quarta-feira, 15 de março de 2017

MALLARMÉ

MALLARMÉ


 retrato por Nadar


BRISA MARINHA

  
A carne é triste e eu, ai! já li todos os livros,
Fugir! Fugir pra longe. Ouço as aves aos gritos
Ébrias na espuma ignota e sob o céu, em bando!
Nada, nem vãos jardins nos olhos se espelhando
Retém meu coração que se embebe de mar,
Oh noites! nem a luz da candeia a alumiar
O deserto papel que a brancura defende;
Nem mesmo jovem mãe que seu filho amamente.
Hei-de partir! Vapor em marítimas crises,
Iça o ferro e faz rumo a exóticos países,
Um Tédio triste, em cruel e inútil esperar,
Crê no supremo adeus dos lenços a acenar.
Que os mastros, porventura, atraindo presságios,
São os mesmos que um vento inclina nos naufrágios.
Soltos no mar, no mar, sem ilhas nem esteiros.
Mas ouve, coração, cantar os marinheiros.

(Brisa Marinha, poema de Stéphane Mallarmé. FONTE: Antologia “Oiro de vário tempo e lugar  - De São Francisco de Assis a Louis Aragon-”. Versão por A. Herculano de Carvalho. Porto-Portugal: O oiro do dia, 1983.)

Original:
BRISE MARINE
La chair est triste, hélas! et j´ai lu tous les  livres.
Fuir! là-bas fuir ! Je sens que des oiseaux sont  ivres
D´être parmi l´écume inconnue et les cieux!
Rien, ni les vieux jardins reflétés par les yeux
Ne retriendra ce coeur qui dans la mer se  trempe
O nuits ! ni la clarté déserte de ma lampe
Sur le vide papier que la blancheur défend
Et ni la jeune femme allaitant son enfant.
Je partirai ! Steamer balançant ta mâture,
Lève l´ancre pour une exotique nature!
Un Ennui, désolé par les cruels espoirs,
Croit encore à l´adieu suprême des mouchoirs!
Et, peut-être, les mâts, invitant les orages
Sont-ils de ceux qu´un vent penche sur les naufrages
Perdus, sans mâts, sans mâts, ni fertiles îlots...
Mais, ô mon coeur, entends le chant des  matelots!



ENVIADO POR AMELIA PAIS

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