A teoria da decisão filosófica de Euryalo Cannabrava
Rogel Samuel
Mais uma vez tento reler o livro de meu mestre Euryalo Cannabrava. Livro difícil, mas extraordinário.
Cannabrava tentava publicá-lo quando era meu professor, na pós-graduação.
Ele um dia entrou furioso na nossa sala e contou que tinha ida ao gabinete do amazonense Artur Cesar Ferreira Reis, que era então presidente do Conselho Federal de Cultura, autoridade que dirigia o Instituto Nacional do Livro em plena era da ditadura militar.
- Começa que eu tive de marcar audiência e ele me deixou esperando na ante-sala, contou irado.
- Quando entrei no gabinete com os manuscritos do livro debaixo do braço, ele, sem levantar os olhos dos papéis que assina, perguntou:
- Que o senhor deseja, professor?
- Eu não agüentei: dei o murro na mesa dele e disse: "Exijo respeito!"...
E por aí foi a briga.
- Certamente o livro não será publicado... - disse Cannabrava.
Mas foi.
Euryalo Cannabrava certa vez contava, em sala de aula, que, quando algum dilema lhe aparecia ele preparava a sua morte, hipotética morte, ele a previa, com data e hora marcada, para depois de alguns dias se matar, dizia ele, e logo seus problemas se diluíam, nada resiste à morte, à Ela, - a suprema! - que «tão cedo passa tudo quanto passa!» e sem a morte a vida seria uma chatice, repetitiva e cruel.
Euryalo Cannabrava é um dos mais importantes filósofos do Brasil. Mario de Andrade o chamava de Mestre. Professor catedrático do Colégio Pedro II, professor-visitante das Universidades de Columbia, de Londres (a convite de A. J. Ayer). Era professor de Cibernética e Lógica Matemática. Autor de diversos livros, como "Descartes e Bergson"(que tenho, com dedicatória), "Elementos de metodologia filosófica", "Ensaios Filosoficos", "Estética da Crítica" e outros.
O curso de Cannabrava a que assisti foi surpreendente. Ele contava casos de sua vida pessoal, de suas amizades, de sua formação. Disse que teve uma preceptora alemã quando criança, e que caçou búfalos selvagens na ilha de Marajó.
Seu nome é mundialmente conhecido nos dicionários de filosofia e ele se correspondia até com Bertand Russel.
O difícil era acompanhar suas aulas quando começava a discorrer sobre a lógica matemática...
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