domingo, 26 de março de 2017

A leitura

A leitura
Ernst Bloch


Aqui podemos sonhar com as coisas mais simples: um pouco de luz no chao da sala, um som vindo de alguma arvore distante, o sentido de nossa respiracao.

Um pouco de poesia. Quando um dia acaba, espero a noite. Não sonhamos apenas de noite. Sonhamos também de dia, embora não se investigue com igual energia o sonho diurno. Chega-se mesmo a reduzi-lo a um simples prelúdio do sonho noturno. Entre ambos há distinções consideráveis. No sonho diurno o eu não desaparece. Mantém-se até bem vivo e sem exercer nenhuma censura. A ponto de os desejos tanto mais funcionarem. Serem mais visíveis, do que no sonho noturno. Apresentarem-se sem máscara nem vergonha. Livres de inibições. Corajosamente. De peito aberto. As ruas vivem cheias de gente com sonhos diurnos. Os mostruários das lojas tocam seus acordes. Um sapato elegante. Um vestido “toillette”. A nova máquina de lavar. Uma cadeira de balanço. E tudo o mais que se mostra. Em primeiro lugar, a casa sonhada a que tudo isso vai pertencer. Todo um mundo de vento em popa, multiplicando os castelos no ar, onde o custo de vida não é tão alto." (Ernst Bloch).

Aqui podemos sonhar com as coisas mais simples: um pouco de luz no chao da sala, um som vindo de alguma arvore distante, o sentido de nossa respiracao.

Lembro-me dos versos de Camoes que cantam:

Oh, lavradores bem-aventurados,
Se conhecessem seu contentamento!

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