MEU PREFÁCIO AO LIVRO DE NORÕES ESCRITO ÀS PRESSAS NUM HOTEL DE MANAUS - ROGEL SAMUEL
Cantarei a Verdade
Ovídio, A arte de amar
Ovídio, A arte de amar
Da superfície do corpo, onde nascem os desejos, a poesia traz consigo a sua proveniência o seu acontecimento emergente, a fala, vontade e disfarce. Ela é um saber para o acontecer na história efetiva das necessidades do corpo, ameaçadora. A Instituição não se reconhece nela, sua especialidade é a estranheza, a “destruição delicada”, A República não pode suportá-la: onde há poesia, nada é estável, tudo é horizontalidade possível do seu discurso azul. A História mostra que a República não precisa de poetas, pode passar sem eles, tem desconfiança, nas prisões e no esquecimento esses seres sedutores perigosos devem estar. Fora da República.
Todo poeta é um fora da Lei. A glória de um poeta é uma contradição, armadilha. A poesia hoje é, de preferência, peça de resistência. O canto do poeta desmonta o discurso perverso do poder. Porque a poesia brinca no vazio de poder, toda liberdade é azul, uma ameaça, o homem de fato detesta a liberdade, teme os livres (do contrário já se teria emancipado) — é por isso o poeta foragido da lei. Depois de morto, sua obra se perde na prisão poeirenta das bibliotecas inúteis, onde só a sombra o vai visitar.
De lá sai Poesia Freqüentemente (1956) de Sebastião Norões, livro de minha predileção, sentimos sua poesia viva, Norões, Reitor de idéias, sua poesia é azul. Esta pequena obra-prima é a ânsia de infinito”, como se o poeta quisesse voar, escapar do acanhamento provinciano em que se move, alcançar Alascas e Austrálias. Por isso o mar
ou seu fracasso (a vontade perdida). Com as “citações”, o livro é originalíssimo e do melhor que já se fez aqui. Rimbaud é seu modelo. O poeta tenta ir, mas voltei a mim — a vida morna vai caindo aos poucos. O azul são esperanças. Não realizadas, nem a amizade verdadeira. Há morte no azul, no caminho para o não feito. O coração está acabado. De tal forma o livro se fecha, que a gente pressente o seu nunca mais escrever — a poesia (e a vida sangüínea) termina ali. É o mal que sempre vence. Marcuse.
Quando éramos jovens, Norões foi nosso professor e Mestre. Posso vê-lo, atrás das baforadas de cigarro e lentes grossas. Norões impressionava, carismático e culto. Nunca pensei que faria sua “apresentação”, tantos anos se passaram. E é uma surpresa sempre que releio seu livro, sua poesia está mais viva ali, sua poesia é azul, lá onde o horizonte mergulha. E desponta.
Norões nasceu no dia 7 de março de 1915, em Humaitá, Rio Madeira. Estudou em Fortaleza. Aos 18 anos volta para Manaus, faz a Faculdade de Direito. Professor no Colégio Estadual e Dom Bosco. Foi Chefe de Polícia do Estado onde (dizem) protegeu Jorge Amado. Membro do Clube da Madrugada, da Academia Cearense de Letras. Professor de Geografia do Colégio Estadual do Amazonas.
Todo poeta é um fora da Lei. A glória de um poeta é uma contradição, armadilha. A poesia hoje é, de preferência, peça de resistência. O canto do poeta desmonta o discurso perverso do poder. Porque a poesia brinca no vazio de poder, toda liberdade é azul, uma ameaça, o homem de fato detesta a liberdade, teme os livres (do contrário já se teria emancipado) — é por isso o poeta foragido da lei. Depois de morto, sua obra se perde na prisão poeirenta das bibliotecas inúteis, onde só a sombra o vai visitar.
De lá sai Poesia Freqüentemente (1956) de Sebastião Norões, livro de minha predileção, sentimos sua poesia viva, Norões, Reitor de idéias, sua poesia é azul. Esta pequena obra-prima é a ânsia de infinito”, como se o poeta quisesse voar, escapar do acanhamento provinciano em que se move, alcançar Alascas e Austrálias. Por isso o mar
ou seu fracasso (a vontade perdida). Com as “citações”, o livro é originalíssimo e do melhor que já se fez aqui. Rimbaud é seu modelo. O poeta tenta ir, mas voltei a mim — a vida morna vai caindo aos poucos. O azul são esperanças. Não realizadas, nem a amizade verdadeira. Há morte no azul, no caminho para o não feito. O coração está acabado. De tal forma o livro se fecha, que a gente pressente o seu nunca mais escrever — a poesia (e a vida sangüínea) termina ali. É o mal que sempre vence. Marcuse.
Quando éramos jovens, Norões foi nosso professor e Mestre. Posso vê-lo, atrás das baforadas de cigarro e lentes grossas. Norões impressionava, carismático e culto. Nunca pensei que faria sua “apresentação”, tantos anos se passaram. E é uma surpresa sempre que releio seu livro, sua poesia está mais viva ali, sua poesia é azul, lá onde o horizonte mergulha. E desponta.
Norões nasceu no dia 7 de março de 1915, em Humaitá, Rio Madeira. Estudou em Fortaleza. Aos 18 anos volta para Manaus, faz a Faculdade de Direito. Professor no Colégio Estadual e Dom Bosco. Foi Chefe de Polícia do Estado onde (dizem) protegeu Jorge Amado. Membro do Clube da Madrugada, da Academia Cearense de Letras. Professor de Geografia do Colégio Estadual do Amazonas.
Mar da memória
Eu quero é o meu mar, o mar azul.
Essa incógnita de anil que se destrança
em ânsias de infinito e me circunda
em grave tom de inquietude langue.
O mar de quando eu era, não agora.
Quando as retinas fixavam tredas
a incompreensível mole líquida e convulsa.
E o pensamento convidava longes,
delimitava imprevisíveis rumos
viagens de herói e de mancebo guapo.
Quando as distâncias fomentavam sonhos.
Rebenta em mim essa aspersão tamanha
que a imagem imatura concebeu
de quando o mar era meu, o mar azul.
Nenhum comentário:
Postar um comentário