A TRAGÉDIA DA BIBLIOTECA – ROGEL SAMUEL
Em Manaus a piores inimigas das grandes bibliotecas
são as viúvas. Logo que os maridos morrem, exaustos de tanto ler, elas tratam
de mandar despejar aquela montanha de livros raros e caros na calçada para o
lixeiro levar. Eu mesmo catei livros na calçada, e muitos outros.
Ou despejavam aquilo tudo, aquilo inútil, aquele incômodo sujo no porão da antiga Biblioteca Pública onde os ratos e a umidade os
consumiam. Também eu lá vi isso e até roubei (ou salvei) algum volume.
Herdei várias bibliotecas que as perdi. Herdei a biblioteca
de meu avô, de meu tio-avô e de meu pai etc. Quando eu era jovem, minha tia-avó Maria José me dava uma pensão para comprar livros.
Depois vim para o Rio, deixando Manaus e meus livros na
distância, mas depois trouxe uma caixa de livros que se arrastou e se perdeu
nos vários lugares e quartos alugados por onde passei.
Biblioteca é coisa de rico. De mansão de rico.
Por vários anos minha pobre biblioteca pessoal ficou na
garagem de minha mãe, e no escritório de um amigo. Tudo perdido. Difícil de
explicar, mas perdido.
Depois eu tive uma biblioteca na minha sala da
Faculdade de Letras das UFRJ: quando me aposentei sem espaço em casa doei para a
mesma.
Hoje meus livros estão amontoados no meu escritório. Longe
de onde moro. Não acho nada.
Há bibliotecas que pegaram fogo, como a do escritor
Moacyr Rosas. Ele acendia velas contra a umidade.
Quando pesquisei para escrever o “Teatro amazonas”,
passei um ano indo à Biblioteca Nacional. É a melhor do Brasil.
Sonho com o tempo em que possamos ter os maiores
livros num pen-drive.
Nenhum comentário:
Postar um comentário