lhe ensinasse esquecer de tudo o que passou:

Que, se é forçado andar por várias partes
buscando à vida algum descanso honesto,
que tu, Fortuna injusta, mal repartes;
se o duro trabalho é manifesto
que por grave que seja, há-de passar-se
com animoso espírito e ledo gesto;
de que serve às pessoas alembrar-se
do que se passou já, pois tudo passa,
senão de entristecer-se e magoar-se?

Na realidade, este capitão Temístocles é um outro do poeta Camões, que por guerras e desastre passou no Oriente, e de cujos amores passados não quer lembrar. Mais um pouco e estamos na reencarnação do amor: «Se noutro corpo uma alma se traspassa, não, como quis Pitágoras, na morte mas como manda Amor na vida escassa». Porque para suportar o por que ele passou, « homem fora formado de diamante».
Eis que ele começa a narrativa de sua viagem:

Soltava Eolo a rédea e liberdade
ao manso Favónio brandamente,
e eu já tinha solta a saudade.
Neptuno tinha posto o seu tridente;
a proa a branca escuma dividia,
co a gente marítima contente.
O coro das Nereidas nos seguia,
os ventos, namorada Galateia
consigo, sossegados, os movia.
Das argênteas conchinhas, Panopeia
andava pelo mar fazendo molhos,
Melanto, Dinamene, com Ligeia.


Na Elegia, de Camões vai olhando pras águas... «Ó claras Ninfas!», diz ele, e reclama da ausência amada. « O coro das Nereidas nos seguia, os ventos, namorada Galateia consigo, sossegados, os movia. »
Mas no meio da viagem... a tormenta: «Porque, chegado ao Cabo da Esperança, .... eis a noite com nuvens escurece, do ar supitamente foge o dia, e o largo oceano se embravece. »

A descrição da tempestade: «A máquina do Mundo parecia que em tormenta se vinha desfazendo, em serras todo o mar se convertia. »
A violência: «sonoras tempestades levantavam,
das naus as velas côncavas rompendo.
As cordas, ao ruído, associavam,
os marinheiros, já desesperados,
com gritos para o Céu o ar coalhavam. »

Depois da tempetade:

Oh, lavradores bem-aventurados!
Se conhecessem seu contentamento,
como vivem no campo sossegados!
Dá-lhes a justa terra o mantimento,
dá-lhes a fonte clara a água pura,
mungem suas ovelhas cento a cento.
Não vêm o mar irado, a noite escura,
por ir buscar a pedra do Oriente;
não temem o furor da guerra dura.
Vive um com suas árvores contente,
sem lhe quebrar o sono sossegado
o cuidado do ouro reluzente.
Se lhe falta o vestido perfumado,
e da fermosa cor assíria tinto,
e dos torçais atálicos lavrado;
se não tem as delicias de Corinto,
e se de Pário os mármores lhe faltam,
o piropo, a esmeralda, e o jacinto;
se suas casas d'ouro não se esmaltam,
esmalta-se-lhe o campo de mil flores,
onde os cabritos seus, comendo, saltam.
Ali amostra o campo várias cores,
vêm-se os ramos pender co fruto ameno,
ali se afina o canto dos pastores:
ali cantara Títiro e Sileno.
Enfim, por estas partes caminhou
a sã justiça para o Céu sereno.
Ditoso seja aquele que alcançou
poder viver na doce companhia
das mansas ovelhinhas que criou!
Este, bem facilmente alcançaria
as causas naturais de toda a cousa:
como se gera a chuva e neve fria;
os trabalhos do Sol, que não repousa;
e porque nos dá a Lua a luz alheia,
se tolher-nos de Febo os raios ousa;
e como tão depressa o Céu rodeia;
e como um só, os outros traz consigo;
e se é benina ou dura Citereia.
Bem mal pode entender isto que digo
quem há-de andar seguindo o fero Marte,
que traz os olhos sempre em seu perigo.
Porém seja, Senhor, de qualquer arte,
que, posto que a Fortuna possa tanto,
que tão longe de todo o bem me aparte,
não poderá apartar meu duro canto
desta obrigação sua, enquanto a morte
me não entrega ao duro Radamanto,
—se para tristes há tão leda sorte.
 

quarta-feira, 18 de julho de 2018

OSEAS MARTINS

Raro, PUBLICADO EM 1965 PELO GOV, DO ESTADO DO AMAZONAS, 287 PÁGINAS. PREFACIO DE ALVARO MAIA. QUASE NINGUÉM CONHECE. ESTÁ NA "LÍRICA AMAZÔNICA", DE ANÍSIO MELO... ONDE ESTOU, JUNTO COM ESSES POETAS VELHOS... rsss

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Receita de soneto

Receita de soneto


Rogel Samuel

Em "Para fazer um soneto" descreve Carlos Pena Filho como se deve escrever um poema.
Mas a receita é difícil de seguir.
Pois o primeiro passo diz: "Tome um pouco de azul, se a tarde é clara". Sorver o azul da tarde, tarefa complicada de realizar à risca. Mas é aí que aparece a "palavra inicial" (dada por Deus). Depois, segure bem esta palavra (divina) com uma "atitude avara", ou seja: a partir daí passe a usar apenas o sol que bate na sua cara! Claro, o poeta é de Recife, terra do sol.
Com esta palavra primeira, com o sol e com um pedaço do quintal o poema se constrói.
Mas se não der certo, há uma solução de emergência.
Em vez da luz clara e azul, passe a trabalhar com o tom cinzento e meio obscuro e vago, com o pó que ainda resta em nossas vidas, com os resíduos da memória, a combustão, a borralha de certas substâncias da nossa memória.
Ali está o aniquilamento da nossa infância, o luto da lembrança, a destruição, a humilhação, a dor cinza dessa coisa vaga que são as lembranças da infância.
Não, não se apresse. O curso do rio da voz vai levá-lo ao cerne do poema, àquela escuridão onde se tece a certeza.
Aí sim. Aí o poema começa. Eis:

“Tome um pouco de azul, se a tarde é clara
e espere pelo instante ocasional.
Nesse curto intervalo Deus prepara
e lhe oferta a palavra inicial.

Aí, adote uma atitude avara:
se você preferir a cor local,
não use mais que o sol de sua cara
e um pedaço de fundo de quintal.

Se não, procure a cinza e essa vagueza
das lembranças da infância, e não se apresse,
antes, deixe levá-lo a correnteza.

Mas ao chegar ao ponto em que se tece
dentro da escuridão a vã certeza,
ponha tudo de lado e então comece.”

O Rio de Janeiro no inverno




O Rio de Janeiro no inverno

Rogel Samuel


O frio. É muito estranho esse clima. As pessoas ficam tristes. Ar claro. Luz maravilhosa. No budismo do Tibet há um Buda que se chama Buda da Luz Infinita. A idéia de cegueira é aterrorizante. Ainda que a luz seja sempre algo interno. A vida deve ser luz. Luz e som. Cores. Sonoridades luminosas. Bilac escreveu um soneto terrível. Beethoven Surdo.

Surdo, na universal indiferença, um dia,
Beethoven, levantando um desvairado apelo,
Sentiu a terra e o mar num mudo pesadelo.
E o seu mundo interior cantava e ressurgia.

Torvo o gesto, perdido o olhar, hirto o cabelo,
Viu, sobre a orquestração que no seu crânio havia,
Os astros em torpor na imensidade fria,
O ar e os ventos sem voz, a natureza em gelo.

Era o nada, a eversão do caos no cataclismo,
A síncope do som no páramo profundo,
O silêncio, a algidez, o vácuo, o horror no abismo.

E Beethoven, no seu supremo desconforto,
Velho e pobre, caiu, como um deus moribundo,
Lançando a maldição sobre o universo morto!

Mas Bilac não o viu surdo, pois o interior de seu crânio "cantava e ressurgia". Havia uma orquestração interna. O que morria no vácuo era o mundo exterior, amaldiçoado. O Universo morto.

Já se disse de Beethoven que ele compôs a música das esferas. Foi no concerto 4 ou 5 para piano e orquestra, creio. A música das esferas luminosas do céu. Dante. Dante viu nas esferas o amor. O amor que move as estrelas.

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Não posso reter os teus traços



Não posso reter os teus traços



Não posso reter os teus traços
Nem as notas de teu tema
Pois tua música se esquece
Como as vozes do poema
Da paixão, que mais um traço
Foi do azul de minha pena,
E quando te vir já será garço
O repique da tua cena
e o afastado abraço...
(oriunda onda a que cerca de aço
me levarão tuas algemas?)
ROGEL SAMUEL

UM ILUSTRE PIAUIENSE



UM ILUSTRE PIAUIENSE

(texto copiado da Internet de várias fontes)

"Simplício Coelho de Rezende (Piripiri,Piauí, 1 de abril de 1841 - Manaus,Amazonas, 17 de fevereiro de 1915 )de foi um advogado e político do Brasil durante o Império. Nascido em 1841 no Piauí, era neto de Leonardo de Nossa Senhora das Dores Castelo Branco, um dos líderes da independência no Piauí. Foi Deputado Geral pelo Piauí de 1885 a 1889. Na assembleia legislativa do império, ao defender o militar Pedro José de Lima, acusado de corrupção, atacou violentamente o Coronel Ernesto Augusto da Cunha Matos, iniciando a mais grave das questões militares do Império. Ao ser proclamada a República, foi vítima de perseguições políticas que o levaram a se transferir para o Amazonas onde foi um dos fundadores da Universidade de Manaus, assim como primeiro diretor da Faculdade de Direito.Era muito ligado à família imperial exilada, sendo seu filho mais velho, Simplício de Melo Rezende, foi Secretário Político de D. Luiz de Orleans e Bragança. Faleceu em Manaus em 1915. É Patrono da Cadeira 26 da Academia Piauiense de Letras. Deixou grande descendência, a destacar o professor emérito da UFRJ Jorge Rezende, grande nome da obstetrícia brasileira, e Álvaro Rubin de Pinho, famoso psiquiatra."


Em 15 de fevereiro de 1915 faleceu o Dr. Simplício Coelho de Rezende, ilustre piauiense, que, entre outros merecimentos, possui o de ter sido o primeiro diretor da centenária Faculdade de Direito do Amazonas. A lápide de seu túmulo (SP 614 – Quadra 05) guarda esta inscrição em latim:

Hic jacet doctor Simplicio Coelho de Rezende jurisconsultus brasiliensis. 
1841-1915

“Coube a Simplício Coelho de Rezende propor a oficialização dos primeiros professores titulares da faculdade de ciências jurídicas e sociais da Universidade Livre de Manáos em 1910.

Conquistar a elevada distinção de professor catedrático da Faculdade de Direito do Amazonas foi considerado, durante muitos anos, por seleto grupo de estudiosos, a culminância na carreira jurídica e no magistério amazonense.

A batalha travada entre noites indormidas preparando a tese, o enfrentamento de rigorosa banca examinadora composta por amazonenses e professores convidados oriundos das mais respeitadas universidades brasileiras dentre nomes de projeção no cenário nacional, transformavam a se ão de defesa acadêmica em acontecimento à parte na vida social de Manaus.

Coube a Simplício Coelho de Rezende propor a oficialização dos primeiros professores titulares da faculdade de ciências jurídicas e sociais da Universidade Livre de Manáos em 1910. Pouco depois Heliodoro Balbi se transferiu de Filosofia do Direito para Introdução ao Estudo do Direito, e em 1911 Francisco Pedro d Araújo Filho ocupou a cadeira de Direita Civil.na vaga de César do Rego Monteiro.

Mesmo tendo sido considerada de utilidade pública federal em 1917, a Universidade de Manáos ia e vinha da condição de particular para estadual e de estadual para federalizada, porém, mesmo nessa incerteza institucional realizou concurso para professor substituto em 1918, sob a direção de Gaspar Vieira Guimarães.

A pretensão que todos defendiam era a federalização e a equiparação às demais faculdades de Direito do País o que veio a ocorrer em 1923, e fez com que os professores passassem a gozar das prerrogativas dos catedráticos das outras escolas jurídicas do País. Naquele mesmo ano todos colaram grau como catedráticos sob a presidência de Antônio Gonçalves Pereira de Sá Peixoto, que era catedrático pela Faculdade Livre de Direito do Rio de Janeiro. O primeiro a receber a distinção foi o diretor da escola, o pernambucano Gaspar Antônio Vieira Guimarães.

Em 1938 só restavam três catedráticos: Rafael Benayon, Alves Brasil e Aristides Rocha. Por isso foram abertas inscrições para dezoito concursos que não se realizaram. Somente em 1945 foi efetivada a seleção para catedrático de Medicina Legal, com aprovação de Luiz da Cunha Costa, e em seguida, para Direito Penal, com Manuel Barbuda.

Em 1953 foram reiniciados os concursos para vinte vagas de catedráticos, inicialmente para Direito Civil, Direito Comercial e Direito Penal, sendo aprovados Lúcio Rezende, Adriano Queiroz, João Ricardo Lima, Viriato Oliveira e David Mello. No ano seguinte, para outras disciplinas, foram aprovados Ariosto Rocha, Aderson Menezes, Abdul Sá Peixoto, Samuel Benchimol e o livro docente José Lindoso. Em 1955 mais uma vez a faculdade ficou em alvoroço pela apresentação de teses, com a aprovação de Henoch Reis, Oyama Ituassu e José Augusto Borborema.

Os concursos de 1957 teriam sido os mais movimentados da história da faculdade com a aprovação de Xavier de Albuquerque, Aderson Outra e Ernesto Roessing, com uma das bancas mais exigentes de todas. 

Tidos e havidos como dos mais duros, foram examinadores das bancas: David Mel1o, Oyama Ituassu, Adriano Oueiroz, Ariosto Rocha, Aderson de Menezes e Samuel Benchimol pelo Amazonas; AldebaroKlautau (PA); Vicente de Azevedo (SP); Hélio Tornaghi e Bilac Pinto, Universidade do Brasil;  Afonso Lages e Onofre Junior (MG}; Elpídio Paes (RGS); Alexandre Correa (SP); e Lafayete Pondé, Bahia. 

Fechando aquele ciclo, em 1958, foram aprovados Benjamin Bandão, Jauary Marinho e Olavo das Neves.

Não se tratava unicamente da fama de catedrático, mas de demonstrar competência e conhecimento postos à prova sob o olhar de quantos desejassem assistir aos embates e à arguição vigorosa de importantes cientistas do direito.Mas a fama ficou.

Fragmentos de sonhos

Fragmentos de sonhos



Rogel Samuel


O mundo se despedaça. Sabemos disso. Tentamos diariamente costurar as peças soltas, emendar as engrenagens. O mundo vive desses pedaços, fragmentos de sonhos. Se estrelam no ar. Sobem com lúcidos rios de miragens, lantejoulas. Quem nos leva é a dor de nos ver em dissolução, reconstruindo o todo. Viver é recuperar sentidos, fazê-los funcionar, dar-lhes corda, os sentidos partem dali. Ato de mobilidade, de por em movimentação os sentidos. Mas não todos. Não há um limite no todo, um limite. Por isso, nos esquecemos de partes, o esquecimento é um valor do viver, haverá sempre ninhos esquecidos, nunca poderemos reunir todos os focos, o que faz a marca da nossa liberdade, não apontamos para esquemas rígidos.

Viver faz uma reconstituição diária, um enriquecimento que paralelamente atinge o coração, um labor orquestrado por uma narrativa, de uma alegoria, quase um objeto lúdico desse sujeito, que é o fantasma do eu.

sábado, 7 de julho de 2018

"TUDO DE BELO E DE BOM"!

FELIZ ANO NOVO E, COMO DIZIA DONA MARIA AUGUSTA PERREIRA BATISTA, "TUDO DE BELO E DE BOM"!


FELIZ ANO NOVO E, COMO DIZIA DONA MARIA AUGUSTA PERREIRA BATISTA, "TUDO DE BELO E DE BOM"!

Rogel Samuel

Minha saudosa amiga, Dona Maria Augusta Pereira Batista, era uma senhora idosa na casa de quem eu morei na minha juventude no Rio de Janeiro.
Eu a conheci no mosteiro budista de Santa Teresa.
Habitei um quarto no apartamento dela na Praça da Cruz Vermelha, em frente ao bar Ali Babá, que era um bar de bandidos que, naquele tempo, eram amistosos e de cuja convivência privar era um privilégio.
D. Maria Augusta, que morava só, cuidou de mim como uma mãe, e certamente foi umas das melhores pessoas que conheci.
Era pobre, mas de família ilustre, meio-parente do Dr. Joaquim Murtinho e tinha – abandonada! – uma casa na Pedra de Guaratiba.
Abandonou aquela casa no dia em que faleceu o marido.
Um dia, fomos, eu e ela, ver a casa.
Ainda estava lá, tal como ela a deixou, a mesa posta para o almoço daquele dia, dez anos antes, em que o seu ex-marido faleceu.
Tudo estava intacto, como num museu, como naquele dia!
Feliz saudade, Amiga!

sexta-feira, 6 de julho de 2018

João Cabral de Melo Neto e o Futebol

João Cabral de Melo Neto e o Futebol


ROGEL SAMUEL

O TORCEDOR DO AMÉRICA F.C

O desábito de vencer
não cria o calo da vitória
não dá à vitória o fio cego
nem lhe cansa as molas nervosas.
Guarda-a sem mofo: coisa fresca,
pele sensível, núbil, nova,
ácida à língua qual cajá,
salto do sol no cais da Aurora.


Os cariocas ao lerem esse poema pensarão logo no América do Rio, matriz dos Américas do Brasil, quase todos padecendo desse “desábito de vencer”. Pessoalmente, penso na saga do América, o “Mequinha”, tão caro às tradições do futebol carioca, time de meus tios-avós tijucanos, um time grande na minha infância, que vi no Maracanã, na arquibancada atrás do gol, aos dez anos, ser campeão carioca de 1960. Cabral fala do América do Recife e de todos os Américas, de todos aqueles que torcem pelos times pequenos e carregam essa paixão machucada pelas várzeas e estadinhos Brasil a fora, sofrendo e ansiando por uma vitória que raramente vem, mas quando chega é saboreada como “coisa fresca, pele sensível, núbil, nova, ácida à língua qual cajá”, tal um sol brilhante e repentino.

Seria essa fruição rara o segredo da persistência da paixão do torcedor pelos clubes sem glórias?

Os dois poemas seguintes são sobre ritmo: Ademir da Guia e À Ademir Menezes.


ADEMIR DA GUIA

Ademir impõe com seu jogo
o ritmo do chumbo (e o peso),
da lesma, da câmara lenta,
do homem dentro do pesadelo.

Ritmo líquido se infiltrando
no adversário, grosso, de dentro,
impondo-lhe o que ele deseja,
mandando nele, apodrecendo-o.

Ritmo morno, de andar na areia,
de água doente de alagados,
entorpecendo e então atando
o mais irrequieto adversário.


Ademir da Guia era freqüentemente acusado de lento e de atrasar o jogo. Pura inverdade. Filho do lendário zagueiro Domingos da Guia. Ademir começou no Bangu em 1960, foi para o Palmeiras em 1962 e lá jogou até 1977, participando de times como a célebre Academia.Seu ritmo era diferente,pensado e calibrado,sempre atento às variações e alternâncias do jogo ao qual Ademir ia impondo o seu ritmo.Organizava o meio de campo e a saída de bola. Quando seu time era atacado, ele sabia desarmar o adversário e passar rapidamente da defesa ao ataque. Sempre o pensamento em movimento, a cadencia exata e necessária a cada circunstancia do jogo. Ademir fazia o passe médio e longo, era capaz de correr com a bola dominada, ir à linha de fundo e cruzar com precisão, tinha presença na área para uma cabeçada ou o arremate final. Seu repertório rítmico era variado e por isso se impunha à correria adversária.A alegada lentidão não era a pouca velocidade, mas a capacidade de pensar e alternar a cadencia de jogo, era o ardil e não o espalhafato, futebol inteligente e não ornamental.Ademir da Guia foi um artista sereno e refinado. Quem não o viu jogar ou está cansado de ouvir essa conversa fiada de lentidão, deve ver o documentário “Um Craque chamado Divino”.


A ADEMIR MENEZES

Você, como outros recifenses,
nascido onde mangues e o frevo,
soube mais que nenhum passar
de um para o outro, sem tropeço.

Recifense e, assim dividido
entre dois climas diferentes,
ambidextro do seco e do úmido
como em geral os recifenses,

como você, ninguém passou
de dentro de um para o outro ritmo
nem soube emergir, punhal, do lento.
secar-se dele, vivo, arisco.


Ademir Marques de Menezes, craque famoso dos anos 40 e 50, foi artilheiro da Copa de 1950 com nove gols. Jogou a maior parte de sua carreira no Vasco da Gama, no famoso time do Expresso da Vitória.Em 1946 e 1947 jogou no Fluminense, sagrando-se campeão carioca na sua primeira temporada.

Não vi Ademir jogar e as poucas imagens que restam dele são aquelas da Copa de 50. Lembro-me bem de quando era garoto e ouvia as conversas dos mais velhos, que tomavam cervejas nos quintais enquanto as crianças zuniam pela casa nos aniversários. Eles descreviam os rushes de Ademir, arrancadas fulminantes em dribles rápidos, sua capacidade de sair da imobilidade e disparar em direção ao gol adversário. Contavam que era um artilheiro agudo e preciso.

João Cabral, em Ademir Meneses, fala dessa dualidade rítmica, própria dos recifenses. O ritmo do mangue, que ata, e o do frevo, que dispara; a capacidade de passar de um a outro, sem tropeço, tal um punhal “vivo e arisco”.

Nesses dois poemas Cabral fala da beleza que a mescla de habilidade técnica e capacidade de variação rítmica desses jogadores-artistas proporcionava ao espectador. É um olhar para o “dentro” do futebol e não apenas para os seus aspectos externos.


O FUTEBOL BRASILEIRO EVOCADO DA EUROPA

A bola não é a inimiga
como o touro, numa corrida;
e embora seja um utensílio
caseiro e que se usa sem risco,
não é o utensílio impessoal,
sempre manso, de gesto usual:
é um utensílio semivivo
de reações próprias como bicho,
e que, como bicho, é mister
(mais que bicho, como mulher)
usar com malícia e atenção
dando aos pés astúcias de mão.


Há uma expressão entre os boleiros que bem define o perna-de-pau: “Esse não tem intimidade com a bola...” A proximidade carinhosa com ela, a atenção aos seus caprichos, como os de uma mulher, está no DNA do futebol brasileiro. Ao contrário de Lima Barreto e Graciliano Ramos que viram o futebol como um estrangeirismo passageiro, João Cabral percebe o modo original do estilo brasileiro e define poeticamente essa maneira de jogar “com malícia e atenção/dando aos pés astúcias de mão”. Entre essas astúcias estão o passe longo e preciso ao vislumbrar o deslocamento do companheiro, a capacidade de antever a jogada, a fantasia do drible e da resolução rápida, as trajetórias surpreendentes da bola nas cobranças de faltas.

Em um poema do livro Agrestes (1985), João Cabral fala de outra característica do futebol brasileiro clássico. Digo clássico, pois em tempos de ênfase em times de guerreiros, primeiro combate, volantes de contenção e outras expressões de infantaria,a arte do passe parece em decadência.Telê Santana dizia que “o passe é um gesto de amizade”.É por aí.


DE UM JOGADOR BRASILEIRO A UM TÉCNICO ESPANHOL

Não é a bola alguma carta
Que se levar de casa em casa:

é antes telegrama que vai
de onde o atiram ao onde cai.

Parado, o brasileiro a faz
ir onde há-de, sem leva e traz;

com aritméticas de circo
ele a faz ir onde é preciso;

em telegrama, que é sem tempo
ele a faz ir ao mais extremo

Não corre: ele sabe que é a bola,
telegrama, mais que voa.


É uma descrição precisa do que é ou foi a arte do passe no futebol brasileiro. Penso logo em Gerson,Didi,Zico, Ademir da Guia.Talvez hoje no futebol brasileiro apenas Deco e Ronaldinho Gaúcho, quando quer, sejam os herdeiros e praticantes dessa arte requintada.Passe, sim, e não assistência, como quer o jargão do atual jornalismo esportivo que importou o termo do basquete.Assistência lembra sirene, socorro, ambulância...

Na arte do passe brasileiro, o craque faz a bola chegar ao seu destino com cálculo de engenheiro e “aritméticas de circo”. Ciência e fantasia.

terça-feira, 3 de julho de 2018

O AMANTE DAS AMAZONAS

Nós retornávamos à elaboração do nosso faustoso passado, nós chegávamos naquela brusca tarde de ouro sem sentido e sem valor em que o Palácio ocupava na sua singularidade todos os detalhes de um aspecto de deslumbrante luz. O Palácio (que era assim conhecida aquela construção que depois entrou em decadência, ruína e morte, depois da quebra da borracha), o límpido e repentino Palácio nos esperava na tranqüilidade dos seus pontos e ângulos com que nos acenava e encontrava com sua imortal bem-aventurança sobre placas de negras e primitivas águas vindas da origem da vida do mundo, nas faces do Igarapé do Inferno deslizavam as riquezas das cabeceiras do mundo, da Fronteira, do Inevitável, do Inexato, das Árvores do Princípio. Perdidas, devolutas, indemarcáveis... Sim, porque tudo a fortíssima codificação daquilo tem a ver com a experiência do retorno, da construção, que aquilo era uma edificação (depois abandonada) de dois andares mais porão de procedimento art-nouveau cingida de finos gradis de ferro torneado em convulsionadas e violentas volutas de gavinhas de elegante e efeminado contorno, travestidas, descomedidas, decorando a escadaria de mármore torto e enfático, escura e em pleno gozo das réplicas vilas européias. Que majestade é algo que logo se sente à distância, pois de longe já dava para sentir a majestade e diferença, o interesse de se re-apropriar das sacadas e balcões que avançavam no ar... - mas tudo aquilo está hoje em ruína descontínua, mas tudo aquilo hoje não está e a minha descrição corresponde ao que era o Palácio há muitos anos na minha mocidade e na proliferação da minha memória perdida, ah, sim, porque estou velho mas não estou louco, e as minas no meio da floresta lá estão como cultura e substância ainda para confirmar a existência e elaboração. Vejo bem o corpo retorcido daquele evasivo edifício oitocentista (depois saqueado), no alto da terra-firme, plantado em relação a uma verdade naquele limite da Terra por conta de rios de sangue e de escândalo de toneladas de libras esterlinas de ouro reluzente de borracha - oh, Deuses!, porque existiu aquele luxo não admitido ou suposto, aquela desventura e extorsão, aquele desbarato dos prazeres da riqueza na sede do Seringal Manixi que era longe, muito longe, afastado de tudo, afastado de si, distante 3.100 km da cidade de Manaus ...

segunda-feira, 2 de julho de 2018

A garça de Dogen

A garça de Dogen

















A garça de Dogen

A garça num campo branco, uma garça branca, num campo nevado, não se esconde, não pode ser vista, na neve não pode ser vista, ela não se esconde, está invisível. A grama de inverno.

Culto

Dogen
(1200 - 1253)


Uma garça branca
Se esconde
Na neve do campo
Nem a grama do inverno
É visível

Trad. Rogel Samuel