quarta-feira, 11 de julho de 2018

Fragmentos de sonhos

Fragmentos de sonhos



Rogel Samuel


O mundo se despedaça. Sabemos disso. Tentamos diariamente costurar as peças soltas, emendar as engrenagens. O mundo vive desses pedaços, fragmentos de sonhos. Se estrelam no ar. Sobem com lúcidos rios de miragens, lantejoulas. Quem nos leva é a dor de nos ver em dissolução, reconstruindo o todo. Viver é recuperar sentidos, fazê-los funcionar, dar-lhes corda, os sentidos partem dali. Ato de mobilidade, de por em movimentação os sentidos. Mas não todos. Não há um limite no todo, um limite. Por isso, nos esquecemos de partes, o esquecimento é um valor do viver, haverá sempre ninhos esquecidos, nunca poderemos reunir todos os focos, o que faz a marca da nossa liberdade, não apontamos para esquemas rígidos.

Viver faz uma reconstituição diária, um enriquecimento que paralelamente atinge o coração, um labor orquestrado por uma narrativa, de uma alegoria, quase um objeto lúdico desse sujeito, que é o fantasma do eu.

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