sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Hino á Tarde

Hino á Tarde


Glória jovem do sol no berço de ouro em chamas,
Alva! natal da luz, primavera do dia,
Não te amo! nem a ti, canícula bravia,
Que a ti mesma te estruis no fogo que derramas!


Amo-te, hora hesitante em que se preludia
O adágio vesperal, - tumba que te recamas
De luto e de esplendor, de crepes e auriflamas,
Moribunda que ris sobre a própria agonia!


Amo-te, ó tarde triste, ó tarde augusta, que, entre 
Os primeiros clarões das estrelas, no ventre, 
Sob os véus do mistério e da sombra orvalhada,


Trazes a palpitar, como um fruto do outono, 
A noite, alma nutriz da volúpia e do sono, 
Perpetuação da vida e iniciação do nada.

OLAVO BILAC

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