quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008


Elpídio Pereira ( Márcio Páscoa )


O compositor e violinista Elpídio Pereira veio para o Amazonas numa leva de valores intelectuais maranhenses, que incluía, dentre outros, Eduardo Ribeiro e Raul de Azevedo.

Nascido em Caxias (MA) em 16 de outubro de 1872, Elpídio Pereira tomou seus primeiros estudos musicais com os mestres de banda de sua cidade natal; primeiro Antônio Cariman, depois Antônio Coutinho. Seus pais reconheceram seu talento e interesse e mandaram-no para Lisboa, onde entrou no conservatório com o fito de se preparar para o exame de admissão no Conservatório de Paris. Indo para esta escola francesa, passou a freqüentar a classe de harmonia do professor Taudou, na qualidade de aluno-ouvinte, oportunidade em que conheceu Francisco Braga, que também tornar-se-ia compositor. Neste meio tempo, mantinha aulas particulares de harmonia com Domenico Ferroni, posto que seu objetivo maior era o domínio da composição musical.

Mas, entre 1892 e 1893, uma grave crise brotava no Brasil e atingiu diretamente o pai de Elpídio Pereira que, sem meios de continuar provendo o sustento do filho, chamou-o de volta. Foi neste momento que o compositor veio para o Amazonas pela primeira vez. Teve uma breve estada em Belém, onde permaneceu algum tempo, mas o seu destino era Manaus, posto que sua família tinha aqui membros e amigos.

Em Manaus, Elpídio Pereira encontrou 2 irmãos e o Visconde de Vila Gião, amigo chegado da família, e recebeu um convite de Adelelmo do Nascimento, professor público de música e afamado concertista, para participar de um recital, onde poderia tocar 2 peças. Elpídio Pereira escolheu então uma composição sua, a «Serenade Brasilienne», para a primeira vez em que sua obra seria ouvida no Brasil. Foi visitar a família em Caxias, oportunidade em que deu concertos em Belém, Teresina e São Luís. Na capital maranhense, Elpídio Pereira foi convidado por Joaquim Franco, que ele conhecera em Manaus, a integrar a orquestra da companhia lírica que correria o norte naquela temporada. Após a estação lírica fixou-se por 2 anos em Belém, até que o pai foi trabalhar em Manaus, como agente da Companhia de Navegação Maranhense. De volta a Manaus, Elpídio Pereira trabalhou de início com o pai, e depois quando um incêndio destruiu os bens da família, na Casa Marius & Levy.

Mas esta situação não duraria muito tempo. Com a aposentadoria de Adelelmo do Nascimento das suas funções do Gymnasio Amazonense, Elpídio Pereira foi chamado para ocupar interinamente a vaga, de vez que privava da amizade do chefe de gabinete do Governador Fileto Pires, o escritor e crítico teatral Raul de Azevedo. Foi justamente este amigo quem sugeriu a Elpídio Pereira sua nova ida para a França, desta vez como bolsista do Estado do Amazonas. Neste meio tempo em Manaus, o musicista maranhense já se envolvera com os freqüentes concertos festivos da Catedral. Sua estada em Paris como bolsista do Amazonas durou de 1898 a 1902, tendo retomado seus estudos com Ferroni. Antes de seu retorno a Manaus, deu 2 concertos na Sala Hoche, regendo a Orquestra dos Concerts Lanmoureux, que executava exclusivamente peças suas. No retorno ao Brasil, daria ainda outro concerto em Lisboa.

Chegado a Manaus em maio de 1902 fez vários concertos com obras suas, com orquestra e grupo de câmara, tendo tomado parte o maestro Joaquim Franco, os violinistas Lourival Muniz, Gentil Bittencourt, Armando Lameira, o violoncelista Cesare Vesce e muitos outros, quase todos ligados à Academia Amazonense de Belas Artes.

Elpídio Pereira partiu então para uma turnê a capitais de outros estados brasileiros, dentre eles Rio de Janeiro e São Paulo, divulgando as obras que compusera no gozo da bolsa de estudos que o Amazonas lhe proporcionara. Em 1906, no início da gestão de Antonio Constatino Nery e com a perspectiva de receber novo estipêndio para retornar a seus estudos na França, Elpídio Pereira retornou ao Amazonas e permanceu mais 2 anos em Manaus.

Além de habituais concertos, inclusive na condição de organizador, redigiu as críticas operísticas para o jornal «A Platéa», que com seus 14 números cobriu a temporada lírica de 1907. Utilizava o pseudônimo de Elpis, visto que chegou a se apresentar na Catedral em um concerto com os membros da Companhia Lírica Francesa deste ano, trazida por Joaquim Franco.

Ainda em 1907, no mês de maio, 2 bandas militares e um coro infantil de mil vozes executaram o Hino Escolar do Amazonas, composto pelo maranhense.

Entretanto, mudanças no mando do governo estadual apagaram de vez as expectativas de Elpídio Pereira em receber nova subvenção do Amazonas. Ele ainda permaneceu em Manaus até abril de 1908, retirando-se depois para o Rio de Janeiro. Na capital carioca conseguiu uma bolsa do governo federal e retornou à França em 1913. Em 1921 obteve a nomeação de auxiliar do Consulado do Brasil, em Paris, de onde se aposentou em 1940, retornando definitivamente ao Rio de Janeiro, onde faleceu em 13 de abril de 1961.

Elpídio Pereira deixou uma ópera, chamada «Calabar», sobre o personagem histórico. Segundo sua auto-biografia ele deve ter começado a concebê-la ainda nos anos em que esteve ligado ao Amazonas. Entretanto, tendo terminado de escrevê-la somente nos anos 10, encontrou alguma resistência para montá-la, havendo quem o criticasse por ter escolhido um personagem titular de conduta considerada duvidosa. Elpídio Pereira pode ter escolhido o assunto influenciado pelas correntes políticas libertárias que abundavam no Norte do Brasil, não sendo a sua ópera a primeira escrita na Amazônia sob tais auspícios. De qualquer forma, «Calabar» não conseguiu ser montada e uma execução parcial foi feita em meados dos anos 10.

A obra de maior êxito de Elpídio Pereira foi o balé «Les Pommes du Vosin» montado no teatro parisiense «Gaité Lyrique», com enorme sucesso, chegando a 76 representações consecutivas
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